Deus é muito bom
Pov' Brunna
- Eu te deixo em casa, Brunna. - escutei Feller falar pela quinta vez seguida depois de eu ter me conformado que não acharia um Uber - Não irá me custar nada.
- Eu agradeço a sua boa vontade, mas eu não quero. - forcei um sorriso - Você já foi muito gentil hoje, quando pagou o meu café e o meu almoço.
- Deixa eu ser gentil mais uma vez e te deixar em casa. Já está tarde e é perigoso você ficar por aqui. - disse preocupado - Você não conhece a cidade e não vai saber pedir ajuda caso aconteça algo.
- Não irá acontecer nada, doutor. - me segurei para não revirar os olhos.
- Deixe o doutor de lado, já saímos do nosso lugar de serviço. - sorriu - Agora eu sou o Robinson e você a Brunna. Então aceite a minha carona! - implorou.
- Se você insistir com isso mais uma vez, serei obrigada a lhe responder de uma forma não muito agradável, Robinson. - falei séria - Eu novamente agradeço a sua boa vontade. Vou tentar ligar pro meu irmão vim me buscar, não se preocupe.
- Tudo bem, então, eu irei buscar as minhas coisas. - se deu por vencido.
A verdade é que eu não sabia pra que iria ligar, já que meu pai provavelmente estaria dormindo e Brunno nunca iria aceitar me buscar tão longe. Pensei em diversas pessoas e por fim me lembrei da Ludmilla. Não que ela fosse a minha última opção, mas eu sei o quanto sua profissão é puxada e que talvez nesse exato momento ela estaria ocupada com alguma coisa. Porém como uma luz do universo, a cantora estava saindo de um compromisso, assim como eu, e se propôs a vim me buscar, com a condição de que eu dormisse ao seu lado essa noite e essa proposta eu jamais iria negar.
Me encostei em uma das pilastras da faixa do hospital e fiquei a sua espera. Vi algumas pessoas entrarem e outras saírem. Em um certo momento, vi o Doutor Robinson deixar a parte interior do hospital, usando suas roupas comuns e uma mochila nas costas, como se quisesse ter a certeza que eu ainda estava ali, ele olhou em minha direção e sorriu. Pensei que iria seguir seu caminho e ir embora, porém ele caminhou até mim e parou ao meu lado. Segurei um xingamento por tamanha inconveniência e continuei a olhar a rua movimentada.
- Ainda por aqui, Brunna?! - "não, já estou em casa, não está vendo?", pensei - Tem certeza que não quer aceitar a minha carona?
- Tenho, Robinson. Eu já estou esperando pra ir embora. - falei simples - Muito obrigada, pela décima vez. - falei com má vontade e ele sorriu, achando divertido.
- Você agradece muito. - "da mesma forma que você oferece muito", pensei - Qualquer dia irei até São Conrado, visitar o seu hospital e marcar um café com você.
- Será ótimo. - falei sem vontade e fechei os meus olhos, sentindo o cansaço atingir o meu corpo. Senti um contato humano ficar mais próximo e abri meus olhos, vendo o loiro levar seus dedos até meu rosto para fazer um carinho, mas no mesmo momento um barulho alto de buzina atingiu meus ouvidos e eu olhei em direção a rua, vi uma bmw roxa, parada ao outro lado da rua e sorri, ao perceber que era Ludmilla - Preciso ir.
- Mas já? - ele olhou em direção ao carro da cantora e ergueu as sobrancelhas. Por um breve momento cheguei a pensar que ele viu quem seria, porém ele apenas se surpreendeu com o carro, já que os vidros escuros impediam de ver quem estava dentro do automóvel - Seu irmão tem um carrão, em!
- Não é meu irmão. - dei de ombros - É a minha namorada.
- Namorada? - questionou assustado.
- Sim, namorada. - levantei o puxador da minha mala - E ela não vai gostar de me esperar por muito tempo, porque também está cansada. Então, até mais, doutor.
- Até mais. - escutei ele falar em um tom de voz baixo - Doutora.
Eu poderia ver a frustração no seu olhar, porém eu não me vi em outra situação para acabar com sua insistência. Caminhei até o outro lado da rua e ao ver que eu estava com um objeto grande nas mãos, a cantora abriu a porta traseira para que eu guardasse a mala. Assim que fiz isso, fechei a porta e abri a do passageiro, me sentando no banco ao seu lado. Fechei a porta e só então me virei para olha-la, e não esperava ser decepcionada assim.
Ludmilla estava com as sobrancelhas muito franzidas e um bico nos lábios. Seus braços estavam cruzados debaixo dos seios e aposto que se ela não estivesse no volante, suas pernas estariam cruzadas. O seu olhar ainda estava fixado no outro lado da rua, no loiro que eu estava conversando. Sorri ao imaginar que ela estava com ciúmes e quebrei o curto clima ruim que se formou dentro do carro.
- Boa noite, amor da minha vida. - falei em um tom calmo e me aproximei para deixar um beijo em seus lábios. Ela pensou em negar, mas não resistiu e me deu um selinho.
- Boa noite, Brunna. - disse simples e voltou a ligar o carro para dar partida - Podemos ir ou você tem mais alguma coisa pra conversar com aquele loiro aguado?
- Hey, Lud, não fala assim. - pedi - Ele é um médico do hospital e eu estava apenas negando a carona dele. Ele é muito chato e estava insistindo muito. - expliquei enquanto colocava os cintos de segurança.
- É, né... E se eu demorasse mais alguns minutos para chegar você aceitaria. - disse com manhã e eu revirei os olhos - Você nem precisa negar, eu vi ele fazendo carinho no seu rosto. Aposto que estava te chamando de linda e te convidando para um jantar.
- Não seja, boba, Ludmilla. - revirei os olhos - Ele estava insistindo para me levar em casa, e eu disse que não era preciso porque a minha namorada já estava vindo.
- Você disse com todas essas palavras? - me olhou de relance, porque estava concentrada no trânsito - Minha namorada?
- Disse. Foi a única forma que encontrei dele me deixar em paz. - dei de ombros - Você não precisa de todo esse drama por causa de um homem.
- Então se fosse mulher eu deveria me preocupar? - perguntou se controlando para não me jogar para fora do carro e eu gargalhei antes de lhe atentar mais um pouco.
- Claro, até porque é uma mulher né, e você sabe que eu não resisto as mulheres. - mandei um beijo no ar, mas desisti da brincadeira, quando percebi que ela havia realmente ficado brava.
Estávamos muito longe da sua casa, eu tinha noção disso, por conta da minha vinda com o Uber. Me ajeitei no banco e suspirei olhando para a morena, ela ainda estava séria, talvez brava com a minha brincadeira, mais ainda assim, estava linda. Não sei ao certo, há que horas ela saiu de casa, mas já são quase onze da noite e o seu perfume ainda contém o aroma forte, tão forte que eu não preciso me aproximar dela para sentir. Sorri. Sorri com tanto carinho que ela percebeu o ato e me olhou completamente também sorrindo. E foi nesse momento que eu agradeci aos céus por ter me trazido de volta ao Rio de janeiro e para os seus braços.
- O que houve, Bru? - perguntou depois de breves segundos. Mas como eu iria dizer a ela o que houve, se não houve nada?
- Eu não sei, Lud. - suspirei - Eu só percebi o quanto eu sou uma pessoa abençoada e com sorte.
- Porque diz isso? - questionou sem entender.
- Quando eu fui pra Londres eu te amava muito, Ludmilla. Você não tem noção, que aquele dia foi o pior dia da minha vida. Foi como se eu tivesse perdido um sonho pra realizar uma meta. - suspirei - Porque você era o meu sonho. Você era uma pessoa tão incrível, que mesmo a gente sendo novas, eu tinha aquela certeza que iríamos nos casas, ter filhos e dizer a eles que nos conhecemos com dezoito anos de idade. - sorri de lado - E eu tive que ir embora. Eu passei dez anos em Londres com uma agonia no peito. Primeiro por saber que você estava me odiando com todas as suas forças e segundo porque eu não poderia te ver.
- Eu não te odiei, Bru. Eu só estava chateada. Não me coloquei no seu lugar na época. - me interrompeu para dizer.
- Mas aí beleza. - cruzei as minhas pernas sobre o banco do carro. Sem me importar se ela iria brigar comigo - Eu voltei depois de dez anos, totalmente diferente, mas ainda assim eu te amo daquela mesma forma. Com toda aquela força e vontade de guarda em um potinho. - sorri - Ter você aqui tão perto de mim, me confronta tanto. Saber que você poderia estar com qualquer outra pessoa nesse Brasil, mas ainda assim está aqui, me buscando depois de um plantão de quinze horas, me deixa, não sei... Feliz? Confusa?
- Confusa, porque, Bu? - perguntou, mas não tive tempo de responder - Ainda não ficou claro que eu te amo? Poderiam se passar os anos que fossem, mas eu ainda iria te amar e querer você comigo ao meu lado. Eu tentei ser feliz esses anos todos, sem você, mas aí quando eu achava que tava bem, me lembrava do seu carinho pra mim dormir, do seu sorriso de bom dia, da sua carinha brava de ciúmes, ou você irritada porque não deixei você pagar a conta. - ela sorriu - Você mudou a minha vida, Bru. Você foi o sol da minha vida, a paz do meu mar agitado. Se eu sou assim, hoje, é porque um dia você me fez entender o significado de viver e amar. Nós somos pessoas abençoadas porque Deus é muito bom.
- Muito bom. - completei.
- E eu te buscaria em todos os plantões, se não tivesse uma vida tão corrida. - ela suspirou e fez uma pausa, talvez criando coragem para falar o que pensou - Você se importa com isso?
- Isso o que, Milla? - perguntei sem entender e ela deixou para falar quando parou em um sinal vermelho, já na capital carioca, faltando alguns quilômetros para chegar em sua casa na Ilha do Governador.
- Bru, eu tenho muitos shows, nesses meses eu ainda estou calma, porque tenho alguns projetos em andamento e precisa das gravações aqui no Rio. - disse - Se não fosse isso, eu não estaria aqui hoje. Já teve mês de eu fazer vinte sete shows, e estar em casa apenas dois dias e só por algumas hora. Final do ano eu vou estar em um outro país e...
- Ludmilla. - a chamei, tentando acalma-la - Ainda estamos em Maio. Você não precisa se preocupar com o que vai acontecer no fim do ano. E eu sei que sua vida é corrida, a minha também é, nunca se sabe quando eu vou precisar acordar de madrugada pra fazer uma cirurgia. - segurei a risada - Mas está tudo bem, a gente vai se ajeitar no meio dessa bagunça, tá tudo bem.
- Primeiro a gente precisa se ajeitar. - ela gargalhou e eu a acompanhei - O que somos?
- O que nós somos? - questionei refletindo sobre o que ela estava falando - Nós somos um caso indefinido. Quando você me pedir em namoro a gente namora, porque da outra vez, fui eu que pedi. - resmunguei.
- Mas eu comprei as alianças. - ela fez a curva em uma rua pouco iluminada - Foram dois reais, mas eu comprei.
- Tudo bem, fofa, você me pede em namoro e eu compro as alianças dessa vez. - fizemos um acordo.
Agora, ela parecia estar bem mais tranquila. Conectou o seu celular no alto falante do carro e deu play na sua playlist, onde variava entre funk, pagode, sertanejo, rock e internacional. Mais quinze minutos ela estava estacionando a BMW na garagem da sua casa. Nunca me acostumei com o tamanho desse imóvel, com a faixada na cor amarela, só a garagem deve acomodar cinco carros, enquanto toda a casa era enorme e muito aconchegante.
Sai do carro juntamente com ela e já ia subir a escada dos fundos, que vai em direção ao seu quarto, mas fui impedido pela morena que segurou a minha cintura em um abraço apertado. Voltei a tentar subir as escadas, mas ela me imobilizou, em um abraço ainda mais apertado. Tentei reclamar mas foi em vão, já que ela é maior que eu e caminhava a passos rápidos até a porta principal da sua casa, que dá direito na cozinha, que está movimentada, pois consigo escutar a voz da sua família por ali.
Ela abriu a porta de madeira com detalhes em vidro e a atenção de todos se voltou em nós. Minhas bochechas se avermelharam e eu tentei esconder meu rosto no peito da Lud, mas foi em vão, já que ela estava se divertindo com tudo isso. Silvana sorriu de forma carinhosa, enquanto Luane e Marcos sorriram de lado, como se quisessem brincar com esse acontecimento.
- Olha quem veio passar a noite com a gente. - a cantora disse e finalmente me soltou.
- Boa noite, Bru! - sua mãe foi a primeira a me cumprimentar - Vamos ter a honra da sua presença para o nosso jantar?!
- Boa noite, tia. - falei tímida e me aproximei da mais alta para lhe abraçar - Vocês puderam ver que a Ludmilla me arrastou, não é?
- E você nem tava gostando né? - Marcos questionou e gargalhou alto sendo acompanhado da irmã, que estava sentada ao seu lado.
- Você é da família, Bru. Não precisa ficar com vergonha. - Luane sorriu maliciosa.
- Sim, Bu, fica tranquila. - a morena abriu a porta da geladeira e pegou uma garrafa de água, sem perguntar nada, ela estendeu a mão em minha direção e eu peguei a garrafa de plástico, a abri e dei um gole na água.
- Como foi a gravação, meu bebê? - escutei Silvana questionar para a morena que está fazendo o mesmo ato que eu.
- No início tava dando tudo errado. O Fabrício queria me dar um tom mais alto do que eu consigo cantar. - contou - Mas depois ele percebeu que não iria dar certo e gravamos no tom original. O tio tava por lá e também ajudou. - explicou.
- Eu não vou com a cara do Fabrício. - Luane fez uma careta ao falar do homem - Não sei, ele não me passa confiança.
- Não começa com esses papos, Luane. A sua irmã já é paranóica, você ainda diz isso, amanhã ela demite o homem. - Silvana falou séria.
Me sentei no chão - a contra vontade da Sil e da Lu - mas é o lugar mais confortável para que minha coluna pare de doer. Ficamos conversando enquanto a tia Silvana fazia o jantar e quando estava perto do fim, Ludmilla me chamou para subir até o seu quarto e tomar um banho, para que possamos jantar limpas e cheirosas.
--------------------------------
Assim que bater 35 comentários, tem mais capítulo.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro