Scorpius é chato, mas é o chato do Albus
Albus se viu agradecendo quando as aulas voltaram. Scorpius também, já que não aguentava mais dormir no mesmo quarto que o James. Na cabeça do loiro, a piada dita pelo garoto algumas horas depois de Harry e Gina descobrirem sobre a relação, ainda reverberava e o irritava, mesmo que aquele ruivo acastanhado tenha tentado deixar o clima o menos tenso possível.
Então você curte uma bunda, Malfoy?
Sim, pelo visto ele curtia uma bunda.
Albus estava feliz pela volta à escola porque agora não mais teria que aturar os pais o tratando como se estivessem pisando em ovos. Para piorar, Harry havia tido aquela fadiga conversa sobre camisinha, mesmo não sabendo nem metade do que deveria dizer se tratando de um relacionamento homoafetivo.
–Scorpius, seria bom você contar para os seus pais antes do Fofoca Diária descobrir.--Albus comentou quando eles encontraram uma cabine vazia no trem.
Como em todos os anos, os Potters haviam se atrasado para chegar à estação.
–Não acho que eles vão ficar irritados, talvez meu pai fique meio fechado por um tempo. Mas contar por carta parece errado.--Scorpius suspirou.--Sinceramente, acho que vou chamá-los para Hogwarts.
–É melhor.--Albus sorriu encorajador.
Sentou-se ao lado de Scorpius, mesmo correndo o perigo de alguém os ver próximos demais pela janela. Eles não haviam tido muitas oportunidades de se grudarem depois de Harry e Gina descobrirem, porque, afinal, Scorpius estava dormindo no quarto de James. E, durante o dia, apesar de ninguém os barrar, sempre havia alguma anta por perto e os dois ficavam meio encalhados e tímidos quando Lily os olhava de relance (aquela garota amava um bom romance estilo Aristóteles e Dante descobrem os segredos do universo).
No final das contas, em Hogwarts, com todo aquele mar de gente, eles teriam mais liberdade do que na casa Potter.
–A gente conta para os garotos ou deixamos que eles descubram sozinhos?--Scorpius perguntou e, de repente, foi como se uma sombra de ansiedade caísse sobre os ombros de Albus.
–Gostaria de saber como eles vão reagir.--Albus engoliu em seco.--Eu tenho muito medo de eles não quererem mais ser nossos amigos.
–Eles merecem saber, já que dormimos no mesmo dormitório.--Scorpius deu tapinhas em suas costas.--Se eles descobrirem por conta própria, o clima vai ficar estranho.
Como se não fosse ficar estranho quando os dois contassem.
–Então a gente conta...–Albus suspirou.--Eles não podem reagir tão mal.
***
–É o quê?!--Rowle soltou uma risada sem graça.--Não brincam!
Albus e Scorpius se olharam. Aquilo era muito melhor do que o que eles acharam que fosse acontecer.
–Não estão brincando?--Perguntou Avery.--Caralho, nunca suspeitei.
–Então vocês vão transar com a gente aqui?
Rowle deu um soco no ombro de Nott, que reclamou feito um bebê chorão.
–Nós temos cara de tarados, Nott?--Scorpius revirou os olhos.--No máximo vamos dormir juntos.
A ideia parecia agradável. Albus gostou.
–Sei bem o que vocês vão fazer atrás das cortinas fechadas.--Avery sorriu maliciosamente.
–Pensei que a reação de vocês fosse ser pior.--Albus bufou.--Só não fiquem de gracinha. Não vamos fazer nada com vocês aqui.
–Quem é o passivo?--Rowle perguntou, visivelmente curioso. Albus corou da cabeça aos pés.
–Você precisa saber quem é o passivo?--Scorpius sorriu sem graça.--Não tem importância, tem?
–Bem... Nós vamos descobrir quando um amanhecer mancando.
–Avery!--Nott reclamou.--Porra, cara!
