50 - Algemas
Quase um mês se passou. Ana continuou trabalhando na Donatore e Lucas se manteve firme na terapia. No fim das contas, eles acabaram conseguindo se adaptar à rotina, ela ficava quase a semana toda na casa dele, e ele seguia com as sessões duas vezes por semana, o que acabou acelerando seu retorno ao trabalho.
Foram dias difíceis até Lucas se adaptar ao tratamento. Ana teve que lidar com o mau-humor que imperou nas primeiras semanas, mas nos últimos dias, Lucas finalmente começara a apresentar um comportamento mais equilibrado, e hoje seria seu retorno oficial à Delegacia de Polícia.
As pessoas deviam levar a terapia a sério.
Era um fato, Lucas estava bem mais controlado. A terapia o estava ajudando a lidar com a raiva contida, mas o que mais vinha colaborando para sua melhora eram as conversas com Antônio. Nos vaivéns entre pousada e condomínio, Lucas passava algum tempo de bate-papo com o homem, algo que de alguma forma acalentava carências ocultas relacionadas à falta do próprio pai.
Paralelamente, Ana andou fazendo pequenas mudanças na casa. Removeu os quadros das paredes e os substituiu por pinturas de pequenos artistas locais, obras simples adquiridas em feiras de artesanato, nada de muito valor, mas cheio de personalidade. Também resolveu pintar algumas paredes e, obviamente, já tinha transformado o closet e o banheiro numa baderna. Aos poucos a casa foi ganhando um tom mais vivo, um aroma mais humano e um clima mais alegre.
E por falar em clima, finalmente o calor dera uma trégua. Uma frente fria derrubara as temperaturas no final de semana, e o reflexo do clima se estendera pelos dias conseguintes. Devido a isso, Ana agora olhava os pés calçados com sandálias de tirinhas e tentava decidir se colocava um sapato fechado ou não, quando Lucas surgiu no topo da escada e começou a descer tranquilamente. A visão dele a fez se esquecer completamente do que estava tentando decidir.
Ele estava todo de preto. Usava uma camisa polo com o brasão da Polícia Civil, um cinto de guarnição, uma calça tipo cargo e uma espécie de coturno curto. Embora tivesse ameaçado, ele não chegou a remover a barba, apenas aparou um pouco os pelos e fez o contorno. O cabelo estava úmido e – pasmem - penteado - algo que Ana até então não tinha visto.
Ana desconhecia o fetiche por fardados até esse momento. Lucas estava tão absurdamente sexy que ela sentiu o coração disparar. Não era justo o homem ser tão bonito e conseguir ficar ainda mais bonito!
Lucas, por sua vez, se divertia com a expressão dela, que simplesmente não conseguia esconder o que sentia e pensava. O olhar vidrado e a boca aberta eram uma mensagem clara, e ele ficou cheio de vontade de atacá-la.
– Lucas, acho que hoje não é um bom dia para você voltar a trabalhar... – Ela insinuou de modo provocativo, enquanto passeava com a unha pelo brasão bordado na camisa dele.
Lucas a envolveu com um braço e colou os lábios em seu pescoço ao mesmo tempo em que aspirava seu aroma avanilado. O movimento o fez perceber o decote do conjunto social que ela usava, o que amplificou o desejo.
Nos últimos dias, Ana estava ainda mais linda, radiante e incrivelmente deliciosa. Ganhara um pouco de peso, estava cheia de energia porque voltara a surfar e parecia sustentar um brilho, uma aura diferente, mais madura e consciente do poder que exalava sobre ele.
– Ah, Ana... não me provoca...
– Quero brincar de polícia e ladrão com você – ela ronronou e se esfregou nele.
Ele não conseguia tirar os olhos da curva dos seios que pareciam querer saltar para fora do decote, e ficou tão desejoso que por pouco não se entregou à brincadeira. No entanto, se esquivou aos risos.
– Ana, você é gostosa pra cacete, mas não quero perder o horário.
Por conta do treinamento, ele sempre foi muito disciplinado em relação a isso e, de certa forma, era satisfatório notar que ainda possuía algum autocontrole no que dizia respeito a ela.
– Vamos, antes que eu cometa um crime só para você ser obrigado a me algemar. – Ana brincou e Lucas lhe deu uma mordida no ombro.
≈
Lucas chegou à delegacia e foi recebido com festa pelos companheiros do DEIC. Ele era muito querido no departamento por sua dedicação, competência e lealdade. A primeira pessoa que o recebeu foi o seu parceiro Douglas Garcia.
– Pô, cara, que prazer ter você aqui de novo! – Garcia o cumprimentou com um abraço desajeitado seguido de tapas nas costas – não via a hora de você voltar, isso aqui está uma bagunça sem você.
