Regra número 9 - Não durma por muito tempo
Olhei para baixo e encarei seus olhos castanhos. Eles brilhavam mais do que o céu em noite estrelada. Era algo estranho, mas não seria eu o cara que lhe diria isso. Até porque, de acordo com Bri, quando os olhos de uma garota brilham demais é porque ela está apaixonada. E eu não diria a ela isso... Bem, talvez nem fosse preciso, afinal, ela é a melhor amiga de Bri. Além disso, por quem ela estaria apaixonada? Pelo idiota do Paul? Por Connor? Espero que por nenhum dos dois. Se ela estiver apaixonada por Paul, ela é mais babaca que ele. Se estiver apaixonada por Connor, ela é a amiga mais traíra que já existiu. De qualquer forma, estando apaixonada ou não, tem algo que preciso dizer urgentemente para ela; sua reação ditará como serão as coisas daqui pra frente. Só que antes eu precisava me dar um tempo para pensar em mais uma hipótese.
E se Elizabeth estivesse apaixonada por mim? Eu sei, eu sei, só nos conhecemos há pouquíssimos dias, mas não posso descartar essa hipótese. Ela me trata de um jeito diferente. Às vezes parece sentir raiva de mim, e em outras situações é como se eu fosse seu melhor amigo... Como agora. Agora estamos abraçados como um casal idiota de um filme idiota. Ou de um livro idiota. Ou de Orgulho e Preconceito, mas esse não é um livro idiota. Talvez Lizzie esteja pensando o mesmo, a diferença é que o livro em sua mente deve ser A Probabilidade Estatística do Amor À Primeira Vista. Acho que são livros completamente diferentes, mas cada um tem a sua visão de um romance. Eu nem sequer li outros romances. Sou um cara da ação e da aventura. Só clássicos podem me fazer conhecer um casal extremamente famoso.
Cara, esses pensamentos estão patéticos agora. O ponto era divagar sobre a possível paixão da Srta. Elizabeth por mim. Divagar, não adorar. Mas isso não significa que acho tal possibilidade apavorante. Seria interessante até. Talvez eu pudesse tentar correspondê-la.
Voltando à realidade, preciso fazer a pergunta!
- Você amava esse garoto?
Okay, eu poderia pegar a surpresa dela e colocar em um vidrinho, junto com meus vaga-lumes. Se bem que provavelmente o sentimento "pesado" da garota acabaria ofuscando meus vaga-lumes.
- Por que está perguntando isso? - A voz dela não era mais do que uma partícula minuscula de seu estado normal.
- Apenas responda, por favor! É importante para mim. - E ela logo saberia o motivo.
- Não sei dizer, eu era só uma criança. Não sabia o que era amor, só sabia sentir isso. - Suspirou e desviou o olhar. - Mas o que eu sentia por ele era forte.
- Isso significa que você não é sem coração, muito menos uma sínica profissional. - Sorri. Estava mais feliz do que nunca com a descoberta. - Isso me dá liberdade para fazer o que desejo.
Enlacei sua cintura de forma possessiva e colei ainda mais nossos corpos. Lizzie sorriu, provavelmente já imaginando o que aconteceria a seguir. Acariciei sua bochecha e a britânica fechou os olhos. Aproximei nossos rostos e imitei sua ação. Era hora de sentir, não de ver. Era agora ou nunca!
- Kennedy!
Acordei sobressaltado. O grito de Bridgeth ecoou no meu cérebro. Não sei porque gritou, não gostei nada do seu grito, mas tive que fingir estar em meu estado normal enquanto sentava. Encarei minha irmã gêmea e entortei a boca.
- O que foi? - Minha voz denunciava que eu havia acabado de acordar.
- Levante. Vamos almoçar na casa dos avós de Lizzie. - Bateu palmas, extremamente animada.
