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ᴵᴵᴵ. 𝐂𝐚𝐩𝐢́𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐭𝐫𝐞̂𝐬

2010, 3 anos antes da morte de Julia Klum.

Esqueça aquelas mentiras de filmes sobre cretinos assumidos ganharem todo o aval para pintar e bordar. Na vida real, gente idiota conhecida por suas idiotices é apenas infame. Julia aprendera no último ano que a popularidade verdadeira se conquista com carisma, as palavras certas e o mínimo de respeito também. Meio que sendo uma Cher Horowits, ao invés de uma Regina George (ao menos em público).

— Oi, Levi, festa maneira!

— Uau, Alice, o braço sarou depressa!

— Lisa, como vai a cacatua?

Um modelo de classe, educação e conduta. Julia tinha uma reputação impecável e desejava o reconhecimento merecido.

Ela ainda era uma aluna de notas exemplares, admirada pelos professores e sempre disposta a ajudar os colegas. Seu dinheiro não lhe subia a cabeça, mesmo que os interesseiros e falsos amigos fossem um incômodo — Julia os tratava com a gentileza e cautela ideais para não pagar de metida, nem de idiota. Ela fazia cada pessoa ao seu redor se sentir importante, como se colecionasse súditos do alto de um trono.

E algum dia, Julia seria um estouro. E conseguiria que toda gramínea e inseto de Peach Hills soubesse o seu nome.

— Cristo. — Ela se escorou numa parede vazia ao final da primeira distribuição de saudações e acenos pela festa. O momento de descarregar o veneno era sua parte predileta do serviço, que repunha as energias para mais algumas horas de socialização excessiva. — Vocês viram o cabelo da Elen?

— Eu poderia fritar uma granja naquele óleo — Taylor comentou, distraidamente.

— E ainda sobraria para o jantar. — Heather riu fino, seguindo o olhar das amigas para a garota de rabo-de-cavalo na pista.

Valerie respirou fundo.

— Ai, gente. Coitada. Deve ser problema hormonal.

— Nada que uma boa lavagem não dê jeito. — Julia fez careta. — Tipo ... eu sei que estamos no verão, mas caramba! Ela não toma banho?

Heather assobiou.

— Acho que água e óleo não se misturam mesmo, huh?

As três gargalharam, mas Valerie, intacta em sua pose de boa samaritana, só negou com a cabeça.

— Isso é errado. Ela pode se sentir mal.

— Está tudo bem, Valerie. — Taylor a abraçou lateralmente. — O que os ouvidos não ouvem o coração não sente.

— E uma risadinha não vai corromper a sua pureza — Julia completou, entediada.

De longe, a tal Elen pareceu pressentir que era o assunto da roda, e sorriu na direção das garotas. Heather ainda teve a decência de corar, enquanto Julia e Taylor retribuíam o sorriso dissimuladamente.

Em um panorama geral, festas adolescentes até que não eram tão ruins.

Os convidados dançavam com outros convidados, copos de ponche e ritmos similares aos de um boneco de posto. Diferente do que Heather previra, o volume da música era bem aceitável e ninguém tinha que desafiar as leis da física sobre dois corpos não ocuparem o mesmo lugar no espaço. Só o que deixava a desejar era a balela sobre a faixa etária parecida, já que algumas das pessoas pulando ao som de Take It Off definitivamente não estavam no primeiro ano. Um cara barbado calçando Mocassim poderia até ser um pai de família arrastando o filho birrento pelo supermercado se Heather o olhasse por tempo o bastante.

A casa em si não era muito decorada. Tinha um pé direito alto, escadarias suntuosas e compartimentos largos. A mobília exibia um aspecto meio vitoriano, meio burguês, e havia fotos emolduradas em muitas paredes. Heather reparou a lareira da sala com um busto de prata em cima e alguns livros de grossas lombadas, cujos títulos ficou bastante tentada a checar.

No entanto, bem quando pretendia escapar de fininho, um forte beliscão de Julia a segurou onde estava.

— Ouch! — Ela esfregou a região sensível do braço.

— Se liga — disse a melhor amiga. — A Ártemis tá vindo pra cá.

Todas voltaram-se para a branquela esbelta desfilando nos saltos até elas. Festinha básica pra quem?, Heather grunhiu em pensamento. Julia, em contrapartida, acenou cordialmente.

