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Capítulo 12 - Socorro

Em algum ponto no meio de um vasto cânion árido de aspecto acinzentado, um que em seus tempos de glória abarcou em suas estranhas uma poderosa nação armada, havia uma fissura. Não como as que compunham a estrutura daquele local, abismos cobertos por camadas e mais camadas de névoa, não, esta escondia-se de forma tão sagaz que normalmente não poderia ser encontrada. Quando alguém se deparava com a mesma, não conseguia escapar, era tragado por sua estrutura. Aquilo que não podia ser visto donde quer que olhasse, é o que chamam de ninho. Mais especificamente, aquele onde jaz no topo de sua estrutura um besouro negro; é o chamado Ninho de Ezgaz.

Dentro deste ninho do amor, que existe apenas para perpetuar a raça dos dragões, uma jovem estava sentada sobre um amontoado de folhas degustando o pernil de um animal que ela mesma havia caçado. Mesmo tendo descoberto a estrutura daquele ambiente — um micromundo onde todos os indivíduos são influenciados por uma magia draconiana que os instiga a se tornarem monstruosidades violentas — Sophia ainda preferia não chacinar tudo que se move. Obviamente a comida que precisava consumir é exceção, pois querendo ou não ela ainda possuía um estômago que clamava por alimento, e esse é o motivo pelo qual não se absteve de caçar.

Carne é um ótimo alimento para quem está perdido no meio de uma floresta, pois ao assá-la pode-se evitar a necessidade de ficar de nove a dez horas pegando frutas no intuito de sobreviver apenas um dia. Cozinhar também lhe garantia mais tempo para ponderar sobre sua própria situação. O bom é que Sophia têm as memórias de Ilvre para lhe apoiar, e com isso ela não só sabia que tipos de frutos podia comer, como também que animais eram ideais para se caçar, e como prepará-los no meio do mato.

"Salve Ilvre!" — Agradeceu enquanto comia um coelho assado.

Apesar de não possuir sal aquele preparo não ficou insosso. Sophia nunca imaginou que houvessem tantas folhas, raízes e até frutos, que pudessem ser usados como "tempero". Ao menos, sempre que assistia algum programa de sobrevivência, normalmente não via as pessoas usando tantos condimentos assim. Claro, isso não quer dizer que não houvessem, ela apenas não conhecia. A parte mais positiva foi ter conseguido se alimentar direito, coisa que teve medo de não ser possível devido a situação precária na qual se encontrava.

"Isso ficou muito bom!" — ela suspirou e se deixou relaxar sobre um amontoado de folhas que juntou próxima a uma árvore que estava usando de encosto.

Sophia havia feito um pufe natural de vegetação amontoada. Só por estar em meio a uma floresta ela não aceitaria ficar desconfortável. Se aquele não fosse um ambiente hostil, até ficaria por ali mesmo.

Agora ela sabia onde estava, e sabia também que continuaria a ser perseguida, e não só pelos macacos, mas por tudo que se move ali dentro. A ordem natural que impera absoluta naquele ambiente é simples: "Seja forte". Nesse caso, ser forte significava lutar, matar e não morrer. O objetivo de todas as criaturas ali é ser o indivíduo mais forte possível, ter o grupo mais forte possível, produzir os descendentes mais fortes possíveis. Cada criatura tinha sua própria resposta, mas todos desejavam ser fortes.

Isso é um Ninho do Dragão, um dos vários que existem naquele mundo, uma fonte quase inesgotável de materiais de qualidade e a promessa de uma vida melhor. Apesar de não serem exatamente poucas as histórias daqueles que obtiveram algum poder nesse tipo de lugar, o número de indivíduos, principalmente jovens, que morrem se aventurando em ninhos, era cem vezes maior do que o número de sobreviventes.

Para Ilvre não foi diferente. Seu objetivo era encontrar algum remédio que pudesse curar a epidemia de Carmesim que estava se alastrando por sua vila. Uma doença que infla suas veias, aumenta a pressão arterial e fissura a pele espalhando sangue por todos os lados, por isso o famigerado nome de Carmesim. O ancião da vila, e vidente, disse que a resposta estava em Saluth, o cânion de Saluth, e foi assim que ela chegou naquele ninho. Enquanto eles investigavam algumas ruínas antigas, foram tragados para dentro daquele inferno. E como toda desgraça é pouca, enquanto tentavam escapar daquele pesadelo o grupo de Ilvre se deparou com uma quimera e o resultado foi uma miséria.

Depois de comer, Sophia foi até a fonte de água que encontrou, bebeu mais um pouco da mesma e lavou suas mãos e rosto. Vendo seu reflexo, ela sorriu. Com a ajuda daquele lago ela havia conseguido matar sua maior curiosidade desde que tomou consciência de que havia renascido em outro mundo. Ela finalmente tinha conseguido ver seu rosto e respirar aliviada. Já faz algum tempo que encontrou aquelas águas cristalinas, mas não se cansava de apreciar sua própria beleza.

Com sua mente criativa ela desenvolveu todos os tipos de situações possíveis antes de ter conseguido ver seu reflexo. Desde de tentar fazer algo e sua cabeça cair de repente, mostrando-lhe que havia se tornado um Dullahan, até encarar um espelho e perceber que não tinha reflexo. A possibilidade de ser um zumbi que ainda não apodreceu era válida, mas levaria tempo para confirmar. Mesmo que soubesse que Ilvre era uma Elfa, mesmo tendo visto o rosto da mesma em suas memórias, ela também sabia que Ilvre tinha morrido e foi por isso que ficou tão atormentada com a ideia de ter se tornado algum tipo de morto-vivo.

