Capítulo 1 • Revisado (?)
Catarine mexia freneticamente com a carta fazendo com que a cera que a selava secasse rapidamente. A garota sabia que se continuasse mexendo naquele ritmo a todo tempo, o selo se romperia antes que a carta pudesse ser entregue ao seu destino. Sua tia olhava para a mesma com certo desdém, a garota havia ignorado completamente a existência de seu café focando apenas na carta. Um silêncio perturbador tomara conta do imenso local, Elizabeth, tia de Catarine, queria saber o que havia de tão importante na carta; por sua vez, Catarine, sua única sobrinha moça por parte de suas irmãs, não tinha vontade de contá-la.
A casa continuou extremamente silenciosa e isso fez com que o barulho da campainha se tornasse ainda mais alto. A menina despertou-se um pouco dos pensamentos, até se empolgou quando se lembrou de quem estava do outro lado da porta. Elizabeth se levantou e andou em direção a porta de entrada, logo atrás estava Catarine, já esperando para conhecer os novos moradores da casa, as serviçais e o mordomo.
A mulher de meia idade, com sua pele clara e rosada com apenas algumas rugas próximas ao seus encantadores olhos azuis, estendeu a mão e contornou delicadamente a maçaneta, abrindo, desta forma, a grande porta a sua frente.
Catarine sentiu seu coração a mil, suas mãos suavam friamente, estava ansiosa para conhecê-los e já havia criando mil formas para eles. Imaginara a altura, o peso, a cor da pele, do cabelo e dos olhos, imaginou o jeito que falavam e que andavam, milhões de formas adejaram em seus pensamentos, como se fossem personagens de algum livro que ela estaria prestes a criar. Gostava de escrever e sua parte favorita era criar os personagens, sentir-se como se fosse a dona de tudo, poderia fazer várias expressões faciais, poderia deixar seus personagens do jeito que quisesse, tinha liberdade de transformar civilizações, podia criar ou destruir, gostava do comando que tinha ao escrever.
A garota espreitou por cima do ombro de sua amada tia para poder enfim olhar para os novos moradores daquela imensa casa, mas quando Elizabeth abriu a porta ela teve uma surpresa ainda maior do que esperava. A sua frente não tinha nada do que ela imaginaria ter, começando pelo fato de que ao invés de 4 pessoas, na porta tinha apenas uma.
Um jovem adulto. Um belíssimo jovem com olhos castanhos e cabelos cobertos por uma coloração igualmente castanha. Sua pele clara estava rosada, provavelmente por causa do frio intenso que estava do lado de fora. 1,89 e dava para ver apenas olhando que já passara de seus 20 anos de idade. Vestia-se com uma sobrecasaca de cor marrom escuro que se mantinha aberta de forma que o colete por baixo da mesma ficasse visível. O colete por sua vez tinha uma coloração de bege rosado bem claro, era em seda e no mesmo era visível ver uma corrente, era a corrente que ancorava o relógio ao bolso do colete.
A calça era numa coloração bem próxima ao do colete, mudando apenas o tecido que a compunha. Tinha também um chapéu em sua cabeça, luvas brancas cobriam suas mãos e as aqueciam, além de que, segurava nessas uma bengala e algumas poucas malas. Podia se dizer que era um jovem mesmo atraente, algo que fez com que a garota imediatamente envergonha-se pelo seu estado atual.
-Vamos, entre querido, vou te servir um chá para que você se aqueça. -A mulher disse gentilmente, sua voz soou doce, tão doce que causou um estranhamento em Catarine.
Ao entrar o rapaz fitou a moça de cima a baixo, como se perguntasse com somente o olhar de quem se tratava a mesma. Elizabeth sorriu um pouco constrangida pelo jeito que Catarine se encontrava e então tossiu disfarçadamente fazendo com que a garota concertasse sua postura.
-Perdoe-me pela grosseria, esta é Catarine, a sobrinha da qual eu disse que mora comigo. E Catarine, esse é Sam Darley, ele é filho de uma amiga e a pedido da mesma, irá morar conosco por algum tempo em virtude do aprimoramento de seus estudos, visto que estamos mais perto de sua universidade do que sua própria casa.
O rapaz pegou a mão da garota - estas também cobertas por luvas, mas por sua vez mais finas -, curvou-se e delicadamente a beijou, tal como havia feito com sua tia antes de entrar.
-É um prazer conhecê-la. -Ele soltou a mão da menina e deu um breve sorriso.
-Querida, o acompanhe até a sala de visitas enquanto eu preparo o chá. -A mulher disse já se retirando e a garota apenas consentiu com a cabeça.
Catarine pediu para que ele deixasse suas coisas sobre uma cômoda que estava perdida por ali até que ele conhecesse o seu quarto e então fez um sinal para que ele a seguisse. Os dois foram andando sem pressa até a suposta sala de visitas, que, na verdade, estava tão bagunça que mal dava para saber de qual cômodo se tratava.
