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Capítulo 2 - Sintam-se agraciados

De repente Sophia voltou a si engolfando uma boa quantidade de ar, um ato que fazia-lhe sentir como se segundos antes estivesse afogando. E na verdade estava, mas não em água, e sim, em escuridão, uma profunda e vazia escuridão. Logo após responder...

— Desejo...

Tendo que reunir toda as suas últimas forças para se dirigir aquela voz misteriosa, ela acordou naquele lugar. E a primeira coisa que ouviu foi:

— Parabéns, eu me chamo Alster e vocês foram selecionados como Campeões, sintam-se profundamente agraciados por isso. — Pronunciou um homem de voz rouca e gutural.

Ao despertar Sophia viu uma luz forte, embaixo dela havia um homem idoso trajando uma robe púrpura brilhante com algo similar a uma estola azul sobre seus ombros e pouco cabelo em sua cabeça. Este mesmo senhor arrumava vários livros sobre uma prateleira de madeira. Entrando em pânico Sophia tentou se soltar, mas quando o fez percebeu que estava presa sobre uma maciça cadeira de madeira, e apesar de imobilizada, não haviam amarras ou algo do tipo. Ainda em pânico ela se voltou para o homem que arrumava os livros. O desinteresse do senhor de idade era tão aparente que nem sequer se prestou em virar para cumprimentar seus convidados.

Alster não pararia seu trabalho por causa disso, e o motivo era simples, eles não eram seus convidados de fato, aqueles eram, na verdade, parte de seu maçante trabalho. Como o bom servo que era ele apenas realizava a vontade daqueles que o comandavam. Apesar de ser seu trabalho, ele não necessariamente gostava, pois era como lidar com crianças superpoderosas. Agora ele novamente havia sido envolvido naquilo que considerava apenas mais uma disputa idiota. A única coisa que desejava era poder ficar em paz e cuidar sua biblioteca, mas como praticamente havia vendido sua alma, isso não era mais possível. O que fazia agora era justamente usar o pouco tempo que têm para dar conta da mesma. Alster estava virado de costas para seus convidados organizando alguns livros em uma enorme prateleira de madeira. As pessoas presentes não conseguiam vislumbrar a extensão daquele suntuoso lugar, mas não era como se aquele anfitrião se importasse.

— O-o quê?! — Uma pessoa disparou confusa e aflita e, então, várias o seguiram.

— Você só pode estar brincando! — Uma segunda voz irrompeu estressada ao mesmo tempo que outras vozes começaram a se questionar um pouco mais baixo.

— Têm mais alguém ai?! — Outra pessoa perguntou, chocada.

E então o burburinho começou a ganhar mais e mais proporção.

— Eu não estou vendo mais ninguém! — Uma voz feminina afirmou aflita.

— Têm muita gente?! — Uma voz masculina soou desesperada. — Eu também não vejo mais ninguém. — Externalizou sua preocupação.

— Nem eu — Outro respondeu.

— Eu não consigo me mover... — Alguém constatou.

E o desespero fora se tornando cada vez maior.

Ao perceber que não estava sozinha Sophia tentou verificar seus arreadores. Assim como ela todas aquelas pessoas pareciam atordoadas com a situação, mas ao procurar a fonte daquelas vozes não encontrou nada além da profunda escuridão que a circundava.

Ao analisar melhor sua situação ela percebeu que estava em uma sala com apenas dois únicos pontos de iluminação, e estes pontos engolfavam apenas ela e a criatura estranha. Com isso em vista não conseguiu deixar de imaginar alguns filmes policiais que já assistiu, a cena na qual se encontrava parecia muito com a de uma pessoa prestes a ser interrogada pelo policial bom e pelo policial mau. O problema é que nesses filmes a parte interrogada sempre acabava torturada, e com isso em mente ela não conseguiu evitar de ficar aflita.

Na esperança de ver alguém que pudesse lhe ajudar focou-se em seus arredores para que seus olhos se acostumassem com a luminosidade forte, e teve a impressão de vislumbrar algumas silhuetas, mas logo elas desapareceram. Sophia sentia que haviam pessoas ali, mas não conseguia vê-las, apenas ouvir suas vozes. E cada vez mais, assim como ela mesma, eles se desesperavam.

— Isso é um sequestro? — Uma das vozes não pôde deixar de comentar.

— Minha família não tem dinheiro, juro. — Outra voz, uma chorosa, tentou se defender.

