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Hotel fazenda

Pov' Narradora

A turnê que leva o nome de vilã, está cada dia mais próxima de virar um fato. Todos os detalhes estão sendo revisados, a equipe está completamente focada nesse evento que têm duração de dois meses e começa a pouco menos de duas semanas. Algumas cidades brasileiras será o destino do primeiro mês do evento, logo após, todos os países da América do Sul, receberá Ludmilla.

A cantora está feliz por suas conquistas, isso é tudo que ela sempre quis, passar dias em hotéis diferentes, pegar vôos atrás de vôos e conhecer um pouco da cultura de cada país desse mundo. Mas ela vai sentir saudades da sua família que ficará por aqui. Mas sabe que dois meses passam rápidos e que voltará para casa com muito mais sucesso do que antes.

Nesse exato momento Ludmilla está deitada sobre sua cama, deslizando o dedo pela tela do celular. Ultimamente estando sem nada para fazer, irritar seus amigos está sendo o seu hob. Então vez ou outra, liga para um dos seus contatos, inventa uma história um tanto quanto aleatória e encerra a ligação sem explicar. A última vítima, foi o apresentador Rodrigo Faro, que até hoje tenta entender o que Ludmilla estava tentando dizer naquela ligação.

Passando o dedo na lista de contatos no app de comunicação Whatsapp, Lud percebe que algo está diferente. A última vez que entrou por ali e arrastou até a página de arquivados,  ainda estava bloqueada por Brunna. As suas mensagens não tinham chegado e a foto não estava presente. Mas hoje não, hoje ela pode ver a foto em que a médica tirou em uma das idas a praias, e sua última mensagem havia chegado. Ela a desbloqueou.

Ludmilla queria digitar qualquer coisa e enviar, apenas para ter a certeza disso. Mas teve medo da resposta da médica, a mesma parecia estar muito segura na sua última conversa, quando enviou a última mensagem apenas agradecendo pela a minha presença no seu apartamento, durante a sua crise de ansiedade. Pensando mais um pouco, a cantora viu que estava prestes a cometer uma atrocidade, então saiu daquela página e voltou para as suas conversas.

Como se fosse uma ironia do destino, do outro lado da tela, Brunna havia desbloqueado a Ludmilla em pouco menos de cinco minutos, tempo suficiente para que ela visse isso ao outro lado. A médica levou em consideração a conversa que teve com o Lorenzo dentro do carro, ninguém sente o que ela sente quando se trata de Ludmilla, então porque ela leva tantos conselhos a sério?

No fundo, Brunna queria que Ludmilla a ligasse, dissesse que tava com saudades, pedisse pras duas conversasse e por fim, tudo voltar a ser como antes. Ela esperou por dez, vinte, trinta minutos, e isso obviamente não aconteceu. O que lhe fez pensar que Ludmilla estava entrando em sua conversa todos os dias para certificar que estava, ou não, bloqueada?

A médica suspirou e se levantou da cama, com cuidado para não acordar Mário Jorge, que virou o seu carrapato. Por sorte hoje é domingo e provavelmente o fotógrafo vai até o parque com Brunno e Larissa, tirar umas fotos para atualizar o feed. Brunna estaria livre dele por longas horas e já aproveitando isso, se encaminhou para fora do quarto, vendo que o apartamento estava vazio.

O seu pijama está adequado o suficiente para que ela vá até a cobertura do prédio, e assim ela fez. Subiu todas as escadas em silêncio, e quando chegou até o último andar, se sentou em uma espreguiçadeira, afastada do sol, de forma que pudesse ver claramente a tela do celular. Brunna pensou, uma, duas, três vezes e ligou pra Ludmilla, mesmo sabendo que isso poderia acabar com o resto da sua saúde mental.

Parte queria que Ludmilla não atendesse, sabendo assim que era a hora certa de tentar superar a cantora. Já a outra parte, torce incessante para que Ludmilla deixe de lado qualquer compromisso e atenda a sua ligação, para que tudo volte ao lugar. No último toque, Brunna já estava ciente de que a cantora não iria atender, mas ainda assim esperou a ligação cair, coisa que não aconteceu, pois Ludmilla atendeu rapidamente a ligação.

