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MALDIÇÃO MALDITA

     Celso de Lucca olha a cidade de São Paulo pela janela do seu quarto. O frio corta-lhe a carne. O homem de quarenta anos está nu, com o corpo lavado de sangue que não é o seu..., mas pouco se importa por estar assim. Ele carrega uma maldição, e não somente ele, porém, todos os homens da sua linhagem sanguínea.

        O homem sai da frente da janela. A lua cumpriu mais uma vez sua função: Trazer a morte para seu corpo. Celso, se abaixa e chora sobre o corpo carcomido do homem deitado de costas, no chão da sua sala. O nome dele era João Pascoal, seu vizinho.

         João, chegou no dia errado... na hora errada, para bater em sua porta, por ter escutado o que não era para ter sido ouvido. Celso, estava no meio da transformação dessa Maldição Maldita. Ele, olha com uma tristeza profunda, para os três corpos que jazem na sua frente.

       Tudo começou quando Celso tinha de cinco para seis anos. Sim... essa foi a idade, que pela primeira vez ele sentiu "A Fome"... a fome que desfigura a pele, carcome a carne e rói os ossos. E como rói. Mas, Celso, em sua primeira vez, sentiu uma dor aguda no estômago.

      O menino cospe a bílis. Era estranho ver aquele líquido esverdeado saindo em abundância de dentro de si, sendo vomitado através de um jorro abundante, de dentro da sua boca.

         Celso, não sabia que estava sendo observado. Ele, não tinha ideia de quanto sua vida começaria a mudar. O Seu Alfredo, pai do Celso, estava por trás de uma Oliveira, observando atentamente a tudo que estava ocorrendo.

         E ele via, o menino sentado sobre os joelhos, segurando a barriga e vomitando..., mas, o que fazia mesmo seu coração ser partido, era o fato dele não poder fazer nada.

         E o não poder fazer nada, doí muito.

         O pai de Celso, levava consigo uma gaiola de ferro com um coelho branco, de olhos vermelhos, dentro dela. O Seu Alfredo, ajoelhou-se e colocou o objeto com o animal no chão coberto de folhas, perto do filho.

         A criança gritou assustada, olhando para sua mão que estava estendida na direção do céu. O pai fechou os olhos.

         Ele sabia o que estava para acontecer com a criança. Ele também era vítima dessa maldição maldita. A maldição  já existe a mais de mil anos. E que nunca acabará.  Uma maldição que passa de pai para filho.

         Exatamente isso. Não tem como escapar. Nasceu, se fodeu. E se por um acaso, o próximo maldito, não gerar um filho homem, A Maldição Maldita lhe comerá a carne, depois da morte dele, deixando sua alma sofrendo por toda eternidade no inferno, e um corpo vagante, sem destino andando pela Terra.

         O maldito, nunca poderá morrer, mesmo que queira.

         Seu Alfredo, fechou os olhos para não ver, o que já sabia que ia acontecer. Os sons da carne sendo rasgada, de ossos sendo triturados, e a sinfonia grotesca da criança mastigando e sugando a carne fresca, banhada de sangue.

         Como um animal acuado, o pai saiu do meio das árvores. A criança, ainda entretida com os restos mortais do coelho, não o percebeu chegando. Colocando sua mão direita, sobre a cabeça de Celso, Seu Alfredo falou umas palavras estranhas.

         O que estava sendo falado, era do idioma romani, dos povos Rom e dos Sintos. O pai pegou sua cria, colocou em seus braços coberto por um lençol preto e cheio de luas vermelhas, estrelas brancas e sóis amarelos, e a levou de volta para casa.

         Todas essas lembranças, e tantas as outras desde então, passam pela sua cabeça e servem para ele, de justificativa maligna para seus atos.

8 horas antes dos fatos atuais

         A noite chegou, e com ela a última lua cheia do ano. Celso ligou para Estela, sua noiva, e disse que não iria poder se encontrar com ela.

         Alegou que estava com muita dor de cabeça, o que não era mentira, mas, todas as noites de lua cheia, ele diz a mesma coisa, em todos esses sete anos.

         Porém, para sua agonia, a companhia do apartamento toca. Como quem caminha sobre ovos, Celso dirige-se até o olho mágico.

— Estela? O que você está fazendo aqui? — Pergunta Celso, assustado e parado na frente do olho mágico.

— Você poderia abrir? Trouxe algo para comermos.

— Mas, eu não havia falado que não estava passando bem?

— Meu amor, abre a porta. Trouxe uma sopa. Ela ainda está quentinha... e tenho uma ótima novidade.

— Por favor, vá embora.

— Por favor, abre a porta. Eu prometo que não vou demorar. — Celso olha para o relógio. Dezoito horas. Ele ainda tem duas horas para a transformação. A Maldição Maldita, dura oito horas.
— Tudo bem. Mas, não vamos demorar muito. Realmente estou com muita dor de cabeça.

     O rapaz está vestindo um robe azul, e calçando uma sandália branca. Estela, entra no apartamento, beija na boca do noivo e segue até à cozinha.

— Eu estava passando aqui perto, comprei essa canja e vim até aqui para te fazer uma surpresa. — A noiva pede licença, vai até o banheiro lavar as mãos, mas antes, olha dentro do quarto. Vazio. Ela, suspira aliviada. Pensou que estava sendo traída.

         Voltando para cozinha, Celso encontra-se parado, com os braços cruzados e com a feição preocupada. Ele, suspira e diz:

— Qual a novidade que você deseja contar?

— Uau! Assim? Calma! Vamos comer primeiro e depois eu conto. — O casal senta de frente para o outro na mesa. Estela, sorri para o noivo e começa a colocar a canja no prato dele. Celso puxa o rosto para trás, ao sentir o cheiro da canja, e não é por que esteja ruim, porém, o olfato dele está mudando. A canja logicamente não está crua. Estela percebendo o recuo feito pelo noivo, pergunta:

— O que aconteceu? A canja não está cheirando bem?

— Não foi isso. O cheiro está ótimo! — Celso Mente — É que a dor de cabeça... não ajuda para abrir o apetite. — Novamente ele mente. A dor de cabeça, que é o sinal, do início de tudo. — Mas, qual a novidade que mesmo?

— Fui promovida para gerente de vendas.

— Que notícia maravilhosa! — Embora Celso tenha ficado alegre, a voz dele não teve aquela entonação abrangente... com aquela explosão alegre de sempre. Estela, percebe.

— Eu fiquei sabendo ontem. Ainda não havia dito, porque estava esperando mais um resultado.

— Então, eles quiseram ter certeza mesmo da sua promoção.

— Eu estou gravida. — Dispara Estela como uma bala perdida, mas, com direção certa. Ela falou com um leve sorriso nos lábios, e olhando para o chão da cozinha. Celso, cerra os olhos. — Nós estamos grávidos de um garoto ...cinco meses. — Ela termina se sacramentar o mal.

— Nós? — Ele levanta-se — O que havíamos combinados? — Celso apoia as mãos sobre a mesa e continua — Eu nunca quis ter um filho! E você, Estela, sabia muito bem disso! Eu não quero que nosso filho tenha as mesmas coisas que tenho!

— Então o que você tem? Que doença é essa que nunca fala sobre ela? —  Celso, se vira para a pia, dando as costas para a mulher e olhando para a torneira.

— Eu sou um amaldiçoado. — Estela, ao ouvir isso, se levanta e abraça o noivo. — Minha família foi amaldiçoada há muitos anos atrás.

— Não diga isso meu amor... você é um homem abençoado. Não  existe esse negócio de maldição!

— Nem eu —  Ele continua falando, sem prestar atenção para o que estela está falando —, nem qualquer homem que nasça na minha família, está livre dessa loucura quando chega aos cinco anos de idade... Estela, nós mudamos depois dos cinco anos. Você entende?

         O casal continua abraçado. Estela escuta a história do noivo, ouvindo os batimentos cardíacos dele, enquanto o envolve pelas costas dele.

— Meus antepassados, a mais de mil anos atrás, entraram em guerra com uma família cigana, por causa de dois hectares de terra. — Numa determinada noite — Celso começa a contar —, depois de meus antepassados terem morto quase todos os ciganos, uma mulher idosa, apareceu para meu tataravô, numa sexta-feira de lua cheia e o amaldiçoou. Falando no idioma romani, ela falou sobre uma Maldição Maldita... um tipo de maldição que nunca estaríamos livres dela. A cada novo menino que nasce, a nossa Maldição Maldita passa para o novo rebento.

         Celso, vira-se para sua noiva. Estela, o solta vagarosamente. Ela encontra-se com os olhos esbugalhados, olhando para ele. Fixamente. Aterrorizada.

— O que aconteceu? — Pergunta ele assustado e levando sua mão ao próprio rosto.

— S-seu nariz. Meu Deus... o que aconteceu com ele? — Celso, pega no buraco que antes era um nariz.
— Como? Meu nariz? — Assustado, Celso corre para ver o relógio, e para sua agonia desesperada, o relógio, continuava mostrando a mesma hora que antes.
— A pilha... acabou. — Diz ele com voz fúnebre.

         Estela, deixa de correr. ao ver o noivo parado diante do relógio com ponteiros. Celso cai sobre os joelhos, agonizando em dores. A pele dele começa a derreter... na verdade, a despregar-se do corpo do homem.

         Sem acreditar... com um olhar inundado pelo medo, a noiva vê as peles do noivo caindo no chão, se desprendendo do corpo dele, como se uma navalha invisível estivesse a serrando fora.

         A carne, começa a rasgar-se, como um açougue que fatia uma carne suculenta e fresca. Ele grita. Celso, não teve tempo de colocar a mordaça. E o grito dele ecoa pelo andar.

         Estela, tenta passar pelo homem que está se transformando num esqueleto humano. Isso mesmo. A lua cheia que aparece entre as nuvens, o transforma num esqueleto vivo, que somente terá seu corpo volta, se comer carne e beber sangue fresco.

         Uma mão ossuda, a derruba no chão e a puxa para perto de si. Celso, morde a panturrilha de Estela. E aterrorizada, ela não vê mais o noivo, no entanto, um esqueleto com carnes mortas penduradas.

         Estela, é brutalmente atacada, aos gritos ele tenta escapulir daquilo que era seu noivo, porém as mordidas são rápidas e fatais, ela sente cada dentada penetrando a sua pele e até quebrando os mais resistentes ossos resistentes, do corpo dela.

         Alguém bate na porta.

         Ele está gritando! O prédio tem dois apartamentos por andar, e o vizinho, só para de bater na porta, quando um esqueleto o puxa para dentro.

         Com uma dentada, Celso arranca os nervos do pescoço do amigo. Depois, joga João sobre o corpo da sua noiva e começa a devorar os três... Estela, o filho e João.

         A Maldição Maldita, não poderia ser detida. Celso, fez a opção de matar a noiva, para que ela não tivesse mais um maldito na família, e com uma louca resignação, ele não se importaria de passar toda eternidade como um esqueleto amaldiçoado, ao invés de fazer igual ao seu pai, transmitindo a Maldição Maldita para outro inocente, ele assumiria esse fardo enquanto vivesse e também depois da sua morte. 

         Os anos passaram, a história de Celso foi virando uma estória e todos com curiosidade e descrença escutavam e recontavam aos outros, fazendo com que caísse em descredito. A suposta verdade, contada agora, era que o noivo enciumado, descobriu a traição da sua amada, e matou a todos, depois se suicidando.

         Porém, nas ruas de São Paulo ainda haviam algumas pessoas que acreditavam naquela história do homem com uma "Maldição Maldita" que o fazia um carnívoro, todavia, como já escrevi, não tardou que a descrença assolasse a todos e o homem maldito ganhou espaço para o seu show de entranhas dançarinas que arrancava das profundezas da carne.

         A manhã chega com um brilho do sol bem preguiçoso e o movimento na rua Vittorio Fasano, 88, São Paulo, CEP 01414-020.

         Um casal e um gato com um colar de ouro apreciam o Hotel Fasano, e está muito óbvio que tem o intuito de lá entrar e aproveitar o luxo.

         Na entrada bem na parte de cima está escrito "Fasano" sobre uma cor que lembra a madeira lisa.

— Wow, que hotel tão luxuoso. — diz a mulher que em seguida passa a sua mão fina pelas suas tranças que caem para trás à moda africana.

— Mas não chega aos pés do Grand Orge's Hotel. — Diz o homem olhando para olhos da sua companheira.

— Querido, não há comparação. — Diz ela e sorri em seguida. — Chega de conversa e vamos entrar, preciso de tratar da minha linda pele, pele de... — Ela diz, entretanto é interrompida pela resposta do companheiro.

— Deusa.

— Exatamente, não é Zero? — A mulher faz a pergunta para o fofinho gato que ostenta duas cores na sua pelugem, branco e amarelo que mais parece dourado.

         O gato olhando para a dona vaidosa num vestido dourado que cola cada curva do seu corpo e uma sombrinha de sol da mesma cor, mia como estivesse a responder a mulher.

— Vês, até o Zero concorda comigo.

— Ezildo está demorando.

— Não há problema, vou aproveitar este meu pequenino dócil. — Diz ela se inclinando para afagar o agitado animal.

         Minutos depois, chega um Camaro vermelho, e sai um homem que aparenta ter seus 34 anos, pega o bichinho e vai embora.

         Exatamente, trata-se de um casal que literalmente passa a vida viajando, conhecendo novos continentes, países e só falta visitar a lua e quem sabe outros planetas.

         Dinheiro não é problema, pois o casal tem muitas empresas de viagens. Então, os dois entram num dos melhores hotéis de Brasil. No interior, quando o casal chega, o recepcionista que aparenta ter seus 50 anos, olha para o homem com uma cara cheia de desconfiança, porém não se explