03
Jisu mais uma vez me levou para passear pela ilha. Estava sozinha em casa e pelo pedido de minha avó ela disse que não havia problema algum. E ali estávamos mais uma vez em nossas bicicletas aproveitando a brisa e cumprimentando senhores e senhoras amigáveis pelo caminho.
Desde o que aconteceu eu me sinto mais leve aqui, passando um tempo com minha avó, aproveitando comidas deliciosas e curtindo uma boa tarde com uma bicicleta, mas a amargura da humilhação ainda palpita em meu peito, e eu só queria que isso parasse.
⎯⎯ Então, Yeji ⎯⎯ Jisu puxa uma conversa enquanto iguala a sua velocidade com a minha. Os cabelos escuros dançando com o vento. ⎯⎯ Qual o motivo de você ter voltado para a ilha.
Sei que Jisu é como uma desconhecida, mas quanto mais tempo eu passo com ela, mas eu percebo a pessoa incrível que ela é e não sinto medo ou reclusão em contar o que realmente sinto e escondo para ela.
⎯⎯ Eu namorava um cara, por muitos anos. Eu realmente o amava e até parecia besteira o tanto que eu me sentia incrível com ele mas... o mar de rosas secou, e ele preferiu atirar flechas por minhas costas e atingiu fundo o meu coração. Eu deveria ter percebido antes, mas meus olhos só foram abertos quando o encontrei em uma situação vergonhosa com uma pessoa que eu não imaginava.
Jisu escutava tudo atenta, sem dizer uma só palavra.
⎯⎯ Minhas amigas perceberam o quão mal eu estava, é claro, a traição é uma das piores dores do mundo. A percepção de que a pessoa em que você tanto confiava não era a mesma pessoa era dolorosa. Parece que você criou uma personalidade para aquela pessoa e quando ela mostra sua real personalidade você fica sem chão, sem acreditar, ferida pela mentira.
Jisu para a bicicleta e eu paro ao seu lado. Ela desce e se aproxima, para escutar melhor a história.
⎯⎯ Minhas amigas acharam uma boa eu voltar para a ilha, rever minha avó, rever o lugar onde passei toda a minha infância. Seria nostálgico e curador. Talvez aqui eu esqueça tudo o que aconteceu.
⎯⎯ E como está sendo? ⎯⎯ Ela finalmente fala.
⎯⎯ Ainda doloroso.
⎯⎯ E como está se sentindo agora?
⎯⎯ Burra, idiota, trouxa. Não sei bem descrever. É como um buraco fundo preenchido de desespero e desprezo, arrependimento e amargura. Algo ruim, doloroso e amargurado.
Ela vem até mim e me abraça. Um abraço forte e caloroso, onde pude sentir seu cheiro cítrico de laranja e menta. A sinto respirar fundo e copio sua respiração. Um abraço quente e empático era tudo o que eu precisava.
E sem dizer mais nenhuma palavra ela sobe em cima de sua bicicleta.
⎯⎯ Vamos?
Jisu é do tipo de pessoa que não precisa falar para mostrar o que sente, é empática e sabe muito bem como confortar alguém. Mesmo que seja somente com um abraço, o abraço que faz toda a diferença.
Subo em minha bicicleta novamente e sigo Jisu, voltando a sentir a brisa fria e calma. No final eu acabo me sentindo melhor.
Ao chegar no centro da cidade ela para em frente a um consultório odontológico.
⎯⎯ Por que paramos aqui?
⎯⎯ Para falar com uma pessoa. ⎯⎯ ela adentra o local e o ar-condicionado toma conta do meu corpo quente.
Ela vai até a recepcionista e fala algo que eu não entendi muito bem e eu tiro esse tempo para notar o quão grande era o local. Quem será o dono disso aqui? É incrível e havia muitos pacientes. Essa pessoa deve ser muito bem sucedida.
⎯⎯ Vamos? ⎯⎯ Jisu corta minha linha de raciocínio.
⎯⎯ Para aonde vamos?
⎯⎯ Para o segundo andar.
Subimos algumas escadas e ao chegar ao segundo andar vejo que só haviam crianças, haviam decorações infantis pelas paredes, alguns brinquedos e revistas de colorir em algumas mesas.
⎯⎯ Que surpresa vê-las aqui ⎯⎯ uma voz conhecida toma minha audição.
⎯⎯ Yeonjun? ⎯⎯ Encaro o seu jaleco com o seu nome ao lado esquerdo. Espera... ele...
⎯⎯ Yeji, esse é o consultório de Yeonjun. Ele é dentista e dono disso tudo.
Meu queixo cai em uma velocidade absurda. Ok, talvez eu tenha o subestimado um pouco.
⎯⎯ Estão precisando de algo? Alguma cárie dentária?
⎯⎯ Não, só estamos de passagem.
