Regra número 14 - Aprenda a falar francês como um nativo
Lizzie não leu o resto em voz alta, mas sua expressão facial dizia tudo. Estava embasbacada. Mas é claro! Que idiota escreve lance? Que raiva! Foi o que saiu da minha cabeça enquanto escrevia, e agora percebo que não há palavra mais babaca do que essa. Para começar a lista de fatos, se eu estivesse namorando com Lizzie eu escreveria "namoro", não lance... Segundo: Não há sentimentos românticos nessa relação! Acho que escrevi apenas porque ficava bom na poesia. Ou fui possuído por um poeta sem cérebro. Vai ser estranho assim lá em Hogwarts! Pelo menos assim eu poderia cair na Corvinal, como Luna... Não que eu goste muito da Luna ao ponto de ela ser minha personagem favorita ou algo parecido, mas isso não vem ao caso.
- Você escreveu isso nesses minutos que fugiu? - Perguntou Elizabeth e eu a encarei. É claro que tudo o que ela dissesse seria importante para que nossa amizade pudesse existir, contudo, só consegui me prender à uma palavra.
- Eu não fugi! - Estava tão indignado que bati o pé com força no chão cinzento. Que patético!
- Tente enganar alguém que não conhece você, Kennedy. - Provocou ela, cruzando os braços. Como se ela me conhecesse! - De qualquer forma... Estou perdendo minha linha de raciocino, por isso peço que responda minha pergunta.
- Qual foi a pergunta? - Fiz cara de confuso e fingi esquecer apenas para irritá-la.
- Eu vou socar a sua cara se não me responder! - Ameaçou. - Você escreveu essa poesia agora?
- Sim. - Respondi baixo enquanto minha mente formulava uma desculpa para as palavras sentimentais presentes naqueles papéis ridículos. Elizabeth sorriu de forma estranha. Jesus Cristo, lá vem o julgamento final para minha escrita nada épica! Vai Kennedy, inventa desculpas! - Eu não sei o que deu em mim para escrever essas coisas. Só queria me desculpar pelo livro. Pode me bater se achar que ficou ruim, ou me chutar se alguma palavra te ofendeu...
- Eu gostei.
Pisquei. Olhei para seus olhos como se ela fosse do planeta do Spock... Se bem que eu deveria estar olhando para as orelhas, certo? Por outro lado, talvez eu estivesse em outro planeta. Ou em uma realidade virtual! Uma realidade virtual que aceita poesias horríveis.
- O que? - Demorei séculos, mas finalmente consegui dizer algo.
- Isso mesmo que você ouviu. - Estendeu o bloco para que eu o pegasse. - Eu gostei... Exceto pela palavra lance. Não acho que seja pertinente para o contexto em questão. Talvez fosse melhor reformular para que se torne satisfatória para seu público alvo.
Fiquei boquiaberto. Que adolescente fala assim? Há palavras que só vejo em meus livros. Será que ela é mesmo uma leitora compulsiva?
- Você fala engraçado. - Comentei sem pensar enquanto guardava o bloquinho em meu bolso.
- Só porque minha fala está repleta de palavras desconhecidas por suas amigas que usam salto sem necessidade, têm vários namorados e ainda por cima são completamente sem cérebro? Desculpe-me por não ser como elas. - Retrucou Elizabeth com a voz carregada de sarcasmo.
Ouch!
- Não foi isso que eu quis dizer...
- Tudo bem. - Lizzie me cortou com um suspiro. - Só fico louca quando reclamam do meu modo culto de falar, entende?
Balancei a cabeça sem parar, concordando. Só esperava que ela mudasse de assunto. Não queria que ela conseguisse mais um item na sua lista de motivos para me odiar. Quanto mais babaca eu fosse, mais a perspectiva de amizade e afastaria de mim. Eu não queria isso. Precisava dela para não manter mais meus segredos para mim, e talvez Elizabeth pudesse me ajudar com as caixas no quarto dos meus tios!