Lucas sorriu sabendo que era exagero do amigo, o departamento sempre foi bem organizado e não desandava só porque uma pessoa não estava trabalhando.
– Não brinca! Vocês não fazem nada direito mesmo! – risos – Que nada, Garcia. Saudades de você também. De todos vocês.
– Russo! – Morato chegou para abraçá-lo, seguido por Alencar, Souza e Lívia.
– Morato! Como vai a família? E o moleque? Já nasceram os dentes? – Lucas disparou, com a mão no ombro do agente mais novo.
– Ele já está andando, Russo! – Morato respondeu, rindo. Lucas sentiu o peso dos meses de afastamento, e isso o entristeceu. Não podia culpar ninguém além de si mesmo por isso. Se ele tivesse sido menos teimoso, teria retornado antes.
– Como você está? – Lívia perguntou, com interesse sincero. Ele sabia que ela se referia ao seu estado emocional.
– Nenhum computador quebrado nos últimos meses – e sorriu para ela.
Lívia e Lucas foram amantes no passado, bem antes dele conhecer Alice. O caso durou quase um ano e acabou definhando por conta do estresse de trabalharem juntos e nem sempre concordarem com a metodologia um do outro. Contudo, contrariando o esperado, eles conseguiram permanecer amigos mesmo após o término da relação. Quando Lucas surtou, Lívia foi uma das poucas pessoas que o apoiou, mas ele estava tão perturbado na época que não conseguiu considerá-la uma aliada.
O problema era que Lívia era Perita Criminal e tivera acesso à autópsia de Alice, mas se recusara a compartilhar as informações com Lucas por medo de se envolver numa conspiração. Lucas ficara tão aborrecido com ela na época que a isolara, bem como isolara todo o departamento.
Agora, estando ali entre eles, parecia que fazia uma eternidade desde que ele saíra pisando duro dali, culpando tudo e todos pelos próprios problemas.
– Russo, pode vir até minha sala? – Alencar chamou Lucas enquanto os colegas iam se dispersando, cada qual para o próprio posto.
– Já vou – Lucas respondeu a Alencar e foi em direção à própria estação de trabalho. Olhando em volta, ele notou o quanto sentira falta de estar ali. Vários companheiros deixaram bilhetes e cartas com votos de plena recuperação em sua mesa, solidários por sua perda. Todos ali sempre foram muito unidos e comprometidos, e naquela época Lucas se sentia parte de algo maior quando estava entre eles.
O problema é que tudo mudou quando ele soube que havia policiais corruptos no mesmo local. Olhou para os colegas, pessoas a quem ele confiara a própria vida em operações policiais, e lamentou porque sabia que não seria mais capaz de agir da mesma maneira.
Depois da comoção gerada por sua volta, Lucas foi ter com Alencar. Não podia perguntar se o delegado recebera o dossiê que ele preparara, nem se faria algo a respeito, porque Alencar nem desconfiava que Lucas passara todo esse tempo trabalhando escondido no caso; bem, se ele chegou a desconfiar, Lucas nunca saberia.
Quando voltou à própria mesa para pôr a papelada em ordem, Garcia se juntou a ele para atualizá-lo sobre os inquéritos em andamento. Lucas estava contente em finalmente passar mais tempo com o amigo de anos.
O dia estava só começando.
≈
– Quando a gente vai conhecer o hóspede misterioso e rico?
Ana deixou a cestinha de batatas fritas de lado, alcançou o milkshake, depois mergulhou uma batata na massa gelada e levou à boca.
– Quando ele quiser, Larissa. Por mim, já teria marcado algo pra gente fazer juntos.
– Qual é o problema dele? Vai dizer que ele é desses que não se misturam com gente de diferentes níveis sociais...
– Ele nem é tão rico assim, Larissa. Para de onda!
De fato, Lucas não tinha nenhum comportamento nesse sentido. Como ele mesmo havia dito, ele tinha dinheiro, bastante dinheiro, mas não ostentava. Embora usasse roupas de playboy, como ela gostava de classificar, e tivesse um SUV irado, ele vivia de modo simples, como se nada daquilo lhe pertencesse.
Há uma semana ele a levara para conhecer a própria família, e Ana ficou encantada com Helena e o irmão dele, Luís. Ela também conheceu o Leo e a esposa, e se apaixonou pelos sobrinhos dele, três meninos, uma escadinha dos dois aos cinco anos. Ela só não conheceu Edu, o irmão mais velho, porque ele estava de plantão em algum hospital na capital.
Lucas tivera uma criação excelente, por isso não dava muita importância ao status social. Os valores familiares eram importantes para ele, e foi divertidíssimo ver a interação dele com os sobrinhos, e como as crianças o amavam. De fato, ali entre os seus, ele era um Lucas totalmente diferente, carismático, bem-humorado, leve e dedicado; ela saiu de lá ainda mais apaixonada.
