Dias corridos
Pov' Ludmilla
Esses dias estão sendo corridos. A realidade é que minha vida é corrida, uma verdadeira confusão. Desde o fim do ano retrasado com o lançamento da minha música "Fala mal de mim", estou reconhecida em todo o Brasil. E posso dizer que não é fácil ser famosa, mas com toda certeza, continuo dizendo que esse é o maior e melhor sonho da minha vida.
Com a fama vêm grandes responsabilidades, me lembro de uma conversa que tive com a minha mãe meses antes de tudo vir a tona. O seu conselho foi que eu jamais deixasse todo esse poder subir a minha mente e eu perder toda a humildade e educação que ela me deu e todos os dias eu tento ao máximo seguir o seu pedido. Por mais difícil que seja.
Por falar em difícil, hoje eu estou esgotada. A minha nova temporada está em andamento, para ser bem específica, a gravação do meu primeiro álbum "Hello Mundo", que foi feito inspirado na Beyoncé. Estou tentando fazer parte de todas as escolhas, desde os lugares dos shows, até a paleta de cores. Pela manhã fui até o estúdio terminar as gravações e na tarde ensaiei as novas coreografia, e estou aqui até agora, conversando com o pessoal da equipe.
- Eu estava pensando em ter vários pontos distribuídos para alguns bailarinos. Para caso venha a acontecer alguma coisa eu consiga me comunicar com eles. - Édson, para os mais íntimos, Bibiu, o coreógrafo comentou na roda de conversa e eu concordei com a cabeça.
- Por mim tudo bem, mas lembre de dizer isso para o Gabriel. Ele quem está a frente do projeto, eu apenas confirmo. - dei de ombros e levei minha atenção até Marcos, meu quase irmão, que está ao outro lado da sala - Amigo, a gente podia ir beber antes de ir pra casa. - sugeri, mas ele me repreendeu com o olhar.
- Amanhã você precisa acordar cedo para ir no ateliê, experimentar as roupas. Garanto que se você beber hoje, amanhã não irá acordar a tempo, então sem chances. - ele disse sério, mas calmo.
- Então que tal um fervo, amanhã? - sugeri uma festa na minha casa, e o olhar do homem ao meu lado brilhou, feito um par de jóias raras.
- Eu amei essa idéia. Podemos chamar umas pessoas novas! Tenho uma amiga que chama Larissa, ela é nova aqui na cidade e precisa se enturmar. - falou de uma só vez - E para te ajudar a tirar essa marra de patroa, podemos convidar algumas pessoas da equipe. Só pra fazer amizade mesmo.
- Mas amanhã é terça-feira. Porque não faz a festa no sábado? - meu irmão do coração falou em nossa direção e eu revirei os olhos, ficando de pé, sobre o chão escorregadio do estudo de dança.
- E em que planeta tem dia específico para fazer festa? - questionei na tentativa de juntar minhas coisas que estavam espalhadas por ali - Qualquer dia é dia de se divertir, Marquinhos.
- Divertir, beber, beijar na boca, transar e tudo mais que tem de bom na vida. - Bibiu me completou e eu fingir rebolar.
- Vocês são terríveis. - Marcos fez uma careta e retirou seu celular da tomada - Sempre sobra pra mim, ter que organizar tudo, e pior, cuidar de todo mundo no dia seguinte.
- Para de ser chato, Marcos. Quem te olha, fala que você tem cinquenta anos e uma vida toda amargurada. Você nem tem motivo pra ser assim. - puxei ele pra um meio abraço - Até a nossa mãe curte as festas.
- Ela é a melhor. - o coreógrafo comenta enquanto fecha todo o salão. E nós esperamos por ele do lado de fora - Estamos combinados, então? Amanhã na sua casa, às dez da noite?
- Mais que combinado. E pode levar quem você quiser! - deixei um beijo estalado na bochecha do homem - Sabe que eu te amo.
- Também te amo, preta. - ele deixou um leve tapa em minha bunda, como o de costume - E não se esqueça dos pontos que eu te pedi.
O homem também se despediu do Marcos e cada um seguiu seu caminho. Não demorei muito para chegar em casa e encontrar meu irmão caçula, Yuri, brincando na rua com seus amigos, acenei para ele e entrei dentro da minha casa, que comprei com o dinheiro do meu trabalho. Na grande área externa, dentro da piscina encontrei minha irmã do meio, Luane, tomando uma cerveja. Dei oi pra ela e adentrei a casa, pelos fundos vendo minha mãe, Silvana e minha segunda mãe, Nete, preparando o jantar. Como uma boa filha, dei um susto nas duas, que soltaram o mesmo xingamento em voz alta.
- Caralho, Ludmilla! - gargalhei com a reação delas, mas logo recebi um tapa forte da minha mãe.
- Hey, isso doeu muito. - esfreguei o lugar na tentativa de cessar a dor - É assim que você diz me amar? - dramatizei.
- Eu poderia ter infartado. - foi a vez dela aumentar a situação - Ai eu queria ver só o que você iria fazer.
- Dramática. - revirei os olhos e beijei sua testa - Amanhã vai ter uma festa aqui em casa. Vou convidar um monte de gente, quem sabe assim a senhora não encontra um homem e deixa de me bater.
- Ela quis insinuar que a senhora está muito encalhada. - Marcos brincou e eu gargalhei.
- O que não é mentira né?! - completei a brincadeira e recebi mais um tapa - Ah, mãe, qual foi?
