37 - Sem Limite
Aviso de insinuação erótica ao longo do capítulo, mas esse capítulo é bem intenso e recheado de sentimentos, então vale a pena ler. Boa leitura!
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Lucas dirigia em alta velocidade enquanto costurava habilmente o trânsito local. Assustada, Ana se segurava no banco, concentrada no caminho e no vulto dos veículos que ficavam rapidamente para trás enquanto ele serpenteava entre os carros. Por vezes, ela se encolhia quando ele passava muito próximo a algum obstáculo, e o olhava de soslaio buscando antever seus movimentos ao volante.
Lucas tinha aquele jeito insano de dirigir que os policiais usavam com as viaturas em perseguições: ousado, frenético e absurdamente veloz.
Quando eles chegaram a uma pequena estrada, ainda que enjoada pelo sacolejar do veículo, Ana conseguiu respirar com mais calma. Mesmo acelerado, o SUV seguia sem desvios bruscos. Eles avançaram por uma serra, cortando as montanhas sentido sul. Ela recostou no banco e ficou observando-o.
Mesmo com os vidros fechados, seus cabelos pareciam despenteados pelo vento. Sua roupa parecia úmida, a linha fina entre os olhos estava mais proeminente, como se ele estivesse muito zangado. Seus olhos saltitavam sem parar entre os retrovisores e o para-brisa, e a mão que repousava sobre o câmbio tremia discretamente.
Era impossível para ela descrever a sensação de contemplá-lo ali, tão próximo. A falta que sentira dele fora tão ardente que ela nem se importou em saber de onde ele viera, para onde ele a estava levando ou como havia surgido tão subitamente para arrebatá-la daquele lugar. Ela tinha medo de abrir a boca e dizer algo que dissipasse este momento.
Lucas seguiu por mais dez minutos pela rodovia num completo silêncio. O sol se punha e o crepúsculo o obrigou a acender os faróis. Quando a noite os engoliu, ele fez uma curva brusca à direita numa via de acesso a uma estrada de terra, avançou por mais alguns metros e parou num acostamento, derrapando os pneus.
Do lado de fora, era impossível ver qualquer coisa, apenas a vegetação parcialmente iluminada pelos faróis e a nuvem de poeira que as lanternas traseiras revelavam. Do lado de dentro, o silêncio era cortado apenas pelo respirar pesado de Lucas, tornando o ambiente tão denso que era quase impossível se manter perto dele.
Mas para Ana não era impossível. Era imprescindível. Ela continuou olhando para ele, incerta e temerosa. Ele fechou os olhos e removeu o cinto, depois encostou a testa no volante, tão desolado, tão angustiado que ela não conseguiu refrear o impulso de tocá-lo. Ela removeu o cinto e repousou a mão em sua coxa.
Ao sentir o toque delicado, ele estremeceu e colocou a mão sobre a dela por alguns segundos, depois entrelaçou os dedos, se inclinou e a puxou contra si, capturando os lábios de forma abrupta, quase rude.
Ana sentiu uma onda de calor tão intensa e uma emoção tão profunda que o peito chegou a doer. Quando ele forçou a língua para dentro da sua boca, todas as suas terminações vibraram em expectativa e seu coração palpitou alucinado. Ela sentiu lágrimas subindo aos olhos e descendo pelo rosto até os lábios conectados.
Eram lágrimas de saudade, de ansiedade, de medo de que tudo não passasse de um sonho.
Lucas sentiu o gosto salobro do pranto e aprofundou o beijo, sôfrego, urgente e provocante. Ana ergueu as mãos e o segurou pelos cabelos, deixando escapar um gemido. Ele abriu os olhos e ela se afogou no brilho ferino e transparente.
– Eu pensei que nunca mais o veria... – ela sussurrou, as lágrimas continuavam rolando, infindas.
Ele não respondeu, apenas ofegou. Sem desviar os olhos, ele deslisou a mão sob a saia curta até a borda da calcinha. Agora, ela quase não podia ver o verde da íris, as pupilas dele estavam tão dilatadas que os olhos pareciam pérolas negras. Quando ele afastou a renda, seus lábios se chocaram num beijo tórrido, e ela abriu as pernas para recebê-lo mais fundo.
Lucas a sentia cada vez mais escorregadia, e isso o deixava ainda mais alucinado. Parecia uma eternidade desde que a tocara pela última vez, e o desejo de possuí-la era quase insuportável. Ele a tocava, mordia seus lábios e chupava sua língua com volúpia, e ela correspondia cada carícia com a mesma intensidade.
