Indiretas
Nesse capítulo, se possível, escutem a música, Sou pagodeiro - Dilsinho
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Pov' Brunna
Hoje fazem trista dias que eu terminei com a Ludmilla. Todos os dias eu penso seriamente em deixar meu orgulho e ir até a sua casa, já cheguei fazer todo o trajeto, mas mudei de ideia ao parar enfrente o portão e voltei pra casa. Estou tentando ocupar minha mente com meu trabalho, mas qualquer coisa é um motivo para eu lembrar dela. O meu subconsciente já não aguenta mais sentir o cheiro o seu perfume enquanto estou dormindo. Eu não aguento mais a solidão dessa cama vazia e da falta que a voz dela faz.
Na minha mão direita, aquela aliança de ouro branco faz uma enorme diferença. Nem se eu pintar minhas unhas com o esmalte mais colorido, trará aquele brilho de volta. E não é só a mão que está sem brilho, eu também perdi a graça nas coisas básicas que fazia. Tudo que faço é na intenção de esquece-la, mas quanto mais eu tento, pior fica. Já perdi as contas de quantas vezes, entre uma consulta e outra, me enfiei no banheiro do consultório, para poder me livrar das inúteis lágrimas. Mas para ela, tudo parece estar perfeito.
Durante a última semana, curtiu um pagode com os amigos. Esse fim de semana marcou um fervo na sua casa. E nos seus vídeos, um sorriso nos lábios demonstra que ela está bem o suficiente sem a minha presença. Isso me corrói ainda mais. Porque ela se quer me procurou. Não enviou uma mensagem, não quis saber como eu estava/estou e não quis anunciar o nosso término, me deixando fazer isso sozinha, para todos.
- Bru? - escutei duas batidas na porta, seguida do Mário Jorge. Estranhei o moreno estar no meu consultório, mas logo me lembrei que ultimamente ele está fazendo de tudo pra me animar - Posso entrar?
- Pode, amigo. - abri um sorriso - Eu estou enrolando pra ir embora. Meus pacientes já acabaram. - avisei.
- Natália me avisou que você está aqui a mais de meia hora e ela está doida pra ir embora. - gargalhou - Pega logo suas coisas, vamos ir em um barzinho hoje.
- Barzinho? - perguntei sem entender - Eu não bebo, você se esqueceu? - perguntei - E mesmo se eu bebesse, não estou afim de ir em um barzinho em plena terça-feira.
- Por isso você é assim tão insuportável. Não vive a vida, e fica chata. - começou a pegar minha coisas que estavam sobre a mesa - Eu não vou falar de novo, te dou dez minutos pra pegar tudo e a gente ir.
- Mas eu preciso passar em casa e pelo menos tomar um banho. Passei o dia todo aqui. - falei juntando minhas coisas com pressa, pois quanto mais eu demorasse mais ele falaria na minha cabeça.
- Nada disso, o Lorenzo vai do jeito que está e porque você precisa de banho? - perguntou e eu me virei para olha-lo. Ele realmente tinha convidado o Lorenzo? Mas antes de eu perguntar o médico entrou na sala usando uma bermuda de moletom e uma regata branca. Segurei a risada, pois nunca havia visto ele assim.
- Estou pronto. - disse o óbvio - Se a gente não for agora, vamos perder o melhor cantor da noite.
- Queria saber o que eu fiz pra merecer tanta desgraça na vida. - resmunguei entrando no banheiro pra me ajeitar. Eu não tinha levado outra roupa, então fiquei com a mesma, sendo uma blusa verde e uma calça preta. Arrumei meu cabelo, o deixando solto sobre meus ombros e sai, encontrando os dois já no corredor.
- Está linda! - Mário elogiou enquanto o Lorenzo concordava com a cabeça. Esse com certeza é um momento que eu pensei que jamais aconteceria - Vamos logo! Nosso carro já chegou.
- Mas e minha moto? - perguntei preocupada.
- Ninguém vai roubar a sua moto. Qualquer coisa eu me garanto em levar ela na sua casa amanhã pela manhã. - Lorenzo falou comprometido e eu suspirei. Vai ser impossível descordar dos dois.
O bar que os dois escolheram foi na Barra da Tijuca, estava vazio ainda e escolhemos uma mesa na calçada, um pouco afastada do palco em que o cantor irá ficar. Me sentei ao lado do Lorenzo e de frente para o Mário que já estava escolhendo sua bebida no cardápio. O médico já tinha na cabeça o que iria pedir e me olhou curioso.
- Não quer experimentar nada? - perguntou e eu neguei com a cabeça - Tem certeza? Acho que você vai gostar de algo sem álcool, tem algumas opções.
- Se eu sentir sede mais tarde, eu peço algo. Muito obrigada. - agradeci com um sorriso no rosto e ele concordou com a cabeça.
- Bru, você já escolheu onde vai passar as férias de fim de ano? - Mário perguntou de repente e eu neguei com a cabeça - Eu estou pensando em visitar os lençóis maranhenses. Quer ir junto?
- Com certeza não. - me lembrei de que esse era um dos meus planos com a Ludmilla - Eu vou ficar no conforto da minha casa, vendo uma série qualquer.
- Até minha mãe é um pouquinho mais animada que você. - Lorenzo brincou e eu sorri - Se eu fosse você tomava alguma vitamina para ânimo.
- Vocês me obrigaram a vir aqui para ficarem me humilhando? - questionei e eles gargalharam.
Mário pediu licença e adentrou o bar pra pegar a bebida dos dois. Lorenzo iniciou uma conversa qualquer, mas foi interrompido pelo canto que iniciou com uma música da Luísa Sonsa. Era uma banda de pagode, que fazia alguns improvisos e medley entre as músicas. Mário correu para o seu lugar, na intenção de admirar a voz do homem. Eu já não estava animada e quando a segunda música começou, um nó se formou na minha garganta. Vi os homens se olharem como se pensassem "erramos".
Você não sabe o quanto que eu te amei
E quantas vezes ficar junto, eu tentei
Não vem falar bebê que eu não te avisei, né
Você não muda e eu quase mudei
Nosso amor gostoso era tão bom
Que eu relevava quase tudo pra sentir seu cheiro
Pra te dar um beijo
Meus amigos me falando, irmão
Ninguém no bairro te reconhece
Demorei pra ver né, quem meu ex amor é
Prometi para mim que não iria fazer vergonha e começar a chorar em público, então engoli tudo que estava me sufocando e tirei meu celular do bolso, gravando o cantor. Ele iniciou a música novamente e eu terminei o vídeo um pouco antes de refrão acabar. Nunca fui de viver com mídias e muito menos de indiretas, mas não pensei duas vezes antes de postar o vídeo. Sem me importar com qualquer pessoa que tiraria sua própria conclusão.
A música acabou e começaram as próximas. Os meninos tentaram afastada o clima ruim que se formou, mas eu fingir não estar me importando com isso. Comecei a falar sobre algo que estava no cardápio e não demorou para eu pedir meu primeiro drink, com apenas 10% de álcool. Mário também não bebeu muito a ponto de esquecer quem era e Lorenzo apenas estava um pouco mais feliz e a vontade. Me lembro que fomos embora as duas horas da amanhã, primeiro deixamos o médico na sua casa e só então fomos pra São Conrado, meu melhor amigo acabou dormindo por lá.
Pov' Ludmilla
Toda essa enorme saudade da Brunna está me consumindo. Estou tentando ao máximo fingir que não estou me importando, porém eu estou morrendo aos poucos. Os meus amigos já não aguentam me trazer chorando para casa e eu não aguento mais fingir sorriso, sendo na verdade eu estou na minha pior versão. Tudo isso por minha culpa.
Já pensei em correr atrás dela, mas fico com vergonha. Provavelmente ela está em odiando, e eu não quero a machucar ainda mais. Então deixei tudo como estava. Marcos me pediu desculpas, segundo ele, tem uma grande porcentagem no nosso término, mas eu assumo toda a responsabilidade, pois foi eu quem disse as palavras cruéis para ela.
Minha mãe se negou a ter notícias dela, como foi nos dez anos em Londres. Não por ela odiar a Brunna, mas segundo ela, eu quem tenho que assumir meus atos e não está errada. Mas não tenho forças para mandar mensagem para ela, muito menos de ir até o seu apartamento. Tenho que deixar ela viver longe, talvez ela volte. Ou eu consiga ir até ela.
Estou jogada na minha cama, como estou nesse mês, apenas comendo, tentando provar que estou bem e dormindo. O meu pequeno refúgio está sendo meu celular, o mesmo que eu estou mexendo por agora, já respondi algumas mensagens e agora estou vendo uns stories. Como se fosse um karma, o Instagram me recomendou o perfil dela e eu acabei vendo o último vídeo e foto postada.
Ela está em um bar. Postou um trecho da música recém lançada do Dilsinho. Seria uma indireta? "Demorei pra ver né, quem meu ex amor é" pra quem terminou bem recentemente, ela está ótima. Engoli toda a vontade de chorar que eu estava e fiquei com raiva. Enquanto eu estou mal por ela, ela está curtindo um pagode. Como se eu quisesse me vingar, abri meu aplicativo de música e tirei um print da mesma música, mas em uma parte diferente.
Você só quer like, curtida e coração
Me ama online mas offline não
Quer mudar meu jeito de ser
Eu não sou cara gourmet
Foi mal Mozão
Você não pegou a visão
Quer namorar
Belê
Não rola não
Porque eu sou pagodeiro, você não é
Vinho rose
Belê
Até que é bom
Mas eu quero cerveja, tu não quer
Postei a música e desliguei meu celular. Soltei um suspiro alto. Não é possível que todo o amor que ela dizia ter por mim, se acabou assim tão rápido. Eu me dediquei tanto a ela, mesmo que eu tenha errado muitas vezes, eu a amo com a minha vida, e jamais quero que essa saudade dure para sempre. Já aguentei dez anos sem ela, mais dez seria o fim do meu mundo.
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Capítulo pequeninho só pra encerrar a quinta-feira!
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