Tudo o que ela seria estava moldado em Ártemis, com o acréscimo do luxo e elegância naturais correndo nas veias da outra. Somente o nome da garota já simbolizava o poder de uma deusa, e o sobrenome era de uma das famílias mais ricas e influentes da cidade, donos de um império imobiliário famoso. Julia tinha plena noção de que, para alguém como Ártemis, as vantagens seguiam do berço. Quiçá, da barriga.

Ártemis com certeza poderia ser uma megera desavergonhada e ainda angariar níveis astronômicos de popularidade sem nenhum esforço. Em segredo, Julia detestava a existência de alguém tão maior, melhor e mais prestigiada do que ela, mas felizmente não se tratava de um confronto entre titãs — não seria justo. Ganhar a simpatia da deusa grega era mais realista, e um plano que já se encontrava em processo.

— Meninas, comportem-se — Julia ordenou, entredentes. — Não digam nada que possa nos comprometer aqui.

— Nadinha mesmo? — Heather sussurrou, por pirraça.

Como Ártemis estava uma série mais avançada, ela logo trocaria o The Francium pela famigerada universidade, e o natural seria Julia assumir o seu posto, é óbvio. Sua participação no grupo de elite também serviria para que a deusa grega visse nela uma sucessora à altura, ao invés de uma rival. Para tanto, era bom que Julia engolisse a inveja e pregasse o sorriso mais cintilante na cara, orientando as amigas a fazerem igual.

Ártemis estava sempre observando.

— Julia, Taylor, Valerie... — Ela sorriu para cada uma delas, se demorando uns segundos a mais em Heather, após uma caminhada de fato agitada. — Heather.

Obedecendo aos comandos de Julia, Heather apenas meneou a cabeça.

— Oi, Ártemis.

— Olá.

— Como você está?

— Estou fabulosa, como podem ver, obrigada. — Ártemis ria docilmente ao responder Valerie, espanando os sedosos cabelos para longe dos ombros. — E vocês? O que estão aprontando?

— Nada demais — Taylor disse, com muita casualidade. — Apenas curtindo a festa.

Ártemis riu para Heather de relance. Deus era testemunha de que os brincos em suas orelhas poderiam quitar a dívida mundial.

— Umas mais do que as outras, eu imagino.

Heather respirou fundo, as mãos apertadas diante da barriga. Ela estava tentando aprender a lidar melhor com os outros, ser mais gente boa, e sua mudança incluía até Ártemis. Embora a deusa grega não merecesse, Heather não lhe daria uma resposta afiada para bancar a maioral. Apenas para contrariar o anônimo, ela seria legal a noite inteira.

— Eu estou curtindo, sim, Ártemis, obrigada por perguntar — falou a garota. — É tudo bem mais divertido do que eu esperava.

Por pouco, Julia conseguiu conter um suspiro de alívio.

Ártemis franziu o nariz para o cômodo repleto de jovens eufóricos e ensopados de suor. Aquela casa completa deveria equivaler a menos de um terço da sua garagem de mil carros de última geração.

— Hm. É, acho que sim — disse, concordando por educação. — Mas esperem só até conhecerem as festas do The Francium. — Ela voltou a olhá-las com um sorrisinho matador. — Aquilo, sim, é diversão.

Julia assoprou o ar e riu.

— Eu não duvido que seja.

— Nós contratamos uma equipe de buffet todo ano só pra servir a galera — Ártemis continuou. — E, para os maiores de dezoito, tem opções alcoólicas no bar — ela cantarolou num sussurro, cobrindo a lateral da boca com a mão. Ninguém aparentava dar a mínima para a maioridade alcoólica de 21 anos, e Julia e as primas riam feito fantoches de muito mau gosto. — Mas não contem a ninguém! É um segredo exclusivo para membros cotados.

Virgem Santa.

Parecia a propaganda de algum esquema de pirâmide.

— E, por falar nisso... — A saliva daquela criatura não esgotava? — Não acho que já recebi alguma resposta de vocês sobre o convite.

— Ah, o convite! É claro! — Julia espalmou a testa com a mão e Heather estremeceu de vergonha alheia antecipada ao entender que ela ia mesmo tentar convencer Ártemis de que se esquecera da convocação para o seu grupinho tosco. — Sim, sim, desculpe, que cabeça a minha. Quase não tivemos tempo pra isso por causa de todas as festas de verão agora, né? Sabe como é.

O semblante de Ártemis realmente não escondia que ela não estava comprando o papo furado.

— Oh, jura? Eu também estive ocupada com elas e não vi vocês em nenhuma. — A loira plantou uma mão na cintura. — Não estão festejando sem mim, estão?

