Resenha de última hora
Pov' Ludmilla
Depois de ter deixado a Brunna no hospital, vim pra casa da Patty, onde estou até agora, conversando aleatoriedade enquanto ela faz a faxina da sua casa. Desde que sua mãe veio a falecer, ela mora sozinha com seu pássaro e confesso que a casa se tornou seu pequeno refúgio para dias tristes e difíceis.
Ela me ofereceu uma cerveja e eu aceitei de bom grado e estou tomando, sentada no sofá da sua sala. Já postei uma foto e agora nossos amigos em comum estão vindo até aqui, para participar dessa resenha de última hora e é claro que eu adorei essa idéia, porque além de juntar toda a galera, ainda é o meu dia de descanso.
- Nós somos muito loucas, mano. - Patrícia comentou terminado de secar os copos de vidro e guardando no armário da cozinha.
- Porque? - questionei confusa.
- Marcamos uma resenha, as onze horas da manhã de uma quinta-feira. Que doideira, Ludmilla. - gargalhou alto e eu acompanhei.
- A gente podia fazer um churrasco. - dei a sugestão e ela negou com a cabeça - Ué, mas porque não?
- Eu tô sem grana pra comprar as coisas e aqui em casa não vai caber metade da galera que tá vindo. - fez uma careta - Imagina só, muita gente, pouca comida e uma fumaça da churrasqueira.
- Se esse for o maior problema, você manda mensagem pro pessoal e marca de fazer lá em casa. Eu vou comprar as coisas. - dei um último gole na cerveja gelada - Você sabe que não vejo problema nessas coisas, Patty. Eu gosto de me divertir.
- Tem certeza, amiga? - concordei com a cabeça e ela sorriu animada - Vou mandar mensagem lá no grupo dos fervos. Chamar uma galera boa pra essa resenha.
- Enquanto você faz isso, eu vou comunicar a minha mãe, pra ela não ficar maluca quando ver um monte de gente chegando lá. - me levantei com o celular na mão e liguei pra Silvana, que a esse horário ainda estava em casa.
Avisei ela para deixar tudo arrumado para quando o pessoal chegar e encerrei a ligação já vendo a mensagem que a Patty tinha mandado no grupo dos nossos amigos e a maioria deles já tinham confirmado a presença e prometido levar qualquer coisa que fosse pra ajudar. Mesmo sendo que não era necessário.
Patty pediu para que eu esperasse ela, para ir junto comigo pra minha casa e assim eu fiz. Ficando por ali quase cinquenta minutos. Quando chegamos em minha casa, estava próximo do meio dia e a churrasqueira já estava ligada e tinha algumas pessoas na borda da piscina bebendo. Inclusive Luane e Marcos.
Subi direto para o meu quarto, onde deixei a minha carteira e o meu celular e voltei pra área externa da minha casa. Mateus logo me ofereceu uma cerveja e eu não neguei, dei um longo gole, sentindo aquele líquido bem gelado refrescar a minha garganta que estava secada, devido ao calor insuportável que está fazendo no Rio de Janeiro.
- Mano, cadê a Daiane? Mó tempo que eu não vejo ela. - Mateus questionou e eu olhei para ele. Porque também fazia muito tempo que eu não via minha melhor amiga.
- Sabe que eu não sei. - segurei a risada - A última vez que falei com ela, ela estava em uma viajem de negócio com a namorada dela.
- Ela é mó doidinha. - gargalhou divertido - E a sua namorada, cadê? Ainda não vi ela por aqui.
- Trabalhando. - dei de ombros e finalizei a cerveja, pegando agora uma pequena dose de vodka - Tô com mó fome. - comentei.
- Sabe quem sua mãe chamou pra fazer o churrasco? - questionou com um sorriso de lado e eu neguei com a cabeça. O mais novo apontou pra churrasqueira e eu vi Renato, o meu segurança - Seu padrasto.
- Vai tomar no cu, viado. - lhe mostrei o dedo do meio - Eles devem ser no máximo amigos, não viaja. Se tivesse rolando algo, minha mãe iria me contar.
- Ou talvez não. - lhe acertei um tapa na cabeça.
- Que agressão é essa? - Patty se aproximou usando apenas um biquíni, que eu julguei ter pegado da Luane, já que ela veio sem nada - Quer ser expulsa?
- É isso aí, remove ela do grupo. - Mateus continuou botando pilha e eu lhe aceitei mais um tapa, dessa vez mais forte - Aí porra.