Quando Lucas a sentiu inchar e se expandir em torno dos dedos que a estimulavam, estreitou ainda mais a distância e a tocou mais fundo, até que, com um grito esmagado pelos lábios cativos, ela explodiu num êstase morno e gelatinoso em sua mão.
Embevecido, ele removeu os dedos de dentro dela e os colocou na boca, e se deliciou com o sabor e o aroma tão cobiçados. Emocionado, prendeu o olhar no dela, certificando-se de que ela o estava acompanhando em seu enlevo enquanto lambia sua essência feminina.
– Lucas... – ela segurou a mão que ele mantinha à boca e o puxou para perto.
– Tive medo de nunca mais sentir você, Ana.
– Por que você foi embora?
Ele enroscou as duas mãos nos cabelos dela, deslizou até a nuca e a puxou para si num outro beijo, agora muito mais delicado, profundo e doce a ponto de fazer seus olhos ficarem molhados de novo.
– Eu amo você, Ana.
Nesse momento, Ana percebeu que nem os temores, ou as dúvidas, nem Alice, Nancy ou Ricardo, nada poderia arrebatá-la dessa sensação de completude. Não era remorso o que ela sentia, tampouco era culpa, mas uma necessidade pura e simples, desejo cru e ardente, paixão e amor reais. Encostou a face no rosto dele para sentir o arranhar da barba rala.
Deus... que saudade da sensação, do cheiro, do calor...
– Eu te amo, Lucas. Prometa que não vai mais embora. Por Deus, me prometa que não vai me abandonar outra vez.
– Eu nunca te abandonei.
Eles continuaram assim por um tempo, Ana escorregou o rosto até o ombro dele e repousou a cabeça ali enquanto aspirava o tão amado aroma e ouvia o coração descompassado. Ele parecia trêmulo, agitado, como se ele todo vibrasse. Ela não sabia o que era, nunca o sentira desta maneira, então ergueu a cabeça e o fitou nos olhos.
Lucas a encarou de volta de modo profundo. O fogo verde estava diferente, mais escuro, mais sombrio. Ela começou a se preocupar.
– O que houve com você? – Estendeu a mão até o rosto dele, mas ele segurou seu pulso com firmeza.
– Por que você está tão magra?
Ana olhou para o vinco entre os olhos vidrados e o acariciou ali, contornou as sobrancelhas com a ponta dos dedos e os lábios com o polegar. Ele continuava fitando-a, intrigado.
– Não gostou?
– Não é isso, é que você parece...
– Doente. Eu sei. Não é nada, é que... comer e dormir se tornou um evento depois que você foi embora.
Ana percebeu quando as pupilas dele se dilataram de novo, e o movimento do pomo de adão quando ele engoliu em seco. Mas ele não falou nada, apenas recolocou o cinto e girou a chave. O SUV arrancou deixando um rastro de poeira, e eles voltaram para a estrada.
Lucas dirigiu por mais ou menos uma hora até chegar a uma grande rodovia e pegar a alça de acesso sentido à capital. Ana procurava se manter calma, mesmo ele não abrindo a boca.
Apesar do beijo e do momento que compartilharam, ele continuava com a mesma expressão carrancuda, o cenho franzido e a boca cerrada. A mão direita ainda tremulava, de fato, todo ele ainda tremia. Algo estava muito errado com ele, e Ana não sabia o que era nem o que fazer para o ajudar.
– Para onde você está me levando? – Ela buscou quebrar o silêncio.
– Para longe de lá.
Ela esperou que ele continuasse, mas ele só trocou de faixa e acelerou ainda mais o veículo, ultrapassando em muito o limite de velocidade permitido.
– A Lei de Trânsito não se aplica aos policiais? – Ela tentava a todo custo quebrar a atmosfera pesada.
Lucas manteve o ritmo como se ela não tivesse dito nada. Ela não fazia ideia do caos que se passava dentro dele. Ele tinha acabado de ler a carta de Alice, a descoberta, a volta, estar com Ana depois de tanto tempo, o misto de ódio, tristeza e paixão o faziam sentir como se estivesse sendo chacoalhado dentro de uma lavadora de roupas.
Ana queria perfurar a bolha, mas não sabia como, então tentou outra abordagem:
– Eu passei por uma situação muito assustadora na casa do Ricardo.
