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75 - Terça-feira

Terça-feira, 11 de maio

Alice subiu para o quarto apressadamente. Sentia-se imunda no corpo e na alma. Um mal-estar repentino a obrigou a correr até o banheiro para esvaziar o estômago. Precisava se acalmar e se concentrar, não podia deixar margem para dúvidas.

O frasco aberto com os antidepressivos, propositalmente espalhados na mesa de cabeceira ao lado da garrafa de vodca indicaria que ela estava dopada quando caísse na água, aumentando as chances de acreditarem tratar-se de suicídio, e a carta deixada sobre a cama corroboraria a versão dos fatos. Com o copo de bebida nas mãos, respirou fundo algumas vezes, criando coragem.

Ela não podia perder o momento perfeito. A casa estava cheia de testemunhas, nenhuma chance de desconfiarem de Lucas. Enquanto respirava fundo e se preparava para ir até a sacada, a porta do quarto se abriu e Lucas entrou, preocupado, buscando-a nas sombras. A autoconfiança de Alice vacilou quando ela enxergou a apreensão nos olhos do marido.

– Alice, tudo bem? – Lucas perguntou, preocupado. Ela permaneceu em silêncio, determinada – aconteceu alguma coisa? Alice... O que está bebendo?

Ela sentiu o peito afundar. Mais um pouco de teatro, só mais um pouquinho. Ele a perdoaria depois, quando finalmente entendesse tudo. Ele ainda a amaria, com certeza, amaria...

Amaria?

– Estou bebendo exatamente o que você me deu. Um cálice de decepção e tristeza! – A voz estava alterada, as lágrimas que escorriam por seu rosto não eram de raiva, mas sim por prever o quanto ele sofreria com tudo o que ela estava prestes a fazer.

– Deixa eu te ajudar... – Ele pediu, num sussurro.

– Ninguém pode me ajudar. Me deixe em paz!

O momento chegara. Precisava terminar o que começara. Alice foi até a sacada como se estivesse bêbada e olhou para Lucas. Ela enxergou muitos sentimentos misturados ali: tristeza, cansaço, resignação e pena.

Mas não amor.

Ela se entristeceu, mas não podia se deter por isso. Quando Lucas entendesse tudo, a perdoaria, e o amor voltaria. Seria como o mar, cujas ondas vêm e vão, constantes e sem fim, assim seria o amor deles.

Pensar no mar a fez sentir o frio na barriga pela expectativa do salto. Por semanas ela vasculhou a encosta e nadou naquelas águas avaliando o risco. Ela sabia que conseguiria, mas agora, quando estava prestes a levar a cabo sua missão, o medo quase a consumiu.

Era tarde para desistir, então, apoiou o pé numa espreguiçadeira estrategicamente colocada próxima à grade de proteção e, antes que Lucas pudesse prever o que ela faria, mergulhou na escuridão.

A queda de 15 metros aconteceu mais rápido do que ela imaginara. A adrenalina fez seu coração disparar alucinado. Ela corrigiu o ângulo do corpo para penetrar a água da forma correta e sentiu quando as ondas a empurraram contra as pedras de modo voraz, então bateu os braços no sentido contrário à força das águas, numa luta contra a corrente.

Precisava chegar ao barco onde Garcia a aguardava, num local oculto pela vegetação, à encosta da montanha. O céu sem luar ajudaria a escondê-la enquanto nadava e impediria que vissem o barco quando estivessem se distanciando. Ela tinha pensado em tudo.

Alice voltou à superfície rapidamente para respirar, e viu ao longe a figura de Lucas, apoiado no gradil da sacada. Imaginou o tormento dele e o remorso a atingiu com tudo.

– Eu vou voltar para você, meu amor...

Então, mergulhou novamente. Ela treinara muito esse percurso, semanas à fio. Sabia que conseguiria, ainda que reconhecesse os riscos de o plano dar errado em algum momento. Nadou por aproximadamente cinco minutos, até enxergar a boia que flutuava presa a uma corda e a agarrou; seu corpo foi puxado para o convés.

– Achei que você não ia conseguir – Garcia exclamou, aflito.

– Não me subestime – ela articulou, arfante. Estava exausta pelo esforço. Quando Garcia a ajudou a embarcar, ela caiu sentada no convés e puxava o ar com força.

– Tudo bem? – Garcia perguntou.

– Já vou ficar bem. Me dê... Só... Um minuto...

Garcia a viu ali, jogada no convés, e ficou preocupado e admirado ao mesmo tempo. Ela respirava com dificuldade, mas num primeiro exame, parecia que tudo estava sob controle. O corpo molhado marcado pelo vestido leve de noite que ela usava provocou uma reação inesperada em seu coração, assim como em seu corpo. Ignorando o sentimento, ele se aprumou e sorriu para ela.

– Muito bem, Alice. Preparada?

Ela sorriu de volta e ele ficou embevecido.

– Não exatamente preparada, mas vou me acostumar com a ideia.

Garcia a levou até a cabine onde uma bolsa com roupas e alguns pertences que ela já tinha separado e deixado com ele repousava sobre um assento. Ela removeu a roupa molhada, pendurou no corrimão da escadinha que levava ao convés e, depois de trocada, envolveu os longos cabelos com uma toalha. A primeira etapa estava concluída. Esperançosa, subiu até o convés.

Alice protelara em aceitar a ajuda de Garcia para a fuga, ainda que se conhecessem há mais de cinco anos por causa dos negócios "paralelos" da Donatore. Quando passara a ter problemas com Diego, fora procurar Garcia.

"Você não precisa passar por isso. É perfeita em tudo o que faz..."

"Eu não tenho como sair disso. Não sem ajuda."

"Quando você realmente quiser ajuda, eu estarei aqui."

Depois disso, Lucas começou a trabalhar na D.P., e Diego teve a brilhante ideia de colocá-la no radar do agente novo. E de certa forma tinha sido brilhante.

Alice nunca se esqueceu do momento em que viu Lucas na delegacia, da forma como ele a olhou nos olhos. A lembrança permanecia forte, assim como da primeira vez que seus lábios tocaram os dele, como seu coração pulsava descontrolado e as mãos suavam vergonhosamente, e um tempo depois, da luxúria desperta que os levou à sua primeira noite de amor, quando ela descobriu que sexo podia ser algo doce e sensível.

Com Lucas, Alice aprendeu muito sobre o amor. Sobre ser mulher, valorizada e respeitada. O toque e o carinho dele eram mais prazerosos do que qualquer outro toque, e em pouco tempo, ela se viu dependente disso como o ar. Então, sim, quando ela percebeu que poderia perdê-lo para sempre, ela aceitou ajuda. Não tivera coragem de dizer a verdade a Lucas, agira pelas costas, na esperança de futuramente estar com ele de forma definitiva.

Ela observou Garcia ao leme. Um homem baixo, porém, bem forte. A pele morena meio avermelhada lhe denunciava a ascendência indígena, os cabelos pretos e ralos se espalhavam pelas laterais da cabeça em torno de um pequeno círculo levemente calvo, que muito provavelmente se ampliaria com o tempo deixando-o mais careca ao longo dos anos. O rosto liso e anguloso era duro, assim como os olhos escuros, mas ele nunca fora duro com ela.

– Qual a previsão? – ela perguntou.

Enquanto ela se trocava, Garcia havia colocado a lancha em curso para o norte. O plano era navegar até a Praia do Francês, localizada no município de Marechal Deodoro, no estado de Alagoas. A distância entre São Sebastião e a Praia do Francês é de aproximadamente 1.600 quilômetros em linha reta ao longo da costa. Ao chegar lá, ele daria um jeito de rebocar o barco de Alice de volta à marina.

– O tempo estimado de viagem com essa lancha é de 30 horas.

A escolha do local se baseara na distância que, quanto maior, mais fácil seria manter Alice escondida por tempo indeterminado. Supostamente, contatos de Garcia iriam conduzi-la a alguma espécie de residência provisória, um local de proteção à testemunha.

Alice tinha opinado no curso da viagem e no dia e hora exatos para a fuga. Eles seguiriam para o norte, no sentido contrário à corrente, então, assim que Lucas reportasse a queda de Alice, as autoridades locais fariam buscas por ela e levariam em consideração as marés que, naquela noite, corriam para o sul. Contando com a escuridão e as buscas acontecendo em outra direção, Garcia e Alice ganhariam tempo e distância.

– Não acredito que consegui... – Ela comentou, sorrindo, pensando em como a viagem era significativa para ela por várias razões.

– É claro que você conseguiu. Não esperava menos de você. – Ele respondeu, também sorrindo. – Veja, no cooler tem bebidas, e aqui nessa bolsa térmica tem alguns petiscos. Está com fome?

