001
Cassiopeia Tonks
Sinto falta do doce sabor da vida
Sinto falta das conversas
NÃO ERA SURPREENDENTE QUE A MINHA IRMÃ aparecesse no meu trabalho, afinal, todo mundo sabia que Nymphadora Tonks era o desastre em pessoa. Desde que me lembro, a garota vivia tropeçando e esbarrando em tudo que estivesse em seu caminho, sempre com as pernas cheias de pequenos hematomas roxos, foi um dos motivos que me levou a me tornar medibruxo, para ter certeza de que sempre conseguiria cuidar dela.
— Como se machucou dessa vez?
Nymphadora estava olhando distraidamente o meu consultório, ela tinha uma energia ansiosa que estava começando a me preocupar.
— Não me machuquei, apenas queria ver a minha irmã mais velha que eu amo — ela me encarou, sorrindo — Tá, na verdade Dumbledore pediu para eu conversar com você sobre aquele assunto.
Meu sorriso morreu por um momento e eu suspirei.
— Minha resposta é não — resmunguei, começando a organizar a bagunça que o último paciente tinha deixado na sala — Não me importo que você queira fazer parte dessa coisa de ordem secreta que luta contra você-sabe-quem, mas isso é perigoso demais e eu tenho um filho de cinco anos que depende de mim, não posso ficar me arriscando dessa forma.
— Mas...
Eu já tinha tido aquela conversa duas vezes com Dora e outras milhares de vezes com o velho Dumbledore, eu não sabia se admirava a forma como eles não desistiram ou apenas os amaldiçoava logo.
— Dora, eu sou mãe solteira, meu filho depende unicamente de mim — murmurei, tentando fazer com que ela entendesse a situação — se algo acontecer comigo... Arcturus vai ficar sozinho, nossos pais já estão velhos demais para criar uma criança e...
Dora franziu a testa.
— Eu sou madrinha dele, nunca o deixaria sozinho.
Não era o momento ideal para explicar a Dora que eu não achava ela madura ou responsável o suficiente para criar uma criança, então decidi apenas fingir que não tinha escutado aquilo. Ela o amava mais do que tudo e eu sabia disso, Dora fazia qualquer coisa por ele, mas ela não entendia todas as responsabilidades reais que envolviam cuidar de uma criança.
— Eu te amo, mas a minha resposta ainda é não, desculpa.
— Dumbledore não vai te enviar em missões ou coisas perigosas, você só ia nos contar se ouvisse alguma informação importante, afinal, todas as fofocas do mundo bruxo sempre estão pelos corredores do St. Mungos — Nymphadora insistiu — E quando precisássemos de um medibruxo, você nos ajudaria, só isso.
Considerei suas palavras, era um pedido mais razoável.
— Sem me envolver muito profundamente?
Dora sorriu.
— Yep.
Peguei o porta-retrato que estava na minha mesa, uma foto minha com meu filho, eu não queria que meu filho crescesse em um mundo comandado por alguém como Voldemort. Então pensei em meu pai, um nascido trouxa que tinha sofrido muito na vida por causa daquilo, não era aquele mundo que queria para as pessoas que amava.
— Tudo bem.
Nymphadora pulou nos meus abraços.
— Obrigada! — ela disse, sem conseguir conter a felicidade — a reunião é amanhã, aqui está o endereço.
Peguei o pedaço de pergaminho que ela me estendia e o desdobrei.
Largo Grimmauld, nº 12, Londres
— Ok.
— Vamos almoçar? Estou morrendo de fome, aliás, eu comprei uma vassoura infantil para o Arty.
Eu aprendi rapidamente que o pior pesadelo de uma mãe eram presentes, em primeiro lugar vinha os brinquedos musicais, afinal, seu filho sempre vai querer brincar com uma flauta ou uma bateria infantil no meio da madrugada quando não consegue dormir. Em segundo lugar, as vassouras infantis.
Elas não voavam muito alto, mas ainda assim poderiam render um desastre.
— Ah, não precisava, sério.
Dora me encarou, sorridente.
— Óbvio que precisava, o Arty ama Quadribol.
Percebi que não conseguiria me livrar da vassoura, então apenas desisti, se eu acabasse com cabelos brancos, a culpa seria totalmente da minha irmã mais nova.
— Vamos logo almoçar, Dora.
O resto do meu dia se passou rapidamente e quando percebi, já estava abrindo a porta do meu apartamento. Tinha um forte montado no meio da minha sala, feito de lençóis e travesseiros, dei um pequeno sorriso ao ver meu filho ali, brincando com seus brinquedos.
