Regra número 11 - Fique sempre atento às datas
Elizabeth não estava nada vulnerável naquele momento. Parecia prestes a me dedurar, e eu precisava pensar em algo para distraí-la. A distração apareceu assim que dei uma boa olhada na roupa da garota. Misturava um vestido sem alças azul-escuro com um All-Star preto. Até aí tudo bem, certo? Errado! O vestido não chegava nem no joelho dela - estava aproximadamente um palmo acima - e suas pernas chamavam mais atenção do que qualquer outra coisa. Era impossível não encará-la, pois estava linda. Eu não estava pensando nisso apenas por causa de suas coxas levemente grossas. Pensei nisso por causa de toda a imagem na minha frente. Além da roupa, Lizzie estava com o cabelo solto e com os cachos cascateando pelas costas. E para completar com a chave de ouro mais brilhante já existente, pela primeira vez desde que a tinha conhecido Lizzie estava maquiada. Não com aqueles quilos de maquiagem que as garotas da minha escola usam, mas com coisas que realçam os seus pequenos olhos e apagam as olheiras. Nada de batom.
- Você está linda, Lizzie. - Confessei. Era uma frase que se encaixava bem no momento. Estava sendo sincero e tirando o foco dela da minha bisbilhotagem.
- Não tente me distrair, Kennedy. - Ela repreendeu-me, mas não funcionou nem um pouco já que corou ao terminar a frase.
- Estou sendo sincero, querida. - Ah, era tão bom poder dizer a verdade e ainda envergonhar a garota bonita. Um bônus divertido.
- Se está sendo sincero, acho que é bom arrumar todas essas coisas antes que sua mãe entre aqui. - Sorriu, mas no fundo devia estar desejando que eu me ferrasse o mais rápido possível. Jesus, tenho medo dela às vezes!
- Foi ela que te mandou subir, não é mesmo? - Cruzei os braços. Ela confirmou. O que eu fiz? Me abaixei e arrumei as caixas como The Flash. Teria que descobrir depois o que tinha na última caixa. Agora o meu objetivo era fazer a britânica ficar de boca calada. - Vai contar pra ela o que eu tava fazendo?
- Não, Kennedy. Não sou dedo dura.
- Fico feliz. - Baguncei meu cabelo sem saber muito o que fazer.
Elizabeth revirou os olhos e se aproximou de mim. Não sabia o que ela ia fazer, como sempre. Ela arrumou minha camisa xadrez amassada e meu cabelo. Arqueei minha sobrancelha para o ato e tudo o que ela fez foi revirar os olhos. Que mania irritante!
- Não pode sair daqui com cara de quem aprontou algo. - Fiz uma cara maliciosa assim que ela terminou de falar, como recompensa ganhei um soco no ombro. - E não pense besteiras! Você estava até sujo de pó.
- Sujo de pó? - Enruguei o nariz. Não havia percebido.
- Sim, com cara de nerd.
Fiz careta e me afastei dela.
- Não sou nerd.
- Disse cara de nerd, não que você necessariamente é nerd.
- Dá na mesma.
- Esquece isso, Sr. Nervosinho. - Elizabeth balançou a cabeça e foi até a porta. - Está na hora de irmos para o almoço.
- Me explica de novo porque o papai foi na frente. - Pedi, apenas para irritar minha mãe.
- Para levar as coisas que eu comprei.
- Você vai cozinhar lá? - Minha mãe confirmou com a cabeça. - E por que Bri foi junto?
- Kennedy, você já disse essas mesmas coisas antes! - Disse Elizabeth, virando-se para me socar.
- Ai! O carro é apertado demais para que você fique me socando. - Fiz manha, apenas para vez se ganhava algum tipo de pedido de desculpas.
- Ah tadinho, imagino que seus músculos frágeis não aguentam o soco de uma garota sedentária. - Retrucou com profunda ironia.
- Ouch! - Parece que ela não é sensível como as garotas que conheço. Garotas essas que vivem me elogiando e esperando algo em troca.
- Vamos, Ken. Nós dois sabemos que você é forte, então qualquer coisa que eu faça com você não vai doer. - Sorriu.
Ken! Ela me chamou de Ken! Não me lembro de tê-la ouvido me chamar assim antes. Se me chamou, não tinha tanta importância como agora. O apelido agora poderia indicar o início de uma amizade. Estamos progredindo. Progredindo mais do que quando eu joguei Candy Crush. Okay, como eu paro de sorrir agora? Como?
