Não, não, não.

Está usando um vestido de tecido tão fino que chega a ser transparente. Gritos esganiçados surgem da multidão enquanto tento, sem sucesso, recuperar o fôlego.

Pontos turvos surgem em minha visão e penso estar tendo um ataque cardíaco. Estou tão confuso que não percebo quando se aproxima e envolve meu corpo em um abraço.

Fecho os olhos, inspirando o cheiro do mar impregnado em sua pele bronzeada. Quando abro, a visão parece ainda mais surreal. Seu cabelo está uma confusão de fios prateados e seus olhos verdes-musgo irradiam felicidade.

O que eu fiz?

— Quem é ela, Oscar? — pergunta Lola. Estou ciente do tom ácido, mas controlado, em sua voz; da mão ainda apertando meu pulso e da força desnecessária que acrescentou ao toque. Suas unhas estão quase perfurando minha pele.

Sei que devo estar pálido. Nem mesmo meu cérebro é capaz de formular uma boa resposta para aquilo. Quem era aquela garota na sala?

Minha amante tola. Penso, mas não é isso que sai de meus lábios.

— Não a conheço — balbucio, recuperando a expressão neutra que outrora sustentava no rosto.

O sorriso de Coral desaparece aos poucos e ela se afasta. Meu coração pesa, mas não posso voltar atrás. Não com meu pai vindo em minha direção, com as câmeras ligadas ao vivo.

— Seguranças! — a voz de Lola é firme. — levem essa lunática para longe do meu noivo.

A última palavra soa como uma ameaça. Ameaça que a sereia parece ter entendido bem, pois sua cara é a de quem levou um soco.

Espero que o escândalo aconteça. Quatro seguranças surgem de cada canto e rezo para que não a machuquem. Seu queixo treme,  mas por algum motivo, não diz nada, apenas se vira e corre.

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