–Desculpa, só estamos tentando deixar o clima mais leve.--Rowle se desculpou por ele e por Nott.--Não tem importância quem é o passivo.
–Sério, vocês nunca deram sinal.--Nott sorriu.--Mas eu desejo o melhor.
–Tão engraçado.--Rowle bocejou.--Vocês do nada apareceram com essa surpresa.
–Uma surpresa fodástica.--Terminou Avery.
Quando os três estavam deitados, cada qual em seu respectivo espaço, Albus sorriu para Scorpius. Havia sido melhor do que ele esperava.
–O que você acha de dormir comigo?--Scorpius sussurrou e Albus aceitou, incapaz de negar.
Deitados e enrolados nos cobertores verde e prata, Scorpius enterrou o rosto no cabelo bagunçado e suspirou.
–Quem é o passivo, afinal?--Malfoy brincou e Albus deu um leve chutinho em sua perna.
–O que você acha?--Potter se viu perguntando, embora estivesse mais vermelho do que a bandeira da Grifinória.
–Sei lá... O que você sente quando olha para mim? O que você deseja?
Albus corou e, em apenas um respirar, disse:
–Eu sou o passivo.
Scorpius riu e falou um tanto quanto comicamente:
–Está explicado porque eu gosto tanto de olhar para a sua bunda.
Albus abriu e fechou a boca rapidamente, incapaz de pronunciar qualquer palavra, por menor que fosse. Fitou Scorpius, o semblante corado apesar de tentar parecer o mais indiferente possível.
–Nem cinco dias direito que você aceitou que gosta de mim e já está com esses comentários, Malfoy?--Perguntou, buscando ser o mais normal possível, embora estivesse se roendo por dentro.
Scorpius sorriu de maneira afetada.
–Estava tentando deixar o clima mais ameno, mas eu fui sincero, realmente gosto de olhar para a sua bunda.
Albus não teve forças para revirar os olhos.
–Só dorme, Scorpius.--Falou rindo e virou-se para o lado contrário de Malfoy, rezando para nenhum dos garotos ter escutado a conversa deveras estranha.
Scorpius jogou um braço sobre Albus e descansou a cabeça em cima da sua e, assim, eles adormeceram.
Apertado contra Potter, Scorpius não tinha outro pensamento senão: Porra, por que eu não percebi antes? A verdade é que Malfoy conseguia ser mais lerdo do que Harry Potter.
***
Albus se aconchegou contra Scorpius assim que acordou, sorrindo diante do feliz conforto de ter ele ao seu lado. Apertou-se, com o sorriso cada vez maior na face, até que sentiu a dureza de uma ereção matinal contra a sua bunda.
Arregalou os olhos quando as lembranças insalubres da conversa que tiveram antes de dormir surgiram diante de seus pensamentos. Desejou rir de seu próprio nervosismo, porque, há poucas noites atrás, estava sonhando com o pau de Scorpius dentro de seu ânus.
Se afastou, pondo-se sentado e afastando as cortinas. Quando sai para o ar frio das masmorras, deu um encontrão em Nott, que parecia segurar a vontade de sorrir maliciosamente.
–Nem inventa.--Albus interveio antes que ele pudesse falar.
–Não ia dizer nada.--Foi a resposta menos sincera da face da terra.
Albus andou a passos largos até o banheiro e lá ficou até lembrar de ir pegar o uniforme. Quando deu por si, já estavam no café da manhã e Scorpius sorria e cantarolava enquanto comia panquecas e os ovos mexidos.
Potter até tentava não ficar admirando a figura loira, mas falhava miseravelmente.
–Quanto tempo até Rowle contar para todo mundo?--Scorpius perguntou e Albus engasgou com o suco de abóbora.
Havia esquecido que Rowle era um fofoqueiro de meia tigela. No quarto ano ele havia contado para a escola inteira que Nott havia pegado a Alice Longbottom. O episódio foi traumático, porque Neville faltou trucidar o garoto durante as aulas de Herbologia.