— Eu não quero morrer, por favor... — Alguém assumiu o pior.

Em pouco tempo o grande salão fora preenchido por uma cacofonia de vozes femininas e masculinas de todas as idades possíveis assumindo diversas possibilidades diferentes. Sophia também estava desesperada, mas fora outra coisa que lhe chamou atenção. Bem diante dela a mesma viu o velho encolher seus ombros, mas não era medo, Sophia havia percebido, através dos tremeliques do mesmo, que a criatura corcunda estava ficando nervosa e isso lhe enviou profundos calafrios.

"Até onde sei não é uma boa ideia irritar, é, humm... o sequestrador?" — Ela não conseguiu evitar de ficar apreensiva ao mesmo tempo em que se questionava sobre a situação anormal na qual se encontrava.

Lá no fundo Sophia já sentia que não era um simples caso de sequestro, parecia algo diferente, mas daí a acreditar que fora escolhida como Campeã igual acontece em jogos, novels e coisas do tipo, já era demais. Sophia nem sequer era escolhida como parte do time. Sempre que as garotas iam jogar futebol, vôlei ou queimada ela era deixada de lado, não que ela fizesse muita questão, mas ainda assim foi algo que lhe marcou. No entanto, também foi por causa disso que conheceu seus primeiros amigos, um grupo especial de sedentários que também não queriam jogar nada. Já que todos eles obrigatoriamente tinham que fazer algo durante a aula de educação física, ficavam conversando e jogando coisas como xadrez, damas, ludo e afins.

Eventualmente aquela bagunça chegou no ponto em que Alster não aguentava mais ouvi-los.

Calem a boca! — Ele gritou irritado a ponto de, por um instante, sua voz ter se parecido com um rugido.

Todos ficaram em silêncio, mas o que mais fez todos tremerem em suas bases foi outra coisa. Sophia foi uma das primeiras a ver, pois quando o velho começou a se virar ela o estava encarando diretamente. A criatura quase careca, apenas com poucos fios brancos e ralos ao redor, se virou de repente, e todos que o observavam atentamente, assim como Sophia estava fazendo, reagiram. Foram diferentes reações, nojo, medo, susto e assim por diante, mas uma ação que permeou a todos igualmente foi engolirem em seco toda a saliva que restava em suas bocas secas. Poucas gargantas ali não ficaram áridas como o agreste.

E após o primeiro impacto de terem visto o rosto do velho, eles ficaram sem reação. Sophia entendeu, todos estavam se questionando se o velho era humano ou não.

A imagem bizarra ficou profundamente gravada na cabeça dos participantes. O rosto dele ostentava um longo nariz disforme igual as representações grotescas que faziam de bruxas lá pelos anos oitenta, suas orelhas eram longas e pontudas, além de conter tufos de pelo negro saindo de ambas. Seu rosto estava modificado em uma carranca pálida e cadavérica com um grande queixo longo, pontudo e com uma leve fenda dividindo sua extremidade. Logo mais ao lado de seu nariz maçãs faciais estranhamente protuberantes e desproporcionais acompanhavam a bizarrice de sua face ossuda. Seus braços longos, finos e enrugados apenas contribuíam com a estranheza de sua forma. Não era humano, a cada centímetro que analisavam o público teve mais certeza disso. Apesar de sua forma humanoide todos julgaram que o velho estava um pouco longe de parecer normal, mas mesmo assim se abstiveram de demonstrar uma reação. Ainda poderia ser algum tipo de doença ou deformidade, mas algo bem lá fundo, talvez o instinto natural de um ser humano, dizia para eles que não era este o caso. O que Sophia e aquelas pessoas sentiram ao encarar os frigidos olhos felinos daquele ser fora medo, o mesmo medo que um animal mais fraco sente na presença de um predador absoluto.

Apesar de levemente corcunda, Alster permaneceu altivo.

Eu já disse que vocês são campeões, então calem a boca! — Irrompeu batendo um grande e pesado livro sobre a escrivaninha de madeira logo a sua frente. — Por isso eu odeio seres humanos. — Ele cochichou para si mesmo, mas o fez alto o suficiente para que a maioria pudesse ouvir.