⎯⎯ Oh... acredito que Yeji cuida muito bem dos dentes ⎯⎯ Seus olhos quentes me encaram.
⎯⎯ Sim, Yeonjun, eu tenho higiene básica.
⎯⎯ É ótimo escutar isso ⎯⎯ sinto a rispidez em sua voz.
E decido deixar de lado o fato de que tenho medo de dentistas.
⎯⎯ Querem conhecer melhor a clínica? ⎯⎯ Ele sugere.
⎯⎯ Oh não, estamos de saída ⎯⎯ Falo mais rápido que Jisu.
⎯⎯ Estamos? ⎯⎯ Ela arqueia uma sobrancelha.
⎯⎯ Sim! Vovó quer ajudar com alguns bolinhos e eu não quero me atrasar.
Não quero passar mais nenhum segundo se quer com Yeonjun.
⎯⎯ Tudo bem então? caso precisarem de meus cuidados eu estarei aqui ⎯⎯ Ele sorri forçado.
Como se eu quisesse ter seus cuidados. Idiota.
No caminho de volta Jisu foi para casa e eu continuei meu caminho indo para a de minha avó, mas no meio do caminho tenho um encontro inusitado com Jaemin.
⎯⎯ Yeji! ⎯⎯ ele acena para mim e eu paro ao seu lado.
⎯⎯ Oi!
⎯⎯ Como está?
⎯⎯ Bem, e você?
⎯⎯ Estou bem também! Que bom encontrá-la, estava explorando a ilha? ⎯⎯ Ele encara a bicicleta.
⎯⎯ Estou em processo de reconhecer o local.
⎯⎯ Mudou bastante desde que você foi embora. Quer conversar um pouco?
⎯⎯ Claro. ⎯⎯ desço da bicicleta e começamos a caminhar lado a lado.
⎯⎯ O que está achando do verão aqui?
⎯⎯ Muito quente ⎯⎯ Ele ri. ⎯⎯, Mas incrível. Tinha esquecido como as pessoas daqui são simpáticas e calorosas.
⎯⎯ Isso sim, é algo que nunca mudou aqui.
⎯⎯ Aqui está bastante parecido com a cidade grande em que eu moro.
⎯⎯ Estamos nos conectando ao mundo ⎯⎯ sorrio e ele bate o seu braço levemente ao meu. Algo em que fazíamos quando éramos crianças. ⎯⎯ Por que voltou tão de repente?
A mesma pergunta e sinceramente, não me sinto confortável em compartilhá-la com Jaemin. Não é nada contra ele é só... eu não consigo.
⎯⎯ Estava com saudades. ⎯⎯ o que não é exatamente uma mentira.
⎯⎯ Imagino, passou tantos anos fora. Foram quantos anos exatamente?
⎯⎯ Acho que uns 16 anos.
⎯⎯ Sim, 16 anos.
Ficamos em silêncio por alguns minutos, o que nos deu brecha para somente escutar a respiração calma um do outro e o som do vento batendo nas árvores.
Eu me sentia estranha ao lado de Jaemin, não sei se foi a quantidade de tempo em que passei longe ou o quão diferente ele está mas... é algo que incomoda lá dentro. Talvez eu deva estar ficando louca.
⎯⎯ Já chegamos. ⎯⎯ Falo ao parar em frente a casa de minha avó.
⎯⎯ Espero que possamos jantar algum dia desses.
⎯⎯ Claro, será um prazer.
Ele sorri e sai. Sinto meu rosto corar levemente. Sinto-me nos meus oito anos novamente.
Adentro a casa e vejo minha avó tricotando enquanto assistia TV.
⎯⎯ Boa noite ⎯⎯ a abraço.
⎯⎯ Chegou mais cedo hoje ⎯⎯ ela retribui o abraço. ⎯⎯, Aliás, Yeji querida, queria conversar com você.
⎯⎯ O que aconteceu? ⎯⎯ me sento a sua frente, preocupada.
⎯⎯ Não é nada grave é que na ilha temos um orfanato em que está em reforma, e daqui a duas semanas terá um baile em comemoração a finalização da obra. É tudo beneficente e eu gostaria de saber se você poderia ajudar.
⎯⎯ Mas é claro vó!
⎯⎯ Todos da ilha contribuem para que tudo dê certo e como você é professora de química eu dei a ideia de você dar uma pequena aula para as crianças, não temos professores livres por aqui para ajudar no orfanato.
⎯⎯ Será um prazer, eu irei adorar. Poderia fazer várias experiências simples caseiras onde eles podem aprender de forma mais dinâmica e até mesmo utilizar no dia a dia para se divertirem.
⎯⎯ Essa é minha netinha, com um coração doce e gigante ⎯⎯ ela me abraça animada.
⎯⎯ Quando começamos?
⎯⎯ Amanhã mesmo.
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