Cabo Frio
Pov' Ludmilla
Eu tentei- ou não - disfarçar o quanto aquela roupa da Brunna havia mexido comigo. Fiz o caminho todo em silêncio, só respondia o que era perguntado diretamente a mim e ela percebeu isso, já que em certo momento se silenciou e encostou a cabeça no vidro do carro. Foram três horas de viagem até Cabo Frio ter a minha presença. A primeira coisa que fiz, quando desci do carro, foi alongar a minhas costas, que estavam doendo por ter ficado muito tempo na mesma posição.
O lugar estava vazio, o que me fez ficar bem tranquila, em relação a qualquer coisa que eu faça. Caminhei ao lado do meu irmão até chegar no camarim que preparado para mim nessa noite e Brunna veio atrás, como se não se importasse com todo o meu silêncio. E eu me incomodei com esse fato, já que ela também permaneceu em silêncio, como se estivesse tudo agradável. Mas não estava e era visível. Culpa da minha interminável atração por ela.
- Nossa, que lugar bonitinho. - Marcos falou ao observar o aconchegante lugar feito aos improvisos. E realmente estava bonito.
- Gostei das flores. - a médica passou os dedos pelo buquê de tangos, que estavam sobre uma mesa.
- Está tudo muito bonito. - falei me sentando de frente para o espelho, pendurado em uma parede - Pena que na hora de ir embora não pode levar nada. - gargalhei baixo.
- Mas isso não é pra você? - Brunna perguntou confusa e eu concordei com a cabeça - Então porque não pode levar?
- É tudo pra ela. Mas precisa ser consumido aqui. As únicas coisas que pode levar são os presentes dos fãs. - Marcos a explicou e ela pareceu entender, já que não fez mais nenhuma pergunta e só sentou, ficando nas minhas costas. Mas fui rápida em virar a minha cadeira.
- Lud, você vai precisar de algo por agora? Eu tenho que ir na carro buscar suas roupas e sua maquiagem. - Marcos falou e eu a olhei.
- Não. Pode ir tranquilo. - falei simples e ele concordou com a cabeça, antes de sair do camarim, me deixando a sós com a Brunna.
Pensei que ficaria um silêncio horrível, mas ela foi rápida em começar um assunto, e o assunto que eu não gostaria que ela tivesse começado. Mas não me restou muita coisa, era isso ou não era nada.
- Eu estar aqui te incomoda? - perguntou e eu a olhei surpresa.
-Que? Porquê está falando isso Bru?
- Ah, Ludmilla. Você está estranha, ficou em silêncio o caminho todo. Está evitando me olhar. - falou óbvia - Eu estar aqui te incomoda?
- Claro que não, Bru. - suspirei - É só que eu estava pensando umas coisas, mas não vem ao caso. Eu estou feliz de você estar aqui, me desculpa se te fiz pensar ao contrário.
- Tudo bem. - disse simples - Não vai comer nada? Tem um monte de coisa gostosa. - ela mudou de assunto.
- Você acredita que eu não consigo comer nada antes do show? - comentei - Mas depois que acaba, eu acabo com tudo que está aí em cima.
- Você é meio doida. - comentou depois de soltar uma pequena risada - Você comentou com a sua mãe que eu estaria aqui hoje?
- Não. - a olhei - Porque?
- Minha mãe estava querendo saber onde eu iria, menti dizendo que estava em uma balada com o Mário. Porém me esqueci que sua mãe viria também, e bom, as duas estão best friends, então consecutivamente amanhã Miriam vai saber que menti para ela.
- Mentir é muito feio. - fingi estar séria, mas não contive um sorriso - Porém, fica de boa. Se você pedir, minha mãe não vai contar pra sua.
- Mas eu também não quero pedir uma coisa dessas, Ludmilla. - resmungou - Que tal, a sua mãe também não saber que eu estou aqui?!
- Ah, Claro. E você vai se enfiar onde? No meu bolso? - questionei com a sobrancelha erguida - O seu ingresso é pra mesma área em que minha mãe vai estar.
