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Chá revelação

Pov' Ludmilla

- Amor, você acha que minha mãe e o Renato estão namorando? - perguntei enquanto a gente comia a pizza, que chegou a poucos minutos, mas já está na metade, igual o refrigerante que Brunna pediu só para ela, já que eu fiquei no suco que já tinha aqui em casa.

- Eu não sei, vida. - falou me olhando - Mas se estiver, tem algum problema pra você? - me perguntou e eu parei para refletir se tinha algum problema.

Flashback on - 15 anos atrás

- Eu não vou aceitar você trazer essas coisas ilícitas aqui para casa, Joel. - escutei minha mãe gritar com o meu pai - Eu não mereço isso. A nossa filha não merece isso.

- Silvana, por Deus. Você está colocando problema onde não tem. - ele disse em um tom de voz calmo, mas eu sabia que também estava estressado - E foi o único jeito que eu encontrei de não fazer vocês passarem fome.

- Até porque trabalhar você não sabe, né? - Silvana questionou irônica - Você está tirando o de comer de outras pessoas para trazer pra cá.

- Então passa fome, porra. - o homem gritou e eu me encostei na porta do meu quarto, suspirando pesado, por estar escutando mais uma discussão do casal, sem pode fazer nada.

- Essa é a última vez que você grita comigo, está escutando? - minha mãe disse brava - Eu faço de tudo pela nossa família e você não vai me tratar assim.

- Que família, Silvana? - questionou - A gente tem essa filha, porque você quis. Por mim eu estava bem longe daqui, não estou nem aí pra vocês. - senti meu rosto se molhar em lágrimas - Eu tô fazendo o que eu posso pra arrumar comida, se você não quer assim, tem outras que queiram.

- Então leva pra elas. Eu não vou aceitar o seu crime. - minha mãe falou - E se você não quer estar aqui, pode ir embora. E não volta mais. Eu não mereço esse seu amor de migalhas e minha filha muito menos.

Flashback off

- Amor, está tudo bem? - escutei Brunna me perguntar, ao ver que eu tinha parado de comer e estava com o olhar perdido. Balancei minha cabeça concordando com ela e forcei um sorriso - O que houve?

- Ah, Brunna, eu não quero que a minha mãe passe por tudo aquilo de novo, não. - falei sem explicar, pois sei que ela já sabia o que eu estava falando. Um sorriso triste nasceu em seus lábios e ela suspirou - Sabe, eu quero que ela seja feliz.

- A Silvana é bem feliz, Lud. - Brunna sorriu - Ela por perto os filhos que tanta ama. Hoje ela não se preocupa se vai ter ou não o que comer no dia de amanhã. Está com muita saúde. - falou calma - Ela se curou de tudo aquilo que aconteceu.

- Mas isso não anula. - concordou com a cabeça - Poxa, ela tentou com o pai da Lu, e não deu certo, tentou com o pai do Yuri e por mais que tenham ficado muitos anos juntos, também não deu certo. Não quero que ela sofra de novo. Ela fica péssima nos términos.

- É uma coisa que você não tem controle, vida. - me ajeitou na cama - Por mais que eles tenham a deixado triste em um curto período de término. Eles fizeram ela muito feliz em um momento da vida dela, não é mesmo? - concordei com a cabeça - E você não pode logo pensar que ela e o Renato não vão dar certo. Talvez ele seja o amor da vida dela e não vão passar pela fase do término. E se passar, tudo bem, ela vai se curar novamente. Isso não quer dizer que ela seja uma pessoa infeliz.

- Você sempre tem razão de tudo. - gargalhei baixinho - Mas até que eu gosto do Renato. Embora ele seja meu funcionário, eu gosto dele, é bastante engraçadinho.

- Parece que ela também gosta dele. Estive reparando hoje cedo, ela está até com um brilho diferente. - comentou - Se eles estiverem juntos, vai fazer muito bem a ela.

- Como ela vai contar pra gente? - perguntei mesmo sem saber se de fato eles estão juntos.

- Vai ser tipo um chá revelação. Ela vai juntar a família toda, colocar o nome dele em um balão e pedir vocês pra estourarem. - Brunna falou e eu gargalhei alto - Eu consigo nitidamente escutar a música de fundo... "na bruma leve das paixões que vem de dentro".

- Brunna, puta que pariu, você é muito além que o normal. - comentei entre risadas - É assim que você imagina o chá revelação do nosso filho?

- Talvez. - deu de ombros - Mas não sei se eu quero chá revelação. Porque se for uma menina, vai ficar nítido na minha cara, a decepção. - comentou e eu lhe olhei curiosa.

- Só pensa em ter menino? - perguntei e ela concordou com a cabeça - Eu sempre quis ter menina! - comentei e acabei sorrindo - A gente vai precisar conversar muito antes de termos um baby.

- Meu amor, isso só vai acontecer em um futuro muito distante. Então pode aquietar o seu rabo. - falou enquanto pegava mais um pedaço de pizza.

Enquanto eu comia, ainda dei inúmeras gargalhadas, ao lembrar do "chá revelação" do namoro da minha mãe. Quando a gente terminou de comer, Brunna se propôs a levar os lixos e os talheres para a cozinha enquanto eu escolhia o nosso filme da noite. Acabei escolhendo o filme "Perdida", que é uma reprodução do livro da Carina Rissi. Quando a médica voltou, primeiro escovou os dentes - coisa que eu vou fazer depois - e se jogou ao meu lado, se ajeitando em meu peito.

- Amor, eu vou fazer uma música. - eu quase gritei enquanto empurrava ela, para eu poder me levantar. No início ela me olhou assustada, mas acabou gargalhando, pois sabia que era super normal eu ter uma ideia mirabolante e correr para gravar.

E foi exatamente isso que eu fiz depois de calçar os meus chinelos e pegar meu violão. Desci a escada do meu quarto, que dá em direção a área externa que estava vazia, me sentei em uma das cadeiras e apoiei meu celular na mesma perna que o violão estava apoiado, para gravar a inspiração que me atingiu.

Pra quê brigar com o seu bem?

Alguém que só te quer tão bem

Ciúme é normal, todo mundo tem

Mas tem que medir

Nada que é demais faz muito bem

Minhas mãos dedilhavam as cordas do violão, enquanto eu cantava o acústico da música que acabei de compor para a minha namorada. Fiz uma pausa pra escrever a primeira parte da música e em seguida continuei a segunda.

Eu não seria capaz de trocar você

Quero estar contigo até eu envelhecer

Dormir de conchinha com a minha neguinha

Te abraçar quando o mundo te der medo

Fazer do meu peito seu melhor travesseiro

Sentir o cheiro bom que vem do seu cabelo

Fiquei um longo tempo por ali, até terminar a música do jeito que estava na minha cabeça. Só então voltei para o quarto, encontrando a minha namorada já dormindo. Guardei o violão no seu suporte e caminhei até o banheiro, escovando os meus dentes com dificuldade por causa do corte.

Só então eu me deitei, com cuidado para não acordar a médica, e me ajeitei no seu corpo que estava torto sobre a cama. Beijei sua testa e fechei os olhos, adormecendo um pouco depois disso tudo.

Acordei em uma certa hora da madrugada com a Bru me chamando. Abri os olhos ainda sonolenta e vi ela com um copo de água na mão e os remédios na outra. Fechei os olhos fingindo estar dormindo, mas não adiantou, ela me cutucou até eu aceitar me levantar para tomar o remédio.

- Se você sentir alguma coisa, me acorda, tá bom? - escutei ela falar, também sonolenta e eu respondi um com "uhum".

Por sorte eu não senti nada e não precisei acorda-la, e muito menos me acordar. Tendo uma ótima noite de sono.

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Capítulo pequeno apenas para encerrar as postagens de domingo!

* Eu estou morrendo de rir com a parte do chá revelação, pqp!

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