Fora desta forma que obtiveram suas respostas, de fato não era humano. Sophia quase comemorou, pois sentiu que estava certa em confiar na sua intuição. Ela sempre foi do tipo que dá muita atenção para seus instintos, mas apesar de ter uma percepção afiada, ela ainda sim tomou uns bons tombos na vida. Mesmo sentindo que algo estivesse estranho em uma situação, muitas vezes ela ainda assim seguia em frente, só para se decepcionar logo em seguida e se martirizar por não ter escutado seus instintos. Ela só não desobedecia a suas premonições de perigo, essas ela nunca ousou.

— O que você quer dizer com seres humanos, você não é humano? — A voz masculina de um jovem questionou inquieta.

Sophia quase deu um tapa em sua própria testa. Se não fosse estar preso naquela cadeira por uma força invisível, teria ao menos levado sua mão até o rosto em sinal de descrença. O sentimento também pareceu ser geral, pois pelo o que ela conseguia ouvir, muita gente suspirou. Apesar de a resposta do velho ter sido bem obvia, parece que sempre havia um indivíduo mais lerdo que os demais. Mas apesar de tudo, foi bom, pois deu uma martelada final no assunto.

Em oposição Alster apenas respirou fundo na tentativa de recuperar sua compostura.

— Não. — Ele respondeu tentando parecer o mais tranquilo possível, mas era obvio que estava nervoso, nervoso a ponto de parecer um pitbull segurando sua vontade de estraçalhar um pedaço de carne.

A resposta ter vindo também surpreendeu Sophia. Pelas feições do velho era bem claro que ele não queria responder, e por isso mesmo ela achou que o questionamento seria apenas ignorado.

— Eu já lhes disse não foi, vocês são campeões escolhidos por um certo grupo de seres superiores. — Ele tornou a se repetir, mas com claro desgosto permeando seu tom.

Nesse ponto Sophia começou a apostar consigo mesma que o velho perderia a compostura. O rosto dele ter se avermelhado parecia um bom sinal de que isso aconteceria.

— Logo eu não sou humano. — A criatura chegou a sua própria conclusão, como se aquilo fosse muito obvio e intuitivo de assumir.

"Hã?!" — Sophia não se pronunciou, mas fora isso que pensou.

Ela não conseguia entender aquela lógica, aquilo definitivamente não fazia sentido, mas pelo altivo olhar do velho ela entendeu que para o mesmo fazia todo sentido (biológico) do mundo.

— Parabéns por serem os escolhidos. — Ele parabenizou enquanto tentava voltar para seus afazeres.

"Esse velho é maluco." — Sophia ficou incrédula.

— Então a gente deve lutar contra o lorde demônio ou algo assim? — Um garoto perguntou meio desconcertado.

Aquela pergunta surpreendeu a todos no recinto, e Sophia não foi exceção. O motivo era simples, ela também consumia aquele tipo de história. Quando ponderava melhor sobre tudo que havia acontecido até ali, realmente parecia ser esse o caso. Outro mundo, Campeões, seres superiores e afins, se mudasse algumas coisas não seria o mesmo tipo de narrativa? Dependendo de como for representado, Campeões podem ser o mesmo que Heróis. Era um clichê, mas Sophia pessoalmente gostava de ideias relacionadas, era o tipo de história de fácil identificação, pois afinal de contas, quem não gostaria de vivenciar uma aventura do tipo pelo menos uma vez na vida? Mas obviamente também era o tipo de história distante demais, feita para fugir do mundo comum, da rotina, do tédio, dos problemas pessoais, do mundo chato que a maioria vive. E mesmo que fosse possível, quanta sorte alguém precisa ter para que uma coisa dessas aconteça com você? Muita, foi o que ela pensou. Sophia se considerava uma azarada, logo, não era possível que algo assim estivesse acontecendo com ela, e por isso decidiu confiar em seus instintos, havia algo errado naquele papo. Talvez fossem seus espíritos ancestrais familiares lhe avisando. Sua avó por parte de pai adorava dizer que sua família era protegida por coisas do tipo e que por isso todos tinham sentidos espirituais bem desenvolvidos. Agora Sophia só podia rir dessa narrativa. Quando se deu conta novamente alguns mais apressados já haviam tomado a dianteira dos questionamentos.

— Ei, isso é uma piada? — Um jovem perguntou incrédulo.

— Isso não é uma daquelas histórias de internet? — A voz infantil de um garoto surgiu de repente.

E uma discussão fervorosa partiu desse ponto.

— Sendo história de internet ou não, eu não quero fazer nada perigoso. — Outra jovem respondeu.

— Nem eu. — Uma voz idosa concordou.

— Até que parece divertido... — Alguém corriqueiramente soltou aquela frase e várias pessoas repreenderam a conclusão.

Sophia concordou um pouco, mas ficou em silêncio.

— Você é maluca?!

— Idiota!

— Demente!

Outras pessoas julgaram a garota que disse parecer divertido.

E seguiu dessa forma, com xingamentos e lamurias embaçadas até que a mistura de todas aquelas vocalizações criasse uma cacofonia confusa.

Enquanto isso, o velho ponderava.

"..." — Alster ficou pensando naquela linha por alguns instantes.

Mas de repente uma frase chamou sua atenção, fazendo-o retornar:

Não, não, não, isso não é real! — Os ânimos de um garoto de repente explodiram. — Minha vida estava perfeita droga, eu passei na faculdade que queria, eu exijo voltar pra casa agora! — Ele irrompeu de repente, fazendo com que todos os demais se calassem.

— Eu também queria voltar pra casa. — Uma jovem o acompanhou e, de repente, vários outros se juntaram ao coro.

A criatura gargalhou, um som que de tão sinistro rapidamente fez com que todos se calassem ao serem possuídos por um sentimento aterrorizante que percorreu seus corpos de ponta a ponta.

Pela primeira vez aquele ser deliberadamente mostrou um sorriso, mas este não era amistoso, e sim, esquisito, cheio de dentes afiados e bastante repulsivos: — Não, não, não, os pelotões formados por Taldar geralmente são o suficiente para controlar o crescimento de qualquer bizarrice nociva que possa surgir por aí, mas talvez eu só não tenha sido claro quanto a situação de vocês. — Ele disse ainda sorrindo, ainda se divertindo com aquela linha.

Uma leve comoção atingiu o público e algumas pessoas começaram a balbuciar coisas inteligíveis de tão baixas que foram proferidas. Até haviam algumas linhas interessantes para Sophia ali, mas ela preferiu ficar em silêncio, pois mediante daquelas palavras o olhar de Alster havia se tornado repentinamente malicioso. Ele não precisava convencer aquelas pessoas de nada, ele é Alster, a parte mais tenebrosa do conhecimento, ele não precisa ficar se explicando para formas de vida inferiores. Se ele diz que algo têm que ser feito, o que resta para criaturas como seres humanos é se prostrarem e obedecerem.

— E-então é o-oo que? — Alguém tomou a dianteira para perguntar, mas com um claro receio permeando seu tom.

Alster ficou feliz com o questionamento.

— Não está claro? — O sorriso do velho alargou. — Vocês vão lutar, se matar, e com isso divertir aqueles que desejam assistir. — Ele riu em zombaria. — Fácil, não é? — O mesmo emitiu um olhar malicioso.

Ao ouvir aquilo, uma sensação ruim percorreu o corpo de todos os presentes. Sophia quase desfaleceu no ato.

Eu não vou fazer isso! — Uma jovem imediatamente gritou.

Eu não sei lutar, e não vou! — Um garoto ficou irritado.

A gargalhada da criatura novamente irrompeu seguida de um breve estalar de dedos. No momento em que o fez, todo o ambiente, de repente, parecia mais claro.

Do ponto de vista daquelas pessoas, inclusive Sophia, era como se estivessem em uma sala cujo o foco de iluminação recaia apenas sobre elas e o ser ao centro do salão, não sendo possível ver os demais, pois o restante da sala estava completamente coberto pelo breu que havia ao redor. A escuridão era tão pesada que a luz incidida não conseguia jogar qualquer tipo de claridade sobre o restante do ambiente, e foi por isso a maioria se surpreendeu ao perceberem que haviam mais pessoas presentes, mas que não conseguiam vê-las. Quando o ser estalou seu dedo, tudo mudou. O salão fora iluminado por uma luz dourada muito forte que descia de uma cúpula cristalina no teto e toda a extensão daquele ambiente pudera ser visto. Eles estavam em um suntuoso salão, mas não um comum, este parecia uma grande biblioteca, uma que de tão grande estendia-se por quilômetros.

Apesar da beleza do local, Sophia não parou de tremer. O velho destilava tanta malicia que seu corpo simplesmente se recusava a obedecê-la.

Quando ela olhou ao redor se confortou um pouco. Haviam inesperadamente muitas pessoas ali, para ser mais exato, dez fileiras por dez colunas de cadeiras perfeitamente organizadas e com todas elas ocupadas. Todos os presentes rapidamente começaram a se entreolhar e em pouco tempo perceberem que eram diferentes uns dos outros, foi fácil julgar que não eram todos do mesmo país. Todos eles realmente vinham de diferentes partes de um mundo chamado terra. Ainda assim, mesmo tendo visto outras pessoas, Sophia não deixou de ficar atônita.

— Você é de onde?

Um garoto gordinho de cabelos lisos e negros cortados em formado de tigela fez questão de questiona-la.

— Bra-Brasil. — Sophia se demorou um pouco para perceber que o garoto logo ao lado estava se dirigindo a ela. — E você?

Ela devolveu a pergunta apenas por educação, pois imaginou que se estavam falando a mesma língua vinham do mesmo lugar.

— Japão. — O jovem respondeu ajeitando em seu rosto os óculos que haviam escorregado um pouco sobre seu nariz no momento em que ouviu a resposta da jovem. — S-seu japonês é muito bom. — O jovem congratulou com surpresa, pois não esperava que a pessoa que ele abordou falasse tão bem sua língua materna.

— E-eu não falo japonês. — Sophia ficou ainda mais abismada com a resposta do jovem.

"Só pode ser uma piada." — Ela pensou. — "Eu claramente ouvi ele falar português." — Continuou ponderando, mas ainda encarando, um tanto quanto chocada, o garoto de olhos puxados.

Então várias pessoas surpresas começaram a questionar aqueles que estavam próximos de si. Apesar dos corpos estarem presos pelos braços e pernas, ao menos o pescoço aquelas pessoas ainda podiam mover.

— ...Inglaterra.

— ...China.

— ...Estados Unidos.

— ...Índia.

— ...Alemanha

E diferentes países foram se acumulando. Até haviam aqueles de mesma nacionalidade, mas que moravam em países diferentes agora.

— Você fala Francês? — Uma jovem dirigiu-se surpresa para um senhor de idade com pele escura sentado logo ao seu lado.

— E-eu falei Português de Angola. — O Angolano respondeu.

A crescente onda de surpresa preencheu o ambiente. O que todos passaram a se perguntar foi: Como?

— Parabéns, vocês perceberam que podem se comunicar. — Alster interrompeu, com deboche, o crescente burburinho, pois se o deixasse aumentar seria irritante.

Todos haviam ficado tão extasiados com a surpresa que, por um breve momento, se esqueceram daquela criatura assustadora. Antes que qualquer um pudesse questionar, ele prosseguiu:

— Sobre o que haviam falado anteriormente. — A criatura se sentou em sua cadeira e apoiou-se com os cotovelos em sua mesa de trabalho ainda abarrotada de livros. — Vocês farão! — A voz gutural de Alster irrompeu enquanto seus olhos de íris alaranjadas brasearam um brilho perigoso.

No instante em que todos ouviram aquela frase, dois estalos preencheram o extenso salão, ou melhor, duas pequenas e abafadas explosões surgiram seguidas de um histérico berro amedrontado.

Todos imediatamente, e com seus corpos preenchidos com uma forte sensação de mau agouro, dirigiram seus olhares até a fonte daquele grito. Quando perceberam as gotas vermelhas, viram que estas partiam de duas pessoas que caíram moles sobre o chão, as mesmas duas pessoas que antes haviam se apressado em dizer que não iriam lutar, desafiando o velho. Próximo aos dois desafortunados também haviam indivíduos de pele absorvidas de sua coloração natural e com pequenos traços de sangue. O chão de pedra azulada aos poucos fora ganhando uma poça concentrada de liquido carmesim. A cabeça de ambos os jovens havia, do nada, explodido em mil pedaços.

— Vocês não têm escolha. — A voz de Alster soou fúnebre e inseriu no coração de seus convidados um medo ao qual estes não sabiam explicar.

Aquilo fez Sophia sentir calafrios. Havia muita certeza naquela voz. Aos poucos sua respiração fora acelerando e ela perdendo o controle de suas emoções.

"Calma Sophia! Calma Sophia" — Ela brigou consigo mesma.

Seus olhos ainda se recusavam a olhar na direção dos gritos desesperados, ela havia visto com o canto do olho, mas não queria ver diretamente. Apesar disso ela sabia, duas pessoas haviam morrido a poucos metros dela.

Gritos de desespero, lamurias e soluços chorosos preencheram a suntuosa biblioteca construída com grandes blocos de pedras negras e cerâmica azulada em seu piso, bem como infindáveis afrescos dourados e moveis de madeira polida por toda parte.

— Eu não quero morrer! — Um jovem se desfez em choro.

Moooonstro! — Uma mulher de meia idade gritou consternada, amedrontada, desesperada, irritada.

Fora uma mistura tão fugaz de sentimentos que, para Alster, soou como uma música. Então ele deu sua última martelada.

— Estão dispostos ou não? — Perguntou ele, se permitindo um novo sorriso e, novamente, estalando seus dedos

A mulher que havia chamado-o de monstro instintivamente fechou seus olhos com medo, achando que fosse ela a próxima a morrer, mas após alguns segundos, percebeu que ainda respirava e sua cabeça estava no lugar. Um novo grito surgiu.

A garota do outro lado da sala, a que primeiro vira aquelas duas pessoas perderem suas cabeças, e que ainda estava com seu rosto cheio de sangue bem como pálida devido ao choque, gritou novamente. Dessa vez Sophia acabou não resistindo e olhou na direção do berro. Parecia maluquice, mas ela jurava ter visto o dedo de um dos corpos se mover. Então, em poucos segundos e diante dos olhos daquelas pessoas, o que Sophia suspeitava ser loucura se provou realidade. Ambas as pessoas, até a pouco inertes, se levantaram, e com suas cabeças inteiras.

— O que aconteceu? — O jovem de cabelos loiros, cacheados e curtos foi o primeiro.

— Eu cai da cadeira? — A jovem de longos cabelos lisos e feições asiáticas externalizou sua confusão.

— Todos vocês já estão mortos. — Respondeu a criatura.

Sophia riu, não fora uma puta gargalhada ou algo do tipo, mas sua boca se curvou. Ela já estava se esquecendo desse detalhe importante, mas agora ela se lembrava com clareza, ela havia sofrido um AVC. Ela estava morta. Agora, pensando nisso, Sophia realmente tinha ouvido uma voz lhe perguntar se desejava um novo começo. Se soubesse a verdade não teria aceitado. E não seria difícil pensar que todas aquelas pessoas tenham passado pelo mesmo. Mais do que uma biblioteca aquele lugar, agora, parecia muito mais com um cemitério, pois aos poucos aquela verdade fora se tornando clara para os demais. Todos parecem ter se lembrado de alguma cena desagradável.

— Mas... — Um jovem tentou questionar, só que fora rapidamente impedido pelo senhor monstruoso.

— E suas almas são minhas para que eu faça o que eu quiser com elas. — Ele fez uma pausa se deixando relaxar sobre sua cadeira, mas rapidamente se voltando para todos os presentes. — Se eu quiser lhes dar um corpo e explodi-los para todo sempre... — Fulminou com o olhar os dois que a pouco haviam perdido a cabeça. — ...Eu posso. — Completou.

Então ele novamente se endireitou em sua cadeira e observou os presentes por mais alguns instantes, antes de finalmente concluir:

— Vocês entenderam? — Questionou ameaçadoramente.

O coro uníssono de gargantas engolindo qualquer umidade que ainda pudessem possuir foi a resposta que Alster esperava.

— Maravilhoso. — Ele se deliciou e rapidamente advertiu. — Espero que possam manter o decoro. — Seus olhos passearam pelo salão e todos permaneceram obedientemente em silêncio. — Se quiserem perguntar algo apenas levantem a mão e esperem meu aval.

No instante em que disse aquilo todos sentiram o peso invisível que restringia seus braços, sumir. Sem qualquer cerimônia Alster se levantou, e ficando de pé, do alto de seus dois metros, discursou novamente:

— Acredito que começamos de forma ruim. — Ele formulou uma feição de arrependimento, mas claramente não havia verdade em sua voz. — A oportunidade que estou lhes dando é única, vocês deveriam considerar uma honra. Servir as Existências supremas que governam tudo é algo que poucos terão oportunidade.

As feições dos presentes continuaram amargas e desgostosas, mas apesar de estarem todos irritados e impotentes, Sophia continuava sorrindo. Não que ela necessariamente estivesse gostando da situação, ela apenas não sabia como reagir. Se o que o velho estava dizendo era verdade, então meio que ela estava realizando um sonho, não? O único problema era o quão ruim as circunstâncias pareciam. Na sua cabeça e na cabeça de qualquer um que lê esse tipo de obra, exceto por algumas ressalvas, normalmente os enviados não passam por situações tão impotentes e desesperadoras. Inegavelmente, ao menos para ela, o velho era um monstro e a intenção assassina dele era tudo que Sophia precisava saber disso e querer recusar aquele "convite".

Nenhum dos demais também pareciam muito à vontade para colaborar. Na feição de cada um estava estampado o desgosto, e na mente deles a repulsa:

"Enfia essa oportunidade no rabo."

Se Alster se importasse em ler o clima, esta seria a resposta que receberia de seus competidores. Mas ninguém ousou dizer algo como aquilo em voz alta. As demonstrações de poder de seu péssimo anfitrião foram suficientemente eficazes em implantar terror mesmo no coração terráqueo mais forte que havia no recinto.

Com desgosto em seu rosto e após perceber a falta de vontade que eles estavam em colaborar, Alster suspirou: "Não tornem meu trabalho mais desgastante." — Pensou consigo mesmo.

— Ei! — Ele novamente chamou a atenção de seu forçado público. — Se algum de vocês vencer, então eu realizarei, dentro do possível e com algumas regras, o desejo do mesmo. — Proferiu a contra gosto.

Aquilo não passava de um capricho, Alster sabia que poderia força-los com medo, mas também sabia que seres humanos ficavam especialmente motivados caso tivessem algum objetivo forte para mantê-los de pé. Esse também era parte do motivo pelo qual escolheu seres humanos para esse evento, e principalmente os seres humanos que vinham daquele mundo em especifico, pois tanto quanto sabia, os mesmos eram fáceis de manipular.

Alguém rapidamente levantou uma de suas mãos. A criatura viu assim que a pessoa o fez, mas se demorou um pouco para desfrutar da ordem que havia estabelecido.

— Sim. — Finalmente permitiu.

A maioria revirou seus olhos ao perceberem o joguinho que o velho estava fazendo. Sophia não ousou.

— Que tipo de desejos? — O homem de aproximadamente sessenta anos perguntou.

— Qualquer coisa dentro do possível. — Alster não ia gastar seu tempo com explicações longas.

— Eu poderia voltar para a minha família? Por exemplo. — O senhor se arriscou.

— Isso é fácil. — Respondeu de forma breve. — Mas você está excedendo seu limite de perguntas. — Alster sorriu de forma ameaçadora. — Você não levantou sua mão duas vezes para poder fazer duas perguntas.

O senhor de idade ficou em silêncio. Ele não parecia pessoalmente abalado com as ameaças, mas abaixou sua cabeça para sinalizar que não desejava nenhum tipo de desavença. Mesmo aquele senhor idoso, veterano de guerra, entendeu seu lugar ali. Se conseguisse rever sua família, então não se importaria em abaixar sua cabeça para um babaca. Ao longo de sua vida ele havia abaixado muito sua cabeça no exército, o que não faltava no ambiente militar eram babacas arrogantes como o senhor monstruoso dono daquela biblioteca. Claro, se ele tivesse a chance, também não hesitaria em matar aquela coisa.

Já Sophia, ao ter ouvido aquilo, ficou bastante surpresa. Ela não era a única e, apesar da natureza ruim da competição, aquele não era um prêmio que podiam ignorar, pois se fosse realmente o caso e o velho estivessem falando a verdade, então ela poderia reviver seus pais.

— Farei vista grossa apenas desta vez. — Disse Alster de forma menos intimidadora, relaxando um pouco o ambiente, mas não o suficiente para que todos abandonassem seu estado de alerta.

Com o local estando um pouco mais tranquilo, Alster decidiu seguir em frente com seus preparativos.

— Vocês também não terão que vencer esse desafio sozinhos. — A criatura forçou seu mais amistoso sorriso, mas depois de tudo que os presentes haviam visto, sabiam que, ou era falso, ou perigoso. — As Divindades que solicitaram isso separaram algumas coisas para seus gloriosos campeões. — Ele brincou ao final, pois não havia como, para ele, chamar uma trupe de humanos de gloriosos. — Então não precisam se preocupar com saber lutar ou não, vocês terão tempo para aprender. — Continuou com seu discurso, mas dessa vez procurando apaziguar os anseios de seus "convidados". — Serão fornecidos a vocês cem presentes especiais e poderosos, um para cada participante. — Completou.

Sem qualquer cerimônia o ser se levantou, desceu do altar circular que ele se encontrava, vencendo apenas os cinco degraus que o separava do mesmo solo que estavam seus convidados, e se pôs logo a frente de uma grande estante coberta por um lençol vermelho.

— E aqui estão seus presentes. — A criatura forçou seu mais amistoso sorriso e puxou o pano.

Depois de tudo que haviam visto o sorriso amarelo do velho era nojento, mas ninguém podia ir além de xingar mentalmente. Para o bem ou para o mal, haviam cem chamas de diferentes cores crepitando, algumas mais tranquilas e menores e outras mais ferozes e maiores, enquanto flutuavam centímetros acima das prateleiras da estante. Aquilo simplesmente não dizia nada para ninguém, exceto para Sophia, que por um milésimo de segundo, conseguiu ver através das chamas. Para ela, naquele breve instante, o ponto de vista foi o mesmo que o de Alster, havia uma grande variedade de itens, desde de cristais ameaçadores até livros, armas brancas, de fogo e afins. Foi algo tão breve que por um segundo Sophia duvidou que tivesse realmente visto.

Depois de algum tempo encarando atentamente a estante, os olhos dela se cruzaram com os do velho, e nisso ela viu as sobrancelhas do mesmo se curvarem em apreensão, nesse momento ela percebeu que o mesmo a estava observando atentamente. O coração de Sophia quase explodiu de medo, mas ela se controlou e desviou seu olhar.

Então, uma nova mão fora erguida; tremula. Sophia quase agradeceu ao jovem, pois imediatamente, apesar de um pouco demorado, Alster deixou-a em paz.

— Pois sim. — A criatura deu sua permissão.

— Que presentes seriam esses? — Um jovem de pele escura como chocolate e cabelos cacheados como a pintura de um anjo, questionou.

Para ele aquelas chamas simplesmente não significavam nada.

O velho medonho estreitou seus olhos.

— Poderes, itens, familiares, bênçãos, caminhos e coisas do tipo. — Alster respondeu desinteressado.

Como o jovem questionador temia, aquela resposta ainda não lhe dizia nada, mas ele estava com medo de levantar sua mão de novo e ser pego na ira da criatura. Por isso o jovem apenas suspirou. Mas então outra mão se levantou.

O jovem Japonês sentado ao lado de Sophia foi quem se pronunciou.

— E é nós que vamos escolher? — Ele tentou parecer o menos assustado possível, mas quase não conseguiu.

— Não, vocês serão escolhidos por eles. — Alster respondeu objetivamente, para ele não havia nada demais nisso.

Aqueles com azar crônico imediatamente suspiraram desanimados. Sophia inclusa. E o velho abriu um sorriso ao ver a reação de desgosto de alguns e felicidade de outros. Assim como tinham aqueles que se consideravam azarados, também existe o contrário.

— Achei que já tínhamos sido escolhidos. — Um homem musculoso, por volta dos trinta anos, acabou irrompendo descuidadamente, sem levantar sua mão.

Apesar disso, Alster não pareceu irritado.

— Bem, vocês foram escolhidos por mim, então não é totalmente errado, mas os participantes reais dessa competição só escolherão vocês agora. — Ele sorriu.

E antes que qualquer um pudesse falar novamente, Alster estalou os dedos e rapidamente as chamas começaram a voar na direção dos competidores.

Algumas pessoas, diante das chamas ameaçadoras e multicoloridas, tentaram correr, mas continuavam presas a suas cadeiras. Quando a primeira pessoa foi atingida o corpo desta irrompeu em chamas fulminantes, um cheiro de carne sendo queimada subiu e ele gritou enlouquecidamente. As demais pessoas assustaram-se com a cena e instintivamente pediram clemência.

— Sintam-se agraciados. — Alster brincou de forma sarcástica.

Ele sabia muito bem que aquelas coisas doíam, pois seriam diretamente infundidos com a carne do corpo e o conteúdo da alma, mas não era seu dever explicar-lhes sobre tais trivialidades. Para Alster a dor resultante no máximo era como uma picadinha de mosquito, mas para humanos comuns era equivalente a ter um membro do corpo cortado fora e imediatamente cauterizado por um cutelo em brasa.

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