A babá sorriu ao me ver.
— Sra. Tonks! — ela veio me cumprimentar — Como foi o trabalho?
— Normal. Arty se comportou?
— Um anjo como sempre.
Arcturus largou os brinquedos ao perceber minha presença e correu na minha direção, abraçando minhas pernas.
— Mamãe!
Seus cabelos loiros estavam uma verdadeira bagunça e suas bochechas levemente rosadas. Arty tinha puxado os cabelos da minha família e a habilidade de transmorfo de Dora, o resto era tudo do pai, incluindo os olhos verdes e as sardas.
— Ei, meu garotão — murmurei enquanto me abaixava para o puxar para um abraço — Como foi o seu dia?
Os olhos verdes dele brilharam.
— Foi incrível! A gente montou um forte, então brincamos e aí ela leu uma história sobre um guerreiro mágico e...
Eu o peguei no colo e larguei minha bolsa no sofá.
— Depois você vai me contar tudinho sobre como foi o seu dia — murmurei, beijando sua testa — Lydia, obrigada por tudo, até amanhã.
— Até, Sra. Tonks... Arty!
Fui para a cozinha enquanto ela ia embora, coloquei Arcturus sentado em cima da bancada da cozinha e comecei a preparar o nosso jantar.
Estou procurando uma canção esta noite
Estou mudando todas as estações
TIREI A MINHA CAPA ENQUANTO entrava dentro da casa, Dora estava na minha frente, já que ela conhecia o lugar melhor do que eu. A garota quase tropeçou e eu rapidamente a segurei pelo braço, impedindo que ela acabasse caindo de cara no chão.
— Cuidado, Dora!
Meu olhar vagou pelo corpo de Nymphadora para ter certeza de que ela estava bem, estava tão concentrada que acabei pulando de susto ao ouvir gritos.
— TRAIDORES DE SANGUE NA MINHA CASA! VERGONHA!
Virei lentamente para trás apenas para ver o quadro de uma mulher de cabelos escuros e expressão irritada, não precisava ser muito inteligente para saber que aquela deveria ser Walburga Black, a tia nem um pouco querida da minha mãe. A semelhança entre as duas era assustadora, para dizer o mínimo.
— Dora, o que...?
— Desculpe por isso — um homem ruivo murmurou, fechando a cortina em frente ao quadro — É a mãe do dono da casa, aparentemente o quadro está colado com feitiço super colante e... Cassy?
Eu congelei.
A última vez que tinha visto William Weasley foi na nossa festa de formatura, um dia antes dele ir para o Egito em total segredo e nunca mais responder qualquer carta minha, o que era terrível, já que nós dois éramos melhores amigos desde absolutamente sempre, pois nossos pais trabalhavam juntos no Ministério.
Bill não parecia em nada o garoto de seis anos atrás, o que me fez perder o fôlego por um momento. Seus ombros pareciam mais largos, ele estava forte, os cabelos ruivos estavam grandes e presos em um rabo de cavalo, um brinco de garra em sua orelha e tinha tantos outros detalhes diferentes que faziam minha cabeça doer, sua expressão parecia verdadeiramente surpresa ao me ver ali.
— William.
Sua expressão se tornou desanimada.
— Uau, nomes completos então, nem parece que nos conhecemos a vida toda.
Sua tentativa de brincadeira apenas fez eu me sentir ainda mais irritada com toda aquela situação, olhei para a minha irmã, que tinha uma expressão culpada no rosto. Nymphadora deveria ter me dito que aquele idiota fazia parte da Ordem, eu estava me sentindo traída.
— Acho que você esqueceu de mencionar algumas coisas, Nymphadora.
Eu só a chamava assim quando estava irritada e ela sabia disso, Dora nem ao menos tentou reclamar por eu ter usado seu nome inteiro ao ver a expressão no meu rosto.
— Se eu tivesse te falado que ele estaria aqui, você nunca iria concordar.
— Uau, me perguntou o porquê.
Dora se intrometeu entre nós dois, parecendo um escudo humano.
— Sei que você deve estar querendo me matar, mas a gente já está aqui, então nem pense em ir embora.
Era exatamente o que eu estava considerando fazer. Havia uma lista de pessoas que eu não queria ver nem pintadas de ouro - como toda a família da minha mãe - mas William Weasley ocupava o primeiro lugar. Houve um tempo em que ele era meu porto seguro, meu melhor amigo, confidente e a pessoa que tinha meu coração na palma da mão, mas isso mudou no momento em que ele foi para o Egito e me cortou da sua vida, como se eu fosse algo descartável.