– Por Deus, não! Nem se estivesse conseguiria comer!

– Certo, certo. Bem, a embarcação está abastecida, temos combustível armazenado e suprimentos para que não precisemos fazer nenhuma parada até lá, então, aproveite a viagem.

Garcia navegou por duas horas num ritmo suave e sem pressa. Alice permaneceu com ele no convés apreciando a brisa marítima no rosto. Não se lembrava da última vez que se sentira tão livre, quase feliz.

Aproveitando o momento de alforria, ela conversou sobre diversos assuntos com Douglas. Contou histórias da infância, sobre quando o pai a havia ensinado a mergulhar e, posteriormente, a navegar. Falou de como gostava do mar e o quanto isso era representativo. Para ela, que vivia cercada de seguranças, o mar era sinônimo de liberdade e solitude.

Ela também voltou ao início da noite, contou a respeito da festa e descreveu em detalhes os momentos antes de pular da sacada; a encenação, o drama diante de Lucas, o nado desenfreado até o barco, o medo e a incerteza que acompanharam todo o processo.

– Você precisa me prometer que vai contar a ele, Garcia. Se algo acontecer comigo, você vai dizer pra ele tudo o que eu senti, assim ele saberá que eu fiz tudo por amor. – Ela pediu, melancólica.

– Por que algo daria errado? – Garcia perguntou, com estranheza.

– Não sei. Nunca fui feliz por muito tempo, sabe? Eu sinto um pouco de alegria, e alguma coisa acontece, como uma nuvem negra, e não me permite desfrutar. Geralmente não é nada que alguém faça, sou eu mesma que tenho problemas... acho que sou estragada por dentro.

– Não fala isso. Coisas ruins acontecem com todo mundo. – Ele suspirou e depois de um tempo, criou coragem para continuar o assunto. – Desculpe-me por perguntar, sei que não é da minha conta, mas... Quando você começou a se sentir assim? Foi quando se casou?

– Não, não. Por favor. Lucas foi a melhor coisa que me aconteceu. Ele me manteve feliz por mais tempo do que qualquer outra pessoa. Ele me fez acreditar que o amor é possível, por mais que eu fosse tão difícil a maior parte do tempo, e se manteve ao meu lado, me apoiando... ele não foi embora nem tentou me controlar, como tantos outros. – Ela falou enquanto sentia a melancolia se aproximando.

– Ei, não fique assim. – Garcia pegou uma cerveja do cooler e ofereceu a ela, que acabou aceitando. – Russo vai entender, como sempre entendeu. Fica tranquila.

Alice bebeu quase toda a lata de cerveja em um só gole, surpreendendo Garcia, e depois de um tempo, continuou falando enquanto mantinha o olhar perdido no horizonte.

– Tudo começou quando eu tinha treze anos. Meus pais sempre amaram velejar, e boa parte da minha infância eu passei no mar com eles. Minha mãe tocava violino, chegou a ser o primeiro violino da Orquestra Sinfônica de São Paulo. Quando ela engravidou de mim, teve um problema nos tendões, um tipo de inflamação chamada Síndrome do Túnel do Carpo. Por causa disso, ela não conseguia ter força nos polegares, segundo o meu pai, ela sequer conseguia me segurar no colo pois tinha muitas dores. Ela procurou vários especialistas e diversos tratamentos, mas, no fim, precisou fazer uma cirurgia, e isso mudou a vida dela para sempre.

– O que aconteceu com ela?

– Ela não conseguiu mais tocar violino. Perdeu a sensibilidade das mãos e alguns movimentos. No fim, era como se ela tivesse que aprender tudo de novo. Eu não presenciei isso, mas meu pai me contou que ela chorava com o instrumento na mão. Esse foi o motivo da depressão que se seguiu. Ela não falava com ninguém, não pegava mais o violino e não me pegava no colo. Ela culpava meu pai por tê-la engravidado, e a mim por ter nascido e feito isso com ela. Meu pai contratou babás para cuidar de mim porque minha mãe simplesmente não conseguia. Ela chegou a fazer terapia e começou a se tratar com remédios, mas o quadro dela não mudava porque ela não levava muito a sério o tratamento. Quando eu tinha sete anos, ela foi diagnosticada com transtorno bipolar.

– Que merda... quero dizer, sinto muito. – Garcia pensou em quão pouco se sabe sobre as pessoas e, mesmo assim, muitos se acham no direito de julgá-las.

