Vai pra nunca mais voltar
Pov' Ludmilla
Assim que eu cheguei em casa, o Marcos me contou que teve uma breve discussão com a Brunna no hospital. Ele não me disse muitos detalhes, e eu também não fiz questão de ficar perguntando, sei que Marcos tem uma personalidade difícil e Brunna consegue ser complicada quando quer, então prefiro deixar que os dois se resolvam entre si. Apenas pedi para que ele não falasse nada com a cabeça quente e prometi que pediria a Brunna para não fazer o mesmo.
Eu não estava com muita fome, mas mesmo assim me servi com o almoço que a Nete tinha feito para nós. Depois disso subi pro meu quarto, onde estou até agora esperando a Brunna chegar. Se passaram das duas horas da tarde, ela não me enviou nenhuma mensagem e só de imaginar que ela pode ter mudado de ideia e ficado por São Conrado, bate uma tristeza no meu coração. Uma tristeza que logo vai embora, quando vejo a médica mais linda do mundo abrir a porta do meu quarto.
Confesso que admiro tudo na Brunna. Desde o seu jeito de andar, de falar, de ser, de se vestir, me encantam. Brunna consegue fazer uma transição de médica, a uma simples mulher e fica perfeitamente bela em todas. Hoje pela manhã ela estava usando uma calça de alfaiataria na cor verde e uma blusa social branca. Nesse exato momento ela está usando um short curto de moletom e uma blusa que contém um trecho da minha música. Soltei um suspiro ao sentir seu cheiro incomparável.
- Pensei que você não fosse vir. - confessei me ajeitando na cama, fazendo um certo esforço para não mexer meu pé - Já estava pensando em ir te buscar.
- Eu estava ajudando meus pais a fazerem umas coisas. - comentou colocando o capacete em um canto do quarto - Demorei mais que o planejado e ainda parei em um restaurante pra comer algo antes de vim.
- Poderia ter almoçado aqui! - fiz um bico com os lábios e ela se sentou ao meu lado. De forma que podia me ver por completo, enquanto eu apenas via sua cintura.
- Minha fome não iria me deixar chegar até aqui. São quase quarenta minutos de distância da minha casa até a sua casa. - falou e eu percebi que ela estava séria. Bem mais séria que o de costume.
- Amor, você ainda está brava, ou chateada com o Marcos? - questionei me apoiando no meu cotovelo, para olha-la melhor.
- Eu não sei o que estou sentindo em relação a isso, Ludmilla. - suspirou - São muitas coisas pra serem pensadas.
- Está me chamando de Ludmilla... A coisa realmente está séria. - falei tensa - Você sabe que o Marcos tem esse jeito estranho mesmo, Bru. Não deveria se importar com o que ele disse.
- Ele te contou o que me disse? - ela perguntou e eu neguei com a cabeça - Certo... Eu cheguei no hospital preocupada com você e ele veio me cobrar, dizendo que eu não estava lá quando você me ligou e ainda disse que a única forma de você ter a minha atenção é mentindo pra mim.
- Bru... - suspirei, pois não estava sabendo desses detalhes.
- Ludmilla, você sabe que acima de tudo eu gosto muito de conversar com você, seja sobre qualquer coisa. - começou e eu já sabia que viria uma longa conversa - Só que eu não concordo de ter algo te incomodando e você ir reclamar com outras pessoas e não dizer a mim, que sou a sua namorada.
- Mas eu não reclamei com ninguém. - argumentei, e isso realmente é a verdade. Eu se quer falei algo com o Marcos sobre essas coisas.
- E ele ia tirar isso de onde, Ludmilla? - perguntou e eu fiquei sem resposta, porque também queria saber - É sério que o único jeito de eu te dar atenção é quando você mente pra mim? - não me deixou responder - Hoje você mente que está doente, amanhã você mente onde e com quem estar e sabe Deus onde vai chegar essas mentiras.
- Amor, eu não minto pra você. - falei triste - Eu só quero você aqui o tempo todo. Fico triste e sozinha quando você vai embora.
- Você fica triste e sozinha. - se ajeitou na cama - Imagina eu... Fazia quanto tempo que eu não ia na minha casa, Ludmilla? Quanto tempo que eu não saio com os meus amigos? Eu nem sei como meus amigos estão, poxa. - disse me olhando - O meu ciclo, se tornou o seu ciclo. Eu paro a minha vida pra vir aqui todos os dias dormir com você. Daqui um tempo eu não vou nem conseguir trabalhar, e vai ser como se eu tivesse jogado dez anos da minha vida no lixo.
- Não fala assim. - pedi.