- Que droga. - ela cruzou os braços - Não tem nenhum outro lugar que eu possa ficar?
- Porque está agindo como uma adolescente que fez algo de muito errado e quer esconder de todo mundo? - perguntei e ela me olhou sem entender.
- Não estou agindo como uma adolescente. Eu só não quero que depois fiquem me enchendo o saco, eu quero paz. - respondeu.
- Eu quero paz. - imitei seu jeito de falar - Pra mim isso é coisa de gente doida.
- Doida é você. - ela franziu as sobrancelhas e me olhou brava - Consegue me responder se tem algum outro lugar que eu possa ficar?
- Tem que ver com o pessoal da equipe. Na hora que o Marcos voltar, eu peço esse favor pra ele. - respondi.
Uma incógnita percorreu por minha mente, enquanto eu tentava entender o porquê de ela estar com todo esse medo das pessoas pensarem as coisas a respeito de nós duas. Entendo que em certo ponto, se algo além do necessário viesse ao público, prejudicaria a minha carreira, mas ninguém, além de mim, ela e nossas famílias, sabe de tudo que aconteceu entre nós duas, então não é preciso todo esse receio, mas por fim das contas, respeitei ela e me virei para frente do espelho. Pelo reflexo vi ela pegar o celular e começar uma conversa de texto, com alguém. E também pelo reflexo percebi que nenhuma outra mulher é linda como ela, nem mesmo a Rebeca.
Flashback on
- Eu gosto de quando você me abraça assim, eu me sinto segura. - ela confessou enquanto suas mãos apertavam minha cintura e sua cabeça estava apoiada em meu peito.
- O mundo pode estar uma confusão lá fora, amor. Mas eu sempre serei o seu lar. - falei a olhando - A gente briga, mas a gente se ama muito e nada disso é capaz de separa a gente.
- A gente briga porque a gente tenta ser perfeitas e em seres humanos não existe perfeição. - falou calma - Porém o amor é pra quem tem consciência. E eu sou consciente o suficiente para saber que eu preciso de você pro resto da minha vida.
- Até quando eu te atentar? - questionei.
- Até quando você me atentar, me fazer morrer de ciúmes, me fazer te atender as duas da manhã, porque não consegue dormir e até quando você me fizer chorar. Eu vou te amar.
- Você é a mulher mais linda desse mundo, Brunna. Eu sou tão feliz por ter você na minha vida. - beijei sua testa.
- São os seus olhos, amor. - ela sorriu - Mas eu também sou muito feliz por ter você.
Flashback off
- Ludmilla, você está escutando o que eu estou falando? - sacudi a minha cabeça, na tentativa de me livrar da lembrança e pude ver Marcos me olhando bravo enquanto a Brunna me olhava confusa.
- Desculpa, mano. - forcei um sorriso - Eu tava pensando em outra coisa. O que você estava dizendo?
- Que você precisa trocar de roupa antes que o pessoal chegue, porque esse camarim vai virar uma loucura. - repetiu - Sua maquiagem já está aqui, você tem que fazer também. Enquanto você faz tudo o que eu te falei, vou levar a Brunna pra pista, já que ela não quer ficar na área vip. - falou.
- Tá bom. - falei simples - Você espera a gente antes de ir embora. Pra voltamos juntos. - falei com a morena que já havia se levantado.
- Claro, até porquê nem se eu quisesse voltaria sozinha, né! - disse divertida e eu acabei sorriso.
Ela saiu do camarim acompanhada pelo Marcos e eu me apressei para vestir a roupa, que deixa a maior parte do meu corpo a mostra. Como não sou muito boa em fazer maquiagem, decidi não abusar muito e fiz apenas o básico. Assim que terminei, minha mãe e meus irmão entraram no camarim, cada um com uma lata de cerveja na mão, com exceção do Yuri que estava bebendo um refrigerante. No colo do China estava Michel e eu me surpreendi com a presença do menino, que nunca havia ido em um show antes. Por falar em surpresa, também me surpreendi com a presença de Rebeca, que tinha um sorriso nos lábios.
