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Capítulo 1 - Operação Redbeard

10 de janeiro, a bordo do USS Freeport

Em algum lugar do Golfo de Aden

Há dez dias, tudo pelo que ansiavam era uma boa noite de sono.

Agora, tudo o que querem é estar de volta à ação.

Acostumaram-se à mobilização rápida; a serem transportados para todas as partes, de qualquer jeito, participando de missões em andamento a serviço do Brasil, da ONU, e da OTAN. Forneciam apoio operacional e tático junto às forças-tarefas internacionais, nas mais diferentes zonas de conflito: Síria, Nigéria, Somália, Paquistão, Afeganistão, Iêmen e agora, estavam de volta ao Chifre da África.

Romano não podia negar que os confortos da civilização, mesmo que a bordo de um contratorpedeiro, vieram em boa hora. Ainda estavam se recuperando do inferno que foi a última missão, no Quênia - infiltração e resgate de um grupo de missionários brasileiros, seguidos de uma fuga desesperada pela selva, com os soldados de Amin Q-Dad, o grande Kikuyu, em seus calcanhares. Eles literalmente caíram de pára-quedas no conflito entre os principais grupos étnicos do país (os Luos e os Kikuyus). Tiveram de atravessar as matas fechadas desde Nairobi a fim de alcançarem o ponto de extração, em Mombaça, no litoral. Sim, foi alucinante, mas valeu à pena. Vinte e cinco almas foram salvas por causa de uma missão muito bem planejada e coordenada com um pequeno contingente operacional alocado na belanave US. Kicker.

Depois disso, os operadores brasileiros tiveram cinco dias de descanso até que os celulares começassem a vibrar; e mais cinco dias de prontidão a bordo do contratorpedeiro USS Freeport - o navio de guerra americano. Dias, durante os quais, eles passaram se apropriando das informações que chegavam sobre a força-tarefa que se formou para atuar naquele caso, em específico. Dias, durante os quais, eles estudaram mapas, imagens de drones e trocaram informações com as outras equipes, embora nada de certo ainda houvesse. Nenhum alvo ou objetivo estavam definidos pela cúpula da Marinha. Os experientes militares mobilizados apenas deduziam o que estava por acontecer, tendo em vista o carnaval que se publicava na mídia. "Navio turístico é sequestrado por piratas somalis - o destino dos passageiros e da tripulação é incerto". Ou: "Piratas Somalis pedem elevada soma de resgate por cada turista capturado a bordo do DeWitt".

As famílias estavam desesperadas e os governos de seus países estudavam as possibilidades em jogo, considerando os contornos políticos que o caso rapidamente tomava, devido à opinião pública. Tudo o que Romano e seus homens queriam, no momento, era receber a missão definida e entrar em ação.

Durante os cinco dias a bordo do contratorpedeiro, eles acompanharam os AAR com avidez. Os AAR são relatórios e resumos postados na comunidade militar envolvida direta ou indiretamente nas ações. São utilizados para informar, mobilizar e também estudar o desempenho dos militares - analisando os resultados obtidos após a ação.

No caso presente, os AAR serviam para que os militares ficassem alertas para as missões em andamento e/ou possíveis novas missões. Durante o período de prontidão, homens como Romano planejavam manobras para os incidentes que lhes chegavam das zonas de conflito. Contudo, no final das contas, era a Inteligência - e em última instância, a cúpula - que determinava as missões que valiam o investimento.

Então, finalmente, ele recebeu o chamado da Marinha do Brasil. O contra-almirante Carvalho Pinto iria atuar como coordenador local da força-tarefa. (Ou líder de companhia, como alguns o chamavam). Romano, o líder de equipe, deveria estar pronto para receber as instruções e executá-las.

Por tudo o que assistiu na internet e na televisão, Romano estava certo de que a missão que estavam prestes a receber valia muitos investimentos e interesses para demandar a mobilização de tantos especialistas. Havia mais coisas que a imprensa não tinha conseguido cavar e que não estava disponível nos AAR. Ele podia apostar nisso. Caso contrário, não seria necessária uma força-tarefa com três das melhores equipes militares do mundo. Apenas uma equipe bastaria...

