Ainda me lembro dos cachos de Jaemin sobre meus dedos enquanto eu fazia tranças neles, tínhamos 8 anos quando eu percebi gostar de Jaemin. Ele era doce e compreensível, tinha um ótimo senso de liderança e sempre liderava nossas brincadeiras. Diferente de Yeonjun ele nunca me estressava ou humilhava. Jaemin era a pessoa mais legal que eu conhecia e eu o amava. Mesmo sendo nova demais para isso. 

Encontrá-lo agora, depois de tantos anos era... estranho, mas nostálgico com uma pontada de saudade. 

⎯⎯ Não se atrasou muito não, não se preocupe querido. Sente-se ⎯⎯ minha avó vai até ele o guiando até a cadeira em que sobrava.

⎯⎯ Bem-vinda de volta, Yeji ⎯⎯ sorrio doce para ele e percebo o olhar de Yeonjun sobre mim.

⎯⎯ Obrigada, é um prazer revê-lo.

Jaemin continuava o mesmo. Só que muito maior do que antes e mais forte. Mas ainda tinha os mesmos cachos escuros caindo por seus olhos e uma pequena cicatriz no lado direito do queixo. 

O jantar foi confortável, tirando Yeonjun que continuava com seu sarcasmo irritante. Foi bom ver jaemin, olhar mais uma vez naqueles olhos carinhosos. Se eu não tivesse ido embora será que eu teria tido a coragem de me declarar para ele? Será que ele aceitaria?

Após secar o cabelo com a toalha vou até à janela, olho o céu de um escuro absurdo, mas repleto de estrelas. Não tenho o costume de olhá-las e acabo esquecendo o quão lindas são. 

Suspiro sentindo uma calmaria em meu cérebro, a calmaria em que precisava. Não quero pensar em Jeno, mas é impossível não pensar. Eu queria que não fosse tão difícil superar, mas foram tantos anos, tantos anos que no final não valeram a pena. E isso me faz pensar se tenho culpa em meio a isso, o que eu fiz de errado? No que eu errei? Eu juro que o amei o bastante.

Olho para a janela da casa de Sol-I a minha frente e encontro Yeonjun me encarando. O que esse idiota está fazendo? 

 Fizemos careta um para o outro e fechamos as janelas em sincronia.

Também não quero pensar no idiota do Yeonjun, talvez eu deva pensar em Jaemin. Sim, talvez eu deva.

Mas antes que eu percebesse eu acabo dormindo pensando nos olhos quentes de Yeonjun

"Ryujin você tem que conhecer esse lugar, é lindo, quente e confortável" 

Atualizo Ryujun por telefone que parecia cada vez mais animada com a ideia de eu estar nesse lugar.

"Fico muito feliz por você estar se divertindo, viu com era uma boa ideia?"

"Sim, agora vejo. Apesar dos pesares eu ainda irei aproveitar meu verão nesse lugar"

"É só mandar esse Yeonjun se catar! E esse Jaemin? O que acha de..."

 Ela me encara com um olhar malicioso.

"Não Ryujin, eu acabei de sair de um relacionamento depois de uma traição, não irei entrar em outro assim do nada"

"Mas é uma ótima forma de esquecer o Jeno"

"Não, não é. Enfim, manda um beijo para as outras, irei dar bom dia para a minha avó"

"Está bem, um beijo e me atualiza mais depois"

"Pode deixar"

   Suspiro pensando na ideia de Ryujin. Não, Ryujin é maluca, não pense nisso Yeji. Não pense. 

   Desço as escadas e encontro minha avó na cozinha fazendo alguns biscoitos de leite. 

⎯⎯ Bom dia ⎯⎯ a abraço.

⎯⎯ Bom dia minha querida, o que irá fazer hoje? 

⎯⎯ Não faço a mínima ideia. 

⎯⎯ Que tal passear pela ilha com Jisu? Ela está de folga hoje.

⎯⎯ É uma boa ideia! 

⎯⎯ Irei ligar para ela. 

   Roubo um dos biscoitos enquanto ela vai ao telefone. Estão uma delícia, comida de vó sempre tem algo de especial.

⎯⎯ Ela disse que passará aqui em 3 minutos. 

⎯⎯ Ok! ⎯⎯ Pisco para minha avó que pisca de volta.

   Realmente não demorou para Jisu chegar e ela veio com bicicletas. 

⎯⎯ Nossa, não ando de bicicleta a séculos ⎯⎯ As encaro. Uma azul e uma verde.

⎯⎯ Quem sabe nunca desaprende. 

⎯⎯ Espero. 

   Subo na verde totalmente desconcertada. Está tudo bem Yeji, é só uma bicicleta, você adorava quando era mais nova. Começo toda errada, mas vou consertando aos poucos enquanto gritava por ajuda para Jisu que só fazia rir. 

   Mas não há nada que possa se tornar fácil com a prática, logo já estava tão rápida quanto Jisu. Apostamos corrida até o centro da cidade e infelizmente perdi, mas foi incrível. 

   Descemos da bicicleta e fomos andando para apreciar mais o lugar. 

⎯⎯ Quer conhecer minha plantação? Hoje é dia de colheita ⎯⎯ Jisu sugere.

⎯⎯ É claro! 

   Pegamos as bicicletas e fomos até o sul da ilha. Descemos em uma cabana onde Jisu guarda as bicicletas e Caminhamos até uma gigantesca plantação de laranjas. Então é por isso o cheiro de laranjas na caminhonete. 

