03 - Jason Croft
Não acredito que me submeti a isso! Onde eu estava com a cabeça?
Após desembarcar no aeroporto de Dublin, ir até o porto e esperar até o fim da tarde para pegar o único barco que vai em direção à maldita ilha, ainda tive que preencher uma papelada me explicando porque gostaria de chegar até Hexen.
Estressado até o último fio de cabelo, suspiro audivelmente dentro do táxi que me leva por uma estrada macabra onde seguimos por 52 Km sem nenhum resquício de civilização. Espero que no fim dessa viagem eu não encontre selvagens ao invés de seres humanos.
Observando através da janela do carro, sinto o vento tocando meu rosto e balançando as árvores por onde passo. Uma floresta densa ladeia as duas margens da estreita avenida e quando finalmente chegamos a cidade, a primeira coisa que vejo é uma jovem falando sozinha em uma praça.
Bem vindos a Hexen. Não somos selvagens, apenas loucos. — penso comigo mesmo.
As casas tem semelhança com a arquitetura americana do início do século XX, com construções magníficas e praças ao ar livre, porém o clima é completamente diferente, fazendo-me lembrar da Irlanda. Em uma parte mais distante da primeira área da cidade, observo alguns galpões abandonados e uma boate com luzes neon no letreiro, deixando exposto o nome Luxor na fachada. Quando o táxi para em frente a mansão que imagino ser a minha nova propriedade, me surpreendo com a beleza e elegância do local: Um jardim bem cuidado ao redor de uma enorme construção de três andares.
Sou recebido por uma governanta que me leva até meus novos aposentos. Quando ela oferece um jantar, peço que sirva em meu quarto alguns hambúrgueres com batatas e que não esqueça de deixar à minha disposição uma boa garrafa de uísque.
Após instruí-la a deixar a biblioteca pronta para o meu uso nas primeiras horas do dia, dispenso-a com um movimento de cabeça e me preparo para um banho longo e demorado. Quero descansar para começar meus estudos no dia seguinte. Tenho dois meses nessa cidade dos horrores e quero usar cada minuto desse tempo para aprimorar meus manuscritos e confesso que estou levemente curioso sobre os mistérios de uma cidade tão escondida e cheia de protocolos.
***
Bruxas, vampiros, lobisomens, demônios, anjos caídos… Encontrei livros e jornais locais sobre todos esses tipos de assunto, como se essa cidade vivesse em um eterno halloween. Depois de muita leitura na biblioteca e algumas doses de uísque para começar bem o dia, o único artigo convencional que encontrei sobre esse lugar foi uma série de assassinatos na década de 80, um mistério nunca resolvido.
Almoço no escritório e passo uma boa parte da tarde escrevendo. Levanto-me da cadeira giratória e abro a porta que dá para o corredor do segundo andar com a intenção de alongar as pernas. Provável que esse seja o único exercício que pratico: caminhar pelos cômodos enquanto relaxo a mente para poder voltar a rotina de escrita, sempre com o copo cheio na mão, lógico.
Escuto uma voz suave e distante, muito, muito distante. Quase um sussurro unido ao som de passos no assoalho. Sigo o som e quando entro em um cômodo que acredito estar a origem de tal voz, descubro que não há nada lá. Exceto um gato preto. Volto para o escritório, inquieto, e então decido descer para o primeiro andar, onde fica a biblioteca e uma enorme sala de estar ao lado de um jardim de inverno.
Pego um antigo livro sobre a história da cidade e me sento no sofá, próximo à janela, observando os últimos raios de sol refletir através da fina cortina. Vejo a governanta cruzar o saguão, caminhando em direção às escadas e decido chamá-la.
— Pois não, Sr. Croft?
— De quem é aquele gato preto? — pergunto, fechando o livro casualmente.
— Era do antigo Sr. Croft. Ele se chama Lorcan.
— Hmm. — respondo com um resmungo.
— Caso o senhor não o queira pela mansão, eu posso colocá-lo para adoção amanhã mesmo, Sr. Croft.
— Não é necessário. Apenas certifique-se de que ele será bem cuidado pois não sei lidar com animais.
— Pode deixar, Sr. Croft.
— Outra coisa… — continuo antes que ela se retire. — Quantos funcionários moram aqui?
— Somos apenas seis. A cozinheira e a menina que cuida das roupas; P.P. que limpa a casa e cuida de Lorcan, eu, o jardineiro e o motorista. Caso algo não esteja do seu agrado, basta me comunicar que resolverei, Sr. Croft.
— Bom saber. — respondo e volto para o meu livro, dando a entender que a conversa terminou.
Os dias seguintes se tornam estranhos. Apesar de ter tido sucesso na lapidação da “Mansão Mal Assombrada”, tenho estado inquieto e em constante estado de alerta. No início achei que fosse pela quantidade de álcool que tenho tomado diariamente, mas agora que reduzi esse número, percebi que os passos que escuto pela casa tem me tirado o sono. Sinto como se alguém estivesse me observando e sempre que busco a fonte que tem me deixado paranoico, acabo encontrando espaços vazios e, às vezes, apenas a presença de Lorcan.
Com um ceticismo que beira o absurdo, me recuso a deixar que essa casa e os livros que tenho lido me façam pensar que tem alguma atividade paranormal acontecendo aqui. Iniciando uma caçada, decido investigar quem anda tentando me assustar e quando eu descobrir quem é, irei fazer com que se arrependa de ter nascido.
Duas semanas se passaram e eu continuo nessa brincadeira de gato e rato. Percebo os padrões através dos horários e, parando de beber durante o dia, começo a manter meus passos silenciosos na esperança de flagrar esse rato traiçoeiro. Após diversas tentativas frustradas, sinto que hoje pode ser o meu dia quando escuto um farfalhar de roupas de cama sendo trocadas em meu quarto. Quando entro no enorme cômodo, vejo uma jovem loira e pequena, de costas para mim. Aproximo-me lentamente e quando estou com a mão estendida a centímetros de tocar no tecido de seu cardigan, o maldito gato solta um miado alto e a garota vira-se subitamente em minha direção
Vejo seus olhos azuis brilhantes e assustados só por um instante, pois no segundo seguinte ela desaparece bem na minha frente, como se nunca tivesse existido.
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