Julia esboçou um sorriso amarelado, plenamente ciente da disputa velada entre as duas. Ela gostaria muito de aproveitar a finura do pescoço pálido de Ártemis para estrangulá-la sem dó.

— Imagine. — Se obrigou a dizer, tremendo os punhos pelo esforço de não cerrá-los. — Devem ser apenas festas diferentes.

Ártemis pareceu dar-se por satisfeita, e Julia se xingou.

— Ah, sim. É que eu só frequento as mais importantes há um tempo. — Ela forçou uma risada doce. — Um dia vocês chegam lá.

Uau, como Julia desprezava aquela garota. Quando fosse a sua vez de liderar o The Francium, ela se certificaria de ser infinitamente melhor do que Ártemis jamais fora.

— Mas, como eu estava dizendo...

Julia quem fez questão de se distrair da deusa grega por pura birra, olhando para os lados em busca de algo mais agradável para destinar sua atenção.

Ela deslizou a vista uns centímetros para a direita, concentrando-se nos rostos e cenários a sua volta. Estava ali há mais ou menos uma hora e nada de extraordinário acontecera ainda. A sensação mágica que tomara conta de si na entrada, com as juntas latejando e o frio gostoso na barriga, havia se perdido em uma emoção passageira.

Julia torceu o vértice da boca.

Ela estava tão convencida de que alguma transformação fantástica arrombaria as portas da sua vida que sequer cogitou a possibilidade de já ter o máximo de transformações fantásticas garantidas. Era uma aluna do Ensino Médio, futura integrante do The Francium, inevitável discípula de Ártemis — ugh — e daqui a pouco estaria mais atolada de responsabilidades do que nunca.

Talvez devesse se contentar. A mãe dizia que era melhor pecar pelo excesso do que pela falta (geralmente utilizando mais cartões de créditos do que precisava), mas o mantra com certeza não se aplicava a tudo.

Afinal de contas, o que mais Julia poderia querer?

A resposta estava entrando pela enorme porta de Levi no segundo em que ela dava de ombros mentalmente.

Cabelos espessos na altura das orelhas, olhos entediados gritando pouco caso, quem sabe uma cabeça mais alto que Valerie. Julia sentiu-se fraquejar nas extremidades do corpo. Ele era perfeito, não importava quem fosse. Vestia uma jaqueta sobre a camisa quadriculada e estava com as mãos no bolso da calça, trocando algumas palavras com o anfitrião. Tinha uma cicatriz ao lado da sobrancelha e lábios formidáveis, culpados por praticamente fazerem Julia babar em seus sapatos.

Era ele. A última transformação fantástica, o algo extraordinário esperando por ela, a prova viva de que suas juntas haviam acertado.

O pacote completo.

— Hm — Ártemis emitiu. — Parece que alguém gostou do Felix.

Julia piscou, sob os olhares das meninas em cima dela.

— Quem?

— O cara que você tá secando feito uma boneca possuída — Taylor ajudou, a abanando de leve. — Felix Kennard. Enteado do treinador, capitão de uma das ligas de Rugby...

— E associado do The Francium. — Ártemis sorriu, radiante.

Julia não tinha palavras.

— Caramba...

— Aposto que agora vai querer reconsiderar aquelas suas "festas de verão", não? — Ártemis desenhou aspas com os dedos.

Julia sequer conseguiu irritar-se com ela, o que era chocante.

— Ele é de fato bem... — Ela umedeceu os lábios ao segurar o adjetivo gostoso. — Cativante.

— E é um querido também. Quer ver? — Ártemis enfiou o indicador e o polegar na boca e assoprou, num assobio fino que estourou pelo andar inteiro. Julia quis protestar e se esconder atrás de Valerie, mas a deusa grega já acenava para Felix, ignorando os acenos enganados de outras confusas pessoas. — Dá um pulo aqui, rapidinho! Quero te apresentar a alguém!

Depois de colocar a mão no peito para confirmar que Ártemis falava com ele (a garota assentiu euforicamente), Felix disparou pelo piso de taco com pouca empolgação. O estômago de Julia despencou em queda livre sem previsão de qualquer aterrisagem segura.

— Eu que falei pra ele vir — Ártemis se gabou em um cochicho. — Não há de quê.

Agora, Julia conseguiu ficar um pouco irritada, mas a charmosa aproximação de Felix ainda empatava o trajeto de suas caretas até a cara.

Relaxe, Julia, relaxe.