- Duas crianças. - Patrícia gargalhou mas rapidamente ficou séria, me olhando - Lud, eu sei que você não gosta de conhecer gente nova, mas...
- Mas o que? - questionei apreensiva.
- Eu tinha combinado de passar a tarde com uma amiga e acabei me esquecendo disso, pra não vacilar muito, eu acabei convidando ela pra vim participar do churrasco com a gente. - se explicou e me olhou com a mesma cara de um cachorro olhando para um açougue.
- Tá de boa, Patty. Só evita problema, por favor. - pedi e ela concordou com a cabeça, saindo em direção a piscina, toda feliz.
Minha barriga já estava roncando de tanta vontade de comer, então me aproximei da churrasqueira e puxei assunto com o homem que estava entretido em não deixar o pão de alho queimar. Parecia até o seu primeiro churrasco, de tão apavorado que ele estava. Ou era apenas nervosismo de estar na casa da sua namorada. Namorada?
- E aí, Renatão! - o chamei e ele se virou depois de um tempo, com um meio sorriso no rosto e uma gota de suor na testa - Já tem alguma coisa pronta aí?
- Pô, Lud. - ele olhou o espeto de boi - Eu acho que esse aqui já tá no ponto. - colocou na tábua - Vê se tá no seu gosto. Se não tiver, manda de volta que eu coloco assar mais.
- Acho que assim tá ótimo. - fateei a carne, vendo toda a suculência dela. Coloquei um pedaço na boca e soltei um suspiro alto - Isso tá perfeito, Renatão.
- Daqui a pouco vai sair mais. - soltou uma risada orgulhosa - Sua mãe tava terminando de fazer uma macarronada. Já deve tá pronto, se tu tiver com muita fome, vai atacando lá.
- Valeu. - peguei o restante do espeto e fui em direção a cozinha da minha casa. Adentrei o lugar e vi minha mãe e minha avó, terminando de fazer o almoço - Era disso que eu estava precisando. - assustei elas.
- Você precisa é de uma coça, menina. - minha avó comentou entre risadas - Onde já se viu, fazer uma festa em cima da hora.
- Mas não é uma festa, vó. - falei óbvia - É uma resenha.
- Toma rumo! - minha mãe revirou os olhos e me entregou um prato com menos de uma colher de farofa - Prova aí, vê se tá bom de tempero.
- Mas só isso? - questionei.
- É pra provar, não pra comer. - falou brava e eu a obedeci, sentindo o tempero maravilhoso daquela farofa, sorri enquanto mastigava e ela me olhou carinhosa - Pelo jeito tá ótimo, né?
- Não erra nunca. - me levantei indo em direção a panela, pra pegar mais - O seu namoradinho falou que tinha macarronada também. Onde tá?
- É macarronesse. - corrigiu - E está na geladeira. - explicou - E antes de você brigar comigo, ele não é meu namorado. É apenas um amigo. Convidei ele pro que não tinha ninguém pra ficar na churrasqueira.
- Aham, tá bom. - falei irônica e me servi com o prato principal da minha mãe - Vó, a senhora acredita nisso?
- Eu acredito em mais nada. - falou brincalhona - Mas ela tá certa, tem que aproveitar a vida mesmo. Também estou doida pra encontrar um novinho.
Fiquei chocada com a revelação da minha avó e entrei em um debate com ela, dizendo que não precisava de homem na vida dela, enquanto ela insista em dizer que precisava matar as vontades. Voltei para a área externa quase me engasgando de tanto rir da mais velha. Me sentei próximo a piscina com meu prato de comida.
Em uma hora, eu vi Patrícia pedir licença e ir até o portão, o abrindo, para um mulher morena, um pouco mais alta que ela, com os cabelos cacheados e um sorriso aberto, entrasse em minha casa. Imaginei ser a sua amiga e não dei confiança, voltando a comer, para matar a minha fome. Mas ao se aproximar, Patty fez questão de apresentar a amiga para todos que estavam ali.
- Gente, essa aqui é a Dani! - sorriu empurrando a amiga para frente - Ela é minha amiga e vai passar a tarde aqui com a gente.
- E aí, Dani. - todo mundo cumprimentou, enquanto eu fiz apenas um sinal de "paz e amor", porque minha boca estava cheia.
- Eu não queria atrapalhar, foi a Patty que me convidou. - falou sem jeito, porque provavelmente ficou incomodada de eu não ter dito nada.
- Relaxa, sinta-se a vontade. - falei simples e sorri, para que ela deixasse o constrangimento de lado.
- Quem vai querer cerveja? Tô indo lá buscar pra nós. - Marcos se ofereceu e todo mundo levantou a mão, inclusive e eu e a Dani.
- Não é porque é minha mãe não, mas essa macarronesse tá divina. - Luanne que estava dentro da piscina, mas apoiada na borda, comendo a comida, falou.
- Tia Sil arrasa em tudo, mana. - Patty se sentou ao meu lado e puxou a morena pra fazer o mesmo, deixado ela muito próxima de mim - Se eu fosse a Ludmilla inventava uma desculpa pra almoçar me casa todo dia.
- Quem dera eu pudesse. - dei um gole na minha terceira cerveja - Mas vou pensar nessa idéia.
- Tua vida é muito corrida, né? - Dani perguntou e eu concordei com a cabeça - Mas até que deve ser legal, não acha?
- Eu acho legal sim. - me ajeitei na espreguiçadeira - É o que eu amo fazer e não trocaria por nada. Mas tem suas desvantagens também, faz parte.
- Sua mãe deve te mimar muito quando você consegue ficar em casa. - comentou e eu sorri concordando com a cabeça, porque realmente é verdade.
- Não só ela, a família toda. Você tem que ver meu irmãozinho. Ele faz um monte de coisa quando eu tô aqui em casa. - comentei.
Engatamos um assunto sobre as nossas famílias e vez ou outra eu gargalhava alto com as revelações que ela estava fazendo sobre sua irmã, e sua prima. Daniela comentou que mora com a avó desde que nasceu, porque sua mãe morreu no parto e o pai não assumiu ela. Me senti comovida com a história, mas não deixei com que isso estragasse o clima divertido que estava ali. Não só entre nós, mas todos que estavam ao nosso redor.
Pov' Brunna
Depois de passar horas decidindo em como eu contaria tudo isso que aconteceu para a Ludmilla, decidi a ligar. Mas antes tomei um banho gelado e passei um corretivo para tentar disfarçar a minha cara de choro. Me sentei na cama e liguei para a cantora, que no primeiro momento não me atendeu. Esperei alguns minutos e decidi ligar de novo, recebendo o mesmo da primeira vez.
Tentei me lembrar se ela tinha marcado algum compromisso para hoje, mas não me lembro de nada, até porque ela não comentou nada comigo. Liguei pela terceira vez e ela não atendeu. Comecei a ficar brava com isso, e liguei pela quarta e última vez. Esperei me acalmar e entrei na nossa conversa, vendo que ela esteve online pela última vez, um pouco depois de ter me deixado no hospital. Abri o seu perfil no Instagram e ela tinha postado um storie.
Era uma foto, em que ela estava em um churrasco com os amigos. Um churrasco em sua casa. E enquanto isso eu tentava falar com ela. Tentei esquecer isso e procurar algo para fazer, mas toda hora eu me lembrava da frase: "você foi afastada dos nossos serviços" e só queria um abraço da Ludmilla, e sua voz me dizendo que tudo vai ficar bem e coisas melhores estão por vim. Por mais que eu não tenha sido convidada, decidi ir até a sua casa, mesmo que para apenas ganhar um beijo e um abraço seu.
Hoje está um calor insuportável no Rio, então eu apenas vesti um short jeans curto e um sutiã de renda. Calcei qualquer chinelo que vi pela frente e pedi um Uber, já que a minha moto havia ficado na casa da cantora. Cheguei lá em quarenta minutos e desde o quarteirão antes, eu conseguia escutar perfeitamente a música que estava sendo tocada na casa dela. Paguei o motorista e sai do carro, indo em direção ao portão, que estava entre aberto.
Adentrei a casa com um misto de sensações, eu estava triste por ter sido demitida, estava chateada por a Ludmilla não ter me atendido e nem me comunicando sobre esse evento de última hora e ainda mais brava, ao ver ela e uma mulher, sorrindo, feito duas abastadas. A mulher tinha sua perna sobre a perna da Ludmilla, enquanto a mesma gesticulava e falava algo e a outra estava super atenta. Acho que minha raiva ficou tão exposta que eu pude escutar perfeitamente o Mateus falar:
- Eita porra, fodeu pra você Ludmilla. - no mesmo momento ela se virou em direção a onde o menino olhava e me olhou confusa. Minha vontade era de voar em seu pescoço, mas eu apenas andei em sua direção. Ela percebeu o quanto eu estava brava e não deixou com que eu chegasse até eles. Logo se levantou e veio em minha direção, me levando para a sala da sua casa. Entrei pela porta de entrada, coisa que só aconteceu uma vez.
