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Capítulo 6- O trote

21 de janeiro, Baia de Sepetiba, Ilha do Tatu,

sede do primeiro destacamento do CECOP

Militares de todo o país se candidatavam à seleção de ingresso dos Atobás – conhecida como "Seleção e Treinamento Básico", ou STB. Dentro deste período, os instrutores avaliavam os candidatos; e ao mesmo tempo, procuravam destacar as qualidades básicas que buscavam: persistência, controle, discernimento, disciplina e resistência física – só para começar.

O STB durava três meses. E eram três longos meses, na visão dos pobres recrutas...

Durante o STB, a qualquer momento e sem aviso prévio, acontecia a "semana infernal", ou nos moldes brasileiros: "a semana de depenar a ave". Durante sete dias, os candidatos mergulhavam numa roda-viva de treinamentos extenuantes com o objetivo de verificar quem conseguia "manter suas penas". Traduzindo o jargão dos Atobás: quem aguentava o tranco sem reclamar, sem desistir. Enfim, se tinham o perfil adequado à corporação.

Os instrutores eram membros dos Atobás na ativa, ou reformados. Os da ativa se revezavam entre estar nas missões e estar no "labirinto dos sinos".

Ao contrário dos SEALs, que são cooptados por recrutadores com metas de recrutamento a serem batidas, os Atobás selecionavam seus recrutas por meio de concurso público. Com a diferença de que a avaliação não se restringia a oficiais, nem a uma prova escrita e outra física. Havia várias provas em ambas as categorias, mais o treinamento tático.

Os candidatos de outras instâncias e forças militares, ou civis, atravessam a seleção como aspirantes. Os que venciam a primeira fase tornam-se soldados (não marinheiros). Na segunda fase, avançavam para o posto de cabo. Depois, os que se efetivavam partiam da patente de cabo para a de terceiro sargento, e assim por diante... Se já fossem da Marinha, partiam do grau hierárquico em que se encontravam por ocasião do ingresso na seleção. Em ambos os casos, os postos respeitavam os limites de idade para ascensão, mesmo que o militar tivesse méritos para mais.

E se tinha gente que acreditava que mulheres não tinham vez, estavam enganados. Os Atobás possuíam três mulheres guerreiras e cinco no grupo de apoio operacional. Uma delas estava no comando dois, situado na face sul da ilha Rasa, em Paraty. As outras duas estava no revezamento como instrutoras.

Os instrutores serviam os dois comandos.

A ilha Rasa era uma das ilhas Cagarras, que abrigava também um farol. Por causa disso, os Atobás do primeiro comando chamavam o pessoal do segundo comando de cagões. Mas só pelas costas. Alguns brincavam que o lugar de Kurt era para lá.

Da mesma forma, os Atobás do segundo comando chamavam os do primeiro de tatus. Mas só pelas costas.

Leia-se: todo mundo na Marinha sabia dos apelidos e da competição entre os comandos.

O comandante do CECOP 2 é Marcos Nestor Telles de Azevedo, primeiro tenente, mais conhecido como Optimus Prime por causa da vozeirão cavernoso à La Guilherme Briggs, ou Vin Diesel, dependendo do gosto. Filho de um imponente brigadeiro da Aeronáutica, Marcos se rebelou e seguiu carreira na Marinha.

As duas equipes possuíam rendimentos extraordinários e se apoiavam mutuamente, quando não estavam competindo entre si nos jogos de guerra dos Atobás, realizado uma vez por ano, na serra... (Ou onde quer que estivesse o desafio para as mentes maquiavélicas do alto comando, que elaboravam o roteiro dos jogos.)

Todo ano, o desafio era uma surpresa.

Cada um dos CECOPs possuía um grupo operacional de apoio que passava pela mesma seleção inicial dos Atobás, exceto que eram convidados a escolher enfrentar a semana infernal ou não. Se optassem não enfrentar, mas seguir no treinamento, sua única escolha possível era atuar no operacional. Eles eram, portanto, dispensados da fase dois.

Os cursos de treinamento que deviam fazer se voltavam para a tecnologia, inteligência, orientação, elaboração e interpretação de GRGS.

Os candidatos que recebiam o convite para optar pelo operacional, eram aqueles que os instrutores perceberam, logo no início da seleção, que não aguentariam a parte do combate e nem as provas de resistência física. Contudo, possuíam qualidades essenciais em outros aspectos do comando.