Sua face atual praticamente não diferia do rosto que ela conhecia e se identificava, mas haviam diferenças mínimas. Uma das principais, e que lhe saltou imediatamente a visão, fora a pequena faixa de pontinhos escuros salpicados entre seus olhos e bochecha. Nunca foi um desejo de Sophia, mas ela havia ganhado sardas. Já as demais diferenças eram mínimas.

Sendo seu cabelo castanho escuro ter se tornado preto como a noite, seus olhos ganharem um brilho âmbar muito mais acentuado e adquirido pupilas que podiam se contrair como as de um gato, e suas orelhas terem se tornado levemente pontudas no topo de sua cartilagem. Nas memórias que tinha de Ilvre, a orelha da Elfa era tão longa que parecia uma folha de caderno enrolada em formato de cone, mas ao menos quanto a isso Sophia estava tranquila, pois a sua ficou bem discreta.

Enfim, fora os detalhes, ela continuava sendo a mesma garota de pele escura, lábios carnudos, cabelos cacheados, sobrancelhas ralas e eriçadas, maçãs faciais levemente acentuadas e um nariz pequeno, de narinas achatadas e estrutura batatinha.

— Ufa — A jovem suspirou, e então brincou consigo mesma: "Eu continuo deslumbrante como sempre."

E Blasph prontamente respondeu: "Não existe ser mais belo do que minha mestra" — assentiu fortemente.

Sophia quase gargalhou no ato, mas se controlou exibindo apenas um leve sorriso, e sem perder o bom humor, brincou: — "Espelho, espelho meu, existe criatura mais bela do que eu?"

Só que dessa vez Blasph não respondeu. Já fazia um tempo que Sophia havia descoberto sozinha os amplos canais de comunicação mental. Se ela tivesse a intenção de falar com ele, o gato a ouviria, e se ela quisesse retrair seus pensamentos para si mesma, ela também conseguia, mas sempre que falasse a esmo ele podia captar.

Outra coisa que lhe chamou à atenção foram suas vestes. Pelo que se lembrava, tanto dentro da biblioteca do velho bizarro, quanto quando cortou o céu como um meteoro, ela usava seu pijama de botões plásticos dourados. Só que no agora ela se encontrava com outro conjunto.

Agora ela trajava uma esfarrapada capa marrom, longa e com capuz. Seu busto estava coberto por um peitoral verde com design peculiar, um que passava a sensação de ter sido construído usando várias camadas de folha em vez de couro, e isso não estava muito longe da realidade, pois o equipamento realmente foi feito usando fibras vegetais que trançadas exibiam resistência maior do que muitos tipos de pele animal; além de ser muito leve.

Todo o equipamento daquela jovem possuía aquela mesma característica única, tudo arremetia a flora e nada parecia originar-se da fauna. Se Sophia não tivesse visto nas memórias de Ilvre que a mesma caçava animais para se alimentar, teria achado que a dona original de seu corpo atual, era vegana.

Não deixando espaço para emboscadas, e preocupada com a hostilidade do ambiente, Sophia rapidamente encontrou uma árvore um pouco mais afastada, só que ainda próxima o suficiente do lago para no caso de precisar, e aninhou-se no galho mais alto que conseguiu alcançar. Depois que o fez ela encarou o solo abaixo e sorriu impressionada. Conforme se lembrava de mais coisas, e aprendia com elas, percebia o quão surreal era o seu novo eu.

Sophia estava a pelo menos vinte metros do chão, e a velocidade com que subiu aquilo foi assustadora. Em sua vida passada ela mal conseguia subir em um pé de manga que de tão torto parecia uma rampa, então quem dirá escalar uma árvore reta com poucos galhos para se apoiar. Sophia nunca se deu muito bem com escalada, não que não possuísse a capacidade física, mas nunca gostou muito de altura, só que agora parecia que essa habilidade era intrínseca ao seu ser.

Depois de dar uma boa sondada nos arredores, e verificar que havia folhagem suficiente para escondê-la naquela copa, começou a repassar as coisas que havia aprendido esgueirando-se por aquela floresta. Percebendo que após alguns minutos um grupo de passarinhos pousou em uma árvore próxima, Sophia sacou uma adaga, mas os mesmos nem se perturbaram.

"Isso é realmente muito impressionante." — Ela não conseguiu evitar de sorrir.

Enquanto caçava algo para comer ela descobriu uma habilidade muito importante para um caçador, algo chamado furtividade élfica.

Um animal do tamanho de um border collie médio, mas parecido com um coelho, diferente apenas por possuir uma escura pelagem mais grossa e uma faixa esverdeada de couro reptiliano em volta de seus olhos, que por sua vez são negros e de pequenas irises parecidas com aureolas brancas e brilhantes; comia ao lado de seus companheiros uma galinha que os próprios haviam acabado de caçar. Sophia não conseguiu evitar de ficar um pouco espantada, ela nunca imaginou ver um grupo de cinco coelhos banqueteando-se com vísceras. Mais uma vez ela compreendeu o terror que era o ambiente dentro do ninho de um dragão.

Engolindo em seco, ela tentou se acalmar.

"Respira... respira... respira..."

Com isso uma imagem começou a surgir em sua cabeça, era uma memória. Sophia só tentou empreender uma caçada por causa dessas lembranças. Na cena que se desenrolou em sua mente ela viu Ilvre à espreita de um arbusto, com uma corda em mãos. Mais à frente havia uma clareira e no centro desta um animal imponente encontrava-se comendo algumas frutas consideravelmente suculentas.