Na mesma hora Lucas tirou o pé do acelerador e olhou para ela, se dando conta de que estava tão concentrado na história da carta e revoltado com todo o resto que não chegou a averiguar se ela estava bem. Um vislumbre de lágrimas voltou à sua mente confusa.
Sim, ela chorava quando ele a abordou em frente à mansão Donatore. E por que ela chorava?
– O que aconteceu? – Ele basicamente rosnou a pergunta.
– Ricardo me chamou para uma reunião estranha com a sócia dele, a Nancy. Ela me acusou de estar trabalhando para você. Foi horrível – ela interrompeu a narrativa quando percebeu a mão de Lucas apertando o volante e a velocidade do carro subindo.
Talvez não tivesse sido uma boa ideia tocar nesse assunto agora.
– O que mais?
– Mais nada, Lucas. Não era importante.
– O que mais eles disseram, Ana?
– Você está muito nervoso...
– Fala, porra!
Os carros ultrapassados pareciam um borrão. Ela estava agora bem mais assustada.
– Perguntaram se eu era sua amante antes de... bem, você sabe. Antes da morte da Alice...
– Filhos da puta! Filhos da puta do caralho!
A explosão dele a fez pular no banco.
– Lucas... eu estou com medo. Você pode ir mais devagar?
Ela decidiu não dizer mais nada. Não até que ele estivesse mais calmo e não corressem mais o risco de virar estatística de acidente de trânsito. Lucas diminuiu um pouco a velocidade, mas seguiu em nervoso silêncio por mais dez minutos até chegar a um motel na beira da estrada.
– Vamos ficar aqui esta noite. É afastado e irrastreável. Amanhã, preciso resolver uma coisa na capital e você vai comigo.
Lucas simplesmente decretou. Não pediu a opinião dela nem a consultou, só procedeu como um agente da Lei. Sabendo que estava pisando em ovos, Ana decidiu não o contrariar, ao menos não por enquanto. Ele estacionou o SUV em uma garagem privativa e recuperou uma bolsa no banco de trás antes de entrar na suíte. Ela o seguiu em ansiosa expectativa.
Quando ele fechou a porta, Ana se voltou para ele imaginando que talvez fossem conversar, que ele fosse esclarecer o motivo de tê-la "sequestrado", ou ao menos o motivo de ter desaparecido e retornado de uma maneira tão abrupta, mas ele soltou a bolsa e a prendeu contra a parede.
Ela tentou protestar enquanto ele puxou os grampos que sustentavam o seu coque, libertando as madeixas, depois enfiou a mão nos seus cabelos, aspirando seu aroma.
– Lucas... espera... precisamos conversar!
– Depois a gente conversa – ele respondeu enquanto fazia um caminho com a língua da orelha até o ombro. Ela suspirou, desejosa, mas ainda resistiu.
– Lucas, espera, eu...
– Ana, me deixa amar você. Por favor...
A forma como ele pediu acabou com qualquer argumento. Rendida, ela o abraçou e o beijou nos lábios. Tinha esperado tanto por isso, o diálogo podia esperar também.
Lucas a suspendeu nos braços e a levou até a cama; removeu afoito as peças de roupa que os separavam, depois beijou cada pedacinho da pele morena, desde o pescoço até os dedos dos pés. Ana se sentia como um néctar que Lucas saboreava lentamente, desfrutando, se alimentando dela.
E era exatamente assim que ele se sentia. O tormento das últimas horas atingiu seu ápice quando ele finalmente fechou a porta atrás de si. Precisava dela, precisava que ela o envolvesse em seu bálsamo curativo, ansiava por preenchê-la com sua ânsia, fartá-la com seu toque, fundir-se a ela de forma definitiva.
Lucas precisava se convencer de que Ana era uma escolha dele, não um joguete, não uma mentira.
– Me diga que isso não foi por minha causa, Ana... – ele passou os dedos pelas costelas aparentes e Ana suspirou com o toque.
– Eu não digo...
Ele a contemplou por um tempo, em completo silêncio. Ela percebeu seus olhos molhados e não suportou vê-lo assim, então o atacou com os lábios na tentativa de arrancar o tormento de dentro dele. Ele se entregou, mas logo assumiu o controle, e quando a possuiu, ela soube que ele pertencia a ela, somente a ela, e que nem se Alice voltasse dos mortos, seria capaz de os separar.
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Não se esqueçam de deixar comentários do que estão achando. Mais emoções estão por vir!
bjs!
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