Eu sabia disso. Fiquei ouvindo esse mesmo lembrete por dias a fio. Para ser mais preciso, dois dias. Sim, Elizabeth finalmente havia se afastado de nós, mas apenas para compensar o tempo que havia ficado longe dos avós. Havia superado o trauma. Mentira! Superou nada! Ela só foi até eles quando saíram de perto do "monte de ferro". Bem, eu meio que entendo isso. O medo dela é igual o medo que acabei de adquirir: O que raios esse sonho significa?
- ... e parece que está meio frio lá fora. - O que? - E você não ouviu nada do que eu disse, não é mesmo?
Me senti mal ao balançar a cabeça negativamente. Fazer o que se não sei mentir? Bri suspirou e eu olhei para o relógio que estava ao lado da cama. 9 a.m.
- Por que me acordou tão cedo? - Perguntei com uma careta.
- Para que se arrume e fique o mais cheiroso possível. - Sorriu de forma maliciosa.
Aí está. Nesses dois dias Bri além de me lembrar constantemente do almoço (sim, constantemente), minha irmãzinha ainda insistiu que Lizzie e eu somos um casal perfeito. Casal perfeito uma ova! Nem conseguimos ficar tanto tempo sem brigar, imagina se namorássemos. Ia ser um desastre. Um completo desastre. Enquanto deveríamos estar nos beijando (como acontece nos filmes), Elizabeth daria socos na minha cara.
E agora Bri queria que eu ficasse perfeito para conquistar sua melhor amiga. Conveniente para ela, mas quem diz que Lizzie quer isso? Ah, mas isso não significa que eu quero isso. E nem que eu não quero. Sou indiferente!
- Eu não vou lá para conquistar sua amiguinha. - Comentei, levantando-me.
- Então pelo menos passe uma boa impressão para a família dela. - Juntou as mãos, quase implorando. - Por mim.
- Por que eu deveria fazer isso? - Cruzei os braços e arqueei a sobrancelha direita.
- Porque os pais dela não deixarão ela voltar a ficar com a gente. - Bri fez biquinho.
- Okay, mas só porque quero passar uma boa impressão para...
- Seus futuros sogros. - Bri me interrompeu e deu uma gargalhada ao finalizar sua frase infame.
- Você está começando a irritar com essa história!
- Não fica nervosinho. Estou apenas prevendo o futuro. - Riu sem parar e saiu do quarto antes que eu pudesse xingá-la.
Eu mereço!
- Só minha irmã para dizer essas coisas!
Sim, eu estava falando sozinho. Como um idiota. Mas era preciso. Ainda mais depois daquele sonho.
O que aquele troço significava?
Veja bem. Não estou apaixonado por Lizzie, nem muito interessado ao ponto de querer beijá-la. Acho que a única explicação para esse sonho ter acontecido é a relação com minha amnésia. Talvez algum fator do sonho me ajude a descobrir algum fato do passado. Com toda certeza não é uma relação amorosa. Um garotinho não pode ter uma relação amorosa, apenas uma paixão. E Lizzie também não tem nada a ver com minha infância. Se bem que...
Espera!
É isso!
Eu posso ter tido um trauma na infância que me fez esquecer meus primeiros seis anos. Um trauma como o de Lizzie. Algo não muito forte, mas que abala a capacidade de confiar nos outros. Ou que te deixe com medo de algum lugar, como é o caso de Lizzie. No meu caso algo relacionado a toda a minha infância teve que ser esquecido. Mas o que? Será que tive um animalzinho que morreu? Sei que ficaria muito mal se perdesse um animalzinho... Cara, isso faz mais sentido levando outros fatos em questão. Mamãe nunca me deixou ter um cachorro. Deixou que eu tivesse um gato, um lagarto... Sim, um lagarto. Gosto deles, okay? Enfim, me deixou ter vários animais, mas não me deixou ter um cachorro. E agora eu estava sem criatividade para ter um animal de estimação depois de Zukie (Bri deu esse nome por causa de um dos integrantes da McFly) ter morrido. Bem, realmente é uma teoria super possível. Agora preciso de provas. Se não encontrar nenhuma terei que mudar de hipótese.