Aquela foi uma das criaturas mais belas que Sophia já... viu, mesmo sendo uma memória de Ilvre. Após terminar de comer as frutas que estavam no chão, o ser parecido com um Alce, diferente apenas por possuir um focinho mais fino e alongado — tipo o de uma raposa — e ser um animal de pelagem laranja escuro com cabeça adornada por uma vasta galhada ramificada de um material cristalino azulado, avançou sobre a árvore frutífera. Com o impacto de sua cabeçada toda a estrutura da mesma tremeu e mais frutas caíram. Quando algumas rolaram até seus cascos de marfim, o animal novamente se abaixou para comer.

"Vamos lá Ilvre" — a Elfa escura de longos cabelos brancos se encorajou.

Ilvre respirou fundo, se concentrou, deu uma sacudida leve em seu corpo e se manteve atenta até que todos os pensamentos de sua mente fossem deletados, ela devia se tornar uma só com seu corpo, esse era o objetivo. Quando sentiu que estava preparada, avançou através da folhagem. Ao chegar o mais perto que podia, a Elfa saltou. O que aconteceu em seguida foi um grande rodeio. Depois de algum tempo a moça enfim saiu vitoriosa.

Logo a cena voltou para cinco coelhos devorando uma galinha, Sophia estava apenas revisitando aquela cena.

Respirando fundo a jovem tentou imitar as ações da Elfa, uma, duas três, quatro, cinco vezes e nada. Quando esteve prestes a desistir, tentou mais cinco, e então mais cinco, e assim por diante. Na trigésima primeira seus olhos perderam o brilho e ela sentiu que havia desaparecido no ar. Por um instante ela quase achou que tivesse morrido de repente.

Sophia não conseguiu evitar de ficar surpresa, o que quebrou sua concentração, mas ela havia entendido a lógica. A furtividade se baseava em controlar completamente seu corpo, não era uma habilidade onipotente, ela não ficou de fato invisível por causa disso, mas tudo foi suprimido ao ponto de sua presença desaparecer. Seu coração parecia bater mais lento, sua respiração ficou mais contida, seus movimentos mais suaves. Tendo entendido a lógica, ela repetiu e repetiu.

Os animais já estavam quase terminando seu banquete, mas Sophia não se apressou. Quando achou que estava na hora, botou um sorriso de caçadora no rosto, e avançou. Ela estava há uma distância considerável dos animais. Sem fazer qualquer som ela esgueirou pela grama e arbustos. Quando chegou a uns três metros de distância deles, se levantou e com uma boa visão do alvo arremessou um cutelo de lâmina escura e guarda de osso polido com pomo dourado.

No momento em que fez o movimento brusco a aura de silêncio e imperceptibilidade desapareceu, mas já era tarde demais para um dos pobres animais. O maior dentre todos os espécimes presentes, aquele que agia como líder do bando, teve seu pescoço fino cortado e sua cabeça rolou pelo chão. A arma atirada zuniu e fincou em um tronco mais a frente, tudo isso após realizar um corte tão limpo que parecia ter sido feito por uma guilhotina especialmente amolada.

"Uou!" — foi a única coisa que Sophia conseguiu pensar diante de seu próprio movimento, quando tudo aconteceu seu queixo quase saltou de seu rosto e ela esfregou seus olhos só para ter certeza de que não estava sonhando.

O ato tinha sido tão absurdo que ela pensou ter usado uma arma de fogo no lugar de um cutelo. Quando arremessou aquilo até conseguiu ouvir o som do ar se afastando. Foi como se seu braço tivesse se tornado um chicote, como se aquela lâmina afiada tivesse sido arremessada por uma funda.

Só que, poucos segundos após o lançamento, uma dor excruciante lhe provou que seu ato foi verdadeiro. Todas as articulações de seu braço doeram como se perfuradas por agulhas, mas a dor mais insuportável foi a de seu ombro deslocado. Não foi difícil colocá-lo no lugar, Sophia tinha o conhecimento necessário para fazê-lo, mas isso não evitou que ela sentisse dor. Por mais que Ilvre estivesse acostumada com a força de seu corpo, Sophia não estava, pois não era seu corpo original.

Se ela tivesse feito algo parecido na luta que travou contra os macacos, teria morrido. Apesar de que valeu a pena o aprendizado, e também, assim que a dor em seu braço se acalmou, ela pegou seu prêmio e encheu sua barriga.

O que dá espaço para o agora.

Quando Sophia sacou sua adaga os passarinhos na galha ao lado nem sequer se perturbaram, mas bastou que fizesse uma ação brusca e os emplumados não hesitaram em alçar voo. Como ela mesma já havia percebido, não era uma habilidade onipotente. Os sentidos de alguém só podiam ser enganados até certo ponto. Apesar de diminuir bastante sua presença, não apagava sua existência. Movimentos bruscos ainda geravam som, seu corpo não ficava invisível e nem seu cheiro desaparecia. Se ela não estivesse usando a direção do vento ao seu favor quando caçou os coelhos bizarros, sem dúvidas os mesmos a teriam percebido pelo cheiro.

Depois de deliberar mais um pouco sobre algumas questões triviais, se voltou para a adaga em sua mão. Sophia desejava muito encontrar um pouco de civilização, descobrir como aquele mundo era de fato, mas para isso ela primeiro tinha que derrotar aquele lugar, ou seja, primeiro ela tinha que enfrentar o besouro azeviche. Através das memórias de Ilvre, ou com o pouco que ainda podia se lembrar, Sophia confirmou que a única forma de sair daquele ninho é terminando a torre que existe no centro. Não que ela achasse que Hereges estivesse mentindo, mas era sempre bom ter certeza.

Enfim, para terminar a torre era necessário vencer o besouro, e para isso ela tinha que ficar mais forte. Contar apenas com a falecida Ilvre não era suficiente. Mesmo a percepção assustadora que Sophia tinha, não lhe ajudaria para sempre. Apesar de ela ter conseguido perceber o perigo e desviar do besouro, só foi possível por três motivos:

Um, ele não escondeu sua aura opressora.

Dois, a criatura foi estranhamente cautelosa.

Três, ele ficou atordoado após Sophia ter se esquivado do primeiro golpe.

Sophia sabia que se ele não a tivesse dado espaço, mas ao invés disso, a tivesse enchido de porrada, invariavelmente o mesmo a acertaria e provavelmente ela teria virado um bolo de carne moída na segunda ou terceira lapada.

Há pouco tempo um simples macaco que parecia muito mais fraco que o besouro havia conseguido lhe desferir um golpe certeiro, então imagine o chefe daquela masmorra.

Com isso em mente ela percebeu que, além de treinar para se fortalecer, a mesma deveria conhecer a fundo as capacidades de seu maior trunfo. E se voltando para a estrutura que conseguia observar ao longe, uma torre escura no topo de uma colina que existia bem no centro daquele ninho, ela chamou pelo seu companheiro após reforçar sua vontade.

"Blasph?!"

E a arma em sua mão respondeu: "Eu ouço."

Nos últimos sete dias tudo que Sophia fez foi tentar entender melhor aquela criaturinha. Só que, apesar de ter entendido algumas coisas, muito sobre o bichano ainda permanecia um mistério.

Assim que Sophia chamou por seu nome a adaga em sua mão vibrou, e quando aconteceu, colocou-a mais à frente na mesma galha onde estava sentada. Imediatamente o objeto começou a se transformar e em pouco tempo assumiu a forma de um gato sorridente, um que prontamente fez uma reverência.

— Este humilde servo lhe atende, minha mes...

Humhum! — um pigarro interrompeu o gatinho que sentindo uma aura opressora já logo encarou aquela a quem chama de criadora. — O que já lhe disse, não disse, Blasph? — Sophia fuzilou o animal com seus olhos, pois diante dela o mesmo não passava de um animal indefeso.

— O-olá? Sophi? — A criaturinha rapidamente tentou reformular, mas entrou em uma espiral de dúvida.

Sophia suspirou. — É Blasph! Amigos, lembra? — A jovem não conseguiu evitar de transparecer um pouco de frustração em sua face.

Também já fazia sete dias que ela tentava fazer aquela criaturinha esquecer tais modos incômodos. Sophia realmente achava um saco toda essa coisa de pronomes de tratamentos respeitosos, ainda mais quando se lembrava de que aquele é Blasph, seu gato de estimação e seu melhor amigo.

— M-mas, mestra?! — A criaturinha fez uma pausa e encarou-a com um profundo olhar de felicidade e respeito. — Estou diante de minha criadora, não seria digno que a tratasse levianamente. — A admiração nos olhos do gatinho era palpável.

Infelizmente não importava o quanto Sophia reclamasse, suas palavras pareciam entrar em um ouvido e sair pelo outro. Não faz muito tempo que ela tentou o impedir de chamá-la de mestra, mas os adjetivos que o mesmo encontrou para substituir só tornaram as coisas mais exageradas. Em dado momento ele estava chamando-a de vossa excelência, ou seja, aquilo não estava funcionando. Então, no momento atual, ela estava tentando educá-lo, ou ao menos era o que esperava.

— E eu estou diante de meu gato de estimação... — Ela agarrou o animal gelatinoso assim como faria com qualquer gato que desejasse adular, colocou-o em uma posição vergonhosa, de barriga para cima em seu colo, e adulou a superfície de sua pancinha. — ...e meu melhor amigo, então não, não quero ser tratada como uma divindade. — Acariciou a barriguinha do animal que, assim como qualquer gato normal, se deliciou com o ato e acabou ronronando.

Quando Blasph percebeu que estava se divertindo e que Sophia sorria, ficou envergonhado e voltando a ser uma gosma escapou das garras de sua criadora. Sua boca abriu, mas com o dedo indicador Sophia prontamente o impediu de falar.

— Não venha me pedir desculpas por isso seu gato bitolado — a jovem franziu seu cenho ameaçando dar-lhe um cascudo.

Blasph apenas desistiu, era impossível para aquele servo fiel discutir com sua criadora, e por isso decidiu mudar de assunto.

Pigarreando: — Humhum! — Técnica de mudança de assunto que aprendeu com Sophia; tocou em outro tópico: — O corpo de Blasph permanece normal após o experimento, apenas um pouco mais lento.

E se lembrando do motivo pelo qual o chamou, Sophia se atentou ao fato, fingindo que nada tinha acontecido.

— Então você não sentiu nenhuma outra diferença? — ela se voltou para o animal.

— Não! — ele respondeu animado.

Aquele era mais um dos testes de Sophia. Assim que percebeu que Blasph poderia ser a chave de sua sobrevivência, e quiçá a chave para vencer aquele jogo infernal, decidiu pesquisá-lo ao máximo. Principalmente depois que recebeu do mesmo uma das revelações mais chocantes da sua vida.

Quando Sophia disse, ansiosa: — Queria aprender magia logo! — e toda empolgada com a ideia, o gatinho logo a respondeu.

— Desculpa mestra, mas creio que talvez sua grandiosidade não possa — abaixou sua cabeça.

Foi nesse dia que ela descobriu que, apesar de o animalzinho tê-la revivido, não fora um trabalho perfeito, e por não ser, ela possivelmente não poderia aprender magia. Depois desse balde de água fria foi que Sophia começou seus estudos.

Obviamente ela não quis tratar o bichado como um ratinho de laboratório, mas o pequeno passou por maus bocados. Ser arremessado do topo de uma árvore e esmagado por uma marreta gigante provavelmente foram os experimentos mais assustadores pelos quais passou. Isso acabou sendo mais assustador para Sophia do que para o próprio Blasph, já que o mesmo em essência é uma geleia.

O que despertou toda essa bateria de testes foi a frase que o animal disse naquele fatídico dia: "Peço perdão mestra, mas infelizmente não consegui obter nenhuma habilidade daquelas criaturas."

Naquele dia Sophia achou que tinha ganhado a habilidade que venceria todas as habilidades. Achou que poderia usar o hack supremo da multiskill, o cheat de dominar todos os poderes possíveis. Ledo engano. Não era apenas questão de Blasph não ter conseguido obter as habilidades daqueles macacos em específico, ou sequer fosse o caso de possuir um sistema relacionado a probabilidade, chance de erro.

Blasph não conseguia obter qualquer outro tipo de habilidade e de qualquer outra pessoa, e em hipótese alguma, pois seu domínio sobre o assunto havia sido roubado.

Foi quando o aviso de Hereges fez sentido para ambos.

"... confesso que não cheguei a tempo de impedi-la de começar, então talvez ela tenha tomado alguma coisa de seu companheiro..." — Sophia se lembrou da frase com amargura.

Na hora Blasph não havia conseguido identificar nenhuma diferença substancial em seu corpo, mas assim que absorveu aqueles macacos e tentou chegar ao cerne de suas estruturas, o cerne de suas existências como indivíduos, percebeu uma coisa, percebeu que sua capacidade de interferir com o mundo espiritual e, por consequência, como as almas em si; havia sumido.

Aquela tinha sido a habilidade que o bichano nasceu com; era um presente de sua criadora, a habilidade que lhe permitiu resguardar a alma de sua mestra, devorar os espíritos de tantos humanos e transformá-los na energia que eventualmente usou para invadir a biblioteca de Alster. Também foi por causa dela que conseguiu lutar contra o velho, mesmo em desvantagem, e ainda reencarnar sua mestra naquele mundo. Agora essa mesma habilidade havia sido roubada dele sem que o mesmo pudesse ter feito algo.

Blasph pediu tanta desculpa naquele dia que Sophia quase ficou louca. Ela pensou seriamente em puni-lo assim como o mesmo tanto pediu, e isso só para que a deixasse em paz, mas evitou, pois afinal de contas, nada daquilo era culpa do gatinho.

Só que ao perceber as consequências dessa perda mesmo Sophia não conseguiu evitar de sentir medo, pois seu gato não tendo mais aquela habilidade, no caso dela morrer, desta vez seria definitivo.

Mas Sophia desistiu? Ainda não. Não enquanto ela ainda pudesse realizar o sonho de reviver seus pais, de retomar sua vida. Mesmo que fosse difícil, ela ainda tentaria, e mesmo que pudesse custar caro, ela o faria. Foi por isso que esteve treinando e agora ela possuía certa compreensão dos poderes que seu companheiro ainda possui, e o que ela descobriu foi que, mesmo não sendo o hack absoluto que tanto gostaria de ter, os mesmos não eram irrisórios.

Curiosamente, e essa talvez fosse a maior piada do destino, o presente que ganhou, sim, aquele mesmo que obteve na biblioteca, teve uma reação curiosa quando entrou em contato com seu animal de estimação gelatinoso. Quando Blasph disse que criaria uma arma digna o próprio não sabia as consequências de seu ato, pois ao tentar modificar a estrutura do item no intuito de aproveitá-lo melhor os dois literalmente se fundiram, e era justamente desse ato que advinham as principais habilidades que o gatinho dispunha atualmente.

Originalmente aquele item, aquela adaga, deveria ter apenas três habilidades:

1. Resistência: A capacidade de não entortar, amassar, quebrar ou perder o fio.

2. Transformação: A capacidade de se transformar em qualquer arma desde que entenda/conheça o modelo, e possua os materiais para isso.

3. Consumo: Capacidade de consumir os materiais que serão necessários para se transformar em outros tipos de arma.

Mas Sophia descobriu algumas peculiaridades.

A primeira dela foi o teletransporte, isso não era listado na imagem mental que Sophia possuía, no conhecimento que lhe foi transmitido assim que ganhou aquele presente. Não havia nada que citasse essa propriedade na informação que foi inserida em seu cérebro.

O Teletransporte ao qual Sophia se referia era uma característica da própria invocação do objeto. Como assim? Bem, se ela o invocasse, o mesmo surgiria do nada em sua mão, e se a mesma cancelasse a invocação, ele voltaria para o local onde esteve antes de ser invocado.

Parece um detalhe besta, mas Sophia é uma jogadora de RPG, ela se apega muito fácil a detalhes bestas. Sophia sempre foi o tipo de jogadora com a mentalidade de: "Regras existem para serem usadas e abusadas, mas principalmente, abusadas."