O edital de abertura de vagas para o comando especial da Marinha costumava ser publicado uma vez a cada três anos. Cada CECOP fazia a sua seleção. Um momento aguardado por muitos militares e jovens civis de diferentes partes do país.

Os espertos passavam muito tempo preparando-se para a seleção, garimpando todas as informações possíveis que conseguiam a respeito, a fim de melhorar o seu desempenho.

De cada 100/150 candidatos, apenas 10/20 conseguiam passar da primeira para a segunda etapa. E esta costumava ser muito mais difícil. Chamava-se: Treinamento Multitarefas – TM. Os aspirantes a Atobás aprendiam a lidar com os equipamentos de última geração; os princípios básicos do pára-quedismo, introdução aos saltos HAHO e HALO; combate corpo a corpo, combate em terra, no ar e na água; armamento de desarmamento de explosivos; descarte e demolição bélica; manuseio básico de armas químicas; o funcionamento hierárquico das forças armadas no Brasil; e o modo operante das principais forças especiais do mundo. E isso inclui treinar com tais forças.

Dos 10/20 aspirantes da segunda fase deste ano, no CECOP 1, restaram apenas três: Alexandre Kuritz, Álvaro Donizetti, e Kurt Mansur.

Durante a rápida e singela cerimônia de ingresso para a fase três – posteriormente acrescida de um vigoroso trote, os três formandos estavam certos de que o pior havia passado. Mas, enganaram-se redondamente, porque no caso dos Atobás (e dos SEALs americanos), não existia dia fácil. O único dia fácil foi o ontem.

Os três rapazes continuaram em treinamento (uma espécie de período de experiência). Eram avaliados a cada missão e saberiam o resultado final no fim do ano – isto é, se permaneceriam ou seriam dispensados.

Nessa altura do treinamento, a dispensa não costumava ser sumária, como durante o STB ou o TM. A dispensa era acompanhada de um resumo das potencialidades, pontos fortes e fracos do candidato, para referências futuras. No entanto, nunca aconteceu de um formando chegar à etapa três e ser dispensado.

Kurt Mansur termia ser o primeiro. E o temor o estava corroendo por dentro.

Precisou de muita disciplina interior para retomar os cursos e treinamentos com o mesmo pique de antes. A insegurança era algo inaceitável para um Atobá, então, ele começou um exercício mental para combatê-la.

Na primeira fase, os instrutores costumavam ser carrascos e não estabeleciam contato direto com os candidatos. Mas, da segunda fase em diante, quando eles viam nos candidatos Atobás em potencial, costumavam dar conselhos (dicas, ou Bizus, no linguajar dos marinheiros). E conselhos eram muito raros e valiosos. O candidato que os recebesse, devia tratar de aproveitá-los.

Numa das provas de escalada, Kurt cometeu um erro e torceu o tornozelo a meio caminho do alvo. Estava a sessenta metros do solo e apavorado com a ideia de seu pé falsear e ele despencar lá de cima. O instrutor, que observava sua escalada, estava subindo perto dele e lhe disse: - Mantenha o foco nos elementos que pode controlar. Esqueça aquilo que você não tem controle. Foque no que está a sua disposição. Imagine-se dentro de uma tela de televisão. Apenas o que está ao seu alcance.

Na hora, Kurt não conseguiu entender o significado das suas palavras. Mas, depois, passados alguns minutos de agonia, ele botou o cérebro para funcionar. Não devia se preocupar com coisas que não podia controlar, devia tratar das coisas que tinha controle. Assim, começou a priorizar as ações. Primeiro, compensou o peso na perna boa, sem arriscar firmar a ruim. Voltou a procurar os pontos adequados para fixar os cames¹ e foi subindo lentamente.

O conselho lhe valeu para tudo na vida, especialmente em seu trabalho. Salvou sua vida, inclusive. Não durante a escalada (que na real, era feita com cordas de segurança), mas durante combates e confrontos da vida real. Onde as decisões podem fazer a diferença entre quem vive e quem morre.

E o conselho estava valendo para o aqui e agora...

Kurt saiu bastante preocupado do treinamento em krav maga. Sua distração lhe custou um olho roxo. Isso, porque ficava repassando mentalmente toda a operação Redbeard, procurando os seus erros e acertos. Tá legal que ele foi prejudicado pelos seus intestinos traidores... Mas isso não era desculpa. Não para um Atobá.