– Pois é. Eu cresci ouvindo da minha mãe que eu não valia nada e, logo depois, que era o bem mais valioso para ela. Imagina a confusão na minha cabeça. Eu entendi muito cedo que, se eu não existisse, minha mãe seria feliz. Enfim... quando eu estava para fazer treze anos, meu pai planejou uma viagem de barco. Ele abasteceu a lancha com tudo o que precisaríamos para uma viagem pela costa brasileira, parando em várias cidades no caminho até Alagoas. Eu estava super empolgada, mas minha mãe não andava bem há dias. No segundo dia de viagem, exatamente no dia do meu aniversário, nós fomos surpreendidos por uma tempestade. Meu pai mandou a gente ficar na cabine até a chuva diminuir. Ele tinha olhado a previsão do tempo, mas achou que conseguiria chegar ao próximo porto antes do clima ruim pegar a gente. Meu pai sempre foi muito habilidoso com o leme e estava conseguindo conduzir a situação, já tinha se comunicado com as autoridades em terra avisando sobre nossa localização e, aparentemente, estava tudo sob controle. Lembro-me de ter ouvido meu pai falando no rádio, tentando escutar acima do ruído da chuva, quando minha mãe saiu da cabine. Sem pensar muito bem no que eu estava fazendo, a segui até o convés. O barco jogava a gente de um lado pro outro, uma loucura! Então, minha mãe foi até a popa e olhou para mim... – Alice interrompeu o relato, os olhos tornaram-se vazios – ela ficou lá, parada sob a chuva e falou algo. Mesmo com toda a água que caía, eu consegui ler seus lábios... "me perdoa..." ela disse, e então pulou no mar.

– Puta merda... – Garcia não esperava por isso. Chocado, ele pegou outra cerveja e entregou a ela, que bebeu tudo de uma vez.

– Nunca contei isso pra ninguém. Nem pro Lucas. Bem, tentaram fazer a busca, mas o mar estava revolto demais, foram dias vasculhando as águas, mas ela nunca foi encontrada. Nesse dia eu me perguntei por que minha mãe não me amava o suficiente para decidir ficar... – Uma lágrima solitária escorreu pelo rosto de Alice – e depois disso, eu achei que nunca ninguém poderia me amar, a não ser que eu fizesse algo para merecer.

– Alice, isso é terrível... – Garcia desligou o motor do barco e pegou uma cerveja.

– É por isso que, quando você me deu as opções de lugares onde eu poderia me esconder, escolhi ir para o nordeste, para Alagoas. É como se eu pudesse continuar algo que nunca concluí. Minha vida toda é como se eu ainda estivesse naquele barco, à procura da minha mãe.

Garcia ficou sem palavras. Sentia-se triste e inquieto, e não podia compartilhar o que estava pensando então lhe ofereceu outra bebida, e eles ficaram contemplando as estrelas, à deriva, até que os primeiros raios de luz começaram a clarear o céu.

Notando que ela dormia deitada no chão do convés, ele aproveitou para contemplá-la. Ela estava tão vulnerável e tão linda...

Garcia sempre se sentira atraído por Alice. Não tinha como não se sentir assim com ela, uma mulher linda, inteligente, e conhecendo a história dela, a coisa ganhara outra proporção. Logicamente ele tinha se proposto a ajudá-la com segundas intenções, mas ela nem imaginava isso. Embora tudo tivesse sido friamente calculado, ele ainda se sentia inseguro do plano por saber que a organização criminosa da qual fazia parte tinha muitos tentáculos, vários que ele mesmo desconhecia. Todavia, se tudo desse certo, ele teria Alice para si por um longo tempo.

Num impulso, ele a tocou no rosto, correu lentamente os dedos numa carícia que desceu pelo pescoço até repousar próximo a um dos seios. Ela não reagiu, então ele se deitou ao lado dela a aconchegou contra si. Ela se espreguiçou e estreitou o corpo junto ao dele, que a abraçou. Permaneceram assim, juntos, com ele apreciando a intimidade, o calor e o cheiro dela, até que ela sussurrou no sono.

– Lucas... Fique aqui comigo...

Então Garcia a soltou devagar e recuou, constrangido e irritado consigo mesmo pois tinha decidido ser paciente. Com cuidado, pegou Alice no colo e a acomodou na cabine, depois voltou para o convés e ajustou o curso. Um novo dia estava começando.

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