Talvez muitas pessoas não se atentassem a essas características do objeto, mas ela é uma boa observadora, e sempre tentaria abusar de tudo que pudesse. Nem sempre ela conseguiria enxergar todas as possibilidades, mas tentaria ao máximo encontrar uma saída usando sua sagacidade.

E bem, sua mente não parou nisso.

"Se a arma ao ter sua invocação cancelada volta para onde esteve antes de ser invocada, então onde ela fica o tempo todo?" — se questionou uns dias atrás.

Foi nesse momento que as coisas começaram a ficar estranhamente bizarras. Como Blasph fazia parte da alma de Sophia o mesmo estava intrinsecamente ligado a ela, e ainda por cima, ele se fundiu a dita arma. Foi essa conexão que lhes permitiu resolver aquele mistério, o mistério de onde estava escondia a bendita adaga.

Havia um buraco em Sophia, e não me refiro a todos os orifícios que possam ter catalogado no corpo humano, aqui me refiro a um microespaço que tange um plano separado, mas que é conectado ao mundo real através da própria Sophia.

"Bag of holding!" — a jovem se divertiu com a ideia.

Quando descobriu aquilo Sophia não conseguiu evitar de comparar com aquele item famoso e lendário em mesas de RPG, e, principalmente, de sorrir, pois as coisas em seu ponto de vista estavam começando a ficar muito interessantes.

Se Blasph era parte de Sophia, e havia se fundido ao item, a adaga, que por sua vez fora diretamente conectada à alma de Sophia através da magia de Alster, então talvez ele pudesse interferir nesse espaço, e essa observação sagaz se provou correta.

Qual não foi a surpresa da jovem ao descobrir que aquilo nem sequer pertencia ao item, ou seja, que a existência daquele espaço não era uma característica da adaga multiforme em si, mas uma característica que Sophia já tinha antes mesmo de receber o item. O que aconteceu foi só que o item naturalmente se juntou a essa... habilidade? Sophia não sabia como denominar aquilo, ou ao menos, não até ter um lampejo.

"Palácio absoluto?!" — ela quase surtou ao se lembrar do conceito que ela mesma havia ajudado a criar para os Antigos, que ela mesma havia ajudado a planejar para Maou.

Os palácios absolutos eram espaços, ou melhor dizendo, domínios, que representam a grandeza de um ser, a grandeza de um Antigo. Cada um dos Antigos deveria projetar seu próprio palácio, que em suma é uma espécie de dimensão descolada da realidade onde moravam aqueles seres absurdos.

O conceito surgiu a partir dos covis. Em RPG's de mesa alguns tipos de monstros são tão fortes que modificam o ambiente ao seu redor, criando uma espécie de casa onde seus poderes são potencializados, e isso é chamado de covil.

Um caso notório é o dos Dragões, onde, no caso de um Dragão Vermelho, por exemplo, gases vulcânicos e magma expelido pela própria terra se tornam um empecilho para os invasores que desejam seu tesouro.

Mas no caso de um Antigo, não é apenas um ambiente difícil, pois um Palácio Absoluto personifica o tema ao qual aquele antigo representa. Um exemplo é Sör, o antigo que personificava o medo primordial, seu Palácio era o Palácio do Medo, e por ser é que no mesmo residiam terrores cósmicos mais absurdos e incalculáveis. Mas e Sophia? Bem, seguindo essa lógica, o Palácio do Mais Antigo; do ser que origina tudo, é o Palácio da Criação, um ambiente onde tudo se molda a sua vontade.

Infelizmente, o microespaço no qual sua adaga estava alojada não era um grande ambiente de proporções abissais, e ela nem sabia se o mesmo permitia que fizesse muita coisa com ele, mas não é como se ela não pudesse utilizá-lo de alguma forma. Percebendo que Blasph podia acessá-lo, obviamente começou a testar que outras utilidades poderiam dar ao espaço, e uma torrente de ideias logo surgiu, mas antes ela precisava compreender as interações que o próprio Blasph e aquela adaga estavam tendo.

O principal poder de Blasph havia sido roubado pela atendente de Alster, logo, o que sobrou para o bichano foi a incrível habilidade de ser uma geleia.

"Me desculpe mestra, este servo inútil deveria apenas ser apagado da existência!" — Quando o gatinho descobriu que não passava de um líquido viscoso não newtoniano, quando descobriu que não tinha mais o poder que nasceu com, ficou arrasado.

Sophia não queria morrer, então no momento de sua morte sua vontade despertou Blasph, e com ele uma habilidade que a impedisse de morrer, mas o gatinho havia perdido isso, e por esse motivo se sentiu um inútil miserável. Aquele gato era um ser exagerado por natureza.

Só que, ao se fundir com aquela adaga, as coisas ficaram deveras interessantes. Blasph passou de uma simples amoeba para um escuro liquido denso que pode assumir qualquer forma, e não apenas formato, ele literalmente podia ser qualquer coisa, claro, desde de que obedecesse a regra preestabelecida de que já tivesse comido os materiais necessários, mas em suma ele podia copiar qualquer material. Exceto por dois materiais em dois estados da matéria, liquido e gasoso. Blasph até pode consumir algo nesses estados, mas não consegue se transformar nos mesmos. Mas fora isso, seja forma, massa, textura, qualquer material poderia ser emulado por Blasph.

Só que Sophia ainda ficou com uma dúvida: "O quanto Blasph podia comer e no que isso acarretaria?"

Esse era o experimento no qual Sophia estava se focando atualmente.

