05. o f i m
Sabemos muito bem que ainda há tempo
Então, é errado dançar esse verso?
Se o seu coração estivesse cheio de amor
Você desistiria?
...
Pois quanto aos, quanto aos anjos
Eles vêm e vão
Nos fazem especiais
Não desista de mim.
Not About Angels • Birdy
— Qual você quer ir primeiro? — Instiga o moreno com as mãos nos bolsos da jaqueta de couro, seu estilo badboy arrancava corações de muitas garotas, mas por alguma razão a atenção dele era só para ela.
Maria tinha conseguido fugir de casa. Pegou seu casaco moletom, calçou uma bota e pôs um boné na cabeça pra esconder o cabelo desgrenhado. Não tinha cabeça para arruma-los e nem se sentia bem para intitular aquilo como um possível encontro. Na época, quem a ajudava nesses momentos era Brenda, mas parecia que ela estava a evitando.
Não atendia suas ligações nem as mensagens, não queria vê-la.
— Que tal o carrossel? — Arqueou as sobrancelhas de forma brincalhona, sabia que ele tinha um estômago fraquinho para esses tipos de brinquedos.
Ele deu de ombros e ela enrugou a testa completamente confusa, se lembrava perfeitamente que não demoraria nem dois minutos para ele despejar todo o jantar fora, mas mesmo assim acatou aquela decisão, afinal não foi obrigado.
— Dois, por favor.
— Ah... Gabi, eu não trouxe dinheiro. — Esboçou um sorriso amarelo a ela, por pouco quis esgana-lo.
— Que seja. Dois. — Suspira, observando a encarada estranha da mulher no caixa.
"Talvez seja por causa da minha perna, será que ela nunca viu alguém assim? Que idiota."
Os dois se sentaram em seus cavalinhos. Edmundo ficou fazendo gracinhas que a faziam rir, quase se esquecia do que ele tinha feito, enquanto a roleta girava e girava por vários minutos sem fim. Gabriela tinha certeza que se passou de mais uma volta, mas não se importava com isso, não se importava com mais nada há muito tempo.
— Acho que já chega. — Riu o rapaz passando as mãos pelo cabelo que caíram sensualmente sobre o rosto, ela detestava admitir.
O clima estava indo bem, Edmundo sentia que Gabriela tinha parcialmente o perdoado e era um alívio pra ele, mas tudo mudou quando seu celular tocou.
— É a Brenda. Ela precisa de mim. — Dito isso, ele a deixa plantada e saiu.
Em passos largos e rápidos, Gabriela não conseguia acompanha-lo. Ele não tinha a menor intenção de espera-la e isso a chateou, queria ajuda-lo e ajudar Brenda também.
— Aonde ela disse que estava?
— Não disse.
— Então como sabe onde ela está?
— Sabendo. — Respondeu rispidamente, ela não aguentava mais e sua perna latejava. Teve que parar e repor fôlego, Campbell fez o mesmo a encarando. — Por que parou?
— Porque não tenho duas pernas como você.
— Apenas se apresse.
— Não vai me ajudar?
— Eu deveria?
Ela se enfurece ainda mais, porém, ao contrário de uma explosão como ocorreu no hospital, simplesmente ficou em silêncio caminhando em seu máximo. No final, eles chegaram a um prédio velho que por alguma razão desconhecida era familiar à Black. Lá, subindo as escadas e abrindo algumas portas, encontraram uma menina em pé na sacada, era a Lourenço.
Edmundo seguiu em frente, mesmo sob os protestos de Maria. Ela havia sugerido que ligassem para os pais dela, mas ele não a escutava. Seus dedos tentaram puxa-lo para si, tentavam salvar um de seus poucos amigos só que sua mão apenas tocou no vento e as muletas quase caíram. Ele já estava ao lado de Brenda.
— Por que veio aqui? — Perguntou Maria Gabriela.
— Não é óbvio? — Brenda devolveu.
— Por que...?
— Eu só quero paz, Gabriela! Entende isso?! Depois do que aconteceu eu mal tenho isso. — Seus olhos encontraram os dela e por breves segundos a frustração deu lugar a raiva, antes que pudesse segura-la o moreno se pôs na frente de ambas.
— Ela não tem culpa! — Defendeu-a entre dentes.
— É claro que tem! Só estamos aqui por causa dela seu tapado. — Rebateu o empurrando longe.
— O que quer dizer com isso? — Murmurou angustiada, não sabia no que aquela noite estava se transformando, mas queria que parasse. Brenda tampouco a escutou, continuou resmungando o quanto queria estar com alguém, mas esse alguém já não podia estar com ela. — Porra, Brenda. Do que está falando?! — Gritou.
— Vamos dizer que você andou bem ocupada andando com ninguém. — Responde, alargando um sorriso maldoso.
Não, não... Aquilo não era a Brenda que ela conhecia. Uma garota elegante, introvertida, contida em tudo o que pensava e disciplinada. O total oposto de Edmundo, que ficou calado esse tempo todo e parecia outra pessoa também.
— O que voc...?
Seu sorriso aumentou ainda mais e seus pés voltaram ao apoio metálico gasto, junto de Campbell que sorriu segurando sua mão. Eram dois jovens suicidas, duas pessoas que Gabriela mais amava tentando tirar suas próprias vidas.
— Venha conosco. — Ela a convidou. — Nós estamos te esperando, Gabi.
— Nós? — Franziu a testa.
— É, será como antes. — Foi a vez do moreno dizer, um sorriso genuinamente feliz apareceu em seu rosto. — Seremos uma família novamente. O nosso lar, lembra?
Sim, ela lembrava. Eles eram o seu lar, mesmo antes dessa viagem Maria sentia-se tão bem junto de seus amigos que mais parecia uma grande família. Ela aceitou, àquela altura do campeonato só queria estar com Alana e Daniel outra vez.
Ela tomou um passo à frente, segurou as mãos deles e fechou os olhos ansiando cair nos braços de seus amigos uma última vez, mas o que sucedeu foi um puxão forte vindo de sua irmã e uma pequena garoa fina caindo em seus corpos.
— Maria Gabriela, por que fez isso?! O que deu na sua cabeça sua doida? — Berrou a menina surtando entre chorar ou discutir com sua irmã mais velha.
— Dalilah... Como chegou aqui?
— A mãe do Edmundo me mandou mensagem, disse que estaria aqui. — Engoliu em seco passando as mãos pelo rosto molhado.
— Sei que deve estar achando que estou ficando louca, só que foram o Edmundo e a Brenda, eles...
— Do que está falando?
— Foram eles. Eles que pediram pra fazer isso.
— Gabi, põe isso na tua cabeça, por favor. — Implorou, ela pôde ouvir um esganiço de choro vindo dela. — Daniel não está mais aqui, Alana não está mais aqui, Brenda e Edmundo também não!
— Não, está enganada. Eles estavam aqui, eles...
— Gabriela! — Trovejou sacudindo os ombros dela. — Brenda e Edmundo foram os primeiros a morrer!
Maria não imaginava que o baque que sentiria fosse isso, mas sentiu da mesma maneira. Seus olhos se encheram, derramando lágrimas grossas pelo rosto, elas vieram tão facilmente e rápidas que ela desconfiou que fossem por causa da chuva.
Na sacada, ela viu tudo. Brenda com aquele mesmo sorriso doentio se jogar dali junto do moreno, eles pareciam em paz e isto impactou Gabriela que se sentiu sem chão, se viu sem seus amigos, se viu estar realmente sozinha.
Ela sempre esteve sozinha.
Não pôde conter o turbilhão de sentimentos inundarem sua mente, as lembranças do que fez nesses últimos dias. Os olhares preocupados das pessoas na praça, do médico e enfermeiros, da mulher do caixa que a encarou estranha.
Não era pela perna, droga!
Ela viu seu mundo desmoronar ao passo que Dalilah a tirou daquele prédio velho e deixado a esmo, era o lugar predileto de Edmundo. Foi onde ele fez sua primeira pichação, depois todos fizeram um desenho também, até mesmo Brenda. Ela recordou-se de nunca ter tocado neles. Nunca ter percebido que as ligações caíam na caixa postal, certamente quem estava com o celular de Campbell era apenas sua mãe que ficou preocupada dela ter ficado sozinha.
Ela sempre esteve sozinha.
• F I M •
💞🤧 Olá pessoas que se emocionaram, ou não, por esse conto. Obggg por terem lido, votado e comentado. 🤭
É, e foi, bem difícil compartilhar essa história aqui, ainda mais em tempos como estes. Espero que saibam que estou totalmente a disposição caso queiram conversar, as fases do luto são difíceis de lidar sozinho, então se precisarem estarei sempre livre para desabafar. 🤗❤️
Fiquem bem, bebam bastante água, usem máscara e sigam os procedimentos para nos protegermos. Bjs de luz pra vcs, até mais xuxus.❤️🥰
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