⎯⎯ Estamos a todo vapor na colheita e muitas pessoas da ilha ajudam, principalmente Yeonjun ⎯⎯ ela aponta para o homem de regata colhendo algumas laranjas rapidamente, com muita experiência naquilo. 

   E devo notar que... quando que Yeonjun ficou tão forte assim? Ele era tão magrelo na infância. Tento desviar o olhar de seus bicepis para fora da regata, mas estava muito difícil. 

⎯⎯ Yeonjun! ⎯⎯ Jisu chama por ele que logo se vira e vem até a gente. 

   Dentre nós três, Yeonjun eu e Jaemin, Yeonjun foi o que mais mudou. Ele não era feio na infância só estava cheio de cicatrizes, pois estava sempre aprontando e se machucava bastante, sem contar nas brigas sem fim. Ele era uma bomba relógio que estava sempre explodindo. 

    Agora ele está... lindo. 

⎯⎯ Yeji? ⎯⎯ Ele parecia surpreso ao me ver. ⎯⎯ Devo ressaltar que você não combina com esse tipo de lugar? 

    Ele aponta para mim dos pés a cabeça, me julgando na cara dura. 

⎯⎯ Para de ser idiota.

⎯⎯ Eu só estou sendo sincero. Foi você quem saiu daqui para viver na mordomia da cidade grande. 

⎯⎯ Você sabe o motivo de eu ter ido.

⎯⎯ Me desculpe, eu tenho uma memória fraca. Me relembre ⎯⎯ Eu juro que irei socar sua cara. 

⎯⎯ Eu vou te provar como ainda posso ser como as pessoas dessa ilha. 

⎯⎯ Me mostre. 

⎯⎯ Jisu me dê todos os materiais, vou participar da colheita.

 Jisu ainda nos encarava sem saber o que fazer, talvez a nossa pequena discussão tenha a deixado assustada e confusa, mas não posso fazer nada sobre isso, eu sempre explodo na presença de Yeonjun.

 Jisu me trouxe tudo e eu me preparei. Nunca colhi laranjas antes, mas não quero pedir informações a Jisu, quero fazer tudo isso sozinha e farei melhor que Yeonjun.

    Ok... isso é mais difícil do que eu pensei. Como eles conseguem fazer isso tão rápido, eu já cortei meus dedos umas milhares de vezes. É tão duro. Se não fosse por Yeonjun passando por mim todas às vezes para checar como estava minha cesta eu já teria desistido. 

⎯⎯ Só três Coelhinha? ⎯⎯ Ele aparece de novo. 

⎯⎯ O quê? ⎯⎯ o encaro de uma vez. 

⎯⎯ Aquela onça em que você jura que era um coelho, você carregava aquele bixo para cima e para baixo.

⎯⎯ Sim, era um coelho. Mas não me chame assim.

⎯⎯ Por que não? Eu acertei dessa vez.

⎯⎯ Yeonjun! ⎯⎯ o repreendo e ele sorri. Ai não... o maldito sorriso.

⎯⎯ Esperava mais de você, Coelhinha. ⎯⎯ assim ele sai. 

   Por que ele é tão insuportável! Chuto a escada em que estava em cima e obviamente isso se resultaria em uma queda e eu até me preparei para o impacto, mas aconteceu diferente. 

   Abro os olhos devagar tendo a visão dos olhos quentes de Yeonjun, sua testa estava franzida e sua boca carnuda aberta. Seu semblante era de total preocupação e eu não quero acreditar que ele esteja preocupado comigo. 

⎯⎯ Pensei que você tinha ido embora ⎯⎯ Ele segura minha cintura com mais força.

⎯⎯ Sabia o quão tola você era. 

⎯⎯ Eu te odeio.

    Ele sorri mostrando o maldito sorriso confiante. E isso me faz odiá-lo mais.

   Chego em casa cansada e derrotada. Não consegui superar Yeonjun e ganhei muitos arranhões e cortes. Por sorte minha avó tinha muitos band-aid. Estou com os dedos todos doloridos. 

⎯⎯ Querida? ⎯⎯ Minha avó aparece com um pote. ⎯⎯ Sei que está cansada e dolorida, mas pode deixar essa torta na casa de Sol-I para mim, por favor? 

⎯⎯ Tudo bem vó. 

   Pego o pote e vou devagar até a casa vizinha, bato na porta e espero bastante do lado de fora. Quando estava para desistir a porta é aberta revelando Yeonjun. 

   Bufamos em uníssono e ele se encosta na porta, dobrando os pés e cruzando os braços. Yeonjun era no mínimo 13 centímetro maior do que eu e isso me deixava intimidada. Era só mais 10 centímetros e eu podia olhar em seu rosto. 

⎯⎯ O que quer, Coelhinha? 

⎯⎯ Para de me chamar assim ⎯⎯ Forço um sorriso.

⎯⎯ Que seja.

⎯⎯ Minha avó mandou um pouco de torta para a sua. 

⎯⎯ Diga para ela que eu agradeço ⎯⎯ Ele pega o pote de minhas mãos. 

   Forço outro sorriso e me movo para ir embora, mas ele me chama de volta.

⎯⎯ Espera um pouco. ⎯⎯ Ele vai para dentro da casa e em alguns segundos volta com um band-aid em mãos.

   Ele se abaixa para ficar da altura de minhas pernas e coloca um band-aid em uma ferida em meu joelho esquerdo em que nem eu havia notado ter.