À sua direita, J.J. Ulrich esticou as pernas longas e musculosas sobre duas cadeiras de armar, que ele usou como cama improvisada; lançando um olhar indiferente ao redor, baixou a aba de seu boné sobre o rosto e... Voilá! Em poucos segundos, estava dormindo profundamente. O quão profundamente um soldado das forças especiais conseguia dormir, já que era treinado para se levantar com a mira ótima e o dedo preciso no gatilho, ao menor sinal de perigo.

Romano tinha de admirar o cara. Ulrich conseguia dormir em qualquer lugar.

Os brasileiros foram entrando silenciosamente e sentando nos lugares vagos ao lado e à frente de Ulrich. A sala de reuniões do navio não era grande, mas funcional. As cadeiras dispostas em fileiras permitiam que coubesse um bom número de pessoas, com o chefe do operacional diante da lousa e o data show, mais os operadores. Por enquanto, não havia burocratas - graças a Deus! Apenas o pessoal essencial à missão.

Cada um dos homens de Romano ocupava-se calmamente em verificar alguns dos equipamentos padrões. (Era o que sempre faziam, com uma pequena ajuda do estoque do almoxarifado local, quando precisavam substituí-los, recarregá-los ou adaptá-los). Nelson, conhecido no grupo como "o chef", depositou o seu CAR-15 sobre o colo e cruzou os braços. Ele não era muito paciente, mas era bom em obedecer ordens. Não de toda a Marinha, fique bem entendido.

O grupo ali presente era conhecido como "os Atobás" devido a sua intrepidez (aves que alçam vôos vertiginosos e mergulhos incríveis). Marco Deodoro, o fundador da divisão, alegou junto à junta militar que: Os Atobás são aves avessas à aproximação humana e, de fato, são pouco populares, apesar de as vermos distribuídas pela costa brasileira. Reza a lenda, e assim posso eu garantir, que foram os Atobás avistados pelas Caravelas de Cristóvão Colombo quando este chegou ao continente americano. Este discurso foi reproduzido na escola naval e repercutiu em diferentes instâncias, durante a inauguração da sede da divisão, construída na ilha do Tatu. O discurso encontra-se emoldurado junto ao retrato de seu primeiro comandante.

Os Atobás, portanto, submetem-se à hierarquia da Marinha num regime especial. Formam, como os SEALs americanos, uma espécie de Irmandade Militar que atua de forma quase independente. Acatam o seu líder imediato e, como grupo, à cúpula da Marinha a que estão submetidos, na pessoa do Contra-Almirante Carvalho Pinto.

Salésio sentou-se ao lado de Nelson e pôs-se a mascar o seu chiclete de menta. Conhecido como "o safo", ele observou com interesse dissimulado o pessoal tático entrar e se apossar dos computadores. Trocou um olhar com Daniel Dias, o "vívido poeta", que sentou a sua frente. Os dois começaram a especular baixinho o motivo da demora em começar "a farra"... Poderia ser porque haveria agregados envolvidos nesta nova missão. Daniel torceu os lábios, imaginando se os políticos queriam meter o bedelho aonde não eram chamados. E quando isso acontecia, geralmente dava merda...

Todos no grupo pensavam da mesma forma. Romano podia ler nos rostos mais inexpressivos de seus subordinados presentes: Álvaro "Dodô" Donizetti, Nelson "o chef" Prado, Daniel "Vívido Poeta" Dias, Laerte "Doc" Silva, Igor "da Âncora" Machado (leia-se: novato), Alexandre "Dumas" Kuritz (leia-se: novato), Salésio "o safo" Rodrigues, Igor da Silveira e José Jorge "JJ" Ulrich.

Romano os conhecia como a palma da mão.

Seus homens, por sua vez, também compreendiam o menor sinal de seu líder. E naquele exato momento, imaginavam se a sua atitude de inércia se devia ao fato de estar esperando pelos agregados. Só que, desta vez, estavam enganados. Romano esperava pelo contra-almirante, para então esmiuçar as ordens que já recebera de antemão. A situação era grave e complexa, pois eles entrariam em campo com os SEALs e os Mariners franceses.

Salésio levantou os olhos para o seu líder em busca de qualquer dica. Romano retribuiu com um olhar indiferente, mas a mensagem seguiu o seu rumo. Salésio entendeu que aquela missão tinha nuances... E que deveria estar alerta a cada maldito detalhe, especialmente, em relação aos burocratas. Quando o operacional terminou de se acomodar, Romano permaneceu onde estava, de pé, ao lado de uma das escotilhas. Sua figura imponente se destacava sem esforço contra a luz esmaecida que penetrava o compartimento.

O Capitão de Mar e Guerra Gabriel Romano Bruggemann não era o primeiro líder dos Atobás, mas era, até então, aquele que teve maior patente com menor idade. A divisão contava com três décadas de existência, ou seja, três gerações de operadores especializados em incursões arriscadas. E ele, como líder, tivera apenas três predecessores lendários dentro das forças armadas brasileiras. Dois deles foram mortos em combate e um estava na reserva. A honra de liderar os famosos Atobás da Marinha Brasileira não era concedida a qualquer um.

Romano tornou-se uma lenda viva entre os seus.

Como divisão de elite da Marinha Brasileira - e das forças especiais brasileiras em geral, os Atobás constituíam um grupamento seleto, chamado a resolver situações que ninguém mais resolvia, com cem por centro de precisão em suas missões. Passavam por um duro treinamento, antes de conquistarem suas penas simbólicas, formando uma confraria fechada. Dentro da hierarquia, o grupamento era oficialmente denominado Comando Especial de Combate e Patrulhamento - CECOP.

Responsável pela defesa das águas nacionais, com o passar do tempo, o grupamento especializou-se na execução de missões secretas em nome da pátria.

Os Atobás eram chamados a executar ações diretas, como apoio da aeronáutica e do exército brasileiro (parceria que se revelou bem sucedida durante os conflitos que se seguiram à ocupação do Haiti, liderada pelo Brasil). Eles trabalharam lado a lado, também, com as forças especiais internas, GRUMEC E COMANF (o Batalhão Tonelero) e as forças especiais de outros países, especialmente quando estavam a serviço da OTAN e da ONU.

Romano viu que nem todos os seus homens estavam ali. Faltava um dos calouros. Ulrich e Salésio eram os marujos mais experientes. Como um estava roncando, ele perguntou para o segundo:

-O K-novo?

Salésio encolheu os ombros, mas hesitou em responder. As sobrancelhas de Romano arquearam.

Claro que o primeiro sargento sabia o que estava afligindo Kurt, embora este tentasse disfarçar o máximo possível. Nenhum calouro gostava de parecer fraco aos olhos dos veteranos. Safo não iria dedurar o coitado, justamente agora que ele teria a chance de participar de uma grande missão. (Kurt não entrou em campo no Quênia e estava ansioso por isso.)

Fazendo de conta que não percebia o segredinho que Safo tentava manter, Romano perguntou:

-Todos se alimentaram?

-Com certeza, senhor! - respondeu Salésio.

-A caçarola até que não estava ruim - comentou Nelson, num tom azedo. Ele era o cozinheiro do grupo e não gostava de ver seus talentos superados.

-E Deus nos ajude se estiver, não é mesmo? - Romano questionou, com fina ironia.

-E aí, comandante! O jogo é grande? - perguntou Salésio, com a intimidade que só os anos construíam.

-Pode apostar nisso - disse Romano.

A suspeita de Salésio se concretizou quando o contra-almirante entrou na sala de instruções do USS Freeport, com os gringos logo atrás. Lá estavam os SEALs e os Fusiliers Marins. Eles ocuparam as cadeiras restantes, liderados pelos seus respectivos chefes de equipe.

Romano ouviu dizer que a equipe francesa precisou de um novo líder às pressas, quando Roger Lacroix, o líder anterior, foi alvejado com um tiro, em Chipre. Romano já atuou com Lacroix e os dois tinham sinergia. Agora, Lacroix estava se recuperando no hospital naval francês e Romano teria que lidar com René Frontin, um novato impaciente.

Romano reconhecia não ter simpatizado com ele, desde que foram apresentados no convés. Muito jovem e impaciente, o líder francês parecia pouco disposto a ouvir detalhes, descartando-os sem saber se eram necessários à missão. Ele observou o rapaz atentamente e se preocupou.

