O tempo não muda nada
Pov' Brunna
180 por hora, foi a velocidade máxima que fiz para chegar em casa mais rápido possível.
A forte chuva ainda caía, deixando o asfalto das ruas do Rio de Janeiro, completamente molhado. Além das grandes gotas de água que caíam do céu, minhas lágrimas também molhavam o meu rosto. Cheguei em casa com a roupa toda molhada - mais do que já estava - E torci para que ninguém estivesse a minha espera e abri a porta da sala, vendo que meu pedido foi realizado. Todas as luzes estavam apagadas, denunciando que não havia ninguém em casa, provavelmente eles foram jantar fora, como sempre tiveram costume.
Para não molhar o chão, retirei minha roupa ainda por ali, ficando apenas com a lingerie. Deixei todas as roupas na lavanderia e só então subi para o meu quarto, para tomar um banho quente e tentar me livrar de um futuro resfriado. Coloquei minha mochila no chão do quarto e adentrei o banheiro. Liguei o chuveiro e senti as gotículas de água quente caírem em meu corpo, fazendo uma simples massagem. Meu rosto ainda estavam molhado com as lágrimas e nesse momento parece que a fixa realmente caiu. Ela tem uma outra pessoa. Como eu gostaria que tudo isso fosse um pesadelo. Que assim que eu cheguei no aeroporto do Rio de Janeiro, ela fosse me buscar, dizendo que estava morrendo de saudades. Ou que eu fosse um pouco menos orgulhosa e me abrisse para ela.
Mas agora tudo passou. Não tem volta.
Suspirei pesadamente e me encostei no box gelado. Porém embasado pela temperatura da água que caía do chuveiro. Ela realmente iria dizer que ainda me ama? E se eu tivesse a respondido? Ela a deixaria para voltar a me ter? No fundo, talvez eu realmente sou tão egoísta como ela me disse naquele dia. A opção de ir embora foi minha, e a opção de ter outra pessoa é dela. Obviamente ela não iria me esperar para o resto da vida. Assim como eu queria que ela fizesse.
Meu queixo começou a tremer, mostrando que era a hora de desligar a água. Então me apressei para finalizar o banho e me enrolei na toalha, para me secar, antes de vestir um moletom rosa. Só então voltei para o quarto e abri minha mochila, a procura do meu celular, vendo que haviam várias mensagens, inclusive uma de minha mãe, me convidando para ir jantar com eles. Mas ficará para uma outra oportunidade. Fechei as persianas do quarto e me deitei sobre a cama de casal, verificando as mensagens e como se tivesse um alarme para casa vez que eu ficasse online, Ludmilla me enviou uma mensagem. E como uma verdadeira idiota, eu a respondi.
📱
Ludmilla: conseguiu chegar bem?
Ludmilla: bem depois que vc saiu daqui começou a chover ainda mais forte
Brunna: consegui, Ludmilla
Brunna: já estou em casa
Ludmilla: que bom, fico aliviada
Ludmilla: vc está brava comigo?
Brunna: tô não. Pq eu estaria?
Ludmilla: não sei
Ludmilla: eu não quero te chatear, Bru. Eu tô confusa e triste, não sei como resolver toda essa confusão que minha vida virou.
Ludmilla: você sabe o quão especial é pra mim.
Brunna: Ludmilla, não tem motivos pra vc me chatear.
Brunna: eu não consigo resolver essa confusão que você está sentindo
Brunna: eu seria egoísta de dissesse que era pra você me esperar pro resto da sua vida. Eu nem sabia se iria voltar.
Ludmilla: mas aí você voltou, Brunna
Ludmilla: e eu percebi que não consigo ter outra pessoa do meu lado
Brunna: mas agora vc tem ela.
Brunna: vc merece ser feliz, Ludmilla. A minha época de te fazer feliz, acabou e agora ela está aí pra suprir sua necessidade e te fazer sentir amada.
Brunna: vc tá se sentindo confusa, pq tem contato cmg, se eu sumir da sua vida de novo, você vai ver que o seu lugar é do lado dela.
Ludmilla: pq vc tem esse péssimo defeito de sempre achar que sumir vai resolver as coisas?