— E aí. — Ele parou entre Ártemis e Heather, que o analisava dos pés à cabeça feito um banco de dados. Seu timbre de voz era grave, rouco, como algo que Julia escutaria no rádio do pai pelas manhãs. — O que tá pegando?

— Felix, essas são as meninas que talvez juntem-se à nós no The Francium em algumas semanas. — Ártemis contornou os ombros dele tendenciosamente, lhe arrancando um franzir de sobrancelhas intrigado. — Heather, Valerie, Taylor e Julia. — Julia não se deixou abalar pelo sorriso genérico que recebeu, sobretudo porque era bonito. Deveria ser ainda mais quando Felix de fato mostrava os dentes. — A Julia é...

— Plenamente capaz de falar sozinha — ela interrompeu, movida pelo pavor de ser constrangida de propósito.

As primas saltaram os olhos, ao passo que Heather e Felix demonstraram apreciar seu desaforo acidental.

Julia teria se desculpado imediatamente se dependesse apenas da aprovação da melhor amiga, mas Felix lhe sorria mesmo diferente agora. Não era coisa da cabeça dela.

— Oi. Eu sou a Julia Klum.

Ela estendeu a mão para ele, com o ardor de um executivo cumprimentando outro, e de repente sentiu o anúncio do vexame pregado na testa.

Ártemis já tinha a apresentado. O que diabos estava pensando?

Pelo menos, Felix apertava sua mão, uma risada presa no sorriso crescente, e a palma dele era muito macia.

— Filha do Dr. Edgar Klum — Julia adicionou, em desespero. Ártemis prestigiava o show com muita alegria, vingada pela interrupção anterior. — Meu pai. Ele é... neurologista...

Um buraco. Era disso que Julia precisava para se recompor. Teria sido mais produtivo deixar Ártemis falar que ela estava completamente encantada por Felix antes mesmo de saber o seu nome.

— Ah, claro! — Felix guinchou, teatralmente. — Edgar Klum, sim, eu conheço. Acho que minha mãe já se consultou com ele.

Julia crispou a testa.

— Oh! — exclamou, com uns segundos de atraso. — Que bom. Espero que ela volte mais vezes. Digo... não muitas vezes, porque ninguém quer visitar demais um médico que examina sua cabeça, mas... bem. Espero que sua mãe esteja bem.

O rosto de Julia teria evaporado com o embaraço caso Felix não tivesse sorrido (finalmente mostrando os dentes retos e branquinhos), em contraste com as feições de dor das três amigas e Ártemis.

— Bom. — A deusa grega espalmou as mãos. — Acho que meu trabalho aqui já tá feito. Alguém quer pegar ponche na cozinha?

— Eu, eu! Eu quero! — Valerie se prontificou, doida para puxar o saco da garota.

— Então, vamos. Tomara que tenha gosto de algo além de açúcar.

Elas engancharam os braços e partiram, em uma nuvem de madeixas hidratadas sobrevoando as cabeças de todo mundo. Sobraram apenas Heather, Taylor e o mais recente casal em potencial, que parecia esperar pacientemente pela desculpa delas para deixarem-nos sozinhos também.

Taylor abriu um sorriso estranhamente acanhado e rebocou Heather pelo pulso para a pista de dança.

Por fim, Julia sorriu especificamente para Felix.

— Sua mãe se consultou com o meu pai mesmo? — indagou, com a melhor voz sedutora que uma menina de quinze anos poderia usar.

Felix achou graça, e ela quase suspirou.

— Não. Acho que minha mãe não vai em nenhum médico desde que estava grávida do meu irmão.

— Ah... — Ela queria muito tocar no cabelo dele. Que maníaca. — Sendo assim... obrigada.

Felix anuiu, os olhos castanhos com um efeito hipnótico sob a fraca iluminação do local.

— Sem problemas. O prazer foi meu.

— Podemos começar de novo? — Julia pediu.

— É claro. — Felix lhe estendeu a mão, igualzinho como ela fizera, exceto que não parecia um imbecil. — Oi. Eu sou o Felix.

Julia riu, feliz por poder sentir a pele dele novamente na sua.

— Eu sou a Julia. — Ela afundou a ponta dos dedos nos ossos de sua mão. Felix tinha falanges fortes! — É bom conhecê-lo, Felix.

— Igualmente. — Ele entortou a boca. — Você vem sempre aqui?

Julia se proibiu de engolir em seco e dar pane outra vez.

— Antes de prosseguirmos... — Ela pôs uma mecha de cabelo timidamente para atrás da orelha. — Você e a Ártemis... já tiveram algo?

— Algo...?

Julia inspirou profundamente o ar com aroma de suor e ponche.

— Algo... tipo... íntimo — elucidou.

— Ah — Felix disse. — Não, não. Ártemis é muito intimidadora pro meu gosto. Ter algo íntimo com ela poderia me assombrar pelo resto da vida. E eu prefiro as morenas.

Ele pontuou a frase com um sorrisinho sugestivo, cheio de segundas intenções, encarregado por vibrar o organismo todo de Julia. Ela não era bem morena, seus cabelos pendiam mais para uma coloração de preto invencível, mas aceitava o elogio. Aceitava de muito bom grado, diga-se de passagem, considerando que Ártemis era ainda menos morena.

Até que enfim algo em que Julia a superava.

— Nesse caso, tenho o pressentimento de que vamos nos dar muito bem, Felix Kennard.

Ele sorriu, embora tenha estreitado os olhos.

— Quem te falou meu nome completo?

Julia congelou na boca o sorriso para se impedir de socar o próprio nariz.

— Eu acho que ouvi por aí...

A alguns sofás e armários de mármore adiante, Heather e Taylor dançavam com a melodia de Umbrella. A prima Ballinger imitava perfeitamente a performance de Rihanna com a água dos efeitos especiais no clipe, tirando gargalhadas da amiga a cada manobra espalhafatosa com o corpo e o guarda-chuva imaginário em suas mãos.

No entanto, mesmo entretida, Heather volta e meia não podia evitar os olhares furtivos enviados para Julia e Felix.

Under my umbrella-ella-ella, ê, ê, ê! Under my... — Taylor a cutucou ao constatar que não estava acompanhando. — Ei, pervertida. Desencana. Canta comigo pra eu não pagar de ridícula.

Heather riu. Suspeitava que aquela já era uma causa perdida.

— Acha que ela vai ficar bem? — Ela agarrou Taylor pela cintura para rebolarem até o chão.

— A Julia? — Taylor apoiou-se nos ombros da outra. — Acho que sim. Ela já depila os pelos da canela, é bem grandinha para saber o que faz.

Subiram outra vez, embaladas pela voz meio eletrônica.

— Será que esse Felix é bacana mesmo? — Heather olhou de soslaio para ele mais uma vez.

O menino tinha Julia encurralada na parede onde todos se reuniam há pouco, um braço estirado ao lado da cabeça dela e o pescoço dobrado para que nivelassem os olhos. A melhor amiga estava gostando, mas Heather sentiu a claustrofobia instantânea de quem fora trancado em uma caixinha muito apertada. Nem conseguia se visualizar numa situação similar sem ter um acesso de riso ou de pânico.

Senhor. Ia morrer solteira e nem soava tão ruim.

— Ele parece inofensivo — Taylor opinou, observando-os também. Felix jogava os cabelos pra lá e pra cá, obviamente tentando seduzir sua vítima. Ela engelhou a ponta do nariz. — Ou razoável.

Heather suspirou pesadamente.

— Nunca tinha visto a Julia tão idiota perto de um garoto — comentou, reflexiva.

Taylor concordou, gargalhadas derrapando por sua boca.

— Sei que você não está habituada — ela deu palmadas bondosas na bochecha de Heather —, mas é o que nós apelidamos de tesão por essas bandas. Bem-vinda ao mundo dos adolescentes excitados, meu bem.

— Uau. — Heather olhou em volta, simulando fascínio. — Aqui é bem engraçado.

Elas dançaram mais três ou quatro músicas antes de Heather pegar um minuto para descansar no sofá. Taylor permanecia animada, elétrica até, e não parou de requebrar como se fosse entrar em coma por vinte anos a partir do dia seguinte.

O chacoalhar brincalhão de seu traseiro no colo da amiga atraía os olhos de alguns rapazes por perto, que ocultavam sorrisos devassos atrás de copos vermelhos. Heather só conseguiu amontoar fôlego para gargalhar e bater na bunda de Taylor como incentivo para que não parasse de se divertir por causa de uns urubus indiscretos — apesar de suspeitar que a menina gostava da atenção. Somente um único espectador em particular, que Heather quase reconhecia de algum canto, tinha o interesse mais fixo nela do que no molejo admirável de Taylor.

Talvez estivesse confundindo-a com alguém.

Depois de uma eternidade, a loira desabou no sofá junto de Heather, toda desmilinguida e esparramada no estofado floral.

— Deus. — Taylor estava encharcada de suor, o vestido roxo escurecido em alguns tons. — Acho que desmaiei há décadas e você não viu.