- Que sorriso bobo é esse, Ken? - Mamãe perguntou, girando o volante. As ruas pareciam todas iguais, mas talvez seja apenas porque eu não estava nem um pouco interessado na paisagem. Tinha coisas mais interessantes em mente.
- Não estou com sorriso bobo. - Tentei parecer bravo, mas ainda não conseguia parar de sorrir. O sorriso estava grudado no meu rosto. Que babaquice!
- Que sorriso é esse, Kennedy? - Perguntou Lizzie, rindo fraco enquanto cruzava as pernas sobre o banco.
- Você me chamou de Ken. - Eu parecia um pai ouvindo o bebê falar "papa" pela primeira vez. Há algo mais patético do que isso?
- Eu disse Kennedy. Não pode estar sorrindo por algo que não aconteceu. - Apontou ela.
- Não estou dizendo agora. Você disse Ken antes. - Expliquei.
- Disse nada!
- Disse!
- Disse? - Fez careta e eu concordei com a cabeça. - Não percebi.
- Apelidos aparecem na ponta de nossas línguas mais rápido do que vômito em mulheres que estão nos primeiros meses de gravidez. - Falei sem pensar.
- Kennedy! - Mamãe me repreendeu, provavelmente temendo o mesmo que eu: que Elizabeth me achasse um babaca. Sei que eu tinha medo que ela pensasse isso por causa da minha imagem, mas mamãe devia estar tentando evitar que sua preciosa Liz achasse que seu filho era um completo babaca. Mães...
- Que comparação pesada. - Elizabeth gargalhou. A risada dela contagiou o carro e logo todos estávamos rindo. E ela não parava de rir, o que não fazia sentido. Mas quem disse que precisava fazer sentido para que rissemos? Não paramos até que Lizzie alegasse dor na barriga de tanto rir e deitasse a cabeça em meu ombro.
Senti um frio na barriga no segundo seguinte, acho que foi por causa da curva que nossa motorista fez. A britânica chegou mais perto e eu segurei-a pela cintura, com medo que se afastasse em outra curva e batesse a cabeça no vidro. O meu lado protetor tinha sido ativado e não seria desligado tão cedo. Ainda teria que entender a razão para a proteção excessiva, mas naquele momento só queria aproveitar o que o presente estava me dando. Encostei minha cabeça na de Lizzie e comecei a pensar na nossa relação. Poderíamos ser melhores amigos se tudo desse certo. Creio que minha mãe pensou o mesmo já que me olhou pelo espelho retrovisor com uma expressão não convencional.
Permanecemos naquela posição até que o carro fosse estacionado.
- Chegamos, crianças!
Suspirei e levantei a cabeça. Elizabeth demorou para se mexer, mas quando o fez logo saiu correndo do carro. Fiz o mesmo e segui-a, ficando estagnado em frente a porta da casa. A porta estava aberta, mas só me atrevi a entrar quando uma mulher que tinha os mesmos traços de Elizabeth parou a minha frente.
- Olá, seja bem vindo a casa dos Fitzwilliam. Você deve ser Kennedy. - Estendeu a mão para que eu a pega-se. Era apenas alguns centímetros mais alta que a filha, mas ainda tinha que levantar a cabeça para olhar diretamente em meus olhos. - Sou a empregada da família, Claire Ferrier.
Arqueei a sobrancelha e cruzando os braços. Estava na cara que ela era mãe de Lizzie. Até o jeito de falar era parecido.
- Bem, de certa forma sou a empregada da família. Só não tenho mais meu sobrenome de solteira. - Deu uma leve gargalhada e deixou que eu passasse. Só então me dei conta de que não havia apertado sua mão!
- Deixe disso Clay. - Disse uma voz vindo de algum canto. Olhei ao redor, dando-me conta de que a sala era um tanto rustica e tentei encontrar o dono da voz. Um homem alto e forte ocupou todo meu campo de visão. Tinha cabelos marrons, olhos castanhos e mais músculos do que Elizabeth poderia sonhar em ter. Acho que agora sei de onde o cabelo cor de café saiu. São misturas demais em uma garota só. O lado forte dela também deve vir do pai. - Não se preocupe meu jovem, Claire gosta de ser dramática algumas vezes. Elizabeth pegou isso dela.