- Oi? - Ludmilla atendeu a ligação um tanto quanto amedrontada? Agoniada? Ou feliz. Brunna não soube identificar, levou longos segundos para poder responder.

- Oi, Ludmilla. - disse simples.

- Está tudo bem? - a cantora perguntou, com medo de que novamente a médica estivesse em uma situação complicada.

- Não está nada bem, desde que a gente terminou. - Brunna confessou com os olhos cheios de lágrimas. Por sorte Ludmilla não podia ver isso.

- Bru... - Lud suspirou, não sabia o que falar. Já tinha assumido o erro, já estava péssima o suficiente, já tinha se envergonhado e bem, agora só estava esperando tudo acabar de vez.

- Ludmilla, eu sei que você me machuca, mas eu te amo muito. - voltou a confessar - Você não tem noção do quanto eu venho correndo pra não ver nada que tenha você, mas quando eu vou dormir e fecho os olhos, a primeira coisa que me lembro é do seu sorriso. E isso acaba comigo.

- Aqui também tá horrível sem você. - Lud falou com um tom calmo e triste - Eu tento provar pra mim que acabou, mas não acabou, Bru. Vamos resolver isso. - pediu.

- Resolver o que, Ludmilla? Resolver como? Olha como está essa situação. - Brunna enxugou a lágrima que caiu dos seus olhos - Eu não posso ousar em dizer o seu nome com ninguém. Eu tô me sentindo muito pressionada.

- Vamos resolver isso. - pediu de novo - Estou falando com verdade, Bru. Não quero que você continue se sentindo assim por minha causa, deixa eu resolver isso.

- Como você vai resolver isso, Ludmilla? - Brunna voltou a perguntar, um pouco alterada, ela não consegue ver a solução desse problema.

- Vamos se ver, a gente conversa, chega a uma conclusão juntas. Vamos resolver os nossos problemas sem envolver ninguém, Bru. - Ludmilla falou e Brunna ficou em silêncio - Eu te mando a localização e você vai, tá bom?

- Mas, Ludmilla... - a médica tentou argumentar.

- É a nossa única oportunidade, Bru. Não vamos deixar passar. - pode escutar Ludmilla correr pelo quarto - Eu te espero lá, ok?

- Ok. - foi a última coisa que Brunna disse antes de ligar a ligação.

Não demorou cinco minutos e Ludmilla enviou a localização para ela. Se trata de um hotel fazenda a quase duas horas da capital carioca. Brunna suspirou e sorriu simples, sabendo que em pouco tempo iria ver o amor da sua vida. Correu de volta para o apartamento e adentrou seu quarto, vendo que seu amigo ainda dormia, agradeceu por não ter que dar nenhuma explicação.

Escolheu uma roupa de frio, pois iria de moto e na região da localização, está com previsão de 10° graus. Pegou o capacete e a chave da moto e praticamente voou até a garagem. Deu partida na moto, mas antes de pegar a estrada, teve que abastecer, não queria ficar sem combustível em uma estrada que não faz ideia de onde fica. Só então ela acelerou em direção ao Hotel Fazenda 3 pinheiros.

Ludmilla, muito esperta, assim que encerrou a ligação com a ex namorada, ligou para o hotel e fez uma reserva. Obviamente ela chegaria mais cedo que Brunna, então se apressou, chegando lá as onze horas da manhã. Não quis deixar o quarto muito clichê, sua maior meta é conversar com a médica, então deixou a organização com o próprio hotel e se sentou próximo a um raso lago que tem ali.

Demorou bons minutos para que a cantora finalmente escutasse o barulho da moto da Brunna. Soltou um suspiro aliviada, ao ver a mesma procurar por um lugar para parar a moto. Logo um funcionário a guiou até o estacionamento e Ludmilla se levantou, ficando em um ponto específico para que Brunna a visse e assim aconteceu, quando a morena finalmente tirou o capacete.

