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34 - Encharpe Amarela

Ana chegou ao trabalho encharcada. Fazia três dias que chovia ininterruptamente. Esses períodos chuvosos eram bem comuns no Litoral Norte de São Paulo, mas o fato de serem comuns não os tornava menos irritantes.

Ela seguiu direto até o lavabo para secar um pouco da água dos braços e pernas e se recompor antes de assumir seu posto. Diante do espelho, reaplicou a base a fim de esconder as olheiras provenientes de noites insones, e um batom para imprimir alguma alegria, ainda que falsa, ao rosto cansado. Analisou por um tempo o próprio reflexo. Quase convincente, se não fossem os olhos tristonhos e sem vontade.

– Menina, que droga de tempo! Pior é que o fim de semana vai permanecer igual – Larissa se queixou quando a viu se acomodar atrás do computador. Ana não respondeu, apenas sorriu, um sorriso que não lhe alcançou os olhos.

Fazia quase um mês desde que Lucas foi embora da pousada. Foi no dia seguinte à conversa que tiveram, quando ele contou toda a verdade a ela. Ana não podia descrever o que sentiu quando saiu do quarto pela manhã e Antônio comunicou que Lucas havia devolvido a chave da suíte 7 na primeira hora, sem aceitar o reembolso do pagamento adiantado.

Então Lucas saiu da sua vida assim, do mesmo jeito que entrou: fugaz e silencioso, sem uma única palavra ou promessa. E por causa disso, tinha quase um mês que ela não dormia direito nem comia de forma adequada.

O que mais a machucava era a lembrança de tê-lo tão perto, ao alcance de uma palavra, mas por medo ou orgulho ela permitiu que ele partisse. Naquela fatídica noite, ela permaneceu insone, repassando o relato na cabeça e revivendo cada parte da história, e acabou concluindo que Lucas não tinha feito nada além de ocultar alguns detalhes da vida pessoal.

Lucas não mentiu sobre ser viúvo porque nunca disse que era solteiro, também não mentiu sobre ser policial porque nunca declarou ser outra coisa. Ele nunca revelou nada sobre si pois eles nem tinham se dado a chance de ter um relacionamento que exigisse tais revelações. Lucas só começou com inverdades quando foi pego de surpresa, já que ela praticamente vomitou na cara dele.

E lá estava ela de novo arrumando desculpas para perdoá-lo. Se queria tanto "passar o pano", por que não fez isso quando ele ainda estava ao alcance? Coisas dela. A resignação sempre vencia a determinação. Na mesma noite da discussão, Ana entendeu que toda a comoção, sua própria raiva e indignação, tinham mais a ver com a insegurança que a breve existência de Alice representava do que com o que Lucas tinha ocultado.

Não era para menos. Ana não só assumiu o trabalho de Alice, mas também o seu homem, e isso a fez se sentir maculada, uma réplica barata do que deveria ser. A sombra de Alice sempre estaria entre eles, lembrando-a de que Lucas pertencera àquela mulher, muito mais bonita, capaz, interessante e superior.

– Ana, Ricardo quer conversar com você. – Carla comunicou, analisando-a de cima a baixo – credo, você está um horror! Não pode entrar lá toda molhada assim. Venha! – Elas entraram em um closet anexo ao escritório, onde a amiga a envolveu com uma echarpe amarela.

Ana caminhou até a sala de Ricardo, sem se preocupar muito com sua aparência. Estava cansada de se sentir tão letárgica; talvez, quando conseguisse estancar o sangramento que Lucas causara em seu coração, voltasse a reagir.

– Bom dia, Ana. Como você está hoje?

Ela ajeitou a echarpe e tentou colocar o melhor sorriso nos lábios. Ficou curiosa em saber se a pergunta dele antevia os problemas que ela vinha enfrentando.

– Estou bem, obrigada.

– Você me pareceu um pouco abstraída nesses últimos dias. Não é uma queixa, só estou preocupado com você.

Ana ficou envergonhada por ele ter notado seu estado emocional. Precisava se recuperar logo, deixar isso para trás antes que viesse a ter outros problemas por conta disso.

– Estou com alguns problemas para dormir, mas tenho o final de semana para me recuperar. Me desculpe se tenho sido insuficiente.

– De forma alguma! Não diga uma coisa dessas, você tem feito um ótimo trabalho até aqui. Tão bom que eu gostaria de lhe fazer um convite.

– Se você diz... – Ela estava surpresa. Não tinha sido tão bom assim.

– Gostaria de convidá-la à minha casa amanhã para uma reunião com Nancy, minha sócia. Ela só ficará no Brasil até o domingo e está hospedada em minha residência. Ela gostaria de conversar, te conhecer melhor antes de partir. Como está o seu espanhol?

Ana sorriu. Ela falava o espanhol melhor do que o inglês.

– Todo está bien con mi español.

Muy bien – ele respondeu, sorrindo – Carla vai te passar o horário. Não se preocupe, não será um encontro formal, e eu vou remunerá-la pelo fim de semana.

Ela agradeceu e deixou a sala. Ao voltar para a própria mesa, Pablo a abordou.

– Ana, será que um dia desses a gente pode tomar um café? Quero conversar com você sobre alguns assuntos.

Ela não estava com tempo para isso. Não estava no clima para confraternizar, nem em condições de lidar com nada no momento.

– A gente marca, ok? Mas esse final de semana não vai rolar. Vou ter que trabalhar.

