13 - Sono sem Sonhos
Ana entrou em seu quarto e seguiu direto para o banheiro. Sob o chuveiro, enquanto a água morna acalmava seus nervos, refletiu sobre suas ações. À medida que o entorpecimento do momento se dissipava, a surpresa aumentava.
Ela realmente havia caído de boca no cara, e de cara!
Claramente ela já tinha feito isso antes, mas nunca agira de forma tão deliberada, tão lasciva antes. Não que fosse uma santa, longe disso, mas aquilo havia sido no mínimo... intenso.
No passado, Ana teve sua cota de aventuras, algumas boas, outras nem tanto. Sexualmente ativa desde os 17 anos, teve apenas dois namorados mais sérios, isso quando já estava na faculdade. Entre um relacionamento e outro houve tentativas, algumas renderam histórias, outras lágrimas. Ela nunca foi uma pessoa inibida nem encanada com o assunto, e no meio de tudo, ela realmente aproveitou cada momento e não podia se queixar, nem pela diversão, nem pelas decepções.
Agora ela tinha a oportunidade de vivenciar uma nova experiência. Não era nova pelo ato em si, mas pelos sentimentos envolvidos. Ela não se recordava de já ter se sentido tão fisicamente atraída por alguém no passado como se sentia por Lucas, e atribuía isso ao amadurecimento do corpo e da mente, além da abertura que se permitiu para desfrutar plenamente do prazer do sexo sem a necessidade de compromissos. Enquanto conseguisse manter essa fronteira entre emoções e desejos, acreditava que estaria bem.
Ela saiu do banho e recolheu as roupas do chão, só então se dando conta de que esquecera a calcinha para trás. A constatação trouxe a lembrança das mãos de Lucas deslizando a lingerie por suas pernas, e seu ventre se contraiu em resposta imediata. Ainda sorrindo, ela se deitou e, contrariando as expectativas, dormiu quase que instantaneamente.
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Lucas permanecia de pé e imóvel, exatamente como estava quando Ana saiu do quarto. Sentia o aroma dela em si e não queria nunca mais tomar banho. Estava fascinado e, ao mesmo tempo, assustado.
Ele pensou que levaria mais tempo para se relacionar com outra mulher. Para todos os efeitos, ainda estava de luto, e o estresse e angústia desse período não o permitiram sequer pensar em sexo. Nos últimos tempos, seu desejo se resumia a conseguir dormir sem ter pesadelos.
Então, quando menos esperava, surgiu uma garota desconhecida e completamente aleatória, cheia de energia e luz que despertou o desejo, lembrando-o do lado bom de segui-los. Pego completamente de surpresa, ele nem sabia explicar como uma coisa levara à outra.
Agora ele experimentava uma bagunça de sensações. Um misto de satisfação e ansiedade sem precedentes o levava a reviver cada toque e cada gemido, a lembrar da textura surpreendentemente macia dos cabelos em suas mãos, e de como ela estava pronta e ansiosa por ele.
Todavia ele não tinha preservativos. E por quê? Porque há um bom tempo não se preocupava com isso.
Tentando encerrar o assunto por hora, ele decidiu tomar uma ducha fria. Pensar nela o deixava cheio de vontade de tentar novas coisas, mas sabia que precisava ir com calma. Sim, ele era homem, tinha necessidades, era normal se interessar por alguém depois de tanto tempo, e Ana, convenhamos, era uma garota incrível. Contudo, ele estava ali com um objetivo, e não era se divertir, ainda mais às custas de alguém que acabara de conhecer e que ia ficar quando ele fosse embora.
Ele estava ali por causa de Alice. Só por ela. Para entender o passado, a morte suspeita, obter justiça e seguir seu caminho em paz.
"Que caminho? Que paz?"
Lucas abafou conflito e saiu do banho, e foi quando viu, perto da cômoda, um pedaço de tecido branco rendado, todo enrolado. Com um sorriso, ele recuperou a calcinha do chão, levou a peça ao rosto e aspirou.
O cheiro dela...
Ainda com a lingerie em mãos, ele se deitou, sentiu o corpo finalmente relaxar e adormeceu.
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Lucas acordou com o celular vibrando. Abriu os olhos e percebeu que o quarto estava banhado em luz, o sol a pino. Tinha mesmo dormido a noite toda? Alcançou o smartphone e viu o horário na tela bloqueada: 11h40.
Tinha dormido uma noite inteira até quase meio-dia!
– Alô!
– Russo? Onde diabos você se meteu?
Lucas reconheceu imediatamente a voz do seu parceiro na delegacia: Douglas Garcia.
– Por aí.
– Você sabe que Alencar está desconfiado do teu sumiço. O que eu falo para ele?
– Diz que eu tive um colapso nervoso e me internei num SPA, sei lá, inventa – a parte do colapso não era totalmente mentira.
– Ele sabe que você andou sondando o condomínio, fazendo perguntas sobre câmeras de segurança. Você foi impulsivo demais!
– E você sabe que era questão de tempo até sumirem com as gravações originais. Eu estou na cola dos grandes, e eles são os donos das câmeras.
– Você precisa ser cuidadoso, Russo. Se Alencar sabe, outros também sabem que você está bisbilhotando. Estão falando por aqui que você vai acabar fazendo merda porque perdeu a linha. Eu confio em você, mas às vezes você me assusta também.
– Eu só estou explorando outra via, Garcia, e conto com você para assumir o crédito quando eu descobrir tudo.
– Isso também me preocupa, Russo. Descobrir o quê? O caso foi encerrado como suicídio e não será reaberto. Você testemunhou a queda dela. Você devia chorar a perda e aceitar. Vá para a igreja ou qualquer lugar que te ajude com isso.
– Aconteceu algo, Garcia. Eu tenho certeza disso. Ela estava abalada quando voltou para o quarto depois daquela reunião com os amigos do Ricardo. Eu a conhecia, sei que ela era difícil, mas tenho absoluta certeza de que descobriu algo sobre os negócios do pai que a deixou vulnerável. Logo após a queda, vi Ricardo conversando com os convidados de forma estranhamente tranquila, como se uma tragédia não tivesse acabado de acontecer e, durante as buscas, não vi neles nenhuma ansiedade ou preocupação. Parecia que o fim era exatamente o que esperavam.
– Você tem que parar de falar essas coisas, Russo. Já te falei sobre isso, só piora o que todo mundo já pensa sobre você, e você sabe melhor do que eu como essa gente rica é esquisita, cara! Eles não sentem as coisas como nós, ou pelo menos não demonstram.
– Era a porra da filha dele, Garcia! Isso não faz sentido para mim!
– Não sei, cara. Talvez seja melhor você se afastar dessa história. Nossas mentes criam teorias quando não estamos bem. Desculpa dizer isso, mas há muito tempo o comportamento da Alice não tinha coerência. Nem você mesmo a entendia. A culpa não foi sua, nem de ninguém. Deixa isso para lá, Russo. Estamos sentindo sua falta aqui na D.P., você precisa se resolver e voltar!
– Não. Você não entende, Garcia. Ela era a minha mulher, e eu sei do que eu estou falando. Você também viu o corpo dela, sabe que estou certo, que fizeram vista grossa na necrópsia. Eu entendo se você não quiser me ajudar, mas preciso fazer isso. Só te peço para me dar cobertura. Vamos manter contato, ok?
– Beleza, cara. Eu te ligo. Se precisar, me diz onde você está que eu vou até você.
Lucas não respondeu, devolveu o aparelho na mesa de cabeceira e esfregou os olhos. Tinha dormido muito, um sono profundo e sem sonhos, o que ele desejava há um bom tempo. Se soubesse que era falta de sexo, teria tentado isso antes.
Após lavar o rosto, ele seguiu em direção ao refeitório, que obviamente já estava fechado.
– O café só é servido até às 11h – Antônio informou tranquilamente, sem tirar os olhos de um livro que estava lendo.
– Sem problemas. Aqui está a chave do quarto – Lucas colocou a chave sobre o balcão e, quando estava para sair, Antônio o chamou de volta.
– No seu registro não consta a data de partida. Por quantos dias você reservou o quarto?
– Na verdade, não sei até quando pretendo ficar.
– Bem, nesse caso, como você já deve saber, para estadias sem previsão definida costumamos cobrar um valor semanal adiantado. Você tem acertado por semana, então não precisa acertar nada agora, mas até amanhã peço que regularize o pagamento. Desculpe constrangê-lo com isso, mas precisamos seguir uma programação para organizar o café da manhã e fazer reservas antecipadas, e há uma boa procura pela suíte que você está ocupando. É importante planejar os recursos. Espero que compreenda.
– Claro, entendo perfeitamente. Vou pagar adiantado por um mês. Pode passar neste cartão, no débito, por favor.
Antônio pegou a maquininha de cartão, um tanto quanto surpreso. Lucas não aparentava ser alguém cheio de dinheiro. Sem carro, relógio ou qualquer item de luxo, um celular descartável e um aspecto desleixado, ele parecia bem mais um recém desempregado torrando a indenização.
Por estar situada tão próxima à praia, a Solarinho não era uma opção barata, mas Lucas não se importava em gastar dinheiro, afinal, ele não considerava todo aquele dinheiro como seu. Após a morte de Alice, ele herdara uma quantidade considerável de ativos e investimentos, o que lhe proporcionava acesso a uma pequena fortuna; no entanto, isso não o empolgava, pois esse mesmo dinheiro frequentemente fora causa de discórdia e brigas em seu casamento.
Alice acreditava que podia comprá-lo, mas Lucas não era homem de se vender. Sua mãe o havia ensinado há muito tempo o valor real do dinheiro e como as posses nunca deveriam se tornar um fardo.
"Filho, qual é a coisa mais valiosa que você possui? Coloque isso no topo da pirâmide. O dinheiro é apenas um dos caminhos para alcançar as coisas, mas se ele estiver no topo da pirâmide... sentirei pena de você. O dinheiro nunca deve ser o seu maior bem, porque se isso acontecer, ele moldará quem você é. Suas conquistas e desejos sempre devem ser algo humano e tangível, como família, amigos, relacionamentos, o amor da mulher que será mãe de seus filhos, e ajudar as pessoas através do seu trabalho. Para tudo isso, não importa o que você possui, mas sim quem você é."
Lucas sorriu ao se recordar das palavras de Helena, sua mãe, ditas no dia do seu casamento com Alice. Toda pompa e circunstâncias da cerimônia não afetaram a postura da matriarca, sequer arranharam seu orgulho. Helena era uma pessoa simples e sempre seria, mas jamais simplória.
Depois daquele dia, Lucas se concentrou em Alice e em fazê-la feliz, e agora, se usar esse dinheiro era o caminho para descobrir a verdade sobre o que ocorreu com ela, ele o usaria com prazer.
– Estou fazendo uma pesquisa na região e realmente não sei quando vou concluir o projeto, mas fica aí o crédito pela boa vontade e excelente serviço. – Lucas completou quando percebeu o olhar curioso de Antônio.
– Muito obrigado! – Antônio sorriu, e só então Lucas percebeu a semelhança do pai com a filha. Lembrar de Ana sorrindo fez seu coração bater um pouco mais rápido, e ele deixou a pousada pensando nela. Não tinha ideia de quanto tempo ficaria na região, o que significava que eles poderiam ter muitos encontros pela frente.
Essa ideia não lhe pareceu nada ruim.
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