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24

A noite estava no meio de seu turno. A lua cheia estava em seu posto, alta no céu, iluminando a tudo com seu suave e silencioso brilho.
O céu estava limpo, sem nuvem alguma e as estrelas brilhavam como uma torcida na arquibancada. Torcendo para que tudo corresse bem.

Loreta usava um vestido escuro e opaco, longo até os calcanhares, levemente rodado, de mangas longas e pequenos botões próximo ao colo.
Tentava arduamente prender um lenço , azul marinho, aos cabelos longos e cacheados, que se balançavam ao vento atrapalhando sua visão.

O vento uivava. Estava imponente, forte, chacoalhava as árvores e fazia com que as folhas rodopiassem ao chão. O frio trazido pelo vento noturno abraçava Loreta atravessando sua pele e lhe causando arrepios profundos, mas os passos rápidos e as tentativas de cobrir os cabelos com o lenço, trazia um pouco de calor.

Os sons das arvores inundavam seus ouvidos, subjugando os ruídos de seus passos e qualquer outro a sua volta. Por outro lado, sua mente gritava em pensamentos, clamando para que seus planos funcionassem.

Com certa dificuldade, ela finalmente conseguira prender o lenços sobre os cabelos, o amarrando no pescoço. Olhou para si, analisando sua condição, os sapatos gastos, de cor bege, não diminuía em nada o atrito com o caminho de terra de uma mediana floresta que havia antes da propriedade de Aires.

Apertou com os braços, um canudo apropriado com  mapas das cidades de Piperia, Isobeia e Karos, uma cidade próxima, mas não tão próxima assim. Avançava com rapidez, procurando algum lugar em que pudesse organizar seus planos.

Após pelo menos uma hora e meia, avistou o centro da cidade, precisava de pelo menos três dias, três dias para que seus planos acontecessem. Mas naquele momento, precisava chegar ao orfanato e para isso havia pelo menos, mais duas horas de caminhada.

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Pela madrugada, Loreta avistou os portões dos fundos do orfanato. Ninguém nunca se lembrava deles, pelo tamanho territorial do orfanato, era algo facilmente esquecido.
Abriu o cadeado, que ela mantinha semi aberto para situações como essa.

Não era proibido, os funcionários saírem e entrarem no orfanato, era proibido sair e entrar sem dar as devidas explicações. E quanto a isso, ela nada devia falar.

Entrou em seu pequeno recanto, acendeu a lamparina, enquanto tirava os sapatos, sentindo certo prazer ao esfrega-los no assoalho morno. O vento rugia lá fora, mas ali o ambiente era quente e acolhedor. Tocou em suas bochechas, sentindo as mesmas geladas olhando ao redor.

Ela sentou sobre a cama, olhando ao redor, puxou uma cadeira colocou a lamparina, uma almofada no chão e se sentou cobrindo as pernas. Abriu o canudo e colocou os mapas sobre a cama, criando uma estratégia. Possuía três dias, apenas três dias.

Precisaria sair de Isobeia pela via ferroviária até Karoschegando lá, deveria ir até o porto e pela embarcação da matina, chegaria ao outro estado. Kifisia.

O médico a esperaria em três dias para a cirurgia. Aires viajaria amanhã  por uma semana, tudo estava combinado.

Loreta se levantou com rapidez, como se tivesse consciência do tempo em que estava perdendo. Abriu o pequeno guarda roupa, procurando um tipo de bolsa de pano, era grande e ia servir. Dentro da bolsa, colocou tudo que iria precisar, roupas para o frio, roupas para o calor, documentos, o endereço do médico. Nada em exageros.

Voltou seus olhos ao mapa, o primeiro trem saía quase pela madrugada, era esse que iriam embarcar. Olhou ao redor.  Iria sentir falta deste lugar? Jamais.  Ela afirmou a si mesma.
Essa poderia ser a chance dela, a última chance de tudo mudar.

Seus olhos fitaram o guarda roupa aberto, miravam as coisas de Mariel.
As fotos, cartas e a manta, colocou na bolsa. Algo dizia a ela, que ambas não voltariam mais. Mariel não voltaria a Aires.

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