Eu o odiava.
— Vamos acabar logo com isso então.
Passei por Nymphadora fazendo questão de bater em seu ombro, como ela pode me arrastar até ali sabendo que William estaria presente?
Nem sequer olhei para William quando passei para ele, quando cheguei na sala da casa, vi o resto da família Weasley. Fazia muito tempo que eu não via todos eles, mas não me surpreendi quando Molly avançou na minha direção e me puxou para um abraço apertado, como nos velhos tempos.
— Cassy! Você se tornou uma mulher tão linda — ela disse, enquanto me apertava em um verdadeiro abraço de mãe ursa — Fiquei tão animada quando Tonks disse que você iria participar da Ordem.
Retribui o abraço sem pensar muito, pois quando eu estava desolada sem notícias de William, havia sido Molly que me consolou.
— Bom ver você, tia Molly.
Ela se afastou e segurou minhas bochechas, me analisando.
— Você está tão magra, está comendo direitinho? Além de cuidar dos outros, você precisa se cuidar também, querida — Molly disse, séria — Eu estou fazendo um ensopado para comermos depois da reunião, você vai adorar!
Eu não iria ficar para depois da reunião, tinha deixado Arty na casa da minha mãe e precisava o buscar antes que ele acabasse dormindo e interrompesse nossa rotina, mas eu não podia dizer isso.
— Tenho certeza que deve estar uma delícia.
— Cassy.
O próximo a me abraçar foi Arthur, ele e meu pai eram grandes amigos, o Weasley sempre fazia milhares de perguntas para Ted sobre coisas trouxas e era realmente divertido de observar.
— Tio Arthur.
Cumprimentei os outros que estavam presentes, Charlie me girou no ar e beijou minha testa, então os gêmeos me abraçaram ao mesmo tempo, depois Ron e por último Ginny. Cumprimentei meus antigos professores de Hogwarts, Minerva, Severus e o grande Dumbledore, fui apresentada para Remus Lupin e acabei dando de cara com Sirius Black, que na verdade não era um assassino e sim inocente, extremamente confuso, mas decidi não fazer perguntas sobre.
Dora estava em silêncio ao meu lado, sabendo que tinha passado da linha.
Outros membros da Ordem foram chegando e a reunião logo começou, os mais ronos foram empulsos e a porta da cozinha trancada com alguns feitiços para eles não bisbilhotarem. Evitei o olhar de William, eu me recusava a encarar ele depois de tudo.
Olhei nervosamente para o relógio em meu pulso durante a reunião, eu rezava para conseguir chegar para buscar Arty antes do seu horário de dormir.
A reunião passou como um borrão.
— Querida, vai ficar para jantar, não é?
Eu já estava em pé e pegando minha capa quando Molly me interceptou, com uma expressão séria no rosto.
— Molly, eu adoraria, de verdade — comentei baixinho, para os outros não ouvirem — mas eu tenho um compromisso muito importante agora.
Ela franziu a testa.
— O que pode ser mais importante do que se alimentar direito?
Por a conhecer desde sempre, sabia que ela não ia me deixar ir sem uma boa resposta, então após uma rápida olhada ao redor e perceber que a maioria das pessoas já tinha saído da cozinha, decidi contar a verdade.
— Um filho — finalmente respondi, dando um pequeno sorriso — Eu tenho um menininho muito lindo que está na casa da minha mãe nesse momento.
Molly arregalou os olhos.
— Você teve um filho?
Ela me abraçou apertado, quase me deixando sem respirar.
— Isso é incrível, Cassey — Molly sussurrou, parecendo emocionada — Eu quero muito o conhecer, não acredito que Andrômeda não mencionou que tinha se tornado avó.
Quando ela se afastou, percebi que seus olhos estavam marejados.
— Ela não contou nada por minha causa, tia Molly — expliquei, sentindo meu rosto esquentar — a gravidez não foi fácil e eu estava abalada...
Ela respirou fundo, passando a mão pelo rosto.
— Desculpe, eu estou tão emotiva esses dias por causa de toda essa coisa de guerra e agora descubro que a garotinha que vi crescer se tornou mãe! — Molly me encarou, o rosto vermelho — E o pai do bebê?
Fiquei tensa por um momento, eu odiava aquele assunto com todas as minhas forças.
— Ele não está na foto — murmurei, me sentindo desconfortável — sou só eu.
