62 - Sem Sinal
Olá gente linda! Espero que estejam gostando da história. Aviso de violência no final do capítulo. O conteúdo não tem o objetivo de enaltecer a ação nem usar violência para entreter ok? Boa leitura.
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– Ele não está? Como assim não está? Você sabe para onde ele foi? – Lucas esfregou os olhos, a dor de cabeça atingindo um nível bem irritante agora.
– Recebeu um chamado urgente. Mas ele disse que não ia demorar. Você está bem?
– Sim... Por quê? – Lucas estranhou a forma como ela fez a pergunta.
– Não sei... Diante de tudo o que está acontecendo, enfim. Se precisar é só dizer.
Lucas achou ainda mais esquisito, porque sempre tinha alguma coisa acontecendo na DP, só que ele não sabia exatamente ao que Carol se referia. Como ia ter que voltar à delegacia, ele não deu muita importância ao assunto.
– Ok, Carol, fala pro Alencar me esperar aí quando chegar. Diga que não adianta ele me ligar porque não posso conversar com ele pelo celular. Eu chego logo, ok?
Lucas colocou o telefone no gancho, voltou para o SUV e apoiou a nuca no encosto do banco. A cabeça pulsava num nível intenso fazendo-o ter a impressão de que o crânio estava trincando. Sentir a dor o levou a pensar de novo em Ana e nas enxaquecas que ela tinha. Não devia ser nada fácil, e ele viu de perto o estrago que as crises dela provocavam. De repente, ele sentiu uma vontade insana de ouvir a voz dela.
Ele pegou o celular para ligar para ela e notou que o aparelho continuava sem sinal. Ficou intrigado, talvez fosse uma área de sombra. Pensando nisso, ele colocou o carro em movimento, observou a tela e nada do sinal voltar. Enquanto aguardava em um semáforo fechado, resolveu reiniciar o aparelho; com isso, o sinal foi restabelecido e as mensagens começaram a chegar.
Lucas ficou surpreso com a quantidade de notificações de ligações perdidas e mensagens. As de Ana eram as primeiras, depois de Antônio, Jair, e por fim, de Alencar. Ele se deu conta de que seu aparelho ficou sem sinal desde a parte da manhã, quando ele deixou o condomínio, e ficou ainda mais alarmado porque Ana tentou muito falar com ele ao longo do dia. Ele resolveu começar pelas mensagens dela.
Enquanto lia, Lucas ficava com o coração apertado. Ana estava preocupada, tinha precisado dele, mas ele não estava lá, sequer tinha respondido para ela mesmo sabendo que ela tinha visto as lesões que as balas provocaram nele e provavelmente estaria angustiada. Ele se sentiu péssimo porque nem conseguiu pensar nela ao longo do dia.
Esse era um outro aspecto dele. Não podia classificar como qualidade ou defeito, mas era algo necessário. Lucas ficava tão focado numa investigação que se esquecia de todo o resto, inclusive de comer ou dormir. Ele sabia que precisava arrumar um jeito do hiperfoco não atrapalhar sua saúde ou suas relações, principalmente com Ana. Ela havia ficado o dia todo presa naquela casa sem saber o que estava acontecendo, e ele deveria ter lhe dado atenção.
O fato era que ele mesmo não estava acostumado com isso. Ter alguém esperando em casa, não só para brigar ou reclamar, mas desejando que ele estivesse lá, era algo completamente novo, e Ana não tinha nenhuma vivência com essa coisa de ser a companheira de um policial; ela não entendia por que ele precisava se isolar e fazer o trabalho com a mente limpa. Lucas esperava que ela entendesse e, com o tempo, se acostumasse com essa realidade tão dissonante de tudo o que ela vivera até então.
Ele correu os olhos pelas mensagens dela e ignorou as de Antônio porque eram em áudio e ele preferia ouvir depois. A mensagem de Alencar o deixou um pouco assustado porque mandava ele ir direto para a delegacia:
"Não faça nenhuma loucura, venha direto para cá!"
Não fazer o quê? Lucas ficou cabreiro, mas nada o deixou mais aflito do que a mensagem de Jair:
"Tentei te ligar mas você não atendeu. Ela saiu num táxi, estava assustada, não me disse para onde ia".
Lucas sentiu a cabeça que já estava a ponto de explodir atingir um novo nível de dor. Só podia brincadeira! Ele tinha mandado ela ficar em casa, tinha sido incisivo e muito claro, por que ela não obedeceu? Angustiado, primeiro acionou o localizador, mas nada de pontinho vermelho no mapa. Depois tentou ligar no número dela, caiu direto na caixa-postal.
''Mas que porra! Que teimosa dos infernos! Não é capaz de atender um pedido meu! Um pedido! Merda, merda, merda!"
Uma buzina o fez se ligar que o semáforo abrira, obrigando-o a se mover. Ele recolocou o carro em movimento ao mesmo tempo em que ligava para Antônio usando o navegador do carro. Se sentiu mal por ter ficado tão irado com ela, mas não conseguia evitar.
– Alô? – O homem o atendeu com a voz perturbada – Lucas? É você mesmo?
– É claro que sou eu mesmo... Ana está com você?
– Como assim, está comigo? Ela não está com você no hospital? Como você está? Foi grave? Ela disse que ia me mandar notícias, mas não consigo falar com ela...
Nesse momento, Lucas sentiu como se uma manta gelada escorregasse lentamente por seu corpo, da cabeça aos pés. O gelo o envolveu até as entranhas, paralisando tudo. Antônio continuava falando algo, mas ele não conseguia ouvir, porque um apito no ouvido o impedia de escutar qualquer coisa.
Com a consciência se apossando dele como se alguém estivesse enfiando um espeto de churrasco no seu cérebro, Lucas entendeu tudo afinal, e então, o controle emocional que a todo custo ele estava buscando manter, desabou como um castelo de cartas.
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Ana acordou e sentiu uma pontada forte na cabeça, seguida de náuseas. Tentou se levantar, mas não encontrou apoio para as mãos. Na verdade, ela não encontrava as próprias mãos, os braços estavam dormentes em algum lugar do corpo que ela demorou a localizar, até que finalmente entendeu que mãos estavam presas às suas costas.
Aos poucos ela sentiu o formigamento doloroso do sangue circulando pelos ombros e braços, e a dor ardente dos pulsos flagelados por algo fino e cortante, provavelmente algum tipo de enforca-gato, que lhe penetrou a carne quando ela tentou se mover. Ela notou também que estava descalça, usava a mesma roupa de quando saíra da casa de Lucas, e lembrar disso trouxe uma avalanche de informações que despencaram sobre ela causando mais dor do que as que ela sentia nos pulsos.
O pânico começou a se projetar em seu peito ao se recordar de Lucas saindo apressado da casa sem o colete à prova de balas, depois a falta de contato, o telefonema, o hospital, Sérgio, os policiais... O que estava acontecendo? Lágrimas subiram aos seus olhos quando se lembrou da informação sobre Lucas baleado... Onde ele estava? Onde ela estava?
– Olá! – Gritou, mas a voz saiu rouca e trêmula. Tentou de novo, com mais energia – olá, tem alguém aí?
Em pânico, olhou em volta. Percebeu pelo balanço que estava no mar, na cabine de um barco.
– La morena finalmente acordou! – Um homem surgiu na porta da cabine. Ele era bonito, traços hispânicos, sotaque também.
– O que é isso? Me solta! – Ela pediu, apavorada.
– Vai acabar logo.
– Acabar logo? O que está acontecendo? Onde estão os policiais, Silva e o outro... E Lucas?
– Você é retardada ou o quê? Não deu pra sacar ainda que está presa aqui?
– Por favor... Eu...O que quer de mim?
Ele entrou na cabine e, do nada, desferiu uma bofetada no rosto de Ana. O impacto foi tão forte e rápido que ela não conseguiu se preparar nem prever o ato. Sentiu o sangue correr pelo queixo através de um corte no lábio inferior, e um dos olhos lançou faíscas direto para o cérebro enquanto flashes imaginários provocados pelo golpe cintilavam diante dela.
– Eu prefiro te calar com as mãos do que com uma fita. Mas posso usar os dois se não ficar quieta.
Não, ela não era nenhuma retardada. Mas demorou um pouco a entender a gravidade da situação, talvez porque sua mente se recusou a acreditar que algo assim pudesse estar acontecendo, ou porque estava acostumada a pensar nos outros ao invés de em si mesma. Numa situação apavorante, ela só conseguia pensar se Lucas estava bem, se o seu pai corria algum perigo, ou se Larissa e Pablo estavam seguros.
– Eres muy guapa... – O homem passou o polegar no corte da boca, colheu uma gota de sangue e levou aos próprios lábios. O olhar lascivo que ele mantinha sobre ela a fez se encolher contra a parede da cabine.
– Quem é você?
– Não que vá fazer alguma diferença para você saber quem eu sou, mas me satisfaz saber que meu nome ocupará sua mente enquanto nos divertimos aqui – ele colocou a boca bem perto da orelha dela e sussurrou, andes de lhe morder o lóbulo – Soy Diego, encantado!
Ana sentiu um calafrio percorrer todo o corpo, seguido de uma nova onda de náusea.
Com um sorriso escroto, Diego abandonou a cabine, e Ana se manteve quieta, concentrada em ficar bem, por si e pelo bebê que, até o momento, não havia passado de um inconveniente, mas tinha acabado de se tornar sua parte mais importante. Sentindo o gosto salgado das lágrimas misturadas ao sangue, fez uma prece, primeiro para que Lucas estivesse bem, depois para que ele a encontrasse, e tinha certeza de que ele a encontraria, de um jeito ou de outro.
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