- Hoje a noite começou cedo! - falei em voz alta e todos gargalharam.
- Nossa mãe está bebendo desde que saímos de casa, já está quase dando um pt. - Luane falou e nossa mãe negou com a cabeça.
- Não sei porque você é tão exagerada assim, Luane. Se eu bebi duas cervejas foi muito. - ela se argumentou, mas China interrompeu.
- Duas cervejas é um caralho, deve ter bebido dois engradados. - eu arregalei meus olhos.
- Vai voltar carregada hoje. - gargalhei com a minha própria fala - E eu aqui, não bebi nada ainda. O exemplo da família.
- Exemplo sou eu. - China aprontou para o Michel - Pai de família.
- Saudades do pequeno. - me aproximei e deixei um beijo na testa dele - Trouxe o fone, para diminuir o som pra ele, não é?
- Claro, eu sou um exemplo!
Pov' Brunna
Acompanhei o Marcos até chegar em uma área, tranquila, que tinham no máximo vinte pessoas, e cada uma tinha um copo de alguma bebida na mão. Ele me disse que ali estavam as pessoas que haviam sido convidadas pelos representantes do evento ou alguém que era conhecido de pessoas que possuíam um certo poder na cidade. Ele me deu uma pulseira, de acesso livre, para todas as áreas dali, inclusive o bar e salvou o seu contato no meu celular, para a comunicação na hora de ir embora. Logo depois disso ele saiu, me deixando ali, sozinha - de pessoas conhecidas.
Caminhei até o bar, e fiquei em dúvida de qual bebida pedir. Então optei por algo mais leve, até porquê, caso eu ficasse louca, não teria como eu me virar sozinha. A mulher me entregou um copo transparente com a bebida de cor amarela, na qual eu dei um longo gole, molhando a minha garganta que estava seca. Tirei uma foto da bebida e postei nos meus melhores amigos, mesmo o meu Instagram sendo trancado, haviam algumas pessoas que eu não tinha contato o suficiente para expor minha vida.
Não demorou muito para que dessem início ao show. Com o Dj da noite tocando algumas músicas da Ludmilla, que embora eu não conhecesse, poderia saber que era apenas pela voz. Alguns bailarinos entraram no palco e eu conhecia apenas um e era de vista, pois Ludmilla já havia postado algumas fotos com ele. A primeira música começou e ela entrou no palco. Foi como se a bebida que eu estivesse bebendo tivesse espinhos e todos se agarraram em minha garganta. Tossi alguns vezes para tentar me livrar dessa sensação, mas foi em vão. Sem saber se eu estava assim por conta do lindo look que ela está usando, ou apenas por a ver sobre o palco pela primeira vez.
Me acostumei com essa ideia só quando a quinta música foi cantada e pro meu azar, eu sabia exatamente qual era o motivo da sua composição e ver ela cantar com tanta dor me causou uma pequena crise de culpa. Me encostei na grade que separa a pista da área comum e dei o último gole na bebida, enquanto em meu rosto, uma única lágrima fria, escorreu em minhas bochechas.
Se ele perguntar por mim
Diga que eu estou feliz
Que eu estou curtindo a vida
Do jeito que eu sempre quis
Só não a diga a verdade pra ele
Que eu estou sem alegria
Que eu fiz o meu quarto
Da minha pequena ilha
Estou com sobrancelhas e cabelo pra fazer
Que eu perdi a vontade de viver
Mas ele sabe que isso nem combina comigo
A garota que fica de coração partido
Por mais que seja difícil
Eu vou me acostumar
O tempo é o melhor remédio pra me ajudar
Mas você nunca me verá chorar
Todos ali conseguiam acreditar fielmente que ela tinha escrito essa música para ele, mas isso era apenas uma desculpa para sua dor. Tentei não manter contato visual com ela, mas eu sentia seu olhar fixo em minha direção e isso me deixou ainda pior. Virei de costas para o palco, fingindo mexer em algo dentro da minha bolsa e só consegui a olhar novamente quando sua música Garota Recalcada foi cantada. E de todas essa foi a única que eu conhecia, porque quando eu fui embora, ela tinha acabado de compor ela.
Com exceção dessa triste parte do show, o resto foi divertido. Foi admirador ver todos ali, gritando o nome dela. Ver um sonho realizado, encheu o meu coração de orgulho, e minha vontade era apenas de abraça-la e dizer que sempre acreditei dela. Algumas pessoas já estavam indo embora, deixando o lugar vazio, e pude ver Silvana e Luane na área vip. Então enviei uma mensagem para o Marcos, dizendo que iria espera-los enfrente o lugar que chegarmos. Caminhei até lá e me apoiei no carro que eu julguei ser do Marcos, já que o dela é roxo.
Fiquei ali por duas horas e meia, e só quando o relógio marcou quatro horas da manhã, ela saiu do camarim, acompanhada por Marcos e por uma mulher que eu não conheço. As duas se despediram com um beijo e graças a má iluminação do lugar, eu não consegui ver todos os detalhes e nenhuma delas conseguiram ver a minha expressão de nojo, raiva e tristeza. Era a primeira vez que eu a via assim com alguém e queria muito não ter visto.
- Brunninha, desculpa a demora, mas é que o camarim fica sempre muito cheio e é impossível sair cedo. - Marcos se redimiu - E a Ludmilla gosta de fazer um show particular pra quem está lá.
- Eu nem bebi muito, só três copos. - ela fez a quantidade com os dedos - Só que tinha muita gente e eu precisei me despedir de todos.
- Não tem problema. - falei simples.
- Vamos embora, antes que o dia amanheça e a gente fique por aqui mesmo. - Marcos destravou o carro para que entrássemos e eu me sentei no mesmo lugar que vim. Atrás do banco do passageiro.
- O que achou do show, Brunna? - Ludmilla perguntou depois que Marcos deu partida no carro.
- Foi legal, você canta bem. - respondi observando a paisagem do lado de fora.
- Só isso, Bru? - ela se virou para me olhar - Pensei que tivesse sido incrível, como você estava esperando.
- Mas foi. - forcei um sorriso - Eu só estou cansada. Faz muito tempo que não consigo dormir uma noite completa e essa não será diferente.
- Entendi. - ela falou simples e voltou a se virar para frente.
- Acaba que eu nem vi o Yuri. - comentei depois de um longo tempo.
- Terão outras oportunidades. - ela respondeu simples e Marcos fez um típico "hummm" - Cama a boca, Marcos.
- Desculpa. - ele levantou uma mão fingindo rendição - Mas a gente tem que levar a Bru lá em casa. Pra matar a saudade de verdade.
- Temos sim. - a cantora respondeu.
Eles indicaram uma conversa sobre algo que aconteceu nos bastidores do shows e a única coisa que percorria em minha mente era saber quem era aquela mulher e se as duas estão namorando. Encostei a minha cabeça no vidro da janela e suspirei pesado. Sei que em todos esses anos Ludmilla deve ter ficado com inúmeras pessoas, mas eu nunca havia visto com os meus próprios olhos, e não estava preparada para ver. Não tão cedo.
Quando o carro foi parado enfrente o meu prédio, o sol já estava presente no céu de São Conrado e Ludmilla dormia tranquilamente no banco da frente. Me despedi do Marcos com um beijo na bochecha e sai do carro com cuidado para não acorda-la. Adentrei o prédio e subi direto para o meu apartamento, o encontrando vazio, me fazendo ficar feliz, pois não precisaria conversar com ninguém nesse momento, porque é a última coisa que quero.
No meu quarto, separei um pijama e tomei um banho, para tirar o suor do corpo e a maquiagem. Antes de dormir, arrumei a minha maleta que levarei para meu plantão hoje a noite e só então deitei sobre cama, não fazendo questão de responder as mensagens que estavam chegando em meu celular. Adormeci mais rápido do que estava imaginando.
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