Molly arregalou os olhos.
— Querida... — ela parecia apavorada — Sei que cuidar de filhos não é fácil, não consigo nem imaginar fazer algo assim sozinha.
Forcei um sorriso.
— Minha família me ajudou, então não diria que estou completamente sozinha.
Ela me puxou para outro abraço.
— Quero muito conhecer o bebê, viu? Antes de você ir, vou colocar o jantar em dois potinhos para vocês.
Apenas concordei e observei ela servir os dois potes.
— Molly, você poderia não falar sobre isso com ninguém? É um momento tão delicado e não quero colocar meu filho em perigo.
Ela concordou.
— Eu entendo, querida.
Peguei os potes e me despedi dela, Dora estava na sala, já me esperando para ir embora. Fiz uma careta ao ver que William Weasley estava ao seu lado.
— Dora, vamos embora?
— Claro — ela olhou para o ruivo — tchau, Bill!
William tossiu.
— Não vai nem me dar tchau, Cassey?
O encarei, me controlando para não deixar minhas emoções visíveis.
— Nunca achei que isso fosse algo importante para você — comentei, percebendo como minha voz soou amarga — Já que você se mudou para outro país sem se importar em dizer tchau.
Ele se encolheu.
— Eu te devo um pedido de desculpas por isso — Bill disse, ficando repentinamente sério — fui um idiota ao sair sem me despedir de você.
Sair sem se despedir de mim depois de termos passado uma noite juntos.
— Eu teria aceitado esse pedido de desculpas há seis anos, mas agora realmente não me importo. Não somos mais amigos e nem vamos voltar a ser.
Agarrei o braço de Dora e a puxei para fora daquela casa antes que ele tentasse dizer mais alguma coisa. Nós aparatamos para a casa da nossa mãe e eu suspirei aliviada ao ver Andrômeda sentada sozinha na cozinha, tomando uma xícara de chá.
Coloquei os potes de comida em cima da mesa e me sentei ao lado dela, percebendo sua expressão se tornar preocupada.
— Querida, você parece péssima.
— Nymphadora esqueceu de mencionar que William Weasley fazia parte da Ordem e estaria lá — resmunguei irritada — então imagina a minha surpresa ao chegar lá e dar de cara com ele.
Andrômeda encarou a garota mais nova, parecendo chateada.
— Você disse que tinha contado para a sua irmã sobre isso — ela disse, séria — Não acredito que mentiu sobre isso, filha.
Olhei incrédula para minha mãe ao perceber que ela também sabia sobre isso.
— Você sabia disso também?
— Se eu falasse que ele estava lá, Cassey nunca teria concordado — Dora rapidamente explicou, nervosa — E eu não achei que vocês dois no mesmo lugar seria tão tenso. Sério, acho que a Cassey estava a ponto de lançar uma maldição imperdoável nele.
Me levantei da mesa, já me sentindo cansada daquele assunto.
— Tanto faz, vou pegar meu filho e ir para casa.
Não me surpreendi ao chegar na sala e encontrar meu filho dormindo agarrado a Ted Tonks, que estava completando apagado no sofá. Suspirei baixinho ao ver os dois juntos, seria terrível acordar o baixinho naquele momento.
— Você pode dormir aqui essa noite — minha mãe murmurou, colocando a mão no meu ombro — do jeito que está abalada com tudo isso, acho que é melhor.
Concordei devagar e peguei Arty no colo, o levando para o meu antigo quarto. Entrei no cômodo e o coloquei na cama, colocando uma coberta leve sobre ele, meu filho parecia um anjo dormindo e naquele momento, eu só conseguia pensar em como o amava.
Ao olhar para a porta, percebi que minha mãe estava ali, segurando uma xícara de chá.
— Trouxe para você.
Suspirei baixinho e aceitei a xícara, ela se aproximou e sentou ao meu lado, na beirada da cama, observando Arty dormir.
— Sei que você está magoada com William e com razão, mas agora vocês dois são adultos e precisam conversar sobre algo muito importante — ela sussurrou, séria — Apesar de tudo o que fez, ele tem direito de saber.
Me recusei a encarar ela, não queria pensar naquilo.
— Mãe... Não — resmunguei, cansada — eu já tentei ter essa conversa milhares de vezes e ele ignorou todas as minhas cartas, não vou continuar insistindo nisso, me virei até agora sozinha, então significa que não é agora que vou precisar dele.
Ela não discutiu, apenas me puxou para um abraço apertado que prontamente aceitei.
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