Ludmilla: então vamos apostar, a gente fica um mês sem se falar
Ludmilla: vc vai ver que o tempo e a distância não muda nada
Brunna: vc está com ela, Ludmilla.
Ludmilla: E daí, Brunna?
Ludmilla: eu estou com ela desde semana passada e vc tá no Brasil faz dois meses
Ludmilla: o isso muda pra você?
Ludmilla: se vc me quisesse, já estaria cmg
Brunna: querer não é poder, Ludmilla
Ludmilla: vc não tem mais 18 anos
Ludmilla: sua mãe não manda mais em vc, pra deixar vc namorar ou não
Brunna: pq vc está jogando a culpa de não estarmos juntas em mim?
Ludmilla: pq vc sempre se aproxima e no fim vem com essa papo de ir embora
Ludmilla: vc me machuca
Brunna: eu te machucou?
Brunna: Ludmilla, eu fui embora magoada com vc
Brunna: eu estava bloqueada nas suas redes sociais até um mês atrás
Brunna: se você realmente me quisesse perto de você, teria mantido contato
Ludmilla: e vc vai me dizer que por isso, vc não me ama?
Brunna: no que vai mudar, vc sabe se eu te amo ou não?
Ludmilla: oq vc acha que vai mudar, Brunna?
Ludmilla: eu estou com uma pessoa que eu não amo
Brunna: e vc se sente orgulhosa por isso?
Brunna: Ludmilla, essa conversa está indo longe demais.
Ludmilla: é sério, Brunna
Ludmilla: me diz se vc ainda me ama
Ludmilla: me ajuda a resolver esses problemas
Ludmilla: eu quero ser feliz do jeito certo
Brunna: eu não te amo, Ludmilla
Ludmilla: fala a verdade
Brunna: eu já disse
Ludmilla: eu quero ver vc dizer na minha cara
📱
Deixei o celular cair sobre a cama e me afoguei em um choro sofrido. É como se uma parte da minha vida quisesse anular a outra e no fim, as duas estivesse magoadas. Não a respondi mais. Em um certo momento me sentei sobre a cama e sequei as inúmeras lágrimas que molhavam o meu rosto, mas foi em vão, já que a cada segundo, desciam mais. Escutei a campainha tocar e julguei ser o Mário Jorge e a Juliana, já que fazem dias que eu não os vejo. Desci as escadas limpando o meu rosto com a manga do meu moletom e abri a porta, me deparando com a Ludmilla, com os olhos totalmente vermelho e um semblante cansado.
- Ludmilla? - questionei confusa.
- Olha Brunna, eu não tô nem aí que você falou que não era mais pra vir aqui. Eu nem me importo tanto com isso. - ela disparou e eu arregalei os olhos - E eu não menti quando disse que queria você dizer que não me ama, olhando na minha cara.
- Para de ser doida. - a puxei pela gola da camisa, para que ela adentrasse o apartamento e fechei a porta - Você parece que tem algum problema de cabeça, Ludmilla. Não escuta as coisas que eu falo.
- E dai, Brunna? Isso muda no que? - me perguntou - Eu estou aqui, na sua frente, pra escutar da sua boca, que você não sente nada por mim.
- É sério que você veio aqui pra isso? Quanta infantilidade. - resmunguei - Vai embora pra casa, Ludmilla. Me esquece, segue sua vida. Já acabou tudo, e fazem dez anos. Esquece o seu passado. O nosso passado.
- Como se esquece uma coisa que não se superou? - ela aumentou o tom de voz - Eu achei que estava tudo bem, Brunna. Até você voltar e eu ver que esse seu puto sorriso ainda me deixa idiota como sempre deixou. E aí eu tentei me aproximar de você, mas a Rebeca apareceu e eu tentei ficar bem com ela, mas hoje ver você e ela no mesmo ambiente me deixou ainda pior que antes. Eu tô mal, Brunna. - algumas lágrimas desceram em seu rosto.
- Não grita comigo. - suspirei - Eu não tenho culpa de nada disso. Eu não queria que você estivesse nessa situação. A minha vontade é voltar no tempo e cancelar a minha faculdade e ter ficado aqui com você. Mas já passou, eu não quero carregar a culpa de ter realizado o meu sonho.