Heather achou graça.

Ela estalou um peteleco na coxa da amiga — controlando bravamente o impulso de puxar sua saia até os joelhos —, e se pôs de pé com cuidado. Os convidados cambaleavam com pinta de pinguços pelo casarão, por mais que as garotas tivessem garantido que não haveria bebida alcoólica. Contudo, nem Heather era tão ingênua para não saber que os mais rebeldes contrabandeavam o que bem entendessem em cantis nos bolsos das calças. Era deprimente, mas fazer o quê?

O mundo dos adolescentes excitados não tratava apenas de sexo, mas de todas as outras perdições antigas da humanidade também.

— Vou pegar água pra você — Heather disse.

— Por que não um ponche? — Taylor sorriu, pidona.

— Porque você não precisa de mais energia ou vai realmente desmaiar.

Taylor abanou uma mão, dispensando a amiga.

— Vá, vá. Agrade a sua dançarina favorita, meu bem.

Heather rumou para a cozinha, desviando dos seus dançarinos não tão favoritos esfregando-se uns nos outros pelo trajeto. Levi, o anfitrião, tinha uma garota quase enfiada em seu...

— Santo Cristo.

Escandalizada como uma freira idosa em sua primeira saída do convento, Heather desviou os olhos para as unhas dos pés expostas nas sandálias. Mesmo com a cabeça baixa, sua visão lateral não deixou passar despercebido o sumiço curioso de Felix e Julia da parede. Ela só voltou a elevar a vista quando encontrou a divisão do piso da sala com as lajotas da cozinha, agradecida pelo ambiente relativamente mais neutro.

Não que não houvesse gente se agarrando ali também, só não era nada tão explícito e escancarado como no resto da casa.

Cruzes. Ela possuía CHATONILDA rabiscado por toda a sua cara.

— Merda — gemeu. Ao menos falava palavrão de vez em quando.

Na bancada da ilha, havia apenas bacias de sabores diversos de ponche — duas já vazias e uma com um odor ridículo de vodca. A água com certeza estava na geladeira, onde um garoto e uma garota muito depravados ainda se abocanhavam na porta.

Não vou pedir licença, Heather ponderava, estudando a dupla de longe. Não preciso cortar o barato de ninguém e ser ainda mais detestada.

Ela resolveu esperar que parassem, porque não era possível que se cansava dançando inocentemente com Taylor e aqueles dois não se cansassem daquilo. O menino carregava a menina pelas coxas, minha nossa. Por quanto tempo mais eles poderiam prosseguir sem que alguém distendesse um músculo ou tivesse uma câimbra?

Heather sacou o celular da bolsa e viu o horário crescer. Dez e três.

Olhou para a torneira da pia, que parecia de tão fácil acesso, e tentou calcular o quão insuportavelmente quente a água estaria no verão.

O casal desgrudou as bocas quando Heather já começava a achar que eram mutantes desprovidos de pulmões ou necessidades respiratórias. Ela quis alertar o garoto sobre suas calças escorregando do quadril, mas tinha a impressão de que ele logo não precisaria delas para o que estava fazendo.

Otimista, Heather se preparou para solicitar uma licencinha rápida da geladeira, mas as palavras se dissolveram na língua como pastilhas. Eles não estavam menos empolgados agora, com os beijos descidos dos lábios para o pescoço. E a cara da garota, a cabeça tombada pra trás, era o retrato fiel do prazer, do tesão, como Taylor diria. Ela estava totalmente entregue aos estímulos e não se importava com quem quisesse ver.

Heather não iria querer ver nem se a cena despertasse algo nela, qualquer coisa, e era ainda pior porque não despertava. Nada. A garota provavelmente reagiria com mais emoção se estivesse fechando um anúncio de pílulas para disfunção erétil no computador.

O que havia de errado com ela? Por que sempre havia algo errado?

Dedos quentes encostaram em seu ombro desnudo. Heather se sobressaltou com um pulo inquestionavelmente culpado, se deparando com o cara da sala de estar às suas costas. O mesmo que dava atenção pra ela, e não pra Taylor, quando a amiga tinha todos os holofotes apontados para si.

Heather comprimiu os lábios, ele enrugou a testa.

— Oi — foi o que disse. — Lembra de mim?

NOTA DA AUTORA:

Pra me encontrar nas redes, é @hounselllara2 no passarinho e @hounselllara no Instagram ッ Obrigada pela leitura e até o próximo domingo!

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