–Esqueci que ele é o rei das fofocas.--Albus riu sem jeito.--Você quer que todos descubram através de fofoca?
–Não me importo que descubram, só temo o que irão falar às nossas costas.--Albus engoliu em seco.--Falando nisso, preciso passar no Corujal antes da aula. Vou mandar uma carta pedindo para meu pai e minha mãe virem aqui.
–Quer mesmo contar?
–Prefiro que descubram por mim do que pelo Fofoca Diária.--Scorpius sorriu.--E meu pai iria ficar putasso se descobrisse através de uma revista.
–Quer que eu esteja com você quando for contar?
O semblante de Scorpius assumiu um tom levemente preocupado, mas esse logo desapareceu. Era ótimo saber que Malfoy não se importava que as pessoas soubessem, mesmo que os dois ainda não tivessem um rótulo propriamente dito. Era muita coragem para alguém que havia acabado de descobrir que gostava de garotos, ainda mais do melhor amigo. Albus temia que Malfoy fosse se arrepender de todo aquele esforço que fazia logo no início.
–Sim.--Scorpius agarrou a sua mão por cima da mesa, atraindo olhares um tanto quando indagadores.--Mas só se você quiser.
O máximo de errado que podia acontecer era Draco desejar matá-lo.
–Eu estarei com você.--Prometeu.
***
Albus se lembraria daquela expressão por anos. O rosto pálido e o desmaio foram cômicos, mas também traumatizantes. Astória não conseguiu segurar o marido a tempo e Draco Malfoy acertou o chão com tanta graça, que até pareceu ensaiado.
–Pai?!--Scorpius exclamou.--Não é possível que a revelação tenha sido tão pesada!
Astória tentava sorrir, mas estava nitidamente preocupada com a figura que recuperava a consciência aos poucos.
–Você sabe que o seu pai é dramático, filho!--A mulher se ajoelhou no chão e passou a abanar o rosto do marido.--Para dizer a verdade, eu sempre desconfiei que você fosse meio gay.
–Por quê?--A pergunta de Scorpius é genuína.
–Porque você abraçava demais o Albus e sorria de uma maneira fofa demais para ele.--Astória deu de ombros.--Sempre esteve aí, você só demorou um pouco para perceber, querido.
Albus sorriu para Scorpius, que parecia refletir sobre a fala da mãe. Ele próprio nunca havia sequer reparado naqueles sinais, embora fosse verdade que Scorpius faltava o irritar de tanto que o abraçava.
Quando Draco recuperou completamente a consciência e Astória o colocou em pé. O homem parecia não saber como se sentia. Não sabia se mantinha a expressão neutra, falsamente alegre ou triste. Albus esperava, com sinceridade, que senhor Malfoy não o odiasse tanto quanto desgostava de Harry.
Depois do que se pareceram horas, o homem olhou para a figura hesitante do filho e se pôs a falar:
–Olha, querido, você tem um gosto, nitidamente.--O homem suspirou.--Mirou numa Weasley e acertou no Potter. Mas, bem, seja feliz.
Quando Draco abriu os braços e Scorpius o abraçou, Albus quase soltou uma risada alta. O rosto do senhor Malfoy estava vermelho de tanto que ele parecia segurar as lágrimas. Nitidamente, Draco Malfoy não estava nada feliz, mas faria qualquer coisa para ver Scorpius sorrir, até deixar que ele tivesse um relacionamento com um Potter.
–Ninguém irá culpá-lo se chorar, senhor Malfoy!--A frase soltou-se da boca de Albus antes que ele pudesse contê-la.
–Cala a boca, Potter!--Foi a resposta grosseira.
***
Um fato curioso sobre a Torre de Astronomia, era que, aquele lugarzinho adorável, agora era o favorito de Albus Potter e Scorpius Malfoy.
Ele estava escorado em Scorpius, olhando para a neve parada em frente a cabana de Hagrid. O meio-gigante retirava a neve com uma pá enquanto seu filhote de Golden, presente de Harry, rolava na neve.
