Capítulo 1
CINCO ANOS DEPOIS
Blair Stone
Se eu tivesse trazido meu guarda chuva não estaria preste a enfrentar o meu maior obstáculo no momento. A chuva. Eram dias chuvosos mas na pressa para não me atrasar acabei esquecendo meu guarda chuva. Desci no ponto de ônibus e me abriguei sob o telhado protetor, na tentativa de escapar da fina chuva. O som das gotas batendo no chão parecia ecoar o meu nervosismo, meu chefe iria fazer pedacinhos do meu fígado.
Olhei as horas no relógio antes de levar minha atenção para as pessoas que passavam apressadas. Como secretária pessoal, tinha o dever de chegar cedo para organizar as atividades do dia, mas agora estava 10 minutos atrasada. Quando pensei em sair do ponto de ônibus para enfrentar a chuva e fazer o percurso até o meu trabalho, uma mão tocou meu ombro.
Tomei um susto e, ao virar para ver quem era, suspiro aliviada ao encontrar Luca. Ele estava ali, com seu sorriso amistoso e um guarda-chuva em mãos.
— Aonde pensa que vai, pedacinho de gente. — diz brincalhão e ganha uma carranca minha.
Reviro os meus olhos em resposta. Luca possuía 1,80 m, e inevitavelmente sua altura sempre me fazia sentir pequena ao seu lado, mas havia algo reconfortante em sua presença. Ele parecia o tipo de amigo que não apenas ilumina os dias nublados, mas também sabe como fazer você rir, mesmo quando a vida não estava fácil.
— Estou indo para o trabalho, e você sabe que não posso me atrasar mais — digo, tentando adotar um tom sério, mas um leve sorriso começa a se formar em meus lábios.
— E quem disse que você precisa ir sozinha? — ele pergunta, abrindo ainda mais o guarda-chuva para me proteger da chuva fina que começava a aumentar. — Vamos juntos. Não quero que você chegue encharcada.
— Você se preocupa demais — respondo, mas não posso evitar a gratidão que sinto por sua preocupação.
Luca havia se tornado meu melhor amigo desde que pisei meus pés na empresa. Era sobrinho do meu chefe e fazia parte da equipe diretiva.
— Como está Sônia? — pergunto por sua noiva e minha amiga.
— Está ansiosa com o casamento e me deixando de cabelo branco antes do tempo. — comenta, passando a mão pelos cabelos, como se já pudesse sentir os fios brancos começando a aparecer.
Luca sempre teve uma maneira de tornar as conversas mais leves, mesmo quando o assunto era estressante. Sônia, com seu entusiasmo e sua natureza extrovertida, era uma força da natureza, e eu imaginava que os preparativos para o casamento estavam mesmo tornando os dias de Luca um pouco mais intensos.
— Posso imaginar! — digo, sorrindo. — Ela sempre foi cheia de ideias e energia. Você está pronto para tudo isso?
— Eu não tenho escolha, não é mesmo? — ele ri. — Mas no fundo, estou animado. É só que, às vezes, eu sinto como se estivesse sendo arrastado em um turbilhão.
— Faz parte, meu amigo. — o incentivo — Já marcaram a nova data?
— Em duas semanas — ele responde, e eu noto a empolgação em sua voz. — Estou contando os dias, mas não vou mentir, os preparativos estão me deixando maluco.
— Você vai se sair bem! — digo, confiando em sua habilidade de lidar com a pressão.
— Em breve marcaremos um jantar e esperamos que você compareça. Será apenas para os padrinhos do nosso casamento. — diz assim que chegamos na empresa.
Me viro em choque com a notícia.
— Espera, você está me convidando para ser madrinha do seu casamento? — digo maravilhada.
— Então você aceita? — diz sorrindo largamente. — Eu e Sônia a escolhemos porque você é uma pessoa especial para nós e a queremos conosco nesse grande dia.
— É claro que aceito! — digo empolgada e o abraço. — É uma honra estar com vocês nesse momento.
— Ótimo! — Luca exclama, claramente aliviado e animado. — Sônia vai ficar tão feliz! Agora vamos entrar, porque você tem uma reunião para organizar, Srta. Stone — diz com um tom brincalhão enquanto me puxa para dentro do escritório.
A grande verdade era que Luca era como um irmão para mim. É incrível como a vida é cheia de surpresas, conheci Sônia na faculdade e consequentemente nossa amizade foi crescendo. Quando o estágio chegou ela propôs conversar com o namorado para conseguir uma vaga para mim na empresa Kane. Desde então nossa amizade foi aos poucos crescendo de forma fraternal.
Luca segue comigo para sala presidencial afim de acalmar o seu tio. Havia um ponto importantíssimo em relação ao meu chefe, ele não tolerava atrasos.
— Espero que ele não esteja muito irritado — diz Luca, enquanto caminhamos pelo corredor, seu tom misturando-se com um toque de apreensão.
— Eu também espero — respondo, sentindo um frio na barriga.