Durante o caminho de volta ao navio contratorpedeiro, no Golfo de Aden, Kurt teve tempo para ter uma séria conversa com eles - os seus intestinos revoltosos e barulhentos - e jurou fazer um transplante de qualquer órgão que o sabotasse novamente.

A diarréia foi curada depois de um atendimento médico, seguindo de alguns exames e os medicamentos adequados. Claro, e muito hidratação. Ele perdeu seis quilos por causa da missão e quatro por causa do diarréia. Os colega agora o chamavam de K-magrela ou vara-pau. Por causa disso, ele teve que entrar numa dieta com acompanhamento de uma nutricionista, para voltar ao peso original, ou não iria passar no exame físico.

Mais uma preocupação. E se não bastasse isto, ao voltarem para a sede, no Brasil, Kurt levou um tremendo esporro do capitão. Era uma questão de tempo. Kurt já estava preparado.

-Seus companheiros precisam confiar em você, cabo – disse Romano. – Devia ter alertado o seu superior sobre sua condição física. Nós todos poderíamos estar mortos se a sua diarréia se tornasse uma variável na situação.

A cada vez que alguém mencionava a sua diarréia, ou Kurt ouvia a sua diarréia ser discutida - ele ficava mais e mais chateado. Mas, não havia o que discutir. O capitão estava certo. Se ele tivesse alertado sobre sua condição, não teria posto a equipe em risco e nem teria que ouvir tudo isso agora.

Por outro lado, não teria ajudado seus companheiros nem os reféns a passarem pela ponte, na Somália.

-Tem alguma coisa a dizer a respeito? – perguntou o capitão, de pé, do lado da janela de seu escritório.

-Sim, senhor. – Kurt molhou os lábios e começou: - Eu cometi um erro, senhor, que não vai se repetir. No entanto, não me arrependo de ter participado da missão. Eu me sinto feliz de ter colaborado... Senhor.

O capitão o encarou, sopesando sua resposta. Inclinou a cabeça e disse:

-Resposta certa, Atobá. – Girou nos calcanhares e acrescentou: - Agora, suma da minha frente.

Kurt não pensou duas vezes e deu o fora da sala.

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O cabo Mansur achou que o episódio estivesse acabado e esquecido... Só que não. Pouco antes do jantar, estava o cabo a meio caminho dos alojamentos, quando o agarraram; um saco preto foi enfiado em sua cabeça e ele teve as mãos amarradas, antes de ser jogado dentro de um pequeno barco a motor.

Ele se contorceu todo, tentando livrar-se das amarras.

-Se saracotear demais, aspira, vai cair na água – disse alguém. Achou que a voz fosse de Ulrich, mas não teve certeza.

Ele não era mais um aspirante... (Os veteranos gostavam de rebaixar os calouros que conseguiam passar da fase um e dois). Respirou fundo, invocando toda a paciência de que dispunha.

Quando o pequeno barco aportou, ele foi agarrado pelas axilas e transportado aos sacolejos para fora. Foi atirado dentro da traseira de uma picape, que saiu à toda velocidade. Durante o percurso, seus companheiros do CECOP1 gritaram muito com ele. Em algum momento, julgou ter ouvido as vozes de Alexandre e de Álvaro.

-Aspira, vai aprender uma lição! – gritou um deles.

-Ah, se vai... – disse o outro.

"Filhos da"...

Ele nem teve tempo de completar o pensamento, quando deu por si, foi agarrado pelas axilas e pelos tornozelos. Eles o balançaram, entoando: - Vamos jogá-lo no três! Um, dois... Três!

E ele foi jogado sobre o que lhe pareceu uma cama muito fofa e macia... Mas fedida. Muito fedida. A gritaria acabou de repente e ele sentiu que foi deixado lá sozinho.

Kurt teve que se desamarrar sozinho e quando arrancou o capuz, viu que estava na caçamba de um caminhão cheio de esterco. Mergulhado na merda...

-Puta merda! – gritou, afundando ainda mais naquela massa enquanto tentava sair lá de dentro.

Do lado de fora, os companheiros urravam e gargalhavam.

-E aí aspira!? – gritou Salésio, em meio às risadas.

-Essa merda toda saiu da tua bunda lá na Somália! – gritou Daniel.

Kurt parou de tentar sair, sentou na merda e começou a rir. A risada se tornou uma gargalhada que o fez se dobrar todo. A barriga começou a doer. Na verdade, sentimentos de alívio por não ter sido expulso do CECOP e porque o trote já foi, funcionaram como uma catarse emocional.

Curiosos, os Atobás veteranos subiram a caçamba para espiá-lo.

-Tudo bem, aí, aspira? – perguntou Nelson, vestindo uma luva plástica até o cotovelo.

Kurt fez que sim com a cabeça. Era incapaz de falar, naquele momento. E um ataque de riso o dominou de um jeito que quanto mais olhava para os companheiros, mais tinha compulsão de rir.

Uma coisa estava clara, em sua mente: aceitar a situação doía menos e serviria para os veteranos largarem do seu pé.

Nelson estendeu a mão com luva para ajudá-lo a sair. Kurt respirou fundo, com os olhos cheios de lágrimas por causa do cheiro e do ataque de riso. Levantou-se e estendeu a mão para segurar a dele.

-Quando vai ser o trote de Alexandre e de Álvaro? – quis saber, passando a perna por sobre a borda da caçamba.

-Por quê? – perguntou Nelson.

-Porque eu quero participar!

Alexandre e Álvaro trocaram um rápido olhar.

Os veteranos riram, maquiavélicos.

-Um dia da caça... – comentou Ulrich, levando dois dedos à testa. – Você volta a pé, aspira, porque não podemos levar um cara tão fedido no veículo da marinha.

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Kurt nadou até a ilha. E precisou tomar banho lá fora, no chuveiro de praia que os Atobás usavam depois dos exercícios de natação, na baia de Sepetiba. Nem o mar tirou o cheiro. Alguém lhe deu sabão em pó e ele teve que aceitar. Por causa disso, chegou à sede mais perfumado que o normal.

Omo tira manchas e, agora estava comprovado, tirava esterco de boi também.

Pelado (porque jogou as roupas no latão de lixo lá fora), Kurt caminhou sem pressa para o alojamento, recebendo assobios de seus colegas. Inclusive, os outros calouros (que não perdem por esperar), e alguns membros do operacional.

Ele abriu o seu armário e vestiu camiseta e short, então, voltou para a área principal da casa. Àquela altura já passava da hora do silêncio e ele tinha perdido o jantar. Pretendia ir até a cozinha, fazer uma boca, quando ouviu a voz irada do capitão. Ele estava esbravejando com alguém no escritório. Kurt deu alguns passos para espiar pela porta e viu que Romano estava ao telefone (e o infeliz que levava a bronca estava fora do seu alcance).

Escutou um assobio baixo atrás de si.

-Venha cá – gesticulou Salésio apoiando o taco do outro lado da mesa de sinuca. – Ande, K-novo, antes que ele te pegue espionando.

Kurt caminhou rumo à ampla sala de convivência, mobiliada com dois sofás, um aparelho de som, e uma enorme televisão de tela plana – que, no momento, estava desligada.

-O que está acontecendo? – perguntou.

-Numa única palavra? – Salésio apoiou o cigarro aceso no cinzeiro. – Celeste.

Não era a primeira vez que Salésio falava dela.

-Quem é essa tal Celeste?

-Vou lhe contar, aspira, como esses dois se conheceram. Mas se não souber manter o bico fechado, eu nego primeiro e atiro em você depois, entendido?

-Claro – Kurt encolheu os ombros.

Salésio tirou outro taco do suporte e jogou para Kurt, que o pegou no ar, por reflexo.

-Sabe jogar?

-Dou pro gasto. – Modéstia a parte, Kurt era o melhor jogador de sinuca da escola naval, mas deixaria o veterano do CECOP descobrir da pior maneira.

Apoiou-se para observar a jogada do sargento.

-Vamos lá – Salésio respirou fundo e relanceou o olhar pela paisagem que se descortinava diante deles, no terraço contíguo. Dava para ver o oceano, dali, e parte do continente.

Ele se apoiou na mesa para a próxima jogada e introduziu de um jeito bem debochado: – Era uma vez, um projeto ultra-secreto...

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Rodapé:

1 - Cames são meio que "pinos" de fixar, para apoio, nas escaladas.

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