Quanto ao líder dos americanos, Spencer Tracy, Romano o conhecia muito bem. Participaram de várias missões, juntos. Era engraçado que ninguém ousasse brincar com o grandalhão americano, nascido e criado em Montana - por causa do seu nome. Era o mesmo que o do famoso ator dos anos 30 /40. Romano se lembrava de tê-lo provocado, perguntando aonde Tracy tinha escondido a sua Katherine Hepburn... Uma brincadeira inocente, aparentemente, mas que também servia para desvendar a personalidade de um homem. Spencer aceitou bem. Na verdade, ele retribuiu, perguntando a Romano quando ele pretendia botar fogo no Brasil. Brincadeiras bobas, que não chegavam nem aos pés dos maiores piadistas das equipes.

Sim, os militares quando davam para ser piadistas, faziam num nível que os mais antigos chamavam de "porra-louca". No entanto, as brincadeiras de qualquer tipo serviam para quebrar o gelo e a tensão.

De lá para cá, Romano e Spencer se encontraram em várias missões. O brasileiro até foi convidado a assistir ao BUD/s e ao Treino de Qualificação - SQT. Foi desafiado a participar e se tornou meio que um SEAL honorável, depois que fez as provas físicas e táticas, inclusive da casa da morte. Com surpreendente facilidade, passou pelo treinamento da Equipe Verde dos SEALs (aonde são selecionados os membros do time seis).

Tendo assimilado o mesmo treinamento, Romano não considerava Spencer Tracy um problema. Pelo contrário, ambos conheciam os padrões um do outro.

Para Romano, a presença dos SEALs era mais uma garantia de uma missão executada com precisão cirúrgica. A participação dos Mariners também seria uma garantia, se René Frontin não fosse uma variável... Romano não sabia o que esperar dele. E não gostava de conduzir suas missões sem controlar todas as variáveis. Os Atobás não confiavam suas costas a desconhecidos nem deixavam as variáveis a cargo da sorte.

Os gringos se distribuíram pelas cadeiras que sobraram, com rápidos cumprimentos de cabeça. Uma breve miscelânea de línguas foi falada, em francês e inglês. Não entre os soldados, mas entre a gente do operacional. Doc Silva flagrou o olhar de entendimento entre Spencer e Romano, antes que o contra-almirante brasileiro e o comandante operacional SEAL se posicionassem, segurando suas respectivas pastas. O líder de time francês se levantou do meio dos seus homens e se juntou aos dois.

Estava na hora de começar.

Romano virou para trás e bateu de leve na bota de Ulrich.

-Acorde, belo adormecido!

JJ resmungou, mas rapidamente posicionou-se sentado e alerta.

-Senhores, - começou a falar o contra-almirante brasileiro, em inglês - daremos início a uma missão de resgate, salvamento e recuperação de dois navios sequestrados num espaço de seis meses pelos piratas da Somália. São eles: o navio de passageiros Dwitt e o cargueiro holandês Zeën-Zingen.

Romano leu a pergunta silenciosa no olhar de Salésio. Por que planejar o resgate do Dwitt só agora? Ele também se fizera a mesma pergunta, ao ler os AAR, até saber que os SEALs foram chamados para esta missão. Então, ele meio que entendeu o motivo. Obviamente, o contra-almirante teria algo a dizer sobre isso:

- Queremos, naturalmente, recuperar as embarcações, mas as pessoas seqüestradas e mantidas no litoral da Somália são o nosso objetivo principal... E talvez o mais difícil, pois exige uma incursão em terra sem garantias de manter o elemento surpresa. O tempo dos civis está se esgotando - dizendo isto, olhou para Romano. - Quanto ao cargueiro holandês, carregava um contêiner peculiar, de interesse do Governo Americano, cujo conteúdo foi classificado como confidencial. E é por isso que temos os cavalheiros aqui - ele apontou para os SEALs, sentados em silêncio atrás dos brasileiros. - Os Navy darão conta da recuperação ou destruição da carga, durante as etapas ao longo da missão, que são: - Ele fez um sinal ao assistente, que estava operando o home theater. Na tela, atrás do comandante, surgiu a fotografia ampliada de um cargueiro, com a última posição assinalada do contêiner de interesse. - Essas são imagens tiradas pelos teleguiados, cinco horas após a Marinha Americana ter sido notificada do seqüestro da embarcação. A CIA solicitou a imediata captura dos componentes tecnológicos fabricados pela empresa holandesa para o governo americano.

Nos cálculos de Romano, as fotos foram tiradas há cinco dias, ou seja, um pouco antes de o cargueiro ser desviado de sua rota. As imagens, portanto, não serviam mais como referência para eles.

O contra-almirante prosseguiu:

- A missão tripla consiste em infiltração, técnica de guerrilha urbana, técnica de guerrilha na selva, cobertura, extração e talvez demolição naval de combate... Serão simultâneas. Equipe Alpha, SEALs, irá atrás do cargueiro. Equipe Mariners, Charlie, irá atrás do navio de passageiros. Equipe CECOP, Bravo, fará a infiltração até a o covil dos sequestradores, para onde os passageiros do DeWitt e as tripulações de ambos os navios foram levados. Os passageiros do DeWitt estão sendo mantidos em cativeiro há seis meses. Os piratas querem que as seguradoras negociem a sua libertação. Exigem um milhão de dólares por pessoa.

Salésio assobiou. Era loucura achar que iriam pagar um milhão de dólares por cada um deles. Romano assentiu com a cabeça, concordando com Salésio, antes de perguntar ao contra-almirante:

-Nossas posições?

-Os CECOP darão apoio aos Marins e aos SEALs durante a fase inicial de infiltração. Na segunda etapa, os times se separam e realizam suas respectivas missões. Tornam a colaborar um com o outro no ponto de reagrupamento, quando os SEALs e os Mariners estarão disponíveis para dar cobertura aos CECOP. - Ele se virou para a tela e apontou no mapa. - Posições de alpha, aqui, Charlie, aqui, e Bravo, bem aqui.

Ele lançou um olhar para os homens, esperando perguntas. O silêncio permaneceu e o contra-almirante decidiu dar prosseguimento:

-Prevalecem as missões primárias dos times em separados. Os americanos irão atrás da carga e só depois de tê-la salvo, ou garantir sua destruição, é que estarão disponíveis para a retirada dos reféns. Os Mariners se ocupam das embarcações. O DeWitt é uma embarcação pequena, de nacionalidade francesa, mas havia uma miscelânea de turistas lá dentro, inclusive brasileiros. Estamos sendo contatados por todos os países de origem dessas pessoas em busca de uma solução para o problema.

Quando ele diz "nós", quis dizer: a ONU.

-Os franceses estão aqui por eles e também como uma colaboração à Marinha Real Holandesa, para reaver o cargueiro. Para isso, trouxeram uma equipe dos escritórios da Zeën-Zingen.

Salésio e Daniel tocaram as mãos no alto, num gesto universal de high five.

-Agregados! - disseram um para o outro.

-Eu sabia que tinha de haver agregados! - acrescentou Salésio, estendendo a mão para o novato ao lado, "Dumas", que revirou os olhos, antes de sacar uma moeda de um real para pagar a cada um dos veteranos.

"O pobre novato já está pagando dívidas de apostas", a sobrancelha escura de Romano se arqueou. "E só Deus sabe como é difícil conseguir moedas de um real no Brasil".

Na tela, em Power Point, as equipes apareceram representadas por letras: A - recuperação da carga tecnológica; C - recuperação dos navios; B - resgate das tripulações.

-O elemento surpresa está no ataque em três frentes - disse o contra-almirante. - Os piratas não esperam por isso. Dúvidas?

Ninguém se manifestou.

-Alguma observação? - indagou ele, a seguir.

-Sim, eu gostaria de saber se há situações a serem relatadas - Romano queria alguns esclarecimentos sobre o que não estava nos AAR.

O contra-almirante entendeu a pergunta, perfeitamente.

-Muito bem, deixem a sala - disse o contra-almirante, com tranqüilidade. - Devem ficar apenas os líderes de equipe.

Romano se sentou calmamente e cruzou a perna direita sobre o joelho esquerdo, esperando a sala esvaziar. Tracy e Frontin se acomodaram ao lado dele. Assim que todos saíram, o contra-almirante lhes informou:

- Os piratas pretendem executar os reféns dentro de dois dias. É uma ordem direta do grupo jihadista ao qual os piratas estão subordinados, o Al Shabab. Recebemos o ultimato há duas horas. Acreditamos que Al Shabab irá deslocar células para o covil a fim de realizar a execução e tornar os turistas seqüestrados um exemplo para o mundo. Certamente, eles irão filmar a execução e postá-la na internet.

Temos pouco tempo, refletiu Romano.

-Ainda temos o problema da carga secreta -continuou o contra-almirante. - Os piratas estão de posse de armas de última geração, roubadas do exército americano.

