XLIV
Deborah
Por mais que a Megan já esteja há mais de 20 minutos falando, eu não consigo compreender seu raciocínio. Pra não dizer que se trata de ciúme.
- Eles chegaram até a se beijar!
- Megan, eu não estou entendendo nada. Pode ser mais objetiva? - digo o mais calma possível.
- Estou falando do Antony com a Izzy!
- Essa parte eu entendi. Só não entendo porquê isso é um problema?
- Não é óbvio? - pergunta sarcástica.
- Não!
Continuamos caminhado pela pequena estradinha de tijolos do parque, enquanto a Megan emprurra do carrinho com o Henry.
- Pelo amor de Deus, Deborah.
- Se esse homem que a Izzy gosta for o Antony, não vejo como isso pode ser um problema. Ela já é uma mulher, e ele é solteiro. - explico.
- Ela é a melhor amiga da Crystal, nós a vimos crescer. Isso deveria ser no mínimo repulsivo. - justifica.
- Vamos simplificar tudo isso, Megan. Você está com ciúmes do Antony possivelmente se acertar com alguém.
- Não! Não tem nada a ver com isso, Deborah.
Nós paramos próximo a um banquinho, e nos sentamos de frente para o carrinho do Henry.
- Então como explica toda essa sua agitação por um assunto que não te diz respeito, Megan?
Ela me encara, abre a boca por duas vezes na intenção de argumentar, mas não diz nada.
- As coisas ainda continuam do mesmo jeito, não é? - ela dispõe sua atenção para o Henry.
- Continuam sim, Deby. - responde triste. - Eu queria que esse tempo em que estivemos afastados, me fizesse ao menos sentir menos. Mas nada mudou. E isso me deixa péssima.
- Eu não posso nem dizer que imagino. Mas ver você assim, com ciúme de uma garota com quase metade da sua idade, deve ser horrível. - brinco.
- Isso não tem graça, Deby. - ela pega o Henry no colo. - Já é ruim o suficiente pra você ainda fazer piada.
- É engraçado pra mim. - eu pego na mãozinha do Henry. - Não é, Henry, diga para a mamãe que ela está sendo patética.
Ele apenas sorri, e tenta reproduzir o que digo mas o que sai são apenas grunhidos risonhos.
- A mamãe não é patética Henry, seu papai que me deixa louca às vezes.
- Pa-pa-pa...
- Isso mesmo. - ela sorri orgulhosa para o pequeno. - A culpa é toda do papai.
- Pa...papai!
- O quê? Você ouviu isso, Deby? - questiona orgulhosa.
- Claro que ouvi! Até o Henry está do lado do pai.
- Ai meu amor! Você falou sua primeira palavra! - comemora toda feliz.
- Pa-pa-papai! - Henry repete.
Megan até esquece o que a afligia há poucos minutos. Mas eu a compreendo bem, Henry é tudo o que importa em meio ao caos sentimental que a vida da Megan se tornou nos últimos dois anos.
Michael
- Achei que você ia cancelar, já que demorou uma eternidade pra chegar. - comento assim que Antony se senta.
- Você tem ideia de como é tomar um banho, ou se vestir usando isso? - ele aponta para a própria perna. - Sem falar que é horrível não poder dirigir. Depender de táxi é um porre!
Mais cedo, liguei para o Antony, e chamei ele para dar um rolê, já que ele praticamente não colocou os pés pra fora de casa desde o acidente.
- Então esse é o motivo de você não ter saído de casa nas últimas semanas? Ou esse motivo tem outro nome? - digo zombeteiro.
- Eu sabia que não ia demorar muito pra você começar a falar disso. - ele se recosta na cadeira.
- Posso saber qual foi o milagre que aconteceu para você não ter trago ela debaixo do seu braço? - zombo mais.
- Já acabou? - pergunta sério.
- Não. Mas vou deixar o resto pro fim da noite.
- Podemos falar sério agora?
- Só depois de pedirmos as cervejas.
Ele estende o braço, e um garçom nos atende. Fazemos nossos pedidos, e não demora muito para que a cerveja chegue.
Iniciamos uma conversa paralela, e tudo flui naturalmente, como costumava ser. Até ele receber uma mensagem da Crystal.
- Está tudo bem com a Crystal? - pergunto preocupado.
- Está sim.
- E porque está com essa cara?
- Ela não vai poder me acompanhar no hospital amanhã para a retirada da tala. - ele suspira. - A Izzy vai comigo.
- Ué, isso é um problema? Achei que vocês fossem "chegados". - enfatizo a última palavra fazendo o sinal de aspas.
- As coisas não andam muito bem entre a gente. - ele da um gole na cerveja.
- O que houve? Você não seguiu a risca às ordens da sua babá?
- Ela não está falando comigo. - ele ignora minha zombaria.
- Por que não? - finalizo minha terceira garrafa, e sinalizo para o garçom nos trazer mais uma rodada.
- Eu a beijei.
- O quê? - pergunto incrédulo.
- Pois é, e ela fugiu logo depois.
- Por que?
- Não sei.
- Achei que ela fosse gamada em você.
O garçom nos trás as cervejas, e eu abro uma e dou um gole generoso. Uma conversa como essa, precisa de um acompanhamento.
- Eu também achei. Inclusive na noite anterior ao beijo, ela estava toda sujestiva e tal. Mas acho que era efeito da bebida que ela tomou. - ele se mantém pensativo.
- Isso não faz sentido algum.
- Eu sei. Tentei conversar com ela a semana toda, mas ela me evitava.
- Tem certeza que ela ainda te dava corda?
- Eu não sou burro, Michael. Consigo perceber esse tipo de coisa. - ele abre mais uma cerveja. - Eu queria muito não ter percebido nada, ou até que, esses sentimentos não fossem reais. Mas eles são. E eu acabei sendo puxado para isso, como um mosquito é atraído pela luz. E agora não sei o que fazer.
- Precisa conversar com ela. Entender o que de fato está acontecendo.
- Eu já tentei fazer isso, mas não obtive sucesso.
- Você precisa colocá-la contra parede, e exigir uma resposta.
Ele não fala nada, continua ali, pensativo. E depois de terminar a cerveja, prossegue.
- Você estava certo, Michael. Eu gosto dela.
- Eu sei, e é por isso que tem que fazer alguma coisa. Ou vai ficar parado esperando que tudo termine assim? - o incetivo.
- Eu não sei... Talvez não tenha sido o momento certo.
- Mas aconteceu. E mesmo que não se torne nada, você precisa esclarecer as coisas.
- Ainda bem que estou conversando sobre isso com você. - ele sorri. - Se fosse com o David...
- Ele só ia te dizer pra dar o fora enquanto ainda tem tempo. - agora nós dois rimos.
- É isso que eu preciso fazer. Correr atrás de uma resposta para saber se devo ou não cair fora. - conclui.
- Agora sim parece o Antony que eu conheço. Determinado, direto e convicto.
- Não posso garantir que serei o mesmo pela manhã. - diz em meio a uma gargalhada.
- Você sempre é!
Continuamos nossa noite como planejado. Muita cerveja, petiscos, e claro, aquela velha azaração de sempre. Não que o Antony tivesse condições de uma noitada proveitosa com uma garota, sem falar que agora que está munido de sentimentos por alguém, não iria além daquilo. Mas não deixou de ser uma noite divertida.
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