Manhã de domingo
Pov' Ludmilla
Acordei sentindo uma leve dor de cabeça. Meus olhos demoraram para se acostumarem com a claridade do quarto, por mais que as cortinas estejam fechadas, a luz do sol ainda consegue ser mais forte que elas. Me ajeitei na cama e me virei de lado, vendo a Brunna ainda dormir tranquila. Sorri com a cena. Seus braços estão esticados para cima da sua cabeça, enquanto as suas pernas estão uma sobre a outra. Ela sempre dormiu assim. Embora a gente sempre tenha tentado passar uma noite inteira em uma conchinha, ao realmente pegar no solo, ela se desvencilhava e amanhecia nessa posição.
Fiquei a observando por um longo tempo, até criar coragem para levantar e caminhar até o banheiro, na intenção de fazer minhas higienes matinais. Aproveitei a oportunidade e já tomei um longo banho de água quente. Me enrolei na toalha e fui até o closet a procura de uma roupa para vestir. Escolhi um short jeans preto e uma camisa branca. Me arrumei de forma simples e prendi meus cabelos em um coque bagunçado. Pensei em acordar a médica, com a dúvida se ela tinha algo a fazer em seu trabalho hoje, mas como ela não tinha comentado nada na noite anterior, apenas a deixei dormir e desci em direção a cozinha da minha casa.
Nesse meio caminho, verifiquei se Mário Jorge e Ygor estavam bem, mas não os encontrei no quarto de hóspedes, então imaginei que eles já estivessem tomando o café da manhã e desci direto. E como foi suposto, os dois estavam sentados em volta da mesa, comendo algo que a minha mãe havia preparado. Por falar nela, também está sentada a mesa, além dela Luane, Marcos e Nete também estão pela cozinha. Mas cada um fazendo o que lhe diz respeito. Ao me ver, todos sorriam em minha direção e eu retribui o ato, logo após me sentar ao lado do Ygor.
- Bom dia, pessoal. - cumprimentei eles enquanto coçava os meus olhos, tentando me livrar das vistas embaçadas.
- Bom dia, filha. - minha mãe foi a única que respondeu. Até porque todos ali ainda estavam tentando se livrar do efeito alcoólico - A dona Rita reclamou do som alto, assim que eu abri as janelas hoje.
- Deve ser inveja, porque ela queria participar da minha festa. - ironizei, mas minha mãe me olhou brava - Depois eu peço desculpas a ela.
- Peça mesmo. Antes que ela faça um vídeo reclamando sobre você. - falou - Depois você já sabe a confusão que é.
- Por falar em confusão. - Marcos que estava esperando seu pão esquentar na torradeira, se virou em nossa direção - A Rebeca e a Brunna se desentenderam na festa, ou isso foi um delírio da minha cabeça? - perguntou.
- Se isso realmente aconteceu, eu perdi. - Mário disse suas primeiras palavras do dia e deu um longo gole no suco de goiaba.
- Não me lembro direito. - falei sincera - Mas acho que foi algo com a blusa da Brunna. Não me recordo muito bem. - suspirei.
- Só você para fazer a Brunna se meter em uma confusão. - Mário disse divertido e eu acabei sorrindo - Por falar nisso, ela já foi embora?
- Não, ainda estava dormindo quando eu saí do quarto. - respondi - Daqui a pouco, quando eu subir, se ela não tiver acordado eu a chamo.
- Ela dormiu por aqui? - minha mãe questionou como quem não queria nada. Mas eu pude ver perfeitamente, um sorriso de lado nascer em seus lábios.
- Dormiu, mãe. Estava muito tarde para ela ir embora e esses dois aqui estavam muito bêbados. - expliquei enquanto olhava para o casal que fingia que nada aconteceu.
- Não me lembro de nada que aconteceu ontem, gente. - Ygor resmungou com a voz rouca - Ainda bem que eu fiquei por aqui, se não, eu não iria nem saber dizer onde é a minha casa.
- Eu também bebi muito. - comentei - Mas fazia intervalo entre as doses, por isso não dei um belo pt.
- Outra que bebeu muito foi essa aqui. - Marcos apontou para a Luane que descascava uma laranja - Hoje ela acordou sem saber qual era o nome dela. Demorei horas pra trazer ela a realidade. - soltou uma gargalhada.
- Vocês estão procurando um problema. Depois que ficarem com uma doença no fígado, vão se arrepender. - minha mãe começou com o seu típico sermão de pós fervo - Até a Brunna está nesse estado?
- Ela não bebe, tia. - seu melhor amigo respondeu antes de mim, e eu apenas concordei com a cabeça, ao me lembrar que todas as vezes que eu via ela tomar algo na festa, era sem álcool.
- Ainda bem que alguém aqui tem um pouco de juízo, não é mesmo?! - sorriu orgulhosa - Mas a Brunninha sempre foi assim. É difícil encontrar alguém como ela.
- Mas como é puxa saco, em! - revirei os olhos e me assustei ao ouvir a voz calma da médica. Até porque, estava pensando que ela iria sair fugindo, como fez ontem a tarde.
- Bom dia. - disse simples, com as bochechas avermelhadas e um pequeno sorriso nos lábios. Ela ainda está usando a minha camisa, porém agora com o seu short jeans para cobrir metade das suas coxas - Desculpa interromper o assunto de vocês.
- O assunto era justamente você. - Marcos falou a olhando - Mas, bom dia, Bru.
- Estavam falando mal de mim? Bom saber. - ela disse brincando, ainda parada na entrada da cozinha - Nunca mais eu volto aqui.
- Tia Sil estava dizendo como é difícil encontrar alguém como você, amiga. - Mário adiantou o assunto para ela, que agora caminhou até nós.
- Ah, realmente. Sorte de quem me tem. - disse e escutamos uma sequência de "hummm" - Deixem de ser bobos. - ela resmungou - Bom dia, tia.
- Bom dia, minha querida. - minha mãe sorriu abertamente e puxou uma cadeira para a doutora sentar - Como você dormiu? Espero que a minha filha tenha te recepcionado muito bem em nossa casa.
- Eu dormi muito bem. Fazia muito tempo que eu não dormi bem assim. Todo o cansaço foi embora em uma só noite. - ela gargalhou com a própria frase - E a Lud me recepcionou bem, tia Sil.
- Te emprestou até uma blusa. - Ygor alfinetou e eu revirei os olhos.
- Não emprestei, eu dei para ela. - me gabei - Mas é porque houve um incidente com a dela. Nada demais.
- Sim. - ela concordou não querendo entrar no assunto - Eu posso comer? - perguntou de forma educada, enquanto olhava apaixonada para o mamão.
- Fica a vontade, Bru. - gargalhei com o seu jeito engraçado de ser - Pode se sentir em casa.
- Obrigada, Lud. - agradeceu.
Pov' Brunna
Durante as primeiras conversas, eu não sabia onde enfiar a minha cara, ainda mais com as brincadeiras dos meninos. Mas com o passar do tempo, fui me sentindo confortável e fazia algumas brincadeiras com quem estava por perto. Acabei conhecendo a Nete, segundo a Lud, ela é sua segunda mãe, e a senhora me recepcionou muito bem e me contou muitas coisas sobre a Ludmilla, coisas que eu sequer poderia imaginar que ela fez durante esses dez anos.
Às onze horas da manhã, Silvana se despediu e se encaminhou até o seu salão de beleza na Barra da Tijuca. Logo após isso, Luane também se despediu, dizendo que precisava buscar o Yuri na casa do pai dele. Ficou por ali apenas Ygor, Mário, Marcos, Lud e eu. As nossas conversas pareciam ter mudado da água para o vinho, o que antes era uma conversa descente, agora só se trata de xingamentos e abusos de um para o outro. Ficando ilesa apenas eu que só assistia eles brincarem.
- Sinto informar vocês, mas já deu a minha hora por aqui. - comentei quando eles finalmente fizeram silêncio. Ygor acenou com a cabeça concordando comigo e se pronunciou.
- Eu também preciso ir embora, preciso arrumar as minhas coisas para começar a semana e vai ser corrido. - se levantou da mesa lentamente.
- Bem, a maioria venceu. - Mário disse contra a vontade e levantou as mãos em rendição - Vou buscar minhas coisas, pra gente ir.
- Mas ainda está cedo. - Ludmilla disse com a cara emburrada - Fiquem mais um pouco e depois eu deixo vocês em suas respectivas casas.
- Já ficamos tempo demais, Lud. Abusamos da sua boa vontade. - comecei a explicar, e vi os meninos subirem, inclusive o Marcos - Talvez em um outro dia a gente volta.
- Ah não, Bu. - resmungou e me puxou para mais perto dela, ao ver que estávamos sozinhas e poderíamos trocar alguns carinhos - Fica mais um pouco, por favor. Deixa os meninos irem e fica comigo.
- Não, Lud. - fiz um bico nos lábios - Já estou aqui desde ontem a noite. Até sua mãe me viu por aqui. - falei envergonhada - E fora que a minha mãe deve estar preocupada. Não avisei que iria dormir fora.
- Que merda. - ela franziu as sobrancelhas - Eu queria poder aproveitar mais um pouco do seu lado. - beijou a minha barriga, já que ela ainda estava sentada e eu de pé.
- Acabei de ter uma ideia. - sorri - Eu tomei café da manhã com você. Porque você não almoça comigo, lá em casa? - perguntei e ela demorou a responder, talvez analisando a situação.
- Ah, Bu. - suspirou - Eu não acho uma boa ideia, sabe?! Sua mãe vai estar lá e... - eu a cortei.
- Eu não acredito que você ainda tem medo da minha mãe. - segurei a risada e ela franziu as sobrancelhas.
- Para de abusar. - falou séria - Você também tem medo da minha mãe.
- Não tenho medo, tenho vergonha. É muito diferente. - falei com deboche - Mas então, vamos vai! Por favor! - me abaixei e depositei um beijo nos seus lábios.
- Mais um beijo e eu vou. - pediu - Mas um beijo de verdade!
Me abaixei novamente a sua altura e depositei um selinho em lábios, quando ela iria reclamar, a puxei para um beijo de verdade. Minha língua pediu passagem para a sua boca e ela foi rápida em aceitar. Foi um beijo calmo, tranquilo, sem pressa, ou briga para saber quem iria ter esse domínio. Minha mão estava repousada em sua face, enquanto as delas estavam em minha barriga, suportando o meu peso, para não me causar desconforto. Estava tudo perfeito. Estava. Pois escutei os passos dos meninos voltando para a cozinha, encerrei o beijo com alguns selinhos e me afastei, voltando a ficar totalmente de pé.
- Ainda está aqui? Pensei que tivesse ido buscar suas coisas. - Mário comentou assim que adentrou o espaçoso cômodo.
- Estávamos conversando. - falei simples - Você me acompanha? - questionei a morena que me olhava com um sorriso - Minhas coisas estão no seu quarto.
- Claro, vamos lá. - ela se levantou e me deu passagem, para que eu subisse em sua frente. Assim eu fiz até chegar em seu quarto e começar a juntar minhas poucas coisas - Tem certeza que não quer ficar?
- Tenho, Lud. A gente fez um combinado, lembra? - perguntei enquanto dobrava a minha blusa, suja pela sua ex namorada - Qualquer outro dia eu volto e passo a tarde com você.
Escutei ela reclamar mais algumas coisas mas não dei bola. Apenas juntei tudo o que me pertencia e esperei com que ela pegasse suas chaves para nos levar até em casa. Descemos as escadas em silêncio e encontramos os meninos já se despedindo de Marcos, fiz o mesmo que eles e ainda convidei o moreno para almoçar, mas ele recusou dizendo que ia descansar da sua ressaca. Seguimos para o carro da morena, Mário e Ygor foi no banco de trás, enquanto eu me sentei ao lado dela.
Ludmilla deixou Ygor e Mário em Nilópolis e só então se direcionou até São Conrado. Ela tinha uma expressão calma e cantarolava a música da Alcione que estava tocando no rádio, ao parar em um sinal vermelho, ela se relaxou sobre o banco do motorista e apoiou sua mão em minha perna quase toda exposta. Um sorriso nasceu em meus lábios e eu passei a olha-la, com ainda mais precisão, a deixando com vergonha.
- O que foi, Bru? - perguntou.
- Nada, Lud. - levei minha mão até seu rosto e fiz um carinho rápido, já que o sinal voltou a se abrir - Estou admirando a sua beleza.
- Assim você me deixa com vergonha. - confessou.
- Você fica engraçada com vergonha. Tem toda essa cara de marrenta. - suspirei.
- Eu sou braba, Bru. - franziu as sobrancelhas mas não se aguentou e gargalhou - Mas você me quebra.
Não demorou muito para que ela estacionasse o seu caro quase enfrente ao meu prédio, já que algumas vagas do estacionamento já estavam cheias. Descemos com cuidado para que ela não fosse reconhecidas e adentramos o meu prédio. O elevador foi rápido em nós deixar no corredor do meu apartamento. Abri a porta e encontrei Brunno deitado no sofá, enquanto a Ju fazia um carinho em seus cabelos. Como se fossem namorados. Ao me ver, eles abriram um sorriso e só então perceberam a presença da cantora também.
- Olha só quem apareceu. - o gêmeo abusou enquanto se ajeitava no sofá - Faltou muito pouco pra nossa mãe ligar pra polícia. Sorte que a Silvana atendeu a ligação e contou que vocês dormiram juntas.
- Agora você me entende? - perguntei para a morena que estava atrás de mim - As duas são melhores amigas.
- Percebi. - disse sem graça - Bom dia, Brunno, Ju. - a cantora cumprimentou o quase casal.
- Bom dia, cunhada. - Brunno abusou.
- Bom dia, Lud. - minha amiga sorriu simpática - Oi, Bru. Quanto tempo!
- Realmente, amiga. - me aproximei dela e deixei um beijo em sua bochecha - Essa semana eu estava muito ocupada com as coisas do hospital, tive uma cirurgia de última hora. - me expliquei e ela pareceu entender - Onde está os nossos pais?
- Mamãe na cozinha e o papai foi comprar algo que faltou pro almoço. - Brunno contou e voltou a se deitar.
- Obrigada. - agradeci - Vamos lá? - perguntei pra morena que estava calada desde que chegamos. Ela iria negar com a cabeça, mas eu a puxei ate a cozinha que estava sendo ocupada por minha mãe e Gabi, nossa funcionária - Bom dia, mulheres bonitas.
- Bom dia, Bru. Bom dia. - ela disse para mim e para Ludmilla.
- Filha, você quase me matou do coração. Eu cheguei a pensar tantas coisas horríveis. - a mais velha deixou o que estava fazendo e me abraçou - Ainda bem que a minha amiga Sil me avisou que estavam juntas. - suspirou - Bom dia, minha querida Ludmilla.
- Bom dia, Miriam. - Ludmilla a abraçou - Me perdoe não ter avisado que sua filha estava comigo. - disse com medo e eu segurei a risada.
- Não se preocupe, meu amor. Eu sei que com você ela está segura. - revirei os olhos com a fala da minha mãe.
- A Lud vai almoçar com a gente hoje mãe. - comentei enquanto caminhava até a geladeira para pegar água.
- Porque você não me avisou antes? Eu teria feito algo melhor. - falou apreensiva, mas a cantora foi rápida em acalma-la.
- Miriam, não precisa se preocupar, eu gosto de qualquer coisa que você fizer!
Nós duas ficamos na cozinha conversando com as mulheres e Gabi aproveitou a oportunidade para tirar uma foto com a Ludmilla. Meu pai chegou algum tempo depois e também fez a questão de recepcionar sua ex nora. O almoço não demorou para ficar pronto e pudemos almoçar todos juntos, e claro, Brunno abusou o quanto pode. Pensei que a morena iria ficar até o anoitecer, mas as quatro horas da tarde ela se despediu, dizendo que precisava arrumar as malas, pois amanhã a tarde viajará para o nordeste e terá uma sequência de shows por lá.
Levei ela até a porta e me despedi com muitos abraços, beijos e uma rápida declaração. Ver ela partir assim e saber que passaremos bons dias sem nos ver, me deixa triste, mesmo sabendo que não temos nada. Mas assim como ela, eu também preciso trabalhar. E a única coisa que me resta e conformar com a situação. Depois que ela foi embora, Ju e eu aproveitando o entardecer na coberta do prédio, batendo altos papos sobre a vida e seu namoro com o meu irmão. Porém ela também precisava ir e se despediu de mim e do Brunno.
Depois de tomar o banho da noite, eu pensei seriamente em continuar usando a camisa da cantora, pois seu cheiro ainda estava por ali, mas minha higiene falou mais alto e eu troquei de roupa, colocando agora um dos meus pijamas. Não demorou para que eu recebesse uma mensagem dela, e passamos a noite conversando, até o sono chegar e ambas adormecerem.
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