- Deixe disso, Will! - Imitou-lhe a mulher. Os dois pareciam ter uma relação saudável. - Se nossa filha herdou o drama de mim, você a passou os genes da teimosia.
- Tenho que concordar com isso. - Riu. Cara, porque todo pai tem que ter risada grossa demais? Que tenso. - Aliás, sou William Fitzwilliam, pai de Elizabeth.
- William Fitzwilliam? - Não ria. Não ria... Não ria! Ele pode me dar uns cascudos!
- Pode rir. - Comentou e eu não pude mais me segurar.
- Seus pais não gostam muito de você, hein? - Não parei de rir.
- Pensei o mesmo quando ele se apresentou para mim. - Claire confessou. - Quase recusei me casar com ele por causa do nome ruim. - Brincou.
Caramba, os pais de Lizzie têm bom humor! Quais as chances de ter pais assim? Parece que só eu, Bri e Elizabeth temos tal sorte.
- Não, meus pais não gostam de mim. - Sr. Fitzwilliam balançou a cabeça. - Agora todos temos um sobrenome ruim nessa família.
- Ah, agora entendo porque a filha de vocês tem o nome de um casal de Orgulho e Preconceito. - Comentei.
- Leu Orgulho e Preconceito?
- Apenas para fins acadêmicos. - Menti. Tinha lido muito antes do colégio pedir, mas ninguém precisava saber.
O pai de Lizzie me encarou e eu previ alguma frase ruim vindo, contudo, ela nunca pode ser dita porque um grito nos atrapalhou. A mocinha que era filha do casal na minha frente parecia animada.
- Ela descobriu o presente de Bri. - Minha mãe apareceu do nada ao meu lado, me assustando.
- Que presente? - Só eu que não tinha comprado nada para Elizabeth? Por que algo parecia estar errado?
Mamãe não precisou explicar. Em poucos segundos uma música lenta impregnou toda a casa e a voz de um garoto desconhecido ficou invadindo a minha cabeça. A musica falava sobre o cara amar uma garota que não se importava com nada, que não diz não, e que deve ser o centro da festa. Era poesia pura, assim como as que eu escrevia... A diferença é que o garoto que estava cantando tinha poesias mais românticas a sua disposição.
- Quem diabos é esse cara? - Rosnei com raiva. Sim, eu estava me mordendo de raiva por não ter uma voz como a dele. Inveja não é uma coisa que eu sinta com frequência, mas quando acontece...
- Shawn Mendes. Canadense. 16 anos hoje. - Mamãe disse, pausando de um fato para outro.
- E como você sabe tudo isso? - Encarei-a, tentando controlar meu tom de voz.
- Liz é apaixonada por ele, por isso me contou cada pequeno fato sobre ele. - Sorriu diante da minha reação e completou: - Sei também que ele é moreno, tem olhos castanhos e pele clara. Ah, e voz de anjo!
- E por que estamos ouvindo sua voz nesse momento?
- Bri comprou o EP do Shawn para Liz. - Respondeu minha mãe.
Eu mato Bridgeth!
- Agora sim esse dia ficará mais animado. Dois aniversariantes em sintonia. - Claire comentou.
O que? Jesus, passei alguns dias apenas com Bri quando as férias começaram e agora nem sei mais em que dia de Agosto estamos. Julho é praticamente um mês perdido, por isso eu comecei a faltar uma semana antes do ano acabar oficialmente já que tinha até passado de ano. Depois disso não soube mais qual dia do mês estávamos vivendo. Exatamente por isso eu estava perdendo algo. Precisava de um tempo para pensar no que faria a seguir.
- Poderiam me informar onde fica o banheiro?
Para minha sorte logo me disseram as coordenadas corretas e pude correr até o local indicado. Os fatos logo me atingiram quando fechei a porta do cômodo. Peguei meu celular só para conferir a data. Dia 8 de Agosto. Era aniversário de Elizabeth e de um tal de Shawn Mendes. Não havia comprado presente algum para ela e nem lhe desejará felicidades. Resumindo, estava completamente ferrado. No lado de fora a música mudou, não prestei atenção nenhuma a letra. Estava preocupado demais com a besteira que tinha cometido. Deveria perguntar a data de aniversário das pessoas antes de aceitar almoçar na casa delas.
Fiquei andando de um lado para o outro, isso até a terceira música começar. Tomei coragem para me retirar de meu esconderijo.
- Que bom que voltou, Ken. - Meu pai foi o primeiro a me encontrar. - Está na hora da Liz abrir seus presentes.
Arregalei os olhos. Isso tinha que ser um pesadelo. Como não percebi toda essa situação antes? Deve ser horrível alguém esquecer o aniversário de alguém. Ia dizer tudo ao meu pai, mas ele entregou-me um pacote e se afastou. Apalpei-o e logo descobri que era um livro. Ah, agora está explicada a pergunta de mais cedo. Só espero que eu tenha escolhido o livro certo, mesmo que sem querer.
Elizabeth estava rodando ao som da terceira musica do EP, o que me deixava com ainda mais inveja do canadense. Ele a anima mais do que eu poderia imaginar.
- Hora dos presentes? - Indagou ela, parando na minha frente. Fiz que sim com a cabeça. - Quer que seu presente seja o primeiro?
Assenti. Era melhor puxar o curativo de uma vez só. Doeria menos. Animada, Lizzie arrancou o pacote da minha mão e o apalpou.
- É o que eu acho que é? - Perguntou visivelmente ansiosa.
- O que acha que é? - Retruquei.
- Um livro. É um livro?
Dei de ombros, fingindo não saber. Bem, na verdade eu não sabia ao certo que livro estava dando a ela.
- Estou ansiosa para ver o que comprou para mim! - Exclamou, abrindo o embrulho com maior cuidado. Sorri esperando sua reação positiva. Retirou o livro do pacote e ficou encarando a capa. No inicio pensei que estava tudo bem, mas o sorriso da pequena garota foi sumindo enquanto analisava a capa. Seus olhos se esbugalharam e logo lacrimejaram. Entrei em pânico.
- O que foi? Não gostou? - Perguntei baixinho, morrendo de medo da resposta.
Ela balançou a cabeça negativamente e empurrou o livro de volta para mim. Graças ao meu reflexo não deixei-o cair. Respirei fundo enquanto tomava coragem para analisar o tamanho da minha burrada. Quando a coragem me consumiu, meu coração disparou. Romeu e Julieta. Eu simplesmente havia dito para meu pai comprar o pior livro possível. O livro que Elizabeth já deixara claro que não é um de seus favoritos. - Lizzie...
Não tive tempo para falar. A garota deu três passos para trás e tudo desmoronou. As lágrimas foram escapando de seus olhos a medida que meu coração ia se apertando. Eu sou definitivamente um completo idiota! Devia ter ao menos checado que livro estava dando a ela!
Droga!
Para piorar tudo, a quarta música do EP tinha que ser a mais deprimente. Elizabeth se entregou completamente ao choro quando ouviu a letra. A verdade é que até mesmo eu estava querendo chorar de frustração. Dei um passo a frente com a intenção de reconfortá-la, mas ela se afastou como um animal ferido.
Droga ao cubo.
Precisava fazer algo, e rápido! Tentei aproximar-me novamente a abracei-a com força antes que pudesse me afastar. Forcei-a a encostar a cabeça no meu ombro e acariciei suas costas, sentindo cada lágrima me atingir como se fosse um soco. A música ficava mais e mais deprimente. As lágrimas mais e mais gordas. Tudo era um desastre e eu estava arruinando o primeiro aniversário de Lizzie em Paris após superar seu trauma pela cidade.
O que vou fazer? O que vou fazer?
A frustração era tamanha que tive vontade de voar até onde Shawn Mendes estivesse naquele momento para lhe dar um soco de aniversário!
- Alguém desliga essa porcaria de música! - Gritei.
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Hey pessoas, o que acharam desse capítulo? Será que Ken conseguirá arrumar o dia do aniversário de Lizzie? Quero saber o que acham.
Ah, esse capítulo tem até trilha sonora, viram? É o meu Peter com voz de anjo!
Ah é, quase me esqueci, para quem shippa Ken e Lizzie: Dediquei esse capítulo à leitora que escolheu o shipper deles, Kenzie. Se você shippa os dois, use #TeamKenzie ao final de cada comentário.
Acho que disse tudo o que tinha a dizer. Até a próxima Little Lovers!
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