05
Minha avó pergunta se eu não quero ajudar novamente no orfanato e eu aceito. Percebi que recentemente estou pensando menos em Jeno e isso está sendo um ótimo progresso. Aos poucos eu sinto que tudo vai melhorar, que vai ficar tudo bem.
Passando em meio às pessoas que pintavam as paredes me encontro mais uma vez com Yeonjun. Ele para o que estava fazendo e vem até mim.
⎯⎯ Olha, eu não quero brigar dessa vez ⎯⎯ Ele começa me surpreendendo.
⎯⎯ Como está Sol-I?
⎯⎯ Melhor. Estou controlando seus remédios e começando a restringir de fazer coisas que não condizem com sua idade.
⎯⎯ Isso é ótimo.
⎯⎯ O que veio fazer aqui?
⎯⎯ Ver no que posso ajudar.
⎯⎯ Quer me ajudar? ⎯⎯ Ele me estende um pincel.
⎯⎯ Sou péssima com pintura.
⎯⎯ Você aprende rápido.
Pego o pincel de sua mão e não hesito em ajudá-lo. Ele me entrega um avental extra e então começamos o trabalho.
Ter Yeonjun ao meu lado sem nenhuma discussão era... diferente. Confortável até. Uma sensação única, calorosa e de um sabor doce. Sentia seu olhar sobre mim algumas vezes e quando eu o encarava de volta ele virava o rosto envergonhado. Sorrio comigo mesma.
⎯⎯ Até que não está indo mal ⎯⎯ Ele quebra o silêncio.
⎯⎯ Sério? Eu sou mesmo ótima tudo o que faço. ⎯⎯ Ele sorri anasalado.
Concentrada na pintura sinto algo molhado em minha bochecha, encaro Yeonjun e vejo que ele acabou de me sujar de tinta.
⎯⎯ Você não fez isso...
⎯⎯ Maybe...
O sujo também em seu nariz e ele me encara incrédulo.
⎯⎯ O quê? Não gosta de receber o que dá?
⎯⎯ Te dou três segundos para correr.
E sem questionar começo a correr para longe e ele vem atrás com o pincel encharcado. Parecíamos duas crianças correndo um atrás do outro com pincéis sujos. Consigo sujar sua bochecha esquerda e ele resmunga. Corre atrás de mim novamente e segura meus braços sujando meu nariz.
Consigo me soltar dele e corro para longe, mas ele agarra minha cintura colando nossos corpos virando meu corpo para encara-lo e ele consegue prender os meus braços ao mesmo tempo. Ele me deixa encurralada na parede. Nossos corpos tão próximos que eu podia contar a quantidade de seus longos cílios. Ele sorri antes de desenhar algo em minha bochecha.
⎯⎯ Isso é golpe baixo! Você está usando força bruta! ⎯⎯ Tento me soltar.
⎯⎯ Meu lindo rosto deve estar horrível por sua culpa.
⎯⎯ Seu rosto já é horrível.
⎯⎯ Não diga isso Coelhinha, isso parte meu coração.
⎯⎯ babaca! ⎯⎯ Chuto seu joelho e ele me solta para agarrar o joelho machucado.
⎯⎯ Isso sim, foi golpe baixo! ⎯⎯ Começamos a rir em uníssono.
Paramos por alguns segundos e só ficamos ali, sentindo a quentura do corpo um do outro e o hálito quente de nossas bocas. Yeonjun é muito mais atraente de perto, como agora. Mesmo com o rosto todo sujo de tinta ele continua magnifico.
Alguém ao nosso lado coça a garganta e então percebemos o que estava acontecendo. Eu e Yeonjun nos afastamos rapidamente, totalmente envergonhados. Sorrimos tímidos um para o outro e eu decido ir embora.
O que diabos acabou de acontecer? Porque meu coração está tão acelerado e o que são esses borbulhar em meu estômago que não querem cessar!? Acho que preciso ir ao médico.
⎯⎯ Yeji! ⎯⎯ Yeonjun corre até mim. ⎯⎯ Espera um pouco...
Antes que ele pudesse dizer algo Jaemin aparece também chamando meu nome.