Não vou pensar nisso agora. Só de ter interpretado um sonho confuso tão bem, mereço um prêmio. Agora vejo o quanto que ler faz bem para a fácil interpretação de situações confusas. Bem, o lado bom é que o sonho não envolve nada romântico...
Pelo menos é o que espero.
- Ele não pode saber disso. - Mamãe cochichava antes de eu entrar na cozinha.
- Saber do que? - Perguntei. No momento que ela ouviu minha voz fechou a caixa que tinha em mãos e a colocou na mesa, deixando ambas as mãos sobre ela. Visivelmente lá tinha algo que eu não podia ver. Mas o que?
- Nada não filho. - Sorriu e virou-se para meu pai. - Vamos?
- Onde vocês vão?
- Fazer compras para o almoço.
- Não vamos almoçar na casa dos avós de Lizzie? - Eu estava confuso.
- Lizzie? - Mamãe riu da mesma forma que Bri fazia ao dizer que eu e Lizzie seremos um casal. Encarei-a e ela apenas balançou a cabeça. - Vou levar algumas coisas para o almoço. É educado.
Ao dizer isso ela passou por mim e subiu as escadas. Agucei meus ouvidos. Precisava saber em qual quarto ela guardaria a caixa.
- Filho, que presente você acha que Lizzie gostaria de ganhar? - Papai perguntou.
Presente?
- Não sei. Acho que um livro. Ela é viciada por livros. - Disse sem pensar muito. Ouvia os passos no andar de cima. É uma sorte que ela estava usando salto alto justo hoje. Meu pai continuava falando e eu apenas maneava a cabeça. Não sabia com o que estava concordando, mas provavelmente era com a compra de um livro qualquer. Realmente não importava. Lizzie parece ser o tipo de pessoa que lê de tudo. E deve ser um presente qualquer cara, sem importância alguma. Aqueles presentes que tios dão, sabe? Nem sempre eles são bons.
Continuei me focando nos passos. Contei aproximadamente 30 no andar de cima, o que indicava ser os quartos do meio do corredor. Ou seja, o quarto em que meus pais estão ou o quarto em que meus tios dormem. Terei que ir a ambos os quartos quando ninguém mais puder me ver. Só preciso esperar eles irem embora e Bri começar a se arrumar.
- Então vai ser esse livro que vou comprar. - Papai disse. - Acha que ela vai gostar?
- Mas é óbvio! - Sorri, sem ter a menor ideia do livro que estava em questão.
- Então vai ser esse mesmo. - O sorriso dele era semelhante ao meu. - É bom ver que finalmente está se importa com uma garota que não é da família.
Ia perguntar o que ele queria dizer com isso, mas mamãe apareceu e os dois se despediram tão rápido que não pude sequer dizer uma sílaba. Okay então. Pelo menos posso começar a seguir meu plano. Estralei os dedos e olhei ao redor. Meus tios tinham saído antes mesmo de eu acordar. Bri não saíra do quarto desde quando me acordara. Só precisava checar tudo novamente. Caminhei lentamente até a escada, com o intuito de não fazer barulho algum. Não seria justo ser descoberto a essa altura do campeonato.
Degrau por degrau, pontinha do pé por pontinha do pé. Lá estava eu, em minha primeira missão secreta. Um agente solitário. 007. Meu nome é Murray, Kennedy Murray. Ri baixinho de minha própria idiotice, ao mesmo tempo passei pelo quarto de Bri. Música alta, chuveiro ligado, tudo nos conformes. Dei um soco no ar, tamanha era minha satisfação por saber que conseguiria no mínimo tentar descobrir o que escondiam de mim. A caixa deveria ter a foto de algum animalzinho que perdi. Ou talvez algum tipo de cartinha de alguma garota que me magoou. Ou sabe-se lá o que. Tinham tantas possibilidades que era melhor parar de pensar, caso contrário meu cérebro explodiria.
Me certifiquei apenas mais uma vez de que Bri estava fazendo barulho e sorri ao comprovar isso. Era hora de descobrir o que mamãe escondia naquela caixa!
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