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Capítulo 4

Logo chegaremos ao porto, não se preocupe, não tem ninguém nos seguindo. - Bill dirigia tranquilamente pela Hampton Roas Brigge Tunnels. O prazo que Thomas dera para Lauren havia espirado. No fundo, Lauren gostaria que Thomas aparecesse, porém não se incomodava com Bill.

- Eu sei que está preocupada com Tomel, mas ele está bem. No fim, eu realmente seria o melhor qualificado para fazer a travessia com vocês.

- Obrigado por ajudar – Lauren estava passiva. Ela estava cansada demais para questionar alguma coisa, decidiu que apensa seguiria o fluxo, contanto que Dora estivesse segura, nada do que ela fizesse ou deixasse de fazer importava.

Eles seguiram em silêncio até a cidade de Norfolk. Dora e Lauren estavam usando disfarces, Bill recomendou a mudança de aparência, pois era provável que agentes de AGE estivessem de tocaia. Chegando ao porto, o trio não teve muitos problemas para embarcar em um navio comercial e para o estranhamento de Bill, as coisas estavam indo conforme o planejado.

"Está quieto demais, será que Tomel conseguiu neutralizar o inimigo tão rápido assim?"

- Venham, por aqui – Bill indicou o caminho. Eles estavam dentro da área do deposito de mercadorias que aparentemente era convencional, porém escondia uma cabine secreta. Ao adentrarem na cabine, Lauren se surpreendeu com o cômodo; era bastante confortável e parecia ter o mínimo necessário para viver. Bill conferiu cada canto do lugar, que parecia uma suíte comum de um navio turístico.

- Este não é um navio qualquer, ele é especialmente preparado para esse tipo de situação. Nós ficaremos invisíveis aqui. Já deixei tudo preparado. Pelo visto, está tudo em ordem. A viajem durará vinte e dois dias. Espero que não tenha estômago fraco. - Lauren levantou o olhar. Ela já estava abatida o suficiente para não deixar que a maresia fizesse efeito.

- Bom, podem se acomodar. O banheiro é ali na frente e há comida no armário. Eu não sei se gosta de ler ou coisa do tipo, mas trouxe alguns livros e revistas. Também trouxe alguns brinquedos para Dora, o maior problema vai ser mantê-la ocupada.

Lauren foi se banhar junto com Dora. Apesar de ser grata a Bill por ter salvado a filha dela, ela simplesmente não queria deixar a criança sozinha com ninguém. Enquanto Dora se divertia dentro da banheira com o patinho de borracha, Lauren sentou de frente a um espelho que tinha próximo a pia, ela penteava os cabelos e reparou como em pouco tempo ela ficara muito apática. Ela estava pálida, com o rosto cheio de olheiras, tinha emagrecido uns oito quilos e os ossos estavam visíveis. Sua cabeça ainda doía devido ao ferimento provocado acidentalmente por Thomas. Lauren nunca estivera tão frágil.

- Que dia é hoje? - Perguntou Lauren enquanto secava o cabelo em uma toalha.

- Vinte e três de abril – respondeu Bill num tom de indiferença.

- Meu deus! Como pude esquecer! - Lauren despertou. Ela estava tão perdida desde a morte de Arthur que mais nada passava pela sua cabeça. Já fazia uma semana desde o aniversario de Dora e no dia seguinte seria o aniversario de Arthur.

- O que foi? - Bill estava terminando de desfazer as malas.

- Já faz mais de uma semana desde o aniversário de Dora. Eu me esqueci completamente. Nós iriamos fazer uma festa, ela adora fronzen, mas aconteceu tudo aquilo... - os olhos de Lauren ficaram marejados – Arthur faria aniversario amanhã – Lauren não se conteve, as lágrimas escorreram sobre o rosto. Bill sentiu empatia pela jovem e a abraçou.

- Me desculpe por esse inferno. As coisas não eram para ser assim – sussurrou Bill.

- Que culpa você tem? Eu sou a real culpada disso tudo. - Lauren chorava copiosamente.

- Você não tem culpa de nada minha querida. Olha, ainda podemos fazer algo para Dora. Não será perfeito, mas isso ajudará a aliviar o estresse dela e o seu também. O que acha? - Bill se afastou de Lauren para olhá-la nos olhos. Lauren enxugou o rosto.

- É uma boa ideia.

- Ótimo. Eu trouxe um bolo para comermos a noite, podemos usar ele. Vou fazer uma calda improvisada e acho que tem uma vela para caso de falta de luz. - Lauren sorriu sem mostrar os dentes, ela agradeceu Bill com o olhar.



II

- Parabéns para você, nesta data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida! Viva Dora! - Dora estava animada. Ela soprou a velinha com empolgação. Lauren abraçou e beijou a filha com todo carinho.

-Eba, bolo de chocolate! - Dora comia com satisfação o bolo improvisado. Bill se sentiu feliz com a alegria da criança. Dora o fez voltar a vinte anos atrás, o filho de Bill também gostava de bolo e chocolate. -

- Quer mais um pedaço de bolo filha? - Lauren estava mais serena. Ver Dora ativa a tranquilizava.

- Não, vou guardar para o papai – Dora disse com toda a inocência do mundo. Lauren contaria para Dora o que acontecera com o pai no dia do velório, porém desde então a série de acontecimentos fez com que ela perdesse a coragem. Lauren não sabia o que responder.

