Pov' Brunna

Ludmilla fez questão de me esquecer por toda essa semana. Além daquele dia, com aquelas rápidas mensagens, não conversamos mais. Durante minha folga, estive vendo suas fotos e algumas notícias, e eles todas, ela aparentemente está bem. Seria eu o problema, ou ela apenas estava se dedicando ao seu trabalho e nossas conversas seria uma distração para ela? Esses questionamentos rondam a minha mente todos os dias e fazem questão de me perturbar.

Usei todos os métodos possível para esquecer a cantora nesses dias, marquei limpeza de pele, barzinho com minhas amigas, cinema com meu irmão, almoço de família com meus pais, e até mesmo usei o meu trabalho como uma forma de distrair. Mas tudo foi em vão, quando a noite chega, e eu me deito para dormir, tudo que eu consigo me lembrar é dela, do seu beijo, da sua mão delicada fazendo carinho em meu rosto e sua voz de neném pedindo para mim passar o dia como ela, e nesse exato momento esses pensamentos estão invadindo a minha mente.

São duas horas da manhã e eu já rolei por toda a minha cama, na tentativa de encontrar o sono, mas não consegui. Retirei meu celular da mesa de cabeceira, desconectei o carregador e abri a tela de bloqueio, vendo que não havia nenhuma mensagem, além do meu despertador avisando que amanhã preciso estar de pé as oito da manhã, para ir até a academia. Decido passar o tempo e abro o Instagram, a procura de algo que me adormeça. Mas tudo que encontrei foi algo que tirou ainda mais o meu sono.

Foi um prazer dividir o palco com você @rebecaalves ❤️ espero que possamos fazer isso mais vezes!

Ludmilla havia acabado de postar uma foto com a sua ex namorada, companheira de música, ou sei lá o que são. Elas estavam nos bastidores do palco, abraçadas e com um belo sorriso estampado no rosto, um sorriso tão aberto, que eu poderia facilmente contar quantos dentes elas possuem na boca, e eu faria isso, caso não tivesse aprendido nas aulas de anatomia. Pensei em curtir, ou reagir a esse stories, mas acabei passando para o próximo perfil, sendo agora o da minha mãe, que havia postado mais cedo, uma foto do por do sol.

Devo ter passado mais uns quinze perfis, mas o meu subconsciente ainda fazia questão de me lembrar da foto das cantoras e uma certa dúvida me atingiu: elas realmente haviam terminado? Eu não tinha a resposta na palma das minhas mãos, mas tinha no perfil delas, onde elas se quer haviam apagado as fotos juntas e mesmo que de forma discreta, em todas elas haviam uma pequena declaração.

Flashback on

- Como você está? - escutei minha mãe perguntar do outro lado da linha.

Hoje fazem exatamente dois meses que cheguei em Londres. Minha mente está uma verdadeira confusão. Tudo é estranho, as pessoas, a língua, o clima. A minha maior vontade é voltar para casa e ganhar um abraço apertado de quem realmente me ama.

Soltei um suspiro alto e respondi a senhora que ainda esperava a minha resposta.

- Não sei. - falei sincera - Eu quero voltar, mãe.

- Voltar, Bru?! - ela questionou em um tom calmo, porém surpreso.

- É, mãe! Eu não tô legal. - senti uma lágrima descer em meu rosto - E isso aqui é só uma faculdade.

- Meu amor, não é só uma faculdade, é o seu sonho. Lembra quantas noites você passou sem dormir, porque estava estudando para ganhar essa bolsa? - relembrou - Você não pode voltar assim, sem um bom motivo.

- Mas eu tenho um motivo. - argumentei.

- Bru, a Ludmilla não é um bom motivo. Se ela te deixou ir assim, não vai te fazer ficar quando você voltar. Ela está começando uma carreira, por todos os lados tem o nome e as músicas dela, daqui uns dias ela está com qualquer outra pessoa e vivendo a vida. - senti o peso das suas palavras - E você? Não vai ter ao menos a sua formação?

Flashback off

"Se ela te deixou ir assim, não vai te fazer ficar quando você voltar." E isso não passava de uma grande realidade.

Não fiz muito esforço para me sentar na cama, de uma forma que meus pés alcançasse o chão gelado do quarto. Calcei meus chinelos que não estavam muito longe dali e caminhei para fora do cômodo. Meus pais já deveriam estar sonhando que o dia está amanhecendo, mas já o Brunno, está no seu vício, vídeo-game, e posso saber disso, pela luz colorida que vem por debaixo da porta do seu quarto e os socos na manete do jogo. Pensei em chama-lo para dar uma volta, mas desisti, ao me lembra da hora.

Desci os degraus da escada com cuidado para não tropeçar e acabar me machucando, devido a falta de luminosidade do lugar. Abri a porta principal do apartamento e a fechei, também com cuidado. Adentrei o elevador que me levou até a cobertura do prédio, que estava vazia e com um vento frio percorrendo por ali. De um lado eu poderia ver a pedra da Gávea e de um outro lado, a praia de São Conrado. Mas de todas essas possibilidades, eu preferi me deitar sobre uma espreguiçadeira e observar o céu vazio. Sem nenhuma lua, sem nenhuma estrela.

Pov' Ludmilla

Eu posso dizer que amei o Nordeste. Por mais que eu não tenha ido em todas as cidades da região, todos os shows que aconteceram por aqui foram incríveis. Os ingressos se esgotaram assim que as vendas se liberaram e o público bateu recorde. Foi perfeito. Em muitas vezes depois do show, eu e minha equipe fazia uma reunião, na verdade um after, com muita bebida, comida, funk, pagode e diversão, para se divertir o mesmo tanto que os fãs se divertiram durante o show.

Acontece que em um desses after, tive a sorte - para não dizer o contrário - de encontrar com a Rebeca, em uma das baladas da cidade. Muita coincidência ela estar no mesmo lugar que eu, e ao questiona-la, ela disse: estou tentando pegar tudo o que você tem para me ensinar, Lud. Você se esqueceu que agora é a minha empresária?! E a resposta era sim. Eu havia me esquecido completamente que durante o nosso quase romance, eu havia proposto isso a ela e agora eu precisaria cumprir com a minha palavra.

Só que muito diferente de todas as outras vezes em que nos encontramos, Rebeca não citou o nosso "namoro". E isso me deixou um tanto quanto aliviada, e me fez dar um segundo voto de confiança para a amizade da cantora. No meu último show, acabei lhe convidando para dividir o palco comigo, durante a música "Eu não quero mais", e digamos que ficou muito melhor do que eu cantando sozinha, o que me deu um orgulho enorme dela e me fez ter a certeza que investi na pessoa certa.

Praticamente não aconteceu nada além disso em todos esses 13 dias por aqui. Já estou dentro do avião, voltando para o Rio de Janeiro e torcendo para que eu tenha pelo menos um dia de folga, para conseguir me encontrar com a Bru. Fazem dias que a gente não conversa, por causa da sequência de shows e as comemorações, então sempre que eu me via em um tempo para conversar com ela, eu estava completamente bêbada, então isso nunca acontecia.

- Que cara é essa, irmã?! - escutei a Luane me perguntar. Estamos dividindo a mesma fila do avião, e além dela, Marcos também está ao meu lado, porém dormindo.

- Acho que tô cansada. - falei a olhando - Nada demais.

- Cansada?! - fez uma careta - Você ficou quase duas semanas se divertindo horrores, Lud. Não tem como você está cansada. - sorriu acolhedora - Me conta, por que tá assim, toda tristonha...

- Eu tô com saudades da Bru. - resolvi ser sincera, e recebi um olhar de surpreso da morena que estava ao meu lado - O que foi?

- Nossa, eu pensei que você fosse dizer que estava com saudades da Rebeca. - suspirou - Até cheguei a pensar que vocês iriam voltar, depois desse reencontro.

- Obviamente não. - me apressei para responder - Mas o que te fez pensar isso?!

- Não sei explicar, quem olha de fora, sente a conexão de vocês. Fora que a Rê, não nega o bem que você faz a ela. - disse - E a foto que você postou. Se os fãs abrissem um pouco dos olhos, iram perceber.

- Foto? - questionei sem entender.

- Pensei que fosse você que tivesse postado, mas deve ser alguém da equipe, então. - fez uma careta - Mas me diz, irmã, porque toda essa saudade da Bru?

- Passamos esses dias tudo sem nos falar, e eu já tava acostumada com a presença dela, sabe? - falei triste - É como se de novo a gente tivesse se distanciado.

- Estão tão próximas assim?! - sorriu de lado.

- Ah, Lu... - suspirei e me ajeitei na poltrona desconfortável do avião - A gente tem conversado bastante desde que ela voltou. E bem, a gente ficou...

- Vocês o que? - perguntou quase gritando e eu fui obrigada a lhe dar um tapa na cabeça - Aí, Ludmilla.

- Deixa de ser maluca, porra. - pedi - Quase todo o avião escutou, se duvidar até quem está lá na terra.

- Exagerada. - resmungou - Mas como assim você e a Brunna ficaram? Quando? Onde? Como? E quem sabe disso?

- Isso tudo não vem ao caso. - revirei os olhos - Eu tô com saudades dela. - fez um bico com os lábios e ela gargalhou.

- Puta que pariu. - disse assim que controlou sua crise de riso - Você deve ser insuportável perto dela. E ela aguenta?

- Sim, ela me ama. - franzi as sobrancelhas - Ah, pelo menos é o que ela diz...

Luanne passou o resto do voô, brincando com a minha fragilidade. Chegou até a fazer um story, rindo e propondo um prêmio para quem acertasse o motivo da minha tristeza e entre muitas respostas, ninguém aceitou. O que me fez suspirar aliviada, por ninguém imaginar que eu e Brunna tivemos/temos algo. Fiz com que minha irmã mais nova prometesse que não iria contar o que eu lhe contei para ninguém e fui subornada a lhe dar o último lançamento completo da maquiagem da Boca Rosa.