–Como será o nome do Golden?--Albus perguntou.
–Talvez seja Canino.--Respondeu Scorpius.
–Não acho... –Albus assumiu um semblante pensativo.--Papai contou que Hagrid chorou de soluçar quando Canino morreu, talvez ele não queira dar esse nome para um novo cachorro.
–Quer ir lá perguntar?--Scorpius já se levantava quando perguntou.
Albus agarrou a mão do loiro e negou, o puxando para que se sentasse novamente.
–Está frio demais...
–Mas que preguiça, hein, Potter!--Scorpius se ajeitou para que Albus deitasse a cabeça em seu ombro.--Você não era tão preguiçoso assim!
–Nem você quer sair nesse frio!--Respondeu, batendo no estômago de Malfoy.
Scorpius jogou um braço sobre os ombros alheios e enterrou a cabeça nos cabelos pretos e muito gelados.
–Estou com vontade de te fazer cócegas...–Scorpius sussurrou.--Te jogar nesse chão gelado e...
–Nem inventa!--Albus interrompeu.--Se fizer isso, juro que te jogo uma azaração!
Scorpius deu de ombros, sorrindo acanhado. Ficaram em silêncio por segundos incontáveis e adoráveis, até que Malfoy disse algo que quase tirou o ar de Potter.
–Já que eu sou o ativo, sou quem compra o anel de namoro, não?
Albus se afastou com uma velocidade surpreendente. Poderia ter dito qualquer coisa, desde sobre o pensamento sem sentido de Scorpius até o lance do rótulo.
Decidiu pelo lance do rótulo.
–Você disse que queria algo sem rótulo e em poucos dias já quer um?
Não que Potter desgostasse da ideia de ter um rótulo com Malfoy.
–Seus pais descobriram, meus pais já sabem, Rowle, Nott e Avery sabem... Logo a escola inteira vai saber e o mundo Bruxo. Sinceramente, eu quero ser o seu namorado, Albus. Não quero que as pessoas falem de nós utilizando o termo ficante ou amigos coloridos.--Scorpius falava de maneira sonhadora, mas também parecia nervoso--Você quer namorar comigo, não é?
Albus puxou Scorpius pela gravata e grudou-se nos lábios de Malfoy uma, duas, três, quatro vezes, até que a sua língua estivesse dentro daqueles lábios pálidos.
–Posso escolher o anel?--Perguntou quando se afastaram, um tanto quanto ofegante e apaixonado.--Porque eu não sei se posso confiar no seu gosto.
–Dúvida da minha capacidade de comprar uma aliança de namoro bonita?--Scorpius riu.--Você me conhece, não é?
–Meu medo é você me comprar uma feminina.
Scorpius revirou os olhos.
–No próximo passeio a Hogsmeade, nós vamos na joalheria que tem lá.
–E eu farei você gastar um dinheirão.--Albus brincou.
Malfoy deu um soquinho no braço de Potter, que devolveu o ato com outro soco. Como que para tornar real o que Scorpius havia dito antes, Albus foi parar no chão com Malfoy o fazendo cócegas por baixo dos casacos. Quando deu por si, repetiam o episódio do dia em que, sem querer, Potter teve uma ereção abaixo de Malfoy.
–Mas que fogoso, Potter!--Scorpius brincou.--Mas não se preocupe, estou com preguiça de sair correndo.
Albus beijou Scorpius, tão doce e tão irresistivelmente perfeito. Se nunca houvesse descido as escadas correndo, ido à cabana de Hagrid e convidado Scorpius para o Natal, não haveria de ter tido essa sorte.
–Estamos namorando?--Perguntou.
–Não até eu comprar as alianças.--Scorpius respondeu.
–Chato.--Albus deu um tapinha na cabeça de Scorpius, que ria às avessas.--Extremamente chato!
--Sou o seu chato!
Albus o beijou e, juntos, entrelaçaram as mãos.
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