Os corações de ambas parecia que queriam sair pela boca, a qualquer momento e suas pernas fraquejaram. Nenhuma sabia o que dizer, apenas se abraçaram apertado, na falha tentativa de matar aquela saudade e de remover todos aquele sentimento ruim que se criou nesses quase cinco meses. Demorou minutos para que elas se afastassem e Lud ser a primeira a falar.

- Eu pensei que não fosse vir. - comentou.

- Tive que abastecer a moto e não sabia pra onde estava vindo. - Brunna respondeu observando a área externa enorme e cheia de verdes - Que lugar lindo.

-  Sim, está mais bonito do que na última vez que vim aqui. - Ludmilla contou, se lembrando do aniversário do seu afilhado que foi nesse lugar - Você quer comer algo?

- Ainda não tomei café da manhã. - Brunna falou, sentindo o estômago reclamar de fome, havia dirigido por muito tempo.

- Vamos comer então, depois a gente conhece tudo aqui. - Ludmilla iria pegar na mão da médica, mas acabou desistindo, apenas caminhando ao seu lado, até o restaurante do hotel, que estava vazio, muitas pessoas já haviam tomado seu café e estavam se divertindo por aí - Esse horário as coisas boas já devem ter acabado.

- Não tem problema, eu como qualquer coisa. - Brunna se sentou e colocou o capacete no chão - Mas se tiver bolo de chocolate, serei feliz.

- Eu pegar. - tinha funcionários por ali. Mas talvez na intenção de impressionar a mulher, Ludmilla se encaminhou ate a bancada e pegou um pouco de cada coisa que estava ali, incluindo o bolo que a mesma havia pedido - O que vamos beber? - perguntou.

- O que você quiser, pode ficar a vontade pra escolher. - Brunna disse enquanto observava o que Ludmilla havia pegado para elas comerem - Não acha que exagerou um pouco?

- Com certeza não. - deu de ombros, pois sabia que se Brunna não comesse, ela iria fazer isso. Voltou até a bancada e pegou dois copos de suco de goiaba - Queria poder dizer que foi escolha minha, mas era a única coisa que tinha. - sorriu de lado.

- Que ódio. - Brunna gargalhou baixo.

Um silêncio confortável se instalou por ali, enquanto as duas tomavam seus cafés da manhã. Vez ou outra Ludmilla se pedia no olhar castanho da Brunna, e reprimia um sorriso, ela estava feliz por esse momento e faria de tudo para que não acabasse de uma forma ruim. Tanto que depois do café, as duas foram conhecer a fazenda, sendo a área de cavalos, o primeiro lugar.

- O que acha da gente pegar um pra andar? - a cantora perguntou, mas a médica negou com a cabeça. Morria de medo de cavalos e sabia que Ludmilla não era boa com animais - Porque não?

- Tenho medo, prefiro andar com as minhas próprias pernas. - disse enquanto se afastava de um cavalo que a olhava bravo - Porque a gente não vai conhecer um outro lugar?

- Onde você quer ir? - perguntou se afastando dos animais, indo então em direção ao lago que observava antes - Pescar?

- Essa idéia não é ruim. - Brunna sorriu, fazendo Ludmilla parar de andar, para observar o seu rosto. "Ela é linda", pensou a cantora - Porque está me olhando assim?

- Você é linda. - Ludmilla verbalizou os seus pensamentos, fazendo a médica corar - Eu sei que não era o momento pra dizer isso, mas eu não resisti.

- Tudo bem, Lud. - Brunna sorriu simples. Não havia nenhum problema nisso, ela até que gostou do elogio - Você quer aproveitar pra gente ter a conversa agora?

- Não quero estragar nosso dia. - temeu por talvez tudo isso gerar uma confusão.

- Você sabe que já está tudo estragado, não é mesmo? - Brunna perguntou com um tom triste - Acho que não tem como ficar pior. - segurou a risada, apenas pra deixar Ludmilla um pouco mais a vontade.

- Tem razão, então vamos conversar.

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