| palavras que confundem.
As lembranças de um natal depressivo retornaram Rosé a realidade. Ela está na biblioteca, acabara de receber uma mensagem de Lisa.
"Consigo te ver. Me ache, Rosé!"
Se ela consegue a ver, deve estar longe da prateleiras de livros, deve estar perto do balcão ou até mesmo fora, quem sabe.
Rosé ficou com essa ideia por uns minutos. Ela não percebera que as prateleiras estão todas viradas para frente, não estão de lado. Logo, é fácil se esconder por trás, afastar alguns livros e enxergar bem o lugar onde ficam as mesas.
Por isso, ela desistiu. Sentou-se em uma cadeira, numa mesa perto das janelas e pegou seu celular.
"Sem joguinhos, não consigo te achar, Lisa"
— Você é chata, Rosé. — uma voz surge atrás da garota, certamente é a de Lisa.
Rosé tomou um susto, seu peito pulou e afastou a cadeira num instante. Sabia que era Lisa, mas mesmo assim, foi um grande susto.
— Lisa! — levantou-se nervosa. — Não faça isso, sua chata. — deu-lhe um empurrão e sentou-se.
— A única chata é você. — ela riu, se acomodando na cadeira ao lado. — Você não acha que teria sido divertido se tivesse me encontrado?
— Eu só te encontraria, nada além disso.
— Quem sabe. — piscou.
As bochechas de Rosé tomaram um tom avermelhado e a boca até esquentou um pouco, mas lembre-se Rosé:
Não esqueça nunca mais que,
tudo isso, é só mais uma cena.
Essa, quem ela vê, não é você.
Absorta nos pensamentos foi tirada em um instante, Lisa estava estalando os dedos.
— Você está bem? — Lisa disse com o cenho franzido. — Te magoei te chamando de chata?
— Nem um pouco, sua chata. — ela riu. — Você quer beber alguma coisa ou comer algo?
— Não estou com fome e você? — questionou.
— Muita fome. — Rosé disse baixo, lembrou da noite passada, ela não comeu nada.
— Quer um croissant com cappuccino? É uma ótima combinação, pode crer. — disse enquanto sorria para Rosé e lhe dava aquela bela piscada. Ela era boa nisso.
— Pode ser, eu quero sim. — concordou.
Lisa se encaminhou até o balcão, ficou lá por pouco tempo e voltou com o lanche de Rosé. Não houve muita conversa, até que Lisa bebeu um pouco do seu cappuccino.
— Sonhei com você hoje, Rosé. — Lisa disse.
Sonhei com você hoje, Rosé.
— Como assim? — questionou, repousando o croissant no prato. — Conte.
Estava tão preocupada em saber a história que não deu a mínima se Lisa estava tomando seu cappuccino, poderia tomá-lo todo, contanto que contasse o sonho.
— Você e eu, no sonho aparentemente, tínhamos marcado um encontro aqui na biblioteca. — deixou o cappuccino de lado e cruzou os braços, encostando-se na cadeira. — Eu estava do lado de fora sentada e nossa, caia uma neve do cacete, estava gelado!
Isso soa familiar, certo?
— Certo, mas e o final? — insistiu.
— Não teve. Você simplesmente não apareceu e eu fiquei lá, estava sozinha. — deu de ombros. — Você é malvada, Rosé.
— Não sou! — sorriu, mas estava nervosa. — Foi só um sonho.
Não, Rosé. Parece ser bem mais que isso, não acha? Afinal, você acabara de sonhar literalmente a mesma coisa! Você continuou o sonho.
Mas não é possível, é coincidência e ela se nega em acreditar que algo pode ser diferente agora, depois desses anos na mesmice.
— Ei! Está pensando em algo? Parou de comer assim que comecei a falar. — Lisa disse, estalando os dedos mais uma vez.
— Ah, não. Me distraí. — pegou o croissant mais uma vez, petiscando-o.
— Estava interessada no meu sonho, então. — Lisa iria falar mais se não fosse pelo garoto que acabara de aparecer ao seu lado.
Alto, tatuado, cabelos espetados e um pouco cheios, musculoso mas nem tanto e com dentes de um coelho, não de uma forma ofensiva, Rosé adora dentes grandes.
— Lisa? Lisa! — ela abriu um sorriso largo quando viu a loira, que sorria também.
— Bobby? Cara, quanto tempo! O que você está fazendo aqui? Você não é nada inteligente. — zombou.
— Você continua babaca. — revirou os olhos rindo. — Só vim procurar uns livro para uma amiga e você? — perguntou a ela, mas olhou para Rosé.
