Capítulo 17. Viva Ao Ritmo Do Vento
Após Esther contar a sua história para Léo, a distância que ela já sentia estabelecida entre os dois ficou agora ainda maior. Ele não respondia as suas mensagens, a ignorava na escola, não direcionando nem um olhar que fosse. Sentia suas forças acabando e precisava recuperar sua energia, porém, não seria com qualquer um.
- Eu descobri o nome do garoto novo, olha aqui o Instagram dele. – mostrou Beatriz, a tela do celular, a Esther.
- William... Legal, ele gosta de música. E de cachorrinhos, que fofo. – elogiou Esther.
- Vou mandar uma mensagem no direct dele. – disse Beatriz.
- Não, Beatriz. Calma. – pediu Esther, retirando o aparelho da mão de Beatriz que estava usando o seu celular.
- Já foi. – afirmou Beatriz, enquanto se esquivava das mãos de Esther que tentava pegar seu celular. – Olha, ele respondeu.
- Beatriz, não. – pediu Esther, com mais empenho.
Beatriz não deu nenhuma importância aos pedidos de sua amiga e seguiu em uma conversa rápida com William, o novato da escola. Já estava marcando um encontro com ele.
- Olha aqui, ele aceitou sair com você hoje. E eu já aceitei. – disse Beatriz, enquanto devolvia o celular a Esther.
- Eu vou desmarcar, não quero ir. – disse Esther, negativamente. Geralmente, sábados são dias de curtição para as duas, contudo, naquele dia, não se sentia bem o suficiente para sair.
- Esther, não quero ver você aqui chorando pelos cantos. Eu fico muito mal também. Você me pediu para largar as drogas, eu larguei. Agora você vai esquecer esse coração romântico e vai se encontrar hoje com esse menino.
Esther, apesar de ainda se recusar internamente aos pedidos de Beatriz, não desmarcou o encontro com o garoto, entretanto não respondeu as novas mensagens que ele enviava. Apenas pensou que se não respondesse nada que ele mandasse, ele a esqueceria. Quando a noite chegou, devido aos pedidos insistentes de Beatriz, ela se arrumou, vestiu-se da melhor maneira que podia e esperou a chegada daquele garoto que, no seu íntimo, esperava que não viesse.
Sentada no sofá da sala, Esther esperava William junto com a Beatriz. Não fez questão de visualizar as novas mensagens que ele mandara. E sabia que tinham muitas, devidas as diversas notificações no seu celular.
- Ele não mandou mais nenhuma mensagem? – perguntou Beatriz, sentada no sofá com um balde de pipoca. Naquela noite de sábado, ficaria em sua casa, vendo filmes.
- Nenhuma. - mentiu Esther, com as pernas cruzadas. Estava aborrecida com a insistência de sua amiga para que ela saísse.
- Não tem problema, eu mandei a localização para ele, em breve estará aqui. – disse Beatriz, enquanto colocava em sua boca uma mão cheia de pipoca.
Esther empalideceu ainda mais. Ela não tinha compartilhado sua localização, nem mandado seu endereço para o garoto, afim de impedir que ele pudesse encontrá-la. No entanto, sua amiga foi mais inteligente e agora a probabilidade era alta do garoto chegar à sua porta. E foi o que aconteceu.
Buzinas foram ouvidas no portão da mansão. As câmeras mostravam um garoto em uma moto. Como estava de capacete, não era possível ver seu rosto. Ele buzinava insistentemente. As duas meninas foram ao seu encontro.
Beatriz estava de pijama rosa, com diversas bolinhas brancas. Esther vestia uma calça jeans robusta e apertada ao seu corpo, uma camisa branca de manga longa com um leve decote. Seus cabelos estavam presos formando um rabo de cavalo. Um tênis branco completava seu visual.
Ao ver a chagada das meninas, o garoto desceu da moto, tirou seu capacete, mostrando o rosto moreno e os curtos cabelos pretos, ao estilo militar. Mostrou aquele mesmo sorriso que Esther vislumbrou quando o viu pela primeira vez, nos corredores da escola.
- Achei que tivesse desistido. – falou William com um sorriso no rosto.
- Eu achei que não viria. – disse Esther, com uma leve timidez.
- Eu sou um homem que cumpro com minha palavra, garanto isso a você. – falou William, enquanto colocava as duas mãos em sua jaqueta.
Esther observou William. Era um menino alto, um rosto bem definido, braços fortes. A pele morena era vívida e chamativa. Estava bem vestido, uma jaqueta de couro, uma calça jeans rasgadas nas cochas. Possuía uma bota marrom nos pés.
- Vamos, então? – perguntou Willian, enquanto estendia um capacete a Esther.
- Vai, Esther. – pediu Beatriz, dando um leve empurrão nas costas da amiga.