- E eu não quero você se sinta culpada, Brunna. Porra. - ela tentou diminuir a voz, mas foi em vão - Olha o caos que eu tô. Era pra mim tá feliz, curtindo uma balada com os meus amigos, mas eu tô aqui chorando na sua casa, querendo saber se você ainda me ama.
- Eu vou te perguntar de novo. O que muda você saber se eu te amo ou não? - perguntei já aflita - Você está namorando com aquela mulher.
- Namoro a gente termina, Brunna. Problemas a gente resolve. Mas uma vida, a gente nunca vai viver de novo. - ela mordeu os lábios, evitando chorar.
- Vai embora daqui, Ludmilla. Vive a sua vida. Me deixa em paz, vai ser feliz, viaja com ela, leva ela pra ver o por do sol na praia, compra uma aliança com a inicial de vocês. Mas me deixa em paz e vive a porra da sua vida. - falei com dificuldade - Olha o meu estado, por culpa disso tudo. Se eu tivesse em Londres, estaria melhor com a angústia de ter te deixado, do que com essa angústia de te ver assim.
- Então volta pra lá, Brunna. - gesticulou com as mãos - Você parece que gosta de me ter assim nas suas mãos. É um prazer isso? Você precisa de um tratamento pra isso.
- Vai tomar no cu. - a xinguei - Você que precisa parar de achar que as pessoas teem que estar sempre dispostas a te confessar o que sente. Se eu te amo ou não, é um problema meu.
- Um problema nosso. Você acha que eu vou continuar com ela, sabendo que a pessoa que eu amo, me ama? - questionou - Mas se você quer ser infeliz o problema é seu.
- Eu tô infeliz desde que eu fui embora. Mas você não precisa saber disso. - segurei o choro - Eu não corri atrás de você estando com outra pessoa, porque eu tenho caráter.
- Está me chamando de mau caráter? - me olhou brava.
- Olha o rumo dessa conversa. Se você tivesse aceitado um não como resposta, isso não teria chegado a esse nível. - cocei meus cabelos me sentei no sofá, afogando meu rosto nas minhas mãos. Tentei segurar o choro, mas ele veio com força o suficiente para que eu fosse obrigada a solta-lo. Parece que toda a dor que eu senti todos esses anos, resolveu aparecer hoje, em um péssimo dia. Chorei por aproximadamente vinte minutos, pensei que Ludmilla tivesse ido embora, mas quando levantei meu rosto, ela estava bem a minha frente, chorando silenciosamente enquanto me olhava - Ludmilla, por favor. Olha só tudo que aconteceu. Não vamos prorrogar isso.
- Eu estou esperando a sua resposta. - falou depois de um tempo. E sei que pela sua teimosia, ela não iria embora, enquanto eu não dissesse a verdade. O que ela queria escutar.
- Eu não te acho mau caráter. - respondi a sua última pergunta - Mas ela não merece viver sua confusão. - finalizei e ela não se deu por vencida.
- Você ainda me ama?
- Ludmilla. - suspirei - Por favor, não me deixa ainda pior. - encostei no sofá.
- Brunna. - ela se abaixou - Olha pra mim. Eu tô destruída. Eu só quero a verdade. A gente já deixou de viver muita coisa. Vamos chegar a um consenso, só vamos fazer o que for melhor pra nós duas. Não quero que você fique comigo. Só quero saber se você ainda me ama, o que vai vim depois disse serão as consequências. - ela fez uma pausa - Você ainda me ama?
- Vai embora. - pedi em um fio de voz - Vai embora, Ludmilla. Por favor. O nosso amor foi lindo demais pra isso.
- Você quer mesmo que eu vá? - ela sorriu irônica - Você me conhece e sabe que se eu for, não volto. - permaneci em silêncio - Tudo bem. Eu tô indo. - ela se levantou e caminhou até a porta.
- Eu te amo. - confessei em um tom baixo, porém auditivo e isso fez com que ela parece, na porta - Muito, Ludmilla. Mas isso não muda nada.
- Não muda, porque você não quer. - ela voltou em minha direção - Você tá querendo que eu vá embora. Mesmo depois de que quase implorar pra ficar.
- Eu não sirvo mais para te fazer feliz. E eu quero te ver bem, independente de qualquer coisa. - a olhei depois de um longo tempo - Ir, vai ser o melhor pra você.
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