– Tranquilo. Mas só para você entender, não é o que você deve estar pensando. É um outro assunto, particular, e eu preciso falar com você fora daqui. Quando puder, me avisa.

Ela seguiu para a própria mesa sem responder e continuou sua rotina. Perto da hora do almoço, seu celular vibrou. Número desconhecido. Ela atendeu com o coração apertado, mas a ligação não completou. Desanimada, devolveu o aparelho à mesa, e foi quando uma mensagem apareceu na tela.

"Não vá à casa de Ricardo no sábado. Não se envolva com essa gente."

Ela olhou em volta, todos estavam absortos em suas tarefas. "Que merda é essa?"

Só podia ser uma brincadeira. Se fosse qualquer um dos seus amigos do trabalho, eles não mandariam uma mensagem anônima, mas falariam direto com ela. Ela buscou o remetente da mensagem, mas não havia registro, e nem mesmo a mensagem, que simplesmente desaparecera.

Confusa, ela passou o resto do dia pensando no assunto. Como seria bom conversar com alguém sobre isso... Lucas era investigador, provavelmente saberia o que fazer.

Lucas...

Infelizmente, ela não tinha como contactá-lo. No dia em que ele partiu, quando ela deu por si e se arrependeu de tê-lo recusado, chegou a ligar algumas vezes para o número que ele tinha fornecido no cadastro da pousada, mas recebia sempre a mesma mensagem de número desligado. Ela ligou na delegacia também, e depois de um longo tempo de espera, foi informada de que ele estava afastado por doença; por fim, foi ao condomínio na última tentativa desesperada de tentar falar com ele, então o porteiro comunicou que Lucas não tinha mais colocado os pés por lá.

Sim, Ana se humilhou a esse ponto. Descobriu que se tornara uma daquelas personagens de novela que sofrem do primeiro ao último capítulo por um amor idiota que termina num casamento corrido no final da trama. O duro de tudo isso, é que ela não estava numa novela onde finais felizes são uma grande certeza.

– Você fica bem de amarelo! – Larissa comentou antes de sentar-se na cadeira ao seu lado.

– Não é bem minha cor, mas se ficou bom, posso repensar...

– Como você está, Ana?

Larissa a olhava com simpatia. Nas últimas semanas, a relação delas se estreitou significativamente, principalmente por todas as vezes que a amiga a pegou chorando escondido em alguma cabine de banheiro. Ana acabou abrindo um pouco do que houve com ela, sem, contudo, dar qualquer detalhe importante. Ela se limitou a dizer que se envolveu com um hóspede da pousada, se apaixonou e que ele foi embora sem dizer adeus.

– Estou melhor. Focada em estudar, agora que comecei o curso de Alemão. Vou vivendo um dia de cada vez.

– Você está comendo direito? Está muito magra, amiga... isso faz mal, você precisa pensar em você! Quer ter outra crise daquelas?

Larissa estava se referindo a uma crise de enxaqueca que Ana tivera na semana anterior. Ela chegou a perder os sentidos e teve que ser levada ao pronto-socorro. Uma tarde inteira de soro e um coquetel de analgésicos a colocou num sono bem-vindo de 12 horas, mas no dia seguinte, a insônia voltou, bem como as dores de cabeça em diferentes níveis de intensidade.

Ana achava um absurdo estar tão afetada assim. Ela nem chegou a passar tanto tempo com Lucas para ficar tão abatida com a ausência dele. Ela não imaginava que estar apaixonada era tão doloroso, e se gostar de alguém podia ser tão ruim, por que todo mundo parecia querer viver essa merda?

Infelizmente, por mais que parecesse exagerado, ela não conseguia evitar. Ela não conseguia parar de pensar nos olhos verdes, tristes, perdidos enquanto contavam a pior história de todas. Talvez nem fosse amor. Talvez fosse apenas remorso.

– Eu estou comendo, Lari. Juro que estou me esforçando, ok?

– Eu estou de olho em você, viu? Não adianta tentar me enganar. Vamos até a copa, tenho algumas frutas na geladeira.

Ana seguiu Larissa e aceitou dela uma maçã, que mordeu como se fosse de isopor. De fato, ela chegou a perder quase cinco quilos, e para alguém que já era magra, agora as costelas apareciam quando ela erguia os braços, e o rosto estava mais encovado. Há quem ache isso bonito, Ana achava que parecia doença, mas nem isso a motivava a engolir a maçã mastigada que dançava em sua boca.

– Eu não consigo entender por que isso me afetou tanto. – Ana comentou, com a boca cheia – Ficamos juntos por pouco mais de um mês, não era para eu ter ficado tão mal, sabe? Mas não consigo parar de pensar... que foi minha culpa que deu tudo errado.

– Não, Ana! Nem vem com essa! Ou não é culpa de ninguém ou é dele. Sempre dele! Se ele foi embora sem dizer adeus, é porque não achou que você valia a pena. Então enxuga essa cara molhada e volta a comer para preencher essas curvas pro próximo da fila!

Pablo entrou na copa e comentou algum assunto de trabalho com Larissa, e essa foi a deixa para Ana cuspir a maçã num guardanapo e jogar tudo no lixo sem que Larissa visse.

Talvez fosse só culpa, talvez nem fosse paixão. Ela ouviu dizer certa vez que a culpa corroía as pessoas por dentro, e provavelmente esse era o problema dela. Uma hora tudo isso iria passar, ela precisava acreditar nisso com todas as suas forças, antes que desaparecesse numa poça de lágrimas sem sentido.

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