Como isso foi acontecer? Ele se perguntou, lançando um olhar comedido para Spencer.

-Nem me pergunte! - este respondeu à pergunta não formulada. - Engravatados.

Sim os burocratas tinham a capacidade de ferrar com tudo, mesmo. Especialmente quando havia os interesses sombra envolvidos - as operações secretas da CIA e de outras entidades de segurança privada que investiam pesado em diferentes zonas de conflito. E quando dava merda, sobrava para as tropas de assalto, as de pronta resposta. Forças de Reação Rápida - QRF, como as que estavam prestes a entrar em campo, precisavam mostrar todo o seu valor ao tentar dar conta de resolver os problemas criados ou negligenciados por burocratas e as forças mercenárias que eles costumavam empregar.

E era assim que muitos soldados acabavam morrendo em combate.

Podia ser que em algum momento a missão dos SEALs se afastasse da missão dos Atobás. Os americanos tinham suas ordens - dariam prioridade à carga. Os brasileiros também tinham as suas ordens e dariam prioridade aos sequestrados. Romano sabia que Spencer não estava pessoalmente satisfeito com essa escolha de prioridades. Mas, ordens eram ordens e os SEALs respondiam diretamente ao comando da Marinha e, consequentemente, ao Presidente.

Ocorreu uma troca de impressões entre os responsáveis pelo operacional e os líderes de equipe. Romano rabiscou as diretivas num bloquinho de papel. O líder SEAL não estranhou, pois conhecia o funcionamento do raciocínio de Romano, mas o francês não e, por alguma razão misteriosa, pareceu não ter gostado.

Frontin perguntou se a reunião o estava entediando. Recebeu do brasileiro, a seguinte resposta:

-Reuniões como esta sempre me entediam, mas dever é dever.

Spencer e os demais mantiveram o rosto em branco. Mas por dentro, todos se divertiam com a raiva borbulhante do francês. Um divertimento que foi substituído pela preocupação. As diretivas já eram complicadas o bastante por causa do pouco tempo de que dispunham para cumpri-las. Associado a isso, a falta de sintonia entre as Equipes era um ingrediente fatal para o fracasso da missão.

Romano decidiu resolver as coisas da melhor forma possível, enquanto ainda era possível. Mostrou o papel ao francês, para que entendesse o que estava fazendo. Os demais se aproximaram, enquanto ele apontava para o mapa como se fosse uma louça improvisada. E assim, o francês entendeu que precisavam decidir o ponto de desembarque, a estratégia de abordagem e a estratégia de fuga (o plano A e o plano B).

O francês vacilou ao perceber tudo o que estava deixando passar. "Frontin é apenas um garoto", pensou Romano, "e deve estar querendo provar o seu valor". Infelizmente por causa disso, ele teria que ficar de olho no Moulin Rouge, como decidiu apelidá-lo.

O plano A ficou estabelecido: o retorno dos Atobás com os reféns seria feito ao sul de Mogadíscio. O USS Freeport navegaria do golfo de Aden até o ponto de extração. Já o plano B teve suas complicações. Os Atobás atravessariam todo o chifre da África, cobrindo parte da Etiópia e de volta à Djibouti, onde ficava a base norte-americana administrada pelo Comando dos Estados Unidos para a África (US AFRICOM), vinculado ao Departamento de Defesa Americano.

Romano não estava satisfeito com este plano. Conhecia bem os territórios nomeados. Além do quê, estudou a topografia da área onde ficava o cativeiro.

-O plano B não é bom - disse ele. - Muito território para percorrer a pé. Isso nos torna vulneráveis... Ainda mais com civis debilitados. Só Deus sabe em que estado vamos encontrá-los. Melhor definir um ponto de extração mais perto do cativeiro. Helicópteros nos tiram de lá rápido. É o melhor.

O contra-almirante torceu os lábios, olhando para o mapa que alguém abriu sobre a mesa.

-Tem razão, mas não temos contingente.

-Senhor, com todo o respeito - Romano prosseguiu - não sabemos o estado dos reféns. A marcha será forçada e eles podem nem conseguir andar. Ir até Dal Dal já será difícil, quanto mais atravessar o chifre até Djibouti.

Diante do silêncio de todos - naturalmente, não havia quem discordasse de sua lógica, ele concluiu: - Precisamos reavaliar o plano B.