⎯⎯ Oi! ⎯⎯ aceno de forma amigável para Jaemin.
⎯⎯ Queria conversar com você, tem um minuto?
Encaro Yeonjun que morde o lábio inferior e suspira, como se estivesse incomodado ou irritado.
⎯⎯ O que você queria me dizer? ⎯⎯ o pergunto.
⎯⎯ Nada. ⎯⎯ Ele responde seco e vai embora, mas antes ele faz questão de quase levar o ombro de Jaemin consigo.
Eu realmente não o entendo. Em um momento ele está todo simpático e brincalhão e depois irritado e seco.
Acordo com muita dor de dente, a dor estava insuportável e eu não sabia mais o que fazer. Minha avó já tentou de tudo, receitas antigas de família a remédios comuns, mas nada. Deve ser o dente que quebrou dias antes de vir para a ilha. Mas por que diabos ele só está doendo agora?!
⎯⎯ Que tal ir na clínica de Yeonjun, ele é dentista pode resolver. ⎯⎯ Minha avó sugere.
⎯⎯ A não, não irei me encontrar com aquele bipolar insuportável.
⎯⎯ Quando vocês irão parar com essa briga idiota? ⎯⎯ Ela me repreende.
⎯⎯ Quando ele parar de me odiar.
⎯⎯ De onde tirou que Yeonjun a odeia?
⎯⎯ Está nítido vovó!
⎯⎯ Somente em sua cabeça! É só uma checagem rápida para saber o motivo dessa dor, você não consegue nem mastigar direito ou falar. Você vai agora até a clínica de Yeonjun! ⎯⎯ ela pega em meu pulso me puxando da cadeira.
⎯⎯ Vó eu não posso! ⎯⎯ hesito.
⎯⎯ Por quê?
⎯⎯ Eu tenho medo de dentistas... ⎯⎯ ela suspira.
⎯⎯ E você vai ficar com essas dores até quando? Você tem que enfrentar esse medo, e Yeonjun é um ótimo profissional.
⎯⎯ Mas vó...
⎯⎯ Sem mais. Vai, a clínica dele é perto. Vá.
Suspiro, mas opto por não a contrariar. Calço um sapato e saio de casa para ir a tal clínica.
Está tudo bem Yeji, vai ser rápido, somente uma checagem, não deve ser nada de mais. Não é algo que precise de cirurgia ou algo pior. E Yeonjun vai estar lá... e não, isso não é para me tranquilizar mas... por ser ele me deixa mais confortável, é uma pessoa conhecida e vai ficar tudo bem. Não é um completo estranho maltratando meus dentes em um processo a sangue-frio e doloroso.
Chego a clínica e vou até a recepcionista explicar minha situação e quando eu falo meu nome ela rapidamente me manda preencher um formulário e após terminar ela me manda esperar e some.
Ela parecia apressada e animada de alguma forma. O que será que está acontecendo?
⎯⎯ Coelhinha? ⎯⎯ a não... esse apelido idiota novamente.
⎯⎯ Quantas vezes vou ter que dizer para não me chamar assim?⎯⎯ Ele sorri.
⎯⎯ Venha comigo.
Sem questionar o sigo, sentindo o dente latejar forte em minha boca. Adentramos a uma sala gelada e vazia, parecia sua sala particular.
Havia somente uma mulher o auxiliando. Ele me manda deitar na cadeira e abrir bem a boca. Sinto minhas mãos soarem e meu corpo entra em alerta para sair daqui o mais rápido possível, mas preciso respirar fundo, vai ficar tudo bem.
Ele remexe por dentro de minha boca e fala coisas em que não consigo entender muito bem e a mulher só escrevia no computador.
⎯⎯ Qual dente está doendo?
⎯⎯ Do lado esquerdo, o penúltimo.
⎯⎯ Percebi que ele está quebrado, como foi isso?
É estranho vê-lo tão sério e profissional assim.
⎯⎯ Eu não sei exatamente o que aconteceu, eu estava comendo e ele quebrou.
⎯⎯ Vamos ter que fazer uma pequena restauração, vai doer só um pouco, ok?
Seguro o impulso de levantar da cadeira assim que aquela luz encadeia meus olhos. O coração pulando em meu peito, quase saindo para fora e as mãos trêmulas. Está tudo bem Yeji, você consegue. Vai ser rápido, vai ser rápido, vai ser rápido.
⎯⎯ Está com medo? ⎯⎯ Ele para antes de começar o procedimento.
Confirmo com a cabeça e ele se aproxima mais de meu rosto.
⎯⎯ Eu quero que olhe fundo em meus olhos, Coelhinha, não mude o foco. Só tem eu e você aqui, não desvie o olhar. Ok?
⎯⎯ C-Certo.
O som ensurdecedor tomou conta de meus ouvidos e eu fecho os olhos, mas lembro de suas palavras e então os abro me dando de cara com os seus olhos felinos, doces como mel, calorosos e brilhantes. Eles me traziam tranquilidade e aos poucos o tremor de minhas mãos foram cessando, o som ensurdecedor já não me incomodava mais. Era somente eu e ele ali. Eu e Yeonjun.
⎯⎯ Pronto.
Surpreendo-me com a rapidez que foi tudo. Me concentrei tanto em seus olhos que não percebi mais nada ao redor.
⎯⎯ Já acabou?
⎯⎯ Sim. Viu? Não foi tão assustador.
⎯⎯ É... não foi? ⎯⎯ Dou um pequeno sorriso a ele.
⎯⎯ Seu dente não irá mais doer, mas caso isso aconteça volte aqui imediatamente.
⎯⎯ Certo.
Olho ao redor e percebo que a mulher saiu. Era mesmo somente eu e ele.
⎯⎯ Obrigada.
⎯⎯ Não há de que. ⎯⎯ Ele sorri.
Após sair do banho vejo algo de diferente em minha cama. Era uma pequena caixa, nela havia uma pomada e um pequeno bilhete que dizia: "a pomada irá aliviar o desconforto, a use com frequência até melhorar. Cuide de seus dentes, seu sorriso não deve ser perdido"
Sem precisar pensar muito eu já sabia que isso veio de Yeonjun. Aos poucos ele está começando a me surpreender.
Batidas na porta não paravam a minutos e então fui checar o que estava acontecendo. Ao abrir a porta me dou de cara com Yeonjun.
⎯⎯ Ãhn...Oi ⎯⎯ Forço um sorriso.
⎯⎯ Minha avó mandou sopa para você, para ajudar com o dente.
⎯⎯ Muito obrigada, a agradeça por mim ⎯⎯ Pego o pote de sua mão.
⎯⎯ Yeji! ⎯⎯ Jaemin aparece ao lado de Yeonjun, e ele carregava flores.
⎯⎯ Oi!
⎯⎯ Soube que estava com dor de dente então vim entregar algumas flores.
Encaro Yeonjun que revira os olhos, logo o clima foi pesando.
⎯⎯ Não é como se as flores fossem curar a dor. ⎯⎯ Yeonjun fala baixo, mas no tom perfeito para todos nós escutarmos.
⎯⎯ Melhor do que um líquido sem gosto ⎯⎯ Jaemin retruca e Yeonjun o encara.
Sinto o ar ficar mais denso apertando meus pulmões. Eles não vão brigar na minha frente, vão?
⎯⎯ Devo mesmo dizer o que é melhor? ⎯⎯ o tom de voz de Yeonjun fica mais denso, me causando arrepios.
⎯⎯ Err... obrigada aos dois, foi muito gentil da parte de vocês, mas eu preciso ir agora ⎯⎯ Pego as rosas de Jaemin. ⎯⎯ muito obrigada mesmo.
Adentro rapidamente em casa e suspiro pesadamente. Mas o que diabos acabou de acontecer?
Escuto mais batidas na porta e então quando abro só vejo Jaemin.
⎯⎯ Desculpa incomodar, mas eu vim aqui com o propósito de chamá-la para visitar a ponte comigo.
⎯⎯ A ponte?
⎯⎯ Isso.
⎯⎯ Ãhn... tudo bem, por que não? ⎯⎯ Ele sorri doce.
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