- Mas é a verdade, Ludmilla. Eu também não me sinto bem assim, só que eu não saio por aí reclamando com o meu irmão, com os meus pais ou com qualquer outra pessoa. Até porque eles não vão resolver isso. - fez uma pausa - Se a gente não resolver, acabou.
- Então pra você, estar comigo é um peso? - questionei temendo a sua resposta.
- Eu não disse isso. - falou séria - Eu estou te dizendo, que eu tô parando a minha vida pra você e ainda assim você precisa mentir pra mim? - perguntou - Eu tô aqui quando você quer e quando você tá lá quando eu quero? A última vez que você foi na minha casa, eu quase tive que te obrigar. Mas eu tenho que estar aqui a sua disposição todos os dias, se não você vira a cara pra mim.
- Eu não viro a cara pra você.
- Se eu não estivesse vindo, Ludmilla? Você já teria feito um escândalo. Me mandando mensagem brigando comigo e inventado uma mentira pra mim vir. - suspirou - Eu não quero mais isso.
- Eu só quero a sua atenção, Bru. - disse
- Mais, Ludmilla? - perguntou - Quando eu tô com você eu não faço mais nada, ignoro todo mundo e ainda assim não é suficiente pra você?
- Você trabalha muito, Brunna. - reclamei.
- Ludmilla, eu fiz dez anos de faculdade pra que? - perguntou - Se fosse pra ser atoa, eu nem tinha ido embora e a gente estaria casada hoje e com cinco filhos. Não seja imatura a esse ponto. - pediu - E você sabe muito bem que eu cancelo as consultas que for pra vir aqui. E quando você cancelou um show porque eu estava querendo ficar com você?
- Mas é diferente. - tentei falar, mas ela não deixou.
- Não é diferente, Ludmilla. É o meu serviço, assim como é o seu. - falou - É a minha vida, assim como é a sua vida. - me olhou - São os meus amigos, como são os seus amigos. Não venha me dizer que isso é diferente.
- Eu quero dizer que pra você é muito mais fácil cancelar uma consulta do que eu cancelar um show. - falei começando a ficar brava.
- Claro que é muito mais fácil, é muito mais fácil eu adiar uma consulta e matar uma pessoa, do que você remarcar o seu show e dar desconto para os seus fãs por conta do imprevisto. - sorriu irônica - Você só pensa em você.
- Pra mim, você está arrumando motivo pra brigar comigo. - falei a verdade e ela ficou mais a frente na cama - Eu não tenho culpa se você e o Marcos brigaram e você tirou as próprias conclusões. E eu também não tenho culpa de você ter feito essa faculdade de merda e ter que atender pacientes.
- Você pegou pesado agora. Eu não ofendi a sua profissão. - se levantou - Mas fico muito feliz de saber isso, tá bom? Se eu soubesse, nem tinha voltado pra esse inferno. Já era pra eu imaginar que seria assim.
- Vai embora então. - falei brava - Volta pra lá. Inventa outro curso pra fazer. Some de novo. - aumentei meu tom - Mas agora vai pra nunca mais voltar.
- Pode deixar. - me olhou fixamente.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, talvez ela esperasse que eu pedisse perdão e voltasse atrás. Mas isso não aconteceu. Ela se abaixou para pegar o capacete e pude ouvir um pequeno barulho de metal cair no chão. Não fiz questão de me levantar para ver. Só fechei os olhos e suspirei pesado, escutando a porta se fechar. Não demorou cinco minutos e escutei a moto dela dar partida na rua.
Demorei horas pra me levantar. Pensei em mandar mensagem pra ela, em lugar e dizer que estava errada e que a amava, mas não fiz. Quando consegui ficar de pé no chão do quarto, pude ver sua aliança jogada no lugar que antes estava seu capacete. Senti um nó se formar em minha garganta e algumas lágrimas escaparem. Eu não estava imaginando que essa discussão havia sido tão grave assim.
Peguei o objeto no chão e suspirei. Está tudo acabado. Enxuguei as lágrimas que sujaram o meu rosto e caminhei com dificuldade até o closet, deixando a aliança em uma bancada qualquer. A noite já começa a chegar e eu fui logo tomar meu banho, devo ter demorado muito, pois quando sai do quarto minha mãe estava me esperando com um sorriso no rosto.
- Como está seu dedo? - perguntou.
- Bem, mãe. Só está um pouco dolorido e eu não consigo por no chão. - contei.
- Daqui a pouco está na hora do seu remédio, já passei o horário pra Brunna, já sei que só ela vai conseguir te dar. - falou sem maldade, até porque nem sabia o que tinha acontecido.