- Que palhaçada é isso, Ludmilla? - perguntei em voz alta e ela me olhou assustada - Você é uma doida, ou algo do tipo?
- Amor, você não tava trabalhando? - me perguntou sem entender e eu fiquei ainda mais brava.
- Ah claro, e você se aproveitou disso pra chamar essa mulher pra cá né?! - questionei e ela negou com a cabeça - Não minta.
- Brunna, calma aí. Eu não chamei ninguém pra cá. - se concertou - Tudo bem, eu chamei os meus amigos só. Porque você tá assim?
- Porque eu te liguei várias vezes e você não me atendeu. Me fez vir aqui e ver você de papinho com essa piranha. - falei estressada.
- Bru, eu não vi você me ligar porque meu celular tá lá no quarto. - explicou - E eu não tava de papinho com aquela piranha. - imitou meu jeito de falar - Eu só tava conversando. Deixa de paranóia.
- Não me faz te mostrar quem é paranóica. - falei entre o dente e ela suspirou.
- Bru, eu não tava conversando nada demais com a Dani. - argumentou e eu fechei os olhos ao escutar ela chamar a mulher pelo apelido - Mas você não estava trabalhando?
- E daí que eu tava, Ludmilla? Porque você está tão incomodada assim? Tem algo a mais que eu não possa ver aqui? - me apoiei no sofá.
- Mô, não tem nada demais aqui. Eu só tô fazendo um churrasco com meus amigos. Até a minha mãe e minha vó tão aqui. - apontou pra cozinha - Você que está toda brava assim, atoa.
- Atoa, Ludmilla? - perguntei - Você tava de papinho com ela e não me atendeu. - bati em sua cintura, já que ela estava muito próxima de mim.
- Porra, Bru. Para de brigar comigo. Por um acaso você viu eu beijando ela? - perguntou e eu neguei com a cabeça - É, pois é. E não sei se você sabe, que essa aliança aqui no meu dedo deixa muito claro que eu tenho compromisso com alguém. - levantou a mão - Se eu quisesse outra pessoa, não estaria com você. Para com isso.
- Você me estressa, sabia? - senti minha voz falhar, pela vontade de chorar - Não me atendeu. Me fez vir aqui e ver você com aquela feia.
- Amor do céu! Eu tava conversando com todo mundo, você só chegou na parte que eu tava falando com ela. - me abraço - Precisa disso não, vida.
- Precisa, eu tô brava com você. Nem me contou que iria ter esse churrasco aqui. Eu fiquei sabendo pelo seu Instagram.
- Você estava trabalhando, não queria te atrapalhar, vida. Foi só por isso. E eu convidei todos os meus amigos. Não tinha porque você ficar tão brava assim. - me apertou no abraço - Mas me diz, porque me ligou?
- Eu fui demitida. - falei entre soluços.
- Como assim demitida? - questionou sem entender - Do nada? Por qual motivo, amor? O que aconteceu?
- Falaram que o nosso namoro poderia ser prejudicial pra imagem do hospital. - falei em um tom baixo, me afogando nas lágrimas e no calor do seu corpo.
- Que filhos da puta. Quem disse isso pra você, amor? - me soltou, mas se abaixou pra ficar na minha altura - Isso não é motivo de demissão, Bru. Eles foram covardes e muito babacas.
- Eu sei amor, e estou triste. - segurei mais uma vez o choro - Eu te liguei pra contar isso.
- Ah vida, desculpa não ter te atendido, eu realmente não vi sua ligação. - suspirou - E você não disse nada a eles?
- O que eu ia dizer, Ludmilla? Não tinha nada a ser dito. Minhas coisas já estavam separadas. Não tive como argumentar. - falei.
- Que bosta. - falou derrotada - E agora?
- E agora que eu não sei. - neguei com a cabeça - Eu só precisava de você, pra me abraçar.
- Ô vida, eu tô aqui. - voltou a me abraçar - Desculpa estar te fazendo passar por isso, tá bom? Prometo que você vai voltar a trabalhar, nem que eu tenha que foder com a vida desse babaca.
- Eu te amo, muito. - descansei minha cabeça no seu ombro - Mesmo você estando de papinho com aquela piranha.
- Eu não estava de papinho com aquela piranha, Brunna.
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