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06

Caminhava lado a lado de Jaemin em direção a ponte, o que me fez lembrar de quando éramos crianças e sempre vínhamos a essa ponte para brincar ou mergulhar na água. 

     O som das ondas se chocando uma nas outras era reconfortante e eu respiro fundo sentindo o mesmo cheiro familiar. Jaemin da um pequeno sorriso quando me olha e eu retribuo o mesmo sorriso. 

     Estávamos o tempo todo em silêncio o que me incomodava de certa forma, pois era estranho estar ao lado de Jaemin, ainda não entendo o motivo da estranheza e isso me incomodava. Talvez eu deva quebrar o gelo. 

⎯⎯ Você continua desenhando? ⎯⎯ Ele me encara.

⎯⎯ Sim, abri uma galeria aqui na ilha.

⎯⎯ Isso é incrível! Parabéns! ⎯⎯ dou um pequeno pulo de alegria e ele sorri. 

⎯⎯ E você, ainda gosta de moda? 

⎯⎯ Sim, mas mudei meu caminho. Sou professora de química. 

⎯⎯ Uau... realmente não esperava. Não combina com você. ⎯⎯ fico surpresa.

⎯⎯ Por quê? 

⎯⎯ Não sei explicar, é que você não era nem um pouco intelectual.

⎯⎯ As pessoas evoluem.

⎯⎯ Deve ser. 

    Sinto suas respostas meio secas. Será que ele não está afim de conversar? Acho melhor ficar calada. É estranho vê-lo tão calado, ele sempre falava bastante quando éramos crianças. Amava passar a noite nessa ponte conversando com ele, falávamos mal dos professores, falávamos sobre nossos sonhos e adorávamos falar mal de Yeonjun que estava sempre em pé de briga com Jaemin. 

    Chego em casa ainda um pouco nostálgica. Minha avó já havia ido dormir e eu tomo um banho antes de me deitar e vou até à janela encarar as mesmas estrelas que encarei na ponte. Meus olhos descem até a janela de Rafael onde vejo as luzes abertas. 

     Já está tão tarde, por que ele ainda está acordado? Vejo sua sombra na parede e me escondo um pouco e logo avisto Yeonjun pela janela. Ele estava despreocupado sem camisa, somente com uma calças moletom andando pelo quarto. 

    Meus olhos são brevemente abençoados por uma visão espetacular, e abençoado seja quem criou o moletom. 

    Percebo o que estava fazendo e fecho minha janela de uma vez. O que você está pensando Yeji? Está ficando maluca? Você não é assim! Se controla garota. 

    Pego meu cobertor e deito rapidamente na cama. Respiro fundo ainda sentindo meu coração palpitar forte. No final acabo dormindo pensando no grande peitoral de Yeonjun.

    A noite cai e eu tomo um banho demorado, me preparando para um jantar em que Sol-I fará e nos convidou. Será somente eu, ela e minha avó. Bom, ela não tocou no nome de Yeonjun e eu espero que ele não esteja lá. Sinto que não poderei o encarar depois da forma em que o olhei ontem a noite. Nunca fui tão cara de pau assim. 

    Visto uma calça jeans preta e um cardigan azul-claro com margaridas de tricô. Penteio meu cabelo e cravo uma batalha para saber se o deixo solto ou amarrado. No final opto por deixá-lo solto e coloco alguns anéis e um colar com um pequeno pingente de um girassol.

    Acho que está bom, será somente um jantar mesmo. Não sei por que estou tão ansiosa. 

     Desço e encontro minha avó já pronta com seu longo vestido rosa florido. 

⎯⎯ Vamos? Sol-I me disse que Yeonjun já chegou da clínica então já está na hora. ⎯⎯ ela me avisa.

⎯⎯ Espera, Yeonjun vai estar? ⎯⎯ gelo na hora. 

⎯⎯ Claro que sim, ele mora com Sol-I. Não me diga que ainda estão brigados.

⎯⎯ Mais ou menos. 

⎯⎯ Como vocês são infantis ⎯⎯ minha avó balança a cabeça.

⎯⎯ Vamos logo! ⎯⎯ Pego em sua mão e saímos de casa. 