Enquanto andavam, Catarine tentou manter o máximo de sua postura educada e minimamente atraente, retirando com todo o cuidado que tinha, as coisas que impediam a passagem pelo caminho até a suposta sala de visitas. Ainda se sentia envergonhada pelo cabelo bagunçado e suas roupas velhas, mas além do mordomo e a empregada, a moça não contava com a vinda de mais uma pessoa, e pior, um jovem homem da qual ela nunca havia tido contato antes em sua vida. Sam por outro lado estava bem tranquilo e não demorou até que notasse o nervosismo da garota ao ter que dirigi-lo a algum local.
Ao chegarem, Catarine pediu para que ele não reparasse em toda aquela bagunça, e explicou que elas haviam se mudado recentemente para lá. O rapaz compreendeu a situação e se sentou em um sofá que estava no centro da sala, um dos poucos móveis no lugar. Não demorou muito tempo para que Elizabeth já estivesse chegando com algumas xícaras e uma jarra de chá. A moça levantou-se e ajudou sua tia, logo tornando a se sentar.
A mulher com seus cabelos loiros desbotados presos com alguns lindos e longos cachos soltos serviu uma xícara de seu delicioso chá para Sam, que observava atentamente toda a delicadeza da mulher com tudo.
Os três estavam servidos e apreciavam, sem pressa alguma, as xícaras de um doce e quente chá. Nevava do lado de fora e por mais que não fosse uma nevasca, o frio era quase que insuportável, as janelas estavam cobertas por um forro de neve e uma fina camada de gelo que aos poucos era trincado pelo frio intenso. Os lábios do garoto se tornaram ainda mais rosados ao entrarem em contato com o chá. Catarine prestava atenção em cada movimento que o rapaz fazia.
Sam, aquela altura, já havia notado que estava sendo observado pela moça de não mais que 17 anos de idade com seus cabelos castanhos encaracolados. Olhou nos olhos da garota antes de dar outro gole no chá. Catarine desviou rapidamente o olhar e sentiu todo o seu rosto queimar em vergonha.
-Bom -A garota diz na esperança de disfarçar seu constrangimento e acabar com aquele silêncio que particularmente a incomodava bastante. -, sr. Darley, posso perguntá-lo de onde veio? -Ele sorriu sem mostrar os dentes, de uma forma um tanto que meiga.
-Peço que evite tais formalidades, me chame pelo primeiro nome. -Catarine sorriu um pouco sem graça. -Sou britânico. -Ele disse e então tomou mais um gole do chá. Os olhos da garota se iluminaram, como se estivesse presente de algo incomum e surpreendente. Na verdade, a menina nunca havia conhecido ninguém que morasse fora do país em que ela vive, o que era algo bastante normal. Ela sentiu-se empolgada para conhecê-lo melhor, queria fazer-lhe milhões de perguntas sobre muitas coisas de seu país natal, mas não ousou. Lembrou-se que sua tia tinha seu olhar sobre cada movimento dela. Segurou a curiosidade.
-Interessante -disse, sinceramente -, você não tem sotaque. -Catarine não tinha conhecido pessoas de outros países, mas lia muito sobre o assunto em livros, sabia que pessoas não nativas ao falar línguas estrangeiras para ela, tem uma tendência a desenvolver sotaques, amenos que ela fale perfeitamente bem o idioma. O rapaz deu outro sorriso, mas este por sua vez mostrando seus dentes perfeitamente alinhados, um sorriso encantador aos olhos de Catarine.
-Não fiquei lá o suficiente para desenvolver um sotaque. Estive sempre me mudando.
-Seus pais trabalhavam fora ou algo do gênero? -Por algum motivo, um motivo que aquele ponto Catarine desconhecia, sua tia Elizabeth e Sam se engasgaram com o chá ao mesmo tempo. A garota não entendia. Teria sido enxerida demais? Ousou demais ao perguntar da família do rapaz? Elizabeth rapidamente se recuperou e cortou o assunto.
-Chega de perguntas. -Eliza disse se levando e ajeitando seu vestido cor de rosa.
-Não, está tudo bem. -Sam colocou a xícara no pires enquanto tossia um pouco ainda.
-Eu insisto. Venha comigo, mostrarei o seu quarto, a viagem deve ter sido demasiada cansativa e amanhã teremos muito trabalho, quero que descanse por hoje.
Catarine não entendia, eu disse algo de errado?, pensou consigo, mas gostaria de ter tido a chance de perguntar.
O resto do dia não havia sido muito interessante, claro, exceto pela chegada do mordomo e das serviçais algumas horas após o ocorrido com sua tia e Sam na sala de visitas. Não conseguia tirar da cabeça aquela dúvida cruel. Não sabia porque ambos haviam agido daquela forma. Decidiu que perguntaria isso a sua tia, ou até mesmo a Sam quando pudesse, odiava ter que ficar curiosa, e faria o que fosse para evitar aquilo.
A tarde, mais precisamente a noite, ela fez cinco retratos. Um de Sam; um de Camila, Estefânia e Jasmim, as serviçais; e um de Jorge, o mordomo. Colocou os 5 presos em sua escrivaninha próxima a janela e escreveu uma breve carta. Mandaria para Amanda ao amanhecer, assim como fez com a outra, um pouco depois da chegada de Sam.
Ficou escrevendo, dando continuidade ao seu livro, mas sem que percebesse acabou adormecendo em cima de tudo.
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