- Pra parar de me ofender. - falou brava e voltou a cozinhar - Sobe logo pra tomar um banho e vai chamar o seu irmão pra entrar, ele está na rua desde de tarde. Já passou das nove da noite.
- Porque eu tenho que fazer isso? - perguntei sem entender - Luane está atoa lá na piscina.
- Ela não me assusta. - mostrou a línguas e se deu por vencida.
Optei por não retrucar e fiz o que ela pediu. Subi os dois lances de escada e cheguei no meu quarto, abri a porta e o encontrei da mesma forma que o deixei hoje de manhã, quando sai de casa: todo bagunçado. Tentei encontrar uma roupa limpa, e achei apenas uma camisa larga e um short de malhar. Tirei a bolsa que estava em meu pescoço e coloquei sobre a cama, só então fui pro banheiro e tomei um longo banho. Vesti a roupa que separei e desci as escadas para chamar meu irmão. Abri o portão de casa e vi ele ainda por ali, chutando uma bola, agora com um único amigo.
- Yurinho. - chamei pelo apelido que tanto odeia e senti seu olhar me fuzilar - A nossa mãe está te chamando pra jantar. Te dou um minuto pra entrar. - falei encostando no portão de ferro.
- Yurinho. - o outro menino riu.
- Sai fora, Pedro. - meu irmão parou de chutar a bola e a pegou na mão - Amanhã a gente joga mais. Vou entrar, beleza?
- Beleza, mano. Até mais. - os dois se despediram em um aperto de mão e o menino de dez anos entrou para dentro de casa ainda reclamando por eu ter o chamado pelo apelido.
- Vou contar pra nossa mãe. - falou em um tom alto e bravo e eu gargalhei.
- Conta, Yurinho. - dei de ombros e fechei o portão, entregando logo atrás dele. Quando cheguei na cozinha, encontrei ele contando pra nossa mãe, que apenas me repreendeu com o olhar mandou a gente se sentar para jantar.
Pov' Brunna
- So, to remove this heart, it is necessary to undergo complete anesthesia. where the patient will not feel pain or discomfort.
A voz do professor, em seu prefeito inglês, ecoava em minha cabeça. Mas na verdade, eu ao menos estava entendendo o que ele está falando. Apenas concordo com a cabeça, fingindo que estou compreendo, para ele só prosseguir com a maldita aula de anestesia.
Quando um aluno, Kelvin, natural dos EUA, iria fazer uma pergunta, o sinal tocou, nos anunciando que a última aula havia acabado. E eu suspirei aliviada, sendo a primeira a juntar todas as minhas coisas e sair da sala, sendo acompanhar de Rosa, uma amiga mexicana que fiz nesses seis anos de faculdade.
- Porque está assim, tão triste? - questionou no seu prefeito espanhol e eu tentei sorrir, para demonstrar que eu estava feliz.
- Não estou triste, Rosa. - respondi também em seu idioma - Apenas muito cansada.
- Cheguei a pensar que odiava o Senhor Jacob. - falou tentando acompanhar meus rápidos passos.
- Não. Apenas não tive um dia bom no meu estágio. - respondi - Não tem nada a haver com o Senhor Jacob. - imitei seu jeito de falar.
- Ainda bem, pois hoje ainda é segunda-feira, teria o restante da semana tendo aulas com ele. - brincou e eu me dei conta disso.
- Não aguento mais essa rotina. Quero logo o meu diploma e ir embora para casa. - falei diminuindo a velocidade do meu caminhar.
- Sente saudades, da sua mãe e do seu pai, não é mesmo? - concordei com a cabeça - Eu também sentiria. Mas daqui poucos meses nós vamos nos formar e você irá para o Brasil. Terá o seu próprio consultório e vários pacientes.
- Deus te ouça, Rosa. - sorri a olhando - Me diz, você não sente saudade da sua casa?
- Não muito, me acostumei com Londres e tenho uma nova família aqui. Não quero mais ir embora. - falou quando chegamos em nosso alojamento.
- Acho que nunca me acostumaria aqui. Sinto saudades do calor do Brasil. Das comidas, das danças e da música. - me lembrei da voz da Ludmilla, que escutei pela última vez, em um áudio enviado pelo meu irmão, me mostrando seu sucesso. De forma automática, o sorriso que estava em meus lábios se desapareceu. E isso não passou despercebido por Rosa.
- Não se preocupe, Bru. Você terá tudo isso de volta em poucos meses. Só não faça esse lugar ser algo obrigado, pois ficará ainda mais difícil. - deixou suas coisas sobra sua cama.
- Eu gosto da faculdade. Estou fazendo o que sonhei pra minha vida. Jamais seria obrigatório. - suspirei - Eu só me lembrei de algo não muito agradável. - me joguei no sofá.
- Deve ser toda essa sequência de estudos e o estágio. - fez o mesmo que eu - Parecem que os dias estão ficando cada vez mais corridos.
- Sorte e azar. - brinquei e ela me acompanhou - Hoje não irei jantar. Então não precise fazer nada para mim.
- Tem certeza, brasileira? - questionou me olhando e eu concordei - Tudo bem, então. Serei a primeira a tomar banho.
- Fique a vontade, irei falar com meus pais.
Aproveitei que fiquei sozinha e fiz uma chamada com Mirian e Jorge. Eles fizeram questão de me contar tudo que havia acontecido no dia eles e eu fiz o mesmo. Só nos despedimos quando o fuso horário veio a tona, fazendo com que eles se arrumassem para trabalhar e eu para descansar.
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