- Hum, você me perdoa pelo livro? - Arrisquei.
- Vou pensar no seu caso. - Respondeu ela da forma mais seca possível. - Eu não perdoo com facilidade e o que você fez é imperdoável!
- Não fiz com intenção de te machucar.
- Não fez? - Ela cruzou os braços. - Você sabia do meu ódio por Romeu e Julieta. Não sabia o motivo, mas ainda assim sabia do meu ódio! - Ela estava quase gritando. - Você sabia Kennedy, e não consigo ver razão para ter me dado aquilo, apenas posso acreditar que queria me magoar no dia do meu aniversário!
Estava cogitando contar a verdade, mas a presença de uma senhora acabou com qualquer possível chance de me redimir.
- Elizabeth! - Chamou ela há apenas alguns passos de nós.
Lizzie se virou e encarou a senhora grisalha.
- Oui grand-mère?
"Sim avó?"
- Ne grondez le pauvre garçon, mon cher! - "Não repreenda o pobre menino, minha querida!" Respondeu a avó de Lizzie com amabilidade. Pobre rapaz? Não sou um pobre rapaz! Mas se quiser continuar a me defender nessa briga, eu agradeceria.
- Vous avez vu le livre, qu'il m'a donné, grand-mère? Est horrible! - "Você viu o livro que ele me deu, avó? É horrível!" Comentou Elizabeth. Batendo na tecla do livro de novo, Lizzie? Vai contar para todos que eu lhe dei o livro que odeia?
- Oui, ma petite-fille. Vous ne lui pardonne pas par cette erreur? - Foi um pouco difícil entender o que ela dizia porque disse muito rápido. Quase certeza de que ela disse "Sim, minha neta. Você não pode perdoá-lo por esse erro?" A avó parecia disposta a dizer qualquer coisa para que a pequena Lizzie me perdoasse. Que atencioso da parte dela.
- Non! Il connaissait et m'a donné un cadeau horrible en tout cas! - "Não! Ele sabia e me deu um presente horrível de qualquer maneira!" Já nem me preocupava mais em traduzir em minha cabeça o que ela dizia. Preferia não saber.
- Dans ce cas, il n'y a rien que je peux faire pour aider!
"Neste caso, não há nada que eu possa fazer para ajudar!"
O que? Ela desistiu de me ajudar? Ah, estou perdido.
- Il ne parle pas? - "Ele não fala?" A avó de Lizzie me encarou. Se eu não falo? É claro que eu falo!
- Il ne parle pas très bien le français. - "Ele não fala francês muito bem". Elizabeth também me encarou. Vai! Diz para o mundo que eu não sei falar francês muito bem! Joga na cara!
- Eu não falo muito bem a língua de vocês. - A frase da avó de Lizzie estava tão carregada com sotaque que eu quase não consegui entender.
- Temos um problema então. - Me pronunciei pela primeira vez.
- Non si elle accepte de donner quelques leçons pour vous. - "Não se ela concordar em dar algumas aulas para você." A senhora afirmou. Aulas para mim? Elizabeth aceitaria me dar aulas de francês?
- Qui? Je? - "Quem? Eu?" Elizabeth parecia não acreditar no que ouvia. É claro que é você! Quem mais seria tão antissocial ao ponto de poder me dar aulas durante as férias? - Non!
A avó de Lizzie olhou para mim deixando claro que agora a situação estava em minhas mãos. Por que eu iria querer aprender a falar francês? Tenho Elizabeth para falar por mim. Ou será que não tenho mais?
- Por favor, Lizzie! - Implorei juntando as palmas das mãos. - Eu preciso de aulas.
A britânica olhou de mim para a avó. Suspirou duas vezes seguidas. Nos olhou novamente e então disse:
- Tudo bem. Eu lhe dou aulas de francês.
Maravilha! Mesmo que ela não esteja muito feliz com isso, essa situação pode nos aproximar novamente.
É a minha melhor chance para fazer Lizzie me perdoar!
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