– Você vai comer essa batata? – Ana perguntou, apontando para a cestinha abandonada na mesa por Larissa. Essa empurrou o petisco para Ana, que o atacou cheia de apetite.
Ultimamente, Larissa andava obcecada em conhecer o tal affair de Ana, o que a vinha preocupando um pouco. Mesmo sabendo que uma hora ou outra seus amigos iam acabar descobrindo sobre seu caso amoroso, Lucas ainda permanecia irredutível em sair no anonimato.
Ana achava que ele estava sendo paranoico, mas não podia julgá-lo. Segundo ele, tudo aquilo era para a segurança dela, embora ela não acreditasse mais que estivesse correndo algum perigo.
Depois daquela mensagem estranha que Pablo interceptara há semanas, o rapaz não descobriu mais nada, e a vida foi voltando ao normal. Lucas se cansou de exigir que ela mudasse de emprego, e ela acabou se habituando à rotina de ignorar Ricardo e estreitar relações com os colegas de trabalho, embora às vezes vasculhasse documentos estrangeiros em busca de alguma coisa fora do normal, sempre que podia.
– Homens são muito complicados. Estou pensando em "cortar pro outro lado" só pra ver como é.
– Você, Larissa? Você com uma garota? Essa eu quero ver.
– Ainda bem que já inventaram o cintaralho.
Ana quase cuspiu o milkshake com a gargalhada que deu, e um pouco do líquido chegou a sair pelo nariz.
– Larissa!!
– O problema é que eu gosto muito de piroca, sabe?
– Há, não me diga! Quantas você experimentou só nas últimas semanas?
– Nem foram tantas assim... é que é difícil decidir, sabe? Existem tantas texturas, tamanhos, circunferências... – Larissa fazia movimentos obscenos com a mão enquanto se expressava, e Ana ficou vermelha de tanto rir.
– Chega Larissa! – Ana ergueu as mãos, quase sem ar – Não quero ouvir mais nada. Você é muito tarada, meu Deus!
– O que me leva ao seu querido hóspede ricaço misterioso...
– Eu não vou te dizer como é o pau dele. Pode esquecer.
– Egoísta! Deixa pelo menos eu ver uma foto dele! Com todo esse mistério, ou ele é algum ator famoso, ou um traficante.
– Pare de ser besta! Veja bem, eu vou falar com ele de novo. Se tudo der certo, no próximo final de semana a gente toma uma cerveja juntos. Quem sabe até lá você arruma um príncipe encantando superdotado para não ficar de vela no meio da gente.
– Vá tomar no cú, Ana. – Larissa brincou e jogou uma batata nela – embora isso nem seja tão ruim, preciso te dizer. Já experimentou?
– Desisto! – Ana revirou os olhos.
≈
À noite, quando Lucas chegou em casa, Ana o esperava só de roupão. Ela pegou na mão dele e o levou até a suíte. Chegando lá, se arrastou pela cama de modo sensual enquanto Lucas a contemplava com olhos ávidos.
Ela havia passado o dia todo fantasiando com ele, com a farda dele, com as algemas dele e com a pistola...
– Muito bem, oficial Russo. Onde estão as algemas? – Ela se deitou de costas e abriu os braços, estendendo-os acima da cabeça.
Lucas riu de modo lento e grave, e o som rouco penetrou Ana como se a arranhasse por dentro. Ele começou a desafivelar o cinto de guarnição enquanto apoiava o joelho sobre colchão, ao lado do quadril dela.
– Eu não sou um oficial, Ana. Apenas policiais militares podem ser "oficiais" – ele mantinha um sorriso provocativo nos lábios – e não sabia que você curtia essas coisas.
– Tem que ter alguma vantagem em você ser policial, querido "não oficial" Russo. E do jeito que é controlador, deve ser um tesão para você poder me dominar... ah... – Ana arfou quando ele espalmou sua coxa, depois roçou sua intimidade com o polegar de forma lenta e circular.
– Não posso usar as algemas em você. Uma porque não posso mesmo, outra porque elas podem te machucar. Mas devo ter alguma gravata no meio daquela bagunça de closet... – ele percorreu a mão pelo corpo dela a partir da pelve, subiu soltando o cordão do roupão, passou pelo meio dos seios e pela lateral dos braços até os pulsos, então os juntou sobre a cabeça dela num agarre firme – embora não ache que vá precisar...
Ana deixou escapar um gemido entrecortado quando ele afastou suas pernas com o joelho e, enquanto a garra aprisionava suas mãos contra o colchão, abriu o zíper da calça e afundou a boca em seu pescoço.
– Lucas!
– Você está presa, sereia levada... Agora vou ler os seus direitos...
– Aaahhh...
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