- Venha aqui no tio – Bill chamou Dora para sentar do seu lado. - Sabia que seu pai é um super-herói?

- Super-herói? - Os olhos de Dora brilharam.

- Isso mesmo. E por ser um super-herói ele luta contra vários inimigos ferozes. Por isso, para salvar o mundo ele teve que dar tudo de si e por isso ela está morando no céu agora.

- Eu não vou ver mais o papai? - A voz de Dora ficou embargada. Lauren sentiu um aperto no peito. Porém, Bill conseguiu contornar a situação.

- Só quando você for bem velhinha, ai você encontrara ele lá.

- Eu sinto falta dele... - os olhos de Dora se encheram de lágrimas, Bill abraçou a menina.

- Mas sabe de uma coisa, ele sempre estará com você, aqui dentro – Bill tocou em Dora na região do coração. Dora sorriu.

- É verdade mamãe? - havia esperança no questionamento de Dora

- Claro filha, o tio Bill está certo. O papai está também com a mamãe. - Lauren forçou um sorriso.

- Te amo papai – disse Dora ao olhar para o tórax.

Dora dormiu bem naquela noite e depois de muito tempo, Lauren também.

III

- Os ovos estão prontos – Lauren gritou. Ela dividiu em três pratos e colocou na pequena mesa que ficava próxima ao fogão. Dora saiu do quarto correndo com um ursinho que ganhara de Bill. Bill saíra do banho.

- O cheiro está maravilhoso, criança. - Lauren fez um bico. Bill quando não a chamava pelo nome tinha a mania de chama-la de criança.

- Não entendo por que me chama assim – disse Lauren quanto servia suco para eles.

- Ora, por que você ainda é muito jovem. Eu já sou um homem velho – respondeu Bill entre uma garfada e outra. - Já estou quase na casa dos sessenta.

- Não me parece, acho que é porque você emagreceu nos últimos dias, eu sei quem tem feito exercícios a noite.

- Você é observadora criança. Bom isso é verdade, tenho que eliminar essa gordura. Logo chegaremos a Livorno e tenho de estar mais ágil.

- Para ser sincera, este lugar me traz paz. Desde que tudo isso começou não conseguir ter um minuto sequer de tranquilidade. Obrigada Bill. – Bill agradeceu com um aceno de cabeça e disse que lavaria os pratos.

Haviam se passados dez dias desde que saíram dos Estados Unidos rumo à Itália. Lauren não sabia o que encontraria quando saísse do navio comercial. Ali era tão calmo, tranquilo e aparentemente seguro que por um instante queria permanecer naquele lugar para sempre, contudo ela sabia que essa sensação nada mais era que o medo de encarar o mundo lá fora.

- Você me parece preocupada, aconteceu algo? – comentou Bill enquanto lavava os pratos. Lauren estava pegando as vasilhas e secando.

- Na verdade estou insegura. O que vai acontecer com a gente quando chegarmos? Onde exatamente estamos indo? Ainda não estou preparada para fortes emoções. Eu queria saber ao menos o porquê de tudo isso.

- Eu também estaria curioso se estivesse na mesma situação que você. Perder as pessoas que ama de uma vez, fugir sem saber o motivo, achar que a culpa é sua, e não perder a cabeça? Você é forte Lauren, mais do que imagina. – Por um instante Lauren teve a sensação de que já escutara a última fala de Bill.

- Nós já nos conhecemos? – perguntou Lauren – Digo, tenho a impressão de que o conheci antes dessa loucura toda. – Bill sorriu de canto de boca.

- Não posso falar nada agora criança. Só posso te dizer que conheço essa dor, e que não reagi da mesma maneira que você. – Bill se esquivou da pergunta de Lauren, que preferiu não insistir no assunto. – Bom, só acho que não perdi minha sanidade mental por causa de Dora. Se não fosse por ela... eu não estaria aqui agora. Acho que tudo é por ela, para que ela fique bem.

- Eu entendo. Quando se tem um filho, ele vira seu chão. Sua razão de viver.

- Você é pai?

- Eu era – as palavras saíram mais pesarosas que o normal. Lauren sentiu um aperto no peito.

- Desculpe-me Bill, caso não queira falar sobre...

- Não, está tudo bem. O nome dele era Theodoro. Era um menino alegre, vivia sempre sorrindo. Eu o amava com todas as minhas forças. A mãe dele morreu dando à luz, o nome dela era Jennine. Então tive que desempenhar as duas funções desde sempre. Era trabalhoso, mas gratificante, vê-lo crescer era o que me mantinha vivo, o que me fazia acordar todos os dias. O que eu não contava era que um dia eu não pude salva-lo e essa culpa me assombrará para sempre. Por isso farei de tudo para que Dora e você fiquem seguras! Não quero que você passe ainda mais dor Lauren, nem você e nem Dora, o pequeno milagre.

- Pequeno milagre? – Questionou Lauren.

- Acabei falando demais. Bom, terminei aqui. Vou fazer a ronda. Depois quero te ensinar umas coisas. Serão uteis caso tenhamos problemas no porto de Toulon.

- Tudo bem. – Assim que Bill saiu, Lauren ficou pensativa, por que Bill chamaria Dora de pequeno milagre? O que será que ele estava escondendo? Lauren tinha mais perguntas do que respostas. Por um instante ela quis chegar rapidamente em Toulon para assim descobrir o motivo de toda aquela infeliz vida que agora levava.

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