Coisas que não precisam ser lembradas
Pov' Ludmilla
Passamos a tarde toda em volta da piscina bebendo, com exceção da Brunna que todos os seus drinks são 0 álcool. Vez ou outra nos distraímos com alguma bobeira do Michel ou dos nossos amigos, mas a nossa bolha estava sempre formada entre nós duas. Dividimos o mesmo assunto, a mesma risada e o mesmo carinho. E é exatamente isso que me torna cada dia mais apaixonada pela Bru.
Devem estar chegando as oito horas da noite e ainda estamos de biquíni molhados porque entramos na piscina, mas nenhuma tem a força de subir até o quarto para trocar, então ainda estamos jogadas nas espreguiçadeiras, agora observando a lua que começa a tomar conta do céu estrelado de Angra dos Reis. Essa com certeza é uma das cidades mais bonitas do Rio de Janeiro.
- Ela é muito plena. - escutei a Patrícia falar com a Brunna, que bebia água com gás e eu acabei gargalhando.
- Eu ainda vou ver ela morrer de beber nessa vida. - Matheus debochou da médica que lhe mostrou o dedo do meio.
- Eu já vi uma vez. - comentei mas recebi um olhar bravo da minha namorada.
Início do Flashback
Hoje tem uma baladinha aqui em Duque de Caxias e pra comemorar meus dois meses de namoro, acabei convidando a Bru pra ir lá comigo curtir a noite e é claro que ela aceitou. Combinamos de nos encontrar as nove da noite, já são oito e eu ainda nem comecei a me arrumar. Sempre fico indecisa quando saio com ela, nunca sei o que me vestir, já que ela está sempre muito bem arrumada. Fico até constrangida.
Suspirei pesado ao ser atingida por essa chuva de pensamentos opostos e caminhei até meu guarda roupa, encontrando uma calça que eu nunca havia usado. Até porque mal me serve. Porém é a única coisa que tenho para hoje. Peguei também um cropped preto e fui para o banho. Lavei meus cabelos e vesti a roupa escolhida. Por fim, fiz uma maquiagem e deixei meu cabelo preso em um rabo de cavalo.
São nove e dez, provavelmente nesse horário ela já deve estar furiosa com o meu atraso e deve ter me ligado horrores. Mas preferi não olhar o celular, apenas peguei tudo o que iria precisar e corri em direção a balada que já tava com uma fila enorme na porta e a minha morena lá, com um semblante bravo, podendo matar qualquer pessoa a qualquer momento.
- Oi, minha vida. - chamei sua atenção.
- Oi, minha vida? Ludmilla eu tô aqui a um tempão te esperando. Olha o tamanho dessa fila, vamos passar a noite toda só aqui do lado de fora. - falou tudo de uma só vez.
- Amor, você tá aqui a no máximo quinze minutos. Deixa de ser exagerada. - beijei sua bochecha - Nossos ingressos já estão comigo. É só a gente entrar.
- Essa fila aqui, é só pra entrar. - forçou um sorriso e eu murchei. Realmente iríamos passar a noite toda esperando para entrar.
- Me perdoe. - pedi - Eu não sabia o que usar e acabei demorando mais que o planejado. Estraguei a nossa noite. - falei triste.
- Você fica linda usando qualquer roupa, Ludmilla. Não deveria se preocupar com isso. - falou enquanto andava, pois a fila começou a diminuir.
- Você é perfeita, sabia? - a abracei por trás - E está linda nessa noite. Tenho certeza que iremos aproveitar bastante.
Ficamos cerca de quarenta minutos na fila, até entrar na balada. Estava bastante cheia, mas encontramos um espaço mais vazio, próximo ao bar, bem na lateral do palco, ao lado dos camarotes. Brunna está a minha frente enquanto eu apoio meus braços em sua cintura, que está se movimentando no ritmo da música que está tocando.
- Eu estou com sede. - comentei - Vou pegar uma bebida. Você quer algo?
- Não sei, Lud. - se virou para me olhar - Não entendo de bebidas. Quer escolher algo pra mim?
- Quero. - sorri - Você vai amar minha escolha. Preciso só de alguns minutos pra ir buscar. Se cuida aí.
Ela concordou com a cabeça e eu me afastei pra ir até o bar e pegar nossas bebidas. Para mim eu escolhi um coquetel de doce de leite com uma leve dose de vodka. E para ela, um bom e grande drinks de vodka de maçã verde e limão siciliano. Voltei para onde estávamos e lhe entreguei o copo na mão. No início ela ficou em dúvida se beberia ou não, mas logo deu um grande gole e fez uma careta.
- Eu peguei leve com você. - me defendi e ela me entregou o copo - Já vai parar? Desse jeito você nunca vai se acostumar a beber.
- Isso é horrível. - comentou limpando a boca.
- É que você bebeu muito. - expliquei - Bebe de golinho a golinho. Você vai amar.
E eu não estava errada. Brunna adorou essa bebida e só no período que estávamos ali na balada, ela bebeu uns sete copos e pra ir embora, bebeu um coquetel de whisky que tava sobrando no bar. Ela já não aguentava ficar em pé e eu não estava muito diferente, porém conseguia me segurar.
- Tudo girando. - falou gargalhando enquanto se apoiava no meu corpo.
- Amor, você bebeu pra caralho. - falei também achando graça da situação - Como é que você vai pra casa assim?
- Eu não vou pra casa. - fez uma parada rápida e acabou encontrando fortemente na parede.
- E vai pra onde? - perguntei.
- Eu vou pra sua casa. - falou enquanto passava o dedos em seus lábios, em forma de brincadeira - Assim de perto você é tão sexy.
- E de longe não sou? - perguntei brincando e ela parou para pensar - Brunna!
- Você é sexy de qualquer lugar. - sorriu de lado - Mas de quatro, fica melhor ainda.
- Você tá chapadinha. - gargalhei também me apoiando na parede - Melhor a gente ir embora agora.
- Nós vamos pra sua casa? - perguntou - Foder bem gostoso. - sussurrou.
- Vamos, Bru. - sorri - Bem gostoso.
Fim do flashback
E assim tivemos uma noite de pirar.
- Eu odeio quando você lembra de coisas que não precisam ser lembradas. - falou me olhando de longe e eu sorri.
- Tem certeza que não precisa lembrar desse dia? - questionei erguendo as sobrancelhas e um pequeno sorriso nasceu em seus lábios, ao se recordar do resto da noite.
- Aí credo, gente. Vocês são estranhas, qualquer coisa vira uma tensão sexual do caralho. - Luane reclamou.
- Só tá assim porque não tem ninguém pra dar. - Marcos falou e todo mundo gargalhou.
- E mesmo se eu tivesse. - fez uma careta - E você só acha graça, porque vive pegando as duas no flagra. Tenho dó da minha imaginação.
- O maior empata foda desse planeta. - falei batendo na cabeça dele - Vê se não me empata hoje.
- Hoje tem. - escutei Patrícia gritar e fazer uma comemoração estranha. Enquanto Brunna quase morria de vergonha. Ainda bem que minha família tá tudo do lado de dentro, se não ela ia ficar ainda pior.
Pov' Brunna
Cada vez que Ludmilla vinha mais em minha direção, tinha vontade de a matar. Porém eu me lembrava daquela noite e toda a raiva que eu estava, se transformava em tesão. Um tesão inexplicável, que por sorte eu consigo controlar lá frente dos outros. Se não eu já teria feito coisas obscuras nessa piscina.
- Tá lembrando né? - questionou gargalhando e eu revirei os olhos - Fica brava não, amor, eu não disse por mal.
- Tem problema ter falado não, amor. O problema é que eles não vão esquecer disso tão cedo. - dei um gole na água.
- O segredo é ignorar eles, ou revidar. Se você demostrar que tá brava, eles ficam pior. - sorriu e se sentou ao meu lado - Acho que já tá ficando frio e se eu não tomar meu banho vou gripar.
- A gripe é um vírus. - falei óbvia, mas me lembrei que ela não entende dessas coisas - Você não vai gripar por estar descalço ou molhada. A gripe se pega no ar. - expliquei.
- Aí, vida, você é muito inteligente. - falou orgulhosa - Quando a gente tiver um filho, tem que puxar você, porque se puxar eu vai ser uma merda.
- Verdade. - concordei para provocar.
- É verdade o que, Brunna Gonçalves? - perguntou brava.
- Nada, uai. - fingi de desentendida - Vai lá tomar o seu banho, que depois de você eu vou. Também tô começando a sentir frio.
- Vamos tomar juntas. - pediu manhosa e eu neguei com a cabeça - Pufavor, mozão.
- Não vida, toma o seu primeiro que depois eu vou. - me levantei - Sua mãe deve tá precisando de ajuda pra fazer o jantar.
- Brunna, você é ótima pra inventar desculpa né? - abusou - Minha mãe deve tá nem sabendo quem ela é... Quem dirá fazer o jantar. Se depender dela hoje a gente passa fome, então melhor até já pedir algo no aplicativo.
- Então já vou pedir de uma vez. Depois vai demorar chegar. - peguei meu celular do bolso - Não demora no banho, ok? - pedi mesmo sabendo que ela iria demorar.
- Ok, amor. - selou nossos lábios pra iniciar um beijo antes de subir, mas fomos interrompidas pelo Michel e seu pai.
- Que trauma cinematográfico. - China falou fazendo uma careta e eu revirei os olhos, tentando minha língua pra não proferir nenhum xingamento na frente do menino.
- O trauma que eu tenho é de ter te conhecido. - falei irônica e ele ficou indignado.
- Ludmilla, você precisa aprender a controlar essa sua mulher. - falou bravo.
- Resolvam entre vocês. Tenho nada com isso. - falou antes de correr pro segundo andar.
Me sentei em um banco do balcão em que divide a cozinha da sala de estar, onde está a minha sogra e a esposa do China, bêbadas e conversando sobre uma coisa totalmente aleatória. Michel logo saiu do colo do pai e veio em minha direção, se sentando no meu colo, apoiando a cabeça no meu peito.
- O que você vai pedir pra comer? - China perguntou ao me ver abrir o aplicativo.
- Ainda não sei, talvez um japonês, ou algo no Burger King. - falei pensativa, pois ainda não tinha decidido.
- Hambúrguer! - Michel falou animado e eu sorri, já sabendo o que iria comprar pra gente comer.
- Vamos pedir hambúrguer então, meu príncipe. - beijei sua bochecha - Você merece tudo.
- Você fica mimando ele, aí lá em casa ele acha que deve ser assim também. - China falou sério - Só que lá a banda toca em um outro ritmo.
- Mal amado. - falei em um tom só pra ele escutar - Vou fazer os pedidos pra todo mundo. Quando chegar, você vai lá pegar.
- Não sei como a Lud te aguenta. - falou pensativo - Deve ser porque vocês não moram juntas, porque se fosse, ela já teria surtado, tenho certeza.
- Ela me ama. - falei simples.
Escolhi os doze pedidos, para todos que estão aqui e enviei para a lanchonete que fica ao outro lado da cidade. China voltou pra sala e se sentou ao lado da sua esposa e o pessoal que ainda estava do lado de fora, adentrou para tomar seus banhos. E como já era de se imaginar, Ludmilla ainda estava no banheiro, provavelmente ainda nem começou o banho, então fui obrigada a subir para chamar sua atenção.
- Eu já tomei banho hoje. - Michel me contou enquanto andávamos no corredor em direção ao quarto que Ludmilla separou para nós duas.
- Já? - perguntei e ele concordou com a cabeça - Mas vai tomar de novo, não é? Você passou a tarde brincando, deve tá todo suado.
- Eu não quero tomar banho de novo não, Una. - falou manhoso e eu sorri.
- Depois você vê isso com a sua mamãe e o seu papai, tá bom? - falei - Agora nós vamos ver se a Lud já tomou banho, porque tá demorando muito.
- Ela sempre demora muito. - o pequeno levantou o braço com dificuldade para abrir a porta do quarto - Você fica brava?
- Eu fico brava, meu amor. - falei adentrando o quarto que está devidamente arrumado. O barulho do chuveiro está ligado e é possível escutar minha namorada cantarolar alguma música - Fica aqui, que eu vou lá chamar ela, tá bom? - ele concordou com a cabeça.
Ele se sentou sobre a cama e eu caminhei até a porta, dando dois toques antes de adentrar o banheiro e ver Ludmilla ensaboando o corpo. Que cena. Contive um sorriso e olhei brava para ela, que me olhava curiosa.
- Você não acha que já passou da hora de sair daí não? - questionei e ela negou com a cabeça - É sério, amor. Isso pode te fazer mal, ainda mais depois de ter bebido.
- Eu tô bem, Bru. - fez um bico com os lábios - Aproveita que você já está aqui e vem tomar banho comigo. - pediu.
- Era uma estratégia? - perguntei e ela sorriu sapeca - Sinto muito em te dizer, mas o seu afilhado, tá te esperando lá no quarto. Te dou dez minutos pra esse banho acabar e você vestir seu pijama.
- Mas que merda. - resmungou ao me ver fechar a porta do banheiro.
- Você acredita que ela ainda não acabou, Chechel? - me sentei ao lado dele naquela cama que com certeza é três vezes maior que eu.
- Sim. - disse simples - O que nós vamos fazer agora? Estou entediado.
- Está entediado? - gargalhei - Podemos procurar algo bem legal pra gente fazer, mas eu também preciso tomar meu banho. Estou toda suja.
- Está cheirosa. - elogiou e na mesma hora a Lud saiu do banho, com os olhos semi cerrados para ele.
- Eu ainda acho que vou perder ela pra você, Michel. - fingiu estar brava - E sabe o que você merece por isso?
- Cosquinha não. - ele gritou antes de sair correndo do quarto, com a cantora atrás dele.
Eu poderia ter acompanhado os dois, porém realmente precisava tomar meu banho. Então deixei eles brincarem sozinhos e fui até minha mala pegar algo para vestir. Como ainda está todo mundo acordado, escolhi por algo mais "comportado", sendo assim um conjunto de moletom vermelho. Além das roupas, peguei tudo que iria precisar e fui pro banheiro.
Demorei cerca de trinta minutos, para tomar o banho, passar hidratante, vestir a roupa e ajustar meu cabelo, que estava horrível. Foi só eu sair do quarto que escutei a campainha tocar, e como a gente não está esperando ninguém, imaginei ser os nossos pedidos. Desci as escadas devagar, já que o China iria pegar tudo e pude ver que todos já tinham tomado seus banhos e quem estava muito bêbado, já começava a melhorar.
- Vem, norinha. Vou abrir um refrigerante só pra você. - essa com certeza é a maior prova de amor que a Silvana faz por mim.
- Não sei como essa galera reclama das sogras, a minha é perfeita. - corri em sua direção.
- Você é a nora favorita dela. - Marcos debochou. Até porque eu sou a única nora que ela tem.
- Até porque se depender de você e da Luane pra dar um genro ou uma nora vai demorar uma eternidade né? - abusei e escutei a Lud gargalhar.
- Volta pra Londres, Brunna, por favor. Eu compro a sua passagem. - Luane pediu e eu mandei um beijo no ar, acompanhando a Sil até a cozinha.
A família da Ludmilla com certeza é a mais divertida que eu conheço. Os momentos mais simples, como esse de agora, se tornam uma lembrança para rir daqui cinco anos. E é exatamente isso que me encanta em todos eles. Apesar das inúmeras diferenças entre uns e outros, o amor e a parceria sempre fala mais alto.
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