O elevador abre na sala da presidência, o ambiente externo parecia calmo. Minha mesa estava em ordem da forma como deixei tudo no dia anterior.
Deixo minha bolsa na mesa e pego o tablet antes de seguir em direção ao escritório. Luca, como sempre, caminha ao meu lado com aquele sorriso despreocupado.
— Preparada? — ele sussurra, arqueando uma sobrancelha.
— Ajudaria em alguma coisa dizer que não? — murmuro, já antecipando o que nos espera.
— Não. — ele responde, rindo baixo.
Empurro a porta do escritório com um misto de apreensão e resignação, mas, para minha surpresa, somos recebidos por algo completamente inesperado: o Sr. Kane está sorrindo. Não apenas um sorriso educado, mas um sorriso genuíno, acompanhado por uma empolgação contagiante.
Luca e eu paramos abruptamente, trocando olhares confusos. Era quase impossível associar aquele comportamento ao homem conhecido por sua rigidez e seriedade.
— Blair, Luca! Entrem, entrem! Tenho uma ótima notícia para compartilhar — diz ele, gesticulando animadamente para que nos aproximemos.
Obedecemos, ainda sem entender o que estava acontecendo.
— Sr. Kane... o senhor parece... diferente hoje — arrisco comentar, incapaz de conter minha curiosidade.
— E por um bom motivo! — ele exclama, ignorando completamente o tom hesitante na minha voz. — Apesar do seu atraso, Srta. Stone não perdemos um grande investidor. Mesmo sendo da família, é uma pessoa extremamente exigente quando se trata de negócios.
Sinto um aperto no estômago com a menção ao meu atraso. Mantenho a postura e respondo educadamente:
— Eu sinto muito Sr. Kane. Não irá se repetir. — digo polidamente.
Ele balança a mão no ar, como se estivesse afastando minha preocupação.
— Esqueça isso. O importante é que conseguimos fechar o acordo. Mas preciso dizer que o próximo passo será ainda mais desafiador, e eu conto com a sua eficiência para preparar tudo. — Ele sorri, mas o peso da responsabilidade em suas palavras é inconfundível.
— Pode deixar, Sr. Kane. Farei o meu melhor para garantir que tudo corra bem — respondo, determinada.
— É isso que gosto de ouvir! — diz ele, voltando-se para Luca. — Agora, Luca, quero que você supervisione a apresentação final. Certifique-se de que não deixamos passar nenhum detalhe.
— Claro, tio. Vamos trabalhar juntos nisso — Luca responde com seu tom sempre confiante.
O Sr. Kane nos dispensa com um aceno de cabeça, e saímos do escritório. Assim que estamos fora, solto um suspiro de alívio.
— Viu só? Sobreviveu — Luca comenta, com um sorriso brincalhão.
— Por pouco — respondo, ainda tentando processar o encontro.
— Ele confia em você, Blair. E, sinceramente, acho que com razão.
Sorrio agradecida pela sinceridade.
Assim que ele desaparece no corredor, volto minha atenção para a programação do dia. Sento-me à mesa, ligo o computador e começo a revisar os e-mails. A lista de tarefas é extensa, mas nada fora do comum. Reuniões para organizar, relatórios para finalizar, e a apresentação que o Sr. Kane mencionou precisa de atenção especial.
Minha mente trabalha rapidamente enquanto elaboro um cronograma para atender todas as demandas. A sala ao redor está tranquila, com o som suave de teclas sendo pressionadas e conversas distantes ecoando.
Abro o calendário da empresa no tablet e começo a ajustar os horários para encaixar tudo. A sensação de estar ocupada é quase reconfortante.
Enquanto reviso os pontos principais do contrato recém-assinado, faço anotações para garantir que todos os detalhes sejam incluídos na apresentação. Cada passo precisa ser impecável, especialmente sabendo o quão exigente é o investidor que Luca mencionou.
Alongo meu corpo após horas de concentração e, como solicitado, faço o pedido do almoço do Sr. Kane. Ele havia deixado claro que almoçaria no escritório e não queria ser incomodado. Organizo tudo com eficiência, garantindo que a refeição seja entregue sem contratempos.
Bato levemente na porta antes de entrar com a bandeja.
— Seu almoço, Sr. Kane. Está tudo conforme solicitado — digo, ao colocá-la cuidadosamente na mesa auxiliar.
— Obrigado, Srta. Stone.
Com a entrega concluída, finalmente desço para o refeitório da empresa, onde o aroma da comida fresca me faz perceber o quanto estava faminta.
O espaço estava moderadamente movimentado, com colegas conversando em mesas espalhadas. Pego minha bandeja, escolho algo simples e saudável, e procuro um lugar tranquilo para sentar. O refeitório é espaçoso, com grandes janelas que deixam a luz natural entrar, criando um ambiente acolhedor.
Escolho uma mesa perto da janela e me sento, aproveitando o momento para relaxar antes de voltar para a correria da tarde.
1500 palavras... ❤️
Até o próximo capítulo... 🌹
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