Um filme se passou na cabeça de Esther, aquilo poderia ser uma oportunidade para ela, ou o seu fim em definitivo. Era um conflito, era uma escolha. Não queria lembrar de Léo e inversamente pensou o que aconteceria se ele soubesse que ela já estava saindo com outro cara.
- Foda-se. – falou baixo, enquanto pegava o capacete.
Willian ligou a moto Bros NXR 160 e Esther se sentou em sua garupa. Passou as mãos em volta da barriga de William e segurou firme enquanto ele acelerava a moto. Beatriz ficou ao portão dando tchauzinhos com a mão.
A moto seguiu firme a mais de 90Km/h. Esther se segurava bem em William. Seu coração pulsava, sentia medo, não por si mesma, que já estava morta, mas por ele. A velocidade era muito acima do permitido, mas ele não sentia nenhum medo ou pavor e continuava a acelerar e a correr. A moto parou em um semáforo.
- Você é doido? Vai devagar. – advertiu Esther, gritando com William enquanto o semáforo estava vermelho.
- Não gosta de adrenalina? Pra mim eu estava devagarzinho. – respondeu William, virando-se para falar com Esther.
- Aonde estamos indo? – perguntou Esther.
- Onde o vento levar. – disse William, enquanto acelerava a moto. O semáforo estava novamente verde.
A corrida continuou por mais quinze minutos. Pararam agora em um bar. Não era nada comparado ao que o dinheiro de Esther poderia proporcionar. Era um barzinho de esquina de avenida, no qual ela nunca tinha posto os pés em local semelhante. Ela entrou no bar junto com o William. Sentaram em dois banquinhos de madeira que ficava a frente da bancada do bar. Ele estendeu os dedos formando um dois, o dono do bar respondeu ao chamado trazendo dois copos e uma garrafa de cerveja. William encheu o copo de Esther, logo depois, encheu o seu.
- Você frequenta esse bar? – perguntou Esther.
- Às vezes sim, às vezes não. – respondeu William. – Eu vou onde o vento me levar. – ele virou o copo de cerveja de uma vez só.
- Filosofia de vida, é? – quis saber Esther.
- Não, acho que é o meu jeito mesmo. – respondeu William, enchendo o copo de cerveja novamente. – E você, tem alguma filosofia de vida? – perguntou.
- Eu vivo contra o tempo. – contrapôs Esther. William sorriu.
Esther observou o bar. Era pequeno e simples. Ficava em frente a uma avenida movimentada. Tinha uma mesa de sinuca ao centro, bem ao lado de um pebolim. Algumas mesas e cadeiras de ferro, encostadas próximas a saída. Um grupo de homens jogava baralho ali, enquanto tomavam cervejas. Garrafas estavam jogadas por todo lado, sujeiras que se amontoavam e não eram limpadas a séculos.
- Você mora com seus pais? – perguntou Esther.
- Não, moro sozinho. – disse William.
- Sozinho? Você é apenas um adolescente, não pode morar sozinho. – indagou Esther.
- Nesse país nada é proibido, desde de que você coloque dinheiro nas mãos certas. – explicou William. – Eu já tenho dezoito. E você mora com os pais?
- Eu moro com meus dois amigos. – respondeu Esther. – Pelo visto, somos bem diferentes do resto da sociedade. – disse Esther, sorrindo.
- Um brinde a diferença! – pediu William. Os dois copos bateram no ar.
A garrafa de cerveja acabou com velocidade. Decidiram não beber mais que aquilo, agora os dois direcionavam-se ao pebolim. Esther pegou o lado da mesa que ficava próximo ao balcão, William do lado próximo dos homens que jogavam baralho.
- Já jogou isso alguma vez? – perguntou, William, a Esther.
- Claro, eu jogo muito bem. – garantiu Esther.
- Vamos ver então. Eu era líder de pebolim da minha antiga cidade, ganhava todas. – disse William.
O jogo seguiu rápido e cheio de emoções, estavam jogando com uma grande igualdade entre os dois. Esther atacava com velocidade. Enquanto William defendia-se e contra-atacava com empenho. A bolinha do pebolim cantava na mesa. No fim, William vencera, porém, com um gol de diferença.
- Você venceu, eu pago a conta. – disse Esther;
- Eu não pretendia pagar de nenhuma maneira. – rebateu William. Esther sorriu, agora já estava gostando dele e daquela noite em especial.
Após pagar a conta e se dirigirem a saída do bar, um dos homens que jogavam baralho em uma mesa, gritou para William.
- Bela namorada, carvãozinho. – gritou um dos homens se referindo a cor de pele de William.
- Ela não é minha namorada, otário! – respondeu William.
- Vamos, William, não der atenção. – pediu Esther.
William decidiu seguir Esther que descia até onde a moto estava estacionada. Ele parou um pouco nas escadas que levavam ao estacionamento. Olhou uma daquelas garrafas nos cantos do bar. Pegou uma e se dirigiu de volta para dentro. Com velocidade, ele desferiu uma garrafa em cheio na cabeça do homem que tinha feito o comentário preconceituoso. Ele sagrou levando as mãos à cabeça. William correu de volta a moto
- Põe o capacete, rápido. – gritou William à Esther. Ela obedeceu e colocou.
Os dois pularam na moto, deu a partida o mais rápido que pode e partiu em direção à avenida. Uma tropa de homens brancos os seguia, furiosos. Contudo, a velocidade da moto os venceu, e não era mais possível alcançá-los. Seguiu a fuga para o mais distante que conseguiram. Novamente, em um semáforo vermelho, Esther conversava com William.
- Você é mesmo um maluco. – opinou Esther, aos gritos.
- Ele pediu por isso. – disse William. Esther deu um leve riso.
- Não deixa de ser verdade. Onde vamos agora? – perguntou Esther, ainda gritando para falar.
- Até minha casa. – respondeu William.
- Eu não vou transar com você. – censurou Esther.
- Você não vai fazer nada que não queira. – ponderou William.
O sinal estava aberto novamente, a moto seguiu rápida pela avenida, em direção a casa de William. Não demorou muito para chegar, no entanto, não era nada como Esther pensava que fosse. Era apenas um terreno descampado, com uma kombis posicionada bem no meio daquele quase matagal. A moto parou bem ao lado do carro.
- Chegamos, bem vinda a minha casa. – disse William.
Esther inspecionou o veículo com um olhar assustado. Era uma velha kombis branca, que parecia não sair mais do lugar. Estacionada bem ali, a mercê do tempo. Entraram e se sentaram bem no meio do veículo.
- Bem, não posso te oferecer nada, porque não tenho comida aqui, mas eu tenho vinho. – explicou William com um vinho em mãos.
- Eu aceito vinho. – disse Esther.
William pegou uma taça e encheu com o vinho que guardava em uma caixa de isopor, dentro da kombis. Deu o copo a Esther, e encheu uma taça para si.
- O que vamos fazer agora? – perguntou Esther, enquanto provava o vinho barato.
- Hum, vamos ver o que tenho aqui. – disse William enquanto revirava o fundo da kombis. Retirou um violão que parecia novo.
- Música. Você sabe cantar? – perguntou Esther, admirada e lembrando do Instagram do garoto.
- Não é o meu melhor talento, porém tento. – respondeu William, enquanto começava a balança as cordas. A melodia começava a fluir, e então começou a cantar:
Meu caminho é cada manhã
Não procure saber onde estou
Meu destino não é de ninguém
E eu não deixo os meus passos no chão
Se você não entende não vê
Se não me vê não entende
Não procure saber onde estou
Se o meu jeito te surpreende
Se o meu corpo virasse sol
Minha mente virasse sol
Mas só chove, chove
Chove, chove
Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros ah
Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria sol
Mas só chove, chove
Chove, chove
Se um dia eu pudesse ver
Meu passado inteiro
E fizesse parar de chover
Nos primeiros erros ah
Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria sol
Mas só chove, chove
Chove, chove
Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria
Mas só chove, chove
Chove, chove
Meu corpo viraria sol
Minha mente viraria sol
Mas só chove, chove
Chove, chove**
Por um momento, naquele sábado, Esther esqueceu Léo por completo, mas, não duraria muito tempo.
Léo também não deixou de pensar em Esther, enquanto escrevia no seu caderno cinza. Não demorou muito tempo escrevendo quando seu celular tocou.
- Alô. – diz Léo.
- Oi, Léo. Tudo bem? Então, aqui é Otávio, guarda florestal.
- Oi, Otávio. Eu lembro de você. – comentou Léo.
- Que bom, cara. Então, na verdade eu te liguei apenas para dizer uma coisa.
- Pode falar.
- Então, eu estava apagando umas fotos aqui e achei umas bem estranhas. Eu acho que bebi demais e nem me lembrava de ter tirado essas fotos. Eu vou mandar para você ver.
Duas notificações chegaram ao celular do Léo. Ele abriu as fotos e pode ver na imagem ruim, mas visível o suficiente, Nete, Felipe e Guilherme saindo da cabana onde Esther dormia. Estavam com um celular em mãos e pareciam brigar.
- Então, cara, eu estou mandado porque me lembro que você namorava com a Esther. E esse pessoal na barraca dela me pareceu bem estranho.
- Claro, Otávio, isso é bem estranho mesmo. Você acabou de tirar todas as minhas dúvidas. – finalizou Léo, desligando o celular. Já tinha tirado todas as suas conclusões do que faria no próximo dia.
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