- Ela não volta mais. - falei sentindo vontade de chorar.
- Não virá hoje? - questionou, mas não me deixou responder - Estava com planos de fazer noite da pizza hoje, com uma cerveja e o refri dela.
- A gente brigou, ela foi embora e não volta mais, mãe. - voltei a chorar - A gente terminou.
- Como assim, vocês terminaram? - perguntou surpresa, se levantando da cama de uma só vez - Vocês estavam tão bem semana passada.
- A gente estava bem a poucas horas atrás, mãe. Até o Marcos brigar com ela, ela tirar as próprias conclusões, eu falar coisas que não deveriam. - falei de uma só vez - Aí ela foi embora.
- Ludmilla. - minha mãe suspirou sem ter o que falar - Tenta conversar com ela. Vocês se amam, foi só uma discussão. Esfria a cabeça, depois você procura ela.
- É. - falei simples, não querendo mais falar naquele assunto, porque só quero chorar novamente mais tarde, quando for dormir.
Na tentativa de me animar, minha mãe me levou pra sala, onde o Yuri estava e logo veio me abraçar, pedindo desculpas pelo machucado. Expliquei que não tinha problema e que poderia acontecer com qualquer um, e iniciei uma partida de vídeo game com ele. Perdi todas, porque minha mente estava em um outro lugar. Em uma outra pessoa.
Pov' Brunna
Meu coração está acelerado e a vontade de chorar está grande. O que me salvou foi ter pilotado a moto, pois tive que prestar atenção nos sinais, para não sofrer nenhum acidente. Por fim, parei em um acostamento, na frente de um parque. Tirei meu capacete e senti as lágrimas caírem pelo meu rosto. Joguei o objeto de proteção ao outro lado da rua e abaixei minha cabeça até o tanque da moto, soluçando.
Eu já tive outras brigas com a Ludmilla, mas foram coisas que se resolveram na hora. Ver e escutar ela falar aquelas coisas, me doeu. Sei que não estou certa em todos os momentos e que não sou uma pessoa perfeita, mas eu esperava muito mais da Ludmilla do que essa sua última atitude. Mas apesar de tudo, se ela me ligasse nesse exato momento, eu voltaria até lá e diria que está tudo bem.
Não sei quanto tempo fiquei por ali. Mas a noite chegou, e com ela um vento forte. Eu estou sem roupa de frio e comecei a me sentir frágil a essa situação. Sai da moto e fui até o outro lado da rua, pegar o capacete que arranhou, devido ao arremesso, coloquei o mesmo na cabeça e dei partida para a minha casa. No elevador, eu tentei ao máximo esconder minha péssima cara e adentrei o apartamento.
- Batemos o record, você veio duas vezes no mesmo dia. - Brunno brincou e eu forcei um sorriso - Qual foi, terminou com a Ludmilla?
- Está tão visível? - perguntei guardando o meu capacete no suporte ao lado da porta. Aproveitei também para tirar meus chinelos.
- É sério? - perguntou desanimada e eu concordei com a cabeça - Mas o que aconteceu? Vocês estavam tão bem.
- Nem sei, preciso pensar ainda. - suspirei e me sentei no sofá - Ela nunca entende o que eu tento falar com ela. - comentei.
- Mas tipo, acabou real mesmo, ou vocês só brigaram? - levantei minha mão, mostrando a marca da aliança - Porra, Bru, que vacilo em.
- Eu tô mó mal. - comentei segurando o choro - Ela falou que eu posso ir embora e não voltar nunca mais.
- Verdade. - ele tentou brincar, mas como eu não sorri, ele mudou - Ela deveria estar com raiva, maninha, a Ludmilla te ama muito, também deve estar triste com essa situação. Não dou uma semana pra você sumir daqui e voltar pra lá de novo.
- Do jeito que as coisas estão, eu realmente perdi a vez pro cachorro. - suspirei tentando me manter firme.
- Bob, o nome dele. - corrigiu - E até que ele é engraçadinho. Ganhou até uma volta na praia hoje.
- Melhor que muita gente. - falei com a voz fraca e me levantei - Vou subir. E caso nossos pais perguntem, deixe que eu de a notícia.
- Relaxa... - falou com um sorriso no rosto - Fica bem, tá? Tô aqui se precisar.
- Obrigada! - agradeci já na escada.
- Hey, Brunna. - parei para olha-lo - Você pode me emprestar sua moto pra eu dar uma volta?
- Pode. - falei simples e ele comemorou.
Ele com certeza se aproveitou da minha fragilidade.
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