"Entendo, então talvez seja ruim caso coma demais, seu "estômago" não parece ter um limite, mas sua massa aumenta e seu corpo e transformações ficam mais lentas" — Sophia começou a ponderar sobre seu experimento recente com base em tudo que ela sabia. — "Achei que talvez pudesse ter um limite palpável de espaço e que isso não o afetasse muito, ou algo do tipo." — Ela suspirou. — "Você não ter um limite é bom, mas ficar lento é ruim." — sua mente trabalhava ensandecida em busca de soluções.

Sempre que Sophia descobria uma característica do gatinho a primeira coisa que pensava era: "Como posso usar isso ao meu favor?"

"M-mestra, eu não posso participar da conversa?" — o gatinho questionou desanimado.

Sophia arregalou os olhos após perceber que esteve falando consigo mesma esse tempo todo. Desde de que descobriu que poderia guardar seus pensamentos para si mesma, ela o excluía com certa frequência, mas nunca foi por querer. Sophia apenas estava muito acostumada a retrair tudo que pensava e sentia. Nos últimos cinco anos ela esteve morando sozinha, e por mais que conversasse com seu gato, em boa parte do tempo ela falava sozinha.

"Desculpa." — Ela acabou ficando um pouco envergonhada.

Sophia prometeu não o abandonar, então exclui-lo de uma conversa não era algo legal. Ainda mais quando ela ficava o tempo todo pedido ao bichano que a tratasse como melhor amiga em vez de mestra.

E exatamente assim, em meio a uma conversa amigável e corriqueira, que um som vindo do nada girou mais uma vez o destino daquela jovem. Um tilintar, um som que não esperavam escutar por ali, surgiu de repente. Foi muito fácil identificar de qual tipo era, pois aquele tilintar em específico adveio do choque entre metais. Um som proveniente do choque entre duas armas e que veio de assustadoramente próximo. Mal deu tempo de Sophia levantar suas sobrancelhas e imediatamente ela sentiu que algo grande, acompanhado de um corpo menor, estava se aproximando em alta velocidade.

— Tem alguma coisa tão grande assim nessa floresta? — Sophia se questionou, já vasculhando as memórias de Ilvre em busca de uma resposta, e não foi difícil achar um candidato: — Ceifador Uivante — se lembrou, e encarando o gatinho diante dela, sorriu.

Blasph imediatamente entendeu, sua mestra acabara de ter uma ideia, e percebendo que foi mesmo o caso, se prontificou:

— Eu ouço.

— Blasph, você transforma o conteúdo de seu corpo em qualquer coisa que já tenha consumido, certo? Assim como a adaga fazia. — perguntou ainda sorrindo, um sorriso que ficava cada vez mais largo conforme as ideias em sua mente se desenvolviam.

E o animal balançou sua cabeça positivamente: — Correto.

— Eu te fiz consumir bastante coisa na floresta, e como consequência disso sua massa total cresceu, sua forma real agora é uma grande massa gelatinosa, certo?

O animal novamente balançou sua cabeça positivamente: — Aproximadamente cinco mil litros para ser mais exato. — A criaturinha sorriu e, dessa vez, adicionou um ponto: — Se não fosse o Palácio da mestra suportar todo esse conteúdo, sem dúvidas seria um estorvo — se auto depreciou novamente.

Sophia revirou os olhos, mas não se abalou.

— Blasph, você por um acaso poderia se transformar em um animal em que eu pudesse montar ao mesmo tempo que cria outras coisas?

O gatinho imediatamente compreendeu a ideia.

— Sim, desde de que consigamos os materiais, poderia replicar a forma de um animal em todo o seu esplendor.

— Mas isso não me geraria nenhum problema, certo? — questionou em dúvida de um ponto que o gatinho não respondeu.

E rapidamente, através da ligação que eles compartilham, Blasph entendeu a preocupação de sua mestra.

— Blasph têm controle de suas partes individuais, mesmo que essas estejam destacadas de seu corpo. É como se houvessem nervos invisíveis e intangíveis que permitem Blasph se conectar com qualquer parte existente de si mesmo, mas há uma distância limite. Foi por isso que Blasph, após ter se fundido com o presente da mestra, disse não podia cancelar a invocação se a mesma não estivesse dentro de trinta metros. — respondeu de forma composta e explicativa, parecendo um professor felino.

Aquela foi uma ideia que Sophia teve de supetão, então não foi algo que esteve dentro dos testes que a jovem realizou nos últimos dias. Na verdade, ela até planejava realizar testes naquele sentido, mas ainda não tinha conseguido. A mente de Sophia funciona de uma forma na qual sua atenção dispersa muito facilmente, mas agora que foi lembrada desse detalhe, ficou imediatamente interessada nas possibilidades.

— Então após trinta metros a conexão com suas partes destacadas se torna mais instável, fraca, ou algo do tipo, certo? — os olhos de Sophia adquiriram um brilho de fascínio e curiosidade, ela simplesmente adorava interagir com essas novas informações.

Aquele era um novo mundo e durante os últimos sete dias ela vasculhou incessantemente as memórias de Ilvre atrás de informações, mesmo as que não fossem relevantes para ela no momento, pois Sophia simplesmente queria saber mais sobre aquele lugar e o mundo que existe fora dele.

— Exato — A criaturinha balançou sua cabeça positivamente e já logo completou, para que não tivesse erro algum: — E por isso a mestra não precisa se preocupar quanto a seu armamento, pois as partes de mim que residem no Palácio Absoluto ainda podem se transformar no que a mestra quiser e precisar mesmo quando minha consciência estiver dentro de um novo corpo.