     Ao chegar na casa de Sol-I fomos muito bem recebidos e eu já pude sentir o cheiro de torta de frango no ar. Lembro-me de passar as tardes no sofá de Sol-I jogando com Yuri sua outra neta enquanto Yeonjun implicava com a gente. Ele até que jogava às vezes tentando mostrar ser superior a nós e até que era divertido. 

    Pergunto-me onde está Yuri hoje em dia. 

⎯⎯ Obrigada pelo convite Sol-I ⎯⎯ a abraço. 

⎯⎯ É um prazer tê-las aqui, é como uma volta no tempo.

⎯⎯ Trouxe uma deliciosa torta de limão. ⎯⎯ Minha avó a coloca na mesa. 

⎯⎯ Yeonjun já está descendo foi só tomar um banho, passou o dia na clínica hoje e mesmo cansado aceitou jantar conosco. 

⎯⎯ É um menino tão trabalhador ⎯⎯ minha avó tem compaixão.

    Pergunto-me o trabalho que foi montar aquela clínica até o que é hoje, ele realmente se esforçou e eu aprecio isso nele. Deve ser difícil gerenciar aquilo tudo. 

     Nos sentamos a mesa e logo Yeonjun desce, também vestia uma calça jeans preta e uma camisa branca. Os cabelos molhados caiam sobre a testa e seus olhos felinos pareciam cansados. 

⎯⎯ Boa noite ⎯⎯ Ele fala com simpatia e senta ao lado de Sol-I, a minha frente. 

⎯⎯ Finalmente podemos começar a comer ⎯⎯ comenta Sol-I e sorrimos juntos. 

⎯⎯ Como foi o dia na clínica hoje, Yeonjun? ⎯⎯ minha avó o pergunta enquanto coloca o arroz no prato. 

⎯⎯ Estava lotado, mas trabalho bom é assim mesmo, cheio.

⎯⎯ Está certíssimo, com certeza já tem dinheiro o bastante para sustentar sua futura esposa ⎯⎯ por algum motivo me engasgo com o suco e Yeonjun me encara. 

⎯⎯ Tenho dinheiro o bastante para cuidar dela a sua vida inteira ⎯⎯ Ele fala me encarando. O que esse maluco está fazendo?

⎯⎯ E você Yeji ⎯⎯ Sol-I me chama. ⎯⎯ Já está namorando? 

⎯⎯ Não, acabei de sair de um relacionamento. 

⎯⎯ Por quê? O que aconteceu? 

⎯⎯ Às vezes as coisas não são para dar certo ⎯⎯ tento não tocar no assunto da traição, não quero falar sobre isso. 

⎯⎯ Você está certa querida, se algo não for predestinado a acontecer simplesmente acaba. 

    Depois dessa conversa um pouco desconfortável ficamos em silêncio, as vezes, minha avó e Sol-I falavam aqui e acolá, mas Yeonjun continuava em silêncio, parecia realmente cansado e eu sinto um pequeno incômodo ao vê-lo assim. 

     De certa forma o jantar foi confortável e eu vou para a varanda desfrutar do meu quarto prato de sobremesa, amo essa torta da minha avó. 

     Surpreendo-me ao ver Yeonjun vir até mim. Ele para ao meu lado direito e fica, despreocupado com as mãos nos bolsos. 

⎯⎯ Você só é pequena, mas come como se tivesse 2 metros. 

⎯⎯ Por um acaso está me insultando? ⎯⎯ Ele sorri. 

⎯⎯ Por que resolveu voltar para a ilha? 

⎯⎯ Por que quer saber? 

⎯⎯ Estou só puxando assunto.

⎯⎯ Agora você quer conversar comigo? ⎯⎯ me viro para ele e arqueio uma sobrancelha. 

⎯⎯ Agora é você quem está sendo chata ⎯⎯ somente rio. 

⎯⎯ Eu só... estava com muita saudade.

    Ficamos em silêncio e eu encaro o céu estrelado. 

⎯⎯ As estrelas aqui são incríveis, não me canso de admirá-las ⎯⎯ quebro o silêncio. 

⎯⎯ Você não quer... ver as estrelas na praia qualquer dia desses? ⎯⎯ sua voz saiu trêmula, com insegurança. 

     O encaro, os olhos tão quentes me olhando com um brilho em que eu nunca tinha notado, ou se é que tinha. Sorrio para ele que sorri de volta, menos nervoso. 

⎯⎯ Está me chamando para um encontro? ⎯⎯ brinco e ele bufa. 

⎯⎯ Quem é o louco que sairia em um encontro com você? 

⎯⎯ Está bem, eu aceito. Vamos ver as estrelas na praia qualquer dia desses. 

⎯⎯ Está bem, então. ⎯⎯ Ele morde o lábio inferior e vai de volta para dentro. 

    Porque meu coração está tão inquieto? O que está acontecendo ultimamente com você Yeji? Por que Yeonjun me causa coisas tão estranhas?

    Acordo com um convite de casamento em meu celular.

    O convite de casamento do meu ex com sua amiga, agora noiva e daqui a um curto tempo sua esposa. 

     Lembro-me de todas as noites em que criei nosso casamento em minha cabeça, no quão animada ficava e lutava comigo mesma para saber se ele me pediria em casamento ou se fosse eu quem pediria, e eu teria coragem o bastante até porquê eu o amava.

    E em tão pouco tempo ele irá se casar com outra pessoa, será se foi ele quem a pediu em casamento ou foi ao contrário? 

    Jogo o celular na cama para pensar melhor se é ou não uma boa ideia ir. Ou talvez seja, para por um ponto final nessa história toda. Eu e Jeno acabamos, não tem volta ou conversa fiada e cada vez mais meu ódio por ele vem aumentando. 

    Minhas amigas estão certas e aos poucos eu vejo isso, estava tão ocupada me culpando, se eu não errei para que ele fizesse algo do tipo que não percebi que eu fui a vítima e o errado foi ele, a culpa não foi minha... não, não foi, mesmo que eu queira me culpar. Eu não posso me culpar, não posso fazer isso comigo mesma.

    Passo a tarde com minha avó, mas meus pensamentos só vão até o casamento de Jeno e a ideia de ir para aquela ilha para esquecê-lo estava indo por água a baixo. 

⎯⎯ Está tudo bem pequena? Está tão xoxa. ⎯⎯ Minha avó se preocupa. 

⎯⎯ Está, só estou um pouco cansada. Não dormi muito bem a noite. 

⎯⎯ Qualquer coisa se quiser conversar sua avó está aqui para você ⎯⎯ ela alisa uma mecha do meu cabelo.

⎯⎯ Obrigada vó. ⎯⎯ a abraço. 

    Não quero a preocupar sobre o que aconteceu, só quero ter momentos felizes com ela e não falar sobre esses infortúnios. Ela não precisa saber e eu não quero contar a ela.

    Estava só em meu quarto lendo um livro até que minha vó bate na porta.  

⎯⎯ Está precisando de algo? ⎯⎯ Pergunto ao abrir a porta e encontrá-la de pijama e óculos de grau.

⎯⎯ Yeonjun está lá embaixo. ⎯⎯ ela fala com um tom de surpresa e meu coração acelera. 

    Pego um casaco e desço as escadas indo rapidamente até a porta me dando de cara com um Yeonjun agasalhado e de braços cruzados enquanto me esperava. 

⎯⎯ Oi ⎯⎯ Ele acena nervoso e eu aceno de volta. ⎯⎯ Queria saber se você não quer ver as estrelas hoje.

⎯⎯ Ver as estrelas? 

    Sinceramente não estou em um bom dia para ver as estrelas, mas não queria recusar. 

⎯⎯ Tudo bem, vamos? 

    Vamos até seu carro e ele abre a porta para que eu possa entrar e eu debocho de seu cavalheirismo. O caminho foi em total silêncio e minha cabeça latejava por tanto pensar. 

    Ao chegarmos descemos até a praia e volto a escutar o som das ondas se chocando e o cheiro tão familiar. Andamos um ao lado do outro só sentindo nossas mãos se tocarem por acaso. 

    Encaro o céu muito mais estrelado do que de costume e respiro fundo sentindo uma calmaria invadir meus pulmões.

⎯⎯ Está tudo bem? Você parece meio triste ⎯⎯ Ele quebra o silêncio. 

⎯⎯ Você não ia querer saber.

⎯⎯ Por que não? Alguém morreu? 

⎯⎯ Sim, meu coração ⎯⎯ Ele ri anasalado.

⎯⎯ Alguém partiu seu coração? 

⎯⎯ Esmagou ele. 

⎯⎯ Quem foi esse imbecil? ⎯⎯ o encaro. ⎯⎯ O quê? Não gosto de caras que partem os corações de garotas indefesas. 

⎯⎯ Eu não sou uma garota indefesa, Yeonjun.

    Voltamos a ficar em silêncio novamente. Eu não sei mas... eu sinto uma necessidade de compartilhar isso com Yeonjun e não queria sentir isso. Isso não deve o importar e com certeza ele me zoaria, pois isso era de seu fetio, mas eu queria contar.

⎯⎯ Você... já foi traído alguma vez? 

⎯⎯ Ele me encara.

⎯⎯ A então foi isso. Não, não fui. O que ele fez com você? ⎯⎯ Ele coloca as mãos nos bolsos da frente da calças escura. 

⎯⎯ Estava em um relacionamento com sua amiga por três anos, o peguei com ela em minha cama ⎯⎯ Ele assobia impressionado.

⎯⎯ Que filho da puta. Passaram quanto tempo juntos?

⎯⎯ 4 anos comigo e 3 com ela. 

⎯⎯ Como não percebeu, Coelhinha? 

⎯⎯ Eu acho que já tinha percebido só... 

⎯⎯ Não queria acreditar ⎯⎯ Confirmo. ⎯⎯ Isso aconteceu quando? 

⎯⎯ 3 dias antes de vir para cá.

⎯⎯ Então esse foi o motivo de você ter voltado para esse fim de mundo ⎯⎯ Confirmo novamente. ⎯⎯, Mas aconteceu mais alguma coisa, não foi? 

    O encaro pensando no quão bom ele é em ler alguém. Nunca tinha visto esse lado em Yeonjun, eu só via em Jaemin. 

⎯⎯ Hoje ele me mandou o convite de seu casamento com ela.

⎯⎯ Ele o quê?! ⎯⎯ ele me encara incrédulo. ⎯⎯ Meu Deus esse cara é muito idiota! 

⎯⎯ Eu não sei se devo ir, eu quero colocar um fim nisso, mas não sei como. 

⎯⎯ Quer saber, Coelhinha, vá. Assim você mostrará para ele que superou e agora está bem. 

⎯⎯ Mas eu não estou bem. 

⎯⎯ Mas deve mostrar a ele que está. 

    Yeonjun está certo, devo dar esse passo por cima e mostrar a todos que isso não me abalou, mesmo que não seja verdade. 

    Encaro Yeonjun e sorrio fraco, ele sorri de volta. 

⎯⎯ Eu errei? ⎯⎯ Ele franze o cenho.

⎯⎯ O que você errou? 

⎯⎯ Em alguma coisa, para ele fazer isso. 

⎯⎯ Não Coelhinha, você não errou em nada. A culpa não foi sua.

    A culpa não foi minha. 

    Respiro aliviada e encaro o céu novamente. As estrelas são tão lindas.

E então ficamos em silencio mais uma vez, mas era tão confortável. Nunca me imaginei assim com Yeonjun, é até inacreditável. Andando juntos pela areia o sinto segurar a barra da manga esquerda de minha camisa, próximo a minha mão. Não o questiono, somente o deixo assim. 

Respiro fundo sentindo a doce maresia enquanto escuto bem as ondas chacoalharem. Não era necessário puxar algum assunto, estava perfeito assim e eu não queria que essa noite passasse.

Sinto minhas bochechas esquentar ao perceber que Yeonjun me encarava. Prendo a respiração sem saber o que fazer. Decido o encarar de volta e ele não recua. 

- O que foi? - o pergunto confusa. 

- Nada. Só a estou admirando, foram 12 anos sem você. 

Meu coração palpita forte, o que ele está querendo dizer. Dou uma risada para disfarçar meu nervosismo. 

- Do que você está falando? - dou um leve soco em seu braço e ele sorri de lado, parecendo anestesiado. 

Encaro a areia me sentindo completamente estranha, mas um estranha bom. Me sinto tendo oito anos novamente quando percebi que estava apaixonada por Jaemin.

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