-Se conseguíssemos que o USS Miami chegasse a tempo... - O contra-almirante meneou a cabeça.

-Não precisamos dele, - retorquiu Romano - pode ser apenas uma unidade anfíbia.

-Está falando do USS Takedo? - Carvalho espantou-se, olhando para o mapa, onde apareciam as embarcações.

-Sim, ele está aqui, - Romano apontou no mapa - à serviço da OTAN. Podemos requisitá-lo e ele levaria apenas oito horas se alterarem o rumo para cá agora. Considerando que o cativeiro fica entre Afgooye e Jazeera, é tempo de sobra para nos pegar na praia.

-Mas e os reféns? - questionou Spencer. - Duvido muito que eles possam andar tudo isso. Porque não usam os Chinook para extração imediata?

-Porque a cúpula vetou invasão ao espaço aéreo da Nigéria - o comandante SEAL encolheu os ombros, quando viu Spencer reclamar da idiotice. - Não questione a lógica de ser apanhado no ar ou ser apanhado em terra. Eu concordo com você, mas ordens são ordens.

Spencer comprimiu os lábios

-Certo, vamos fazer funcionar - disse Romano.

-Vou tentar negociar os Chinooks... Mas se acabar "pegando"... - o comandante SEAL balançou a cabeça. - Lembre-se de que estará encurralado no litoral, logo abaixo do centro nervoso de Mogadíscio.

-Positivo - respondeu o capitão.

-Se ele ficar encurralado -argumentou Spencer Tracy- nós iremos buscá-lo.

-E nós também - repetiu o líder dos mariners, odiando-se por ecoar atrasado o pensamento do outro. Nunca era bom ser aquele que não teve a iniciativa.

-Estaremos a postos assim que cumprirmos nossas missões - completou Spencer.

-Então está bem, podem ir - liberou Carvalho, fechando a sua pasta. O comandante SEAL, que quase não abriu a boca, também fechou a sua e liberou Tracy. Eles saíram para o corredor. O brasileiro, porém, se demorou um pouco mais.

Carvalho Pinto colocou a pasta debaixo do braço e se afastou rumo ao convés. Romano caminhou ao seu lado.

-Acha que temos um PS ¹ com o novato francês? - o contra-almirante lhe perguntou.

Romano deu de ombros.

- Vou manter um olho aberto - respondeu.

O contra-almirante conhecia Romano desde que este se candidatou para os Atobás. Na época, ele era um marinheiro de segunda classe que apareceu do nada, com a cara e a coragem, e se inscreveu para os testes. Ninguém acreditava que o garoto magrelo, mal saído da adolescência, iria conseguir. No entanto, ele conseguiu. Na verdade, passou com distinção.

A cada cem candidatos, apenas cinco passavam nas provas brutais, realizadas nas instalações de treinamento distribuídas pela orla de Sepetiba - de frente para o QG do CECOP, na ilha do Tatu. Sim, o cenário era paradisíaco, mas os candidatos a Atobás não tinham tempo para apreciá-lo. Estavam passando pelo inferno a cada hora do dia, da noite ou da madrugada.

As instalações de testes eram conhecidas como "labirintos dos sinos", porque um dos objetivos das provas era encontrar e tocar o sino antes das outras equipes. E chegar aos sinos dava o que falar... Mas as provas dos Atobás também aconteciam em mar aberto, em saltos de altitude, pela orla marítima, escalando montanhas, nas favelas reais ou naquelas recriadas dentro das instalações.

Romano se destacou em todas elas.

Com vinte e sete missões bem sucedidas em menos de dez anos, Romano galgou a hierarquia interna da Marinha e conquistou o direito de liderar aqueles homens. Aos trinta e quatro anos, era o que ele vinha fazendo com extrema competência.

Carvalho confiava plenamente no julgamento do jovem capitão. Tendo isso em mente, saudou-o, girou nos calcanhares e se dirigiu ao centro tático do navio, de onde acompanharia o desenvolvimento da complexa missão.

-Atenção, oficial na ponte - alguém avisou.

-Descansar - disse Carvalho.

Ele se posicionou ao lado do capitão do navio e do comandante operacional dos SEAL, que anunciou:

-A operação Redbeard está em andamento.

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Rodapé:

1 - PS, na gíria da Marinha, significa "Problema"

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