— Essa é a Rosé, resolvemos sair hoje. — apresentou-a. — Esse é Bobby. — acenou a cabeça para o garoto que estendeu a mão e Rosé retribuiu.
Ela não estava nada incomodada com a conversa e intimidade dos dois, na verdade, adorou esse tempo que teve para comer sem Lisa estar a olhando ou ter que fazer a garota esperá-la.
Mas algo ali não parecia "normal". Não no sentido literal, no sentido de que na verdade, estava rolando um clima. Pelo menos, foi o que ela percebeu.
Sorrisos, abraços na cintura às vezes e sussurros no ouvido junto de risadinhas. Ela não está incomodada. Não mesmo. Por que estaria? Talvez porquê esse era um momento que as duas, sem Bobby, tinham planejado.
Lisa, provavelmente, percebeu a quietude de Rosé e logo dispensou Bobby de maneira gentil, se despediram com um abraço e um beijo na bochecha.
— Nossa. — Rosé disse enquanto ela se sentava.
— Algum problema? — ela inclinou a cabeça com uma de suas sobrancelhas arqueada.
— Nenhum, ao contrário disso — resolveu testar, só para ter certeza. —, rolou um clima, se é que me entende, entre vocês dois.
Lisa riu, riu muito alto a ponto de chamar a atenção de alguns leitores e pessoas que estavam comendo. Ela se conteve quando percebeu, enxugou as leves lágrimas do rosto e encarou Rosé.
— Eu estou errada? — a morena perguntou cínica.
— Eu sou lésbica.
Rosé, por favor, não abra mais a boca.
— O que foi? Não me diga que está surpresa. — Lisa debochou.
— Eu não sabia. — coçou os cabelos. — Foi mal, Lisa.
— Não tem problema. Isso foi muito engraçado. — ela disse e afastou o prato junto com o copo que Rosé devorou. — E quanto a você?
— Eu? O que? — se fez de sonsa, mas sabia bem que ela queria saber da sua sexualidade.
Rosé é lésbica. Pelo menos, em toda a vida dela seus amores foram garotas. Garotas babacas, garotas bonitas, garotas com um corpo excitante e muito mais.
Garotos nunca tiveram sua atenção, diferente de Alice que, incrivelmente, toda vez que encontra com Rosé está namorando ou gostando de um homem diferente.
— Eu só gostei de garotas na minha vida inteira. — não hesitou, disse sorrindo de lado.
— E qual o seu tipo?
Como ela é direta. Lisa tem uma língua afiada, não de um jeito ruim, ela adora a forma que ela questiona as coisas diretamente a ela.
— Eu não sei — Rosé sabe. —, alguém que me ame como eu realmente sou, sem mentiras ou cenas, um amor que me ame de verdade. — e é isso.
Rosé tem tudo isso. Ela firmou isso no pacto que fez, mas bom, as pessoas só não a enxergam.
Não falam do seu corpo, dos seus seios, dos seus cabelos castanho, do seu sinal ou até mesmo da sua personalidade, dos seus defeitos e qualidades. Nada disso.
Na verdade, Lisa falou dele, do seu sinal.
Mas foi coincidência, Luc não cometeria um
erro. Nunca.
— Você não vai me perguntar também? — Rosé riu com a pergunta da loira.
— Qual o seu tipo, Lisa? — questionou-a finalmente.
— Você — ela disse direta, mas corou e deixou Rosé da mesma forma, queimando. —, digo... Garotas como você, entende? Legais, chatas e que odeiam filmes de terror por causa das cenas de sexo. — Rosé a interrompeu com "eu não odeio por causa disso e eu não sou nada chata". —, odeia sim e mais uma vez, sim,
você é chata.
— Está afim de mim, Lisa? — os olhos da loira se arregalaram, ela se ajeitou na cadeira nervosa. — Digo, geralmente, pessoas que implicam muito com alguém sempre têm algum interesse. E bem, nos conhecemos não tem nem uma semana.
— E desde quando tem um tempo determinado para se interessar em alguém? — se aproximou de Rosé.
— Então, você confirma? — questionou, mas a voz de Rosé estava baixa por três motivos, sejam eles:
1. A pouca distância das garotas.
2. O fato de Lisa, talvez, estar confirmando que está interessada nela.
3. É só mais uma cena.
— Não confirmei nada. — Lisa se afastou, deu de ombros e encarou Rosé. — E não nego nada também.
Certo, isso foi suficiente, Rosé?
Não, mas por que?
Porque está confusa, não é?
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