— Sua consciência não poderia ficar comigo e controlar esse novo corpo a distância, já que ele também é feito usando partes transmutadas de você? — questionou.

E Blasph sorriu, pois era uma observação lógica. Se Blasph era uma gosma que conseguia controlar todas as suas partes, mesmo a distância, seria lógico pensar que ele também poderia controlar esse novo corpo a distância.

— Blasph pode, mas quanto mais distante esse corpo ficar da minha consciência, mais erráticos seus movimentos vão se tornar — explicou.

Com essa explicação Sophia teve uma epifania.

— É como controlar um braço robótico com um controle remoto, é funcional, mas ter um braço ligado ao seu corpo e cérebro é muito melhor — disse em voz alta e extremamente empolgada.

Sem esconder sua excitação Sophia sorriu. Ela imaginou esse tipo de coisa por anos a fio. Se a situação não fosse tão ruim, ou seja, se ela não estivesse sendo caçada por pessoas que dividiram o mesmo mundo que ela e não estivesse presa em um ambiente hostil, talvez estivesse se divertindo mais com as loucuras fantasiosas que descobriu.

Mas sem perder o pique ela já logo sorriu, pois enfim eles estavam chegando: — Mas para realizar esse sonho, primeiro precisamos achar um corpo montável pra você — ela revelou seu desejo e logo complementou: — E parece que já temos um candidato. — Sorriu.

Assim que disse aquelas palavras a jovem de pele escura, cabelos negros e olhos cor de âmbar, girou sobre a galha em que estava, e então deixou a gravidade puxar-lhe para baixo, mas interrompeu a queda se pendurando na galha pelas dobras de seus joelhos, ficando de cabeça para baixo, içada apenas pelas pernas. Quando fez isso, seus olhos logo recaíram sobre uma cena curiosa. Um jovem de pele escura como a dela, e machucado, corria de um enorme lobo de pelagem negra, e assim que os olhos do jovem se cruzaram com os dela, o mesmo gritou.

Socorro! — Foi tudo que suplicou.

Sophia engoliu em seco, surpresa.

"Eu deveria estar imperceptível" — ficou atordoada, mas logo tentou se controlar.

Apesar de a cena em si também tê-la deixado consideravelmente surpresa. Ela sabia que os Símios e aqueles Lobos não tinham uma boa relação, e por isso as duas tribos constantemente lutavam. Ao menos era isso que as memórias de Ilvre indicavam. Quando sentiu que dois corpos estavam se aproximando Sophia achou que fosse um símio fugindo de um Ceifador, mas surpreendentemente ela havia encontrado um ser humano, ou, pelo menos, alguém que parecia humano.

"Será se eu devo salvá-lo?" — duvidou da ideia.

Não que ela não quisesse, mas uma das últimas memórias que Ilvre tinha relacionada a humanos não era muito boa. Certa vez a Elfa salvou um humano e o mesmo tentou escravizá-la. Sophia não se considerava uma Elfa, sua aparência atual era bem diferente, mas ainda havia uma certa pontinha em suas orelhas.

"Se ele atacar a mestra, juro que o matarei por mil anos" — Blasph disparou.

E Sophia sorriu.

— Então o que for será — disse ela reunindo coragem, e se voltando para seu animal de estimação que ainda permanecia sobre a galha: — Que uma arma adequada venha a mim! — Sophia brincou.

Ela imaginou que se estivesse em um mangá, seria uma frase legal, mas infelizmente, naquela situação, parecia só meio cômico, apesar de Blasph levar aquilo muito mais a sério do que deveria.

Com a frase dita, ela esticou sua mão direita com a palma aberta em direção ao animal gelatinoso. Imediatamente o mesmo se desfez, tornando-se um borrão liquido que avançou até a mão direita de Sophia, onde se tornou um enorme facão que de tão belo quase parecia ornamental.

Com uma chama de coragem crepitando em seus olhos, ela se deixou cair, girou no ar e com seu facão mirou a garganta do animal. O plano de Sophia era simples, aproveitar sua furtividade para decepar a cabeça da criatura, mas as coisas não eram tão simples.

O Facão de vinte e duas polegadas chegou ao solo, mas sem uma gota de sangue sequer. No último instante possível o animal recuou e Sophia acabou simplesmente aterrissando diante dele.

"Superhero landing!!!" — gritou mentalmente.

Foi só após ter pousado e encarado melhor o animal, que ela compreendeu seu tamanho. Um bicho enorme, diga-se de passagem, mas ela não se sentiu minimamente intimidada apesar de o mesmo ter desviado. E isso se deve ao fato de que, agora, Sophia não só conhecia melhor seu companheiro felino, Blasph, como também entendia melhor seu próprio corpo e sabia exatamente através das memórias de Ilvre, que animal era aquele.

— Cai dentro! — provocou no ápice de sua confiança.

E quando o fez a besta lupina visivelmente atordoada devido a algo ter caído do céu diante dele, se recuperou minimamente. Não importava de onde tinha vindo, se queria lhe impedir, era inimigo. Então, sem perder um segundo sequer o animal arqueou suas costas, eriçou seus pelos e como se estivesse prestes a vomitar algo projetou para fora de sua boca uma anormalmente grande bola de fogo.

Sophia arregalou os olhos.

— Merda...! — imediatamente os ombros da jovem penderam com desgosto, pois conseguia vislumbrar o resultado, e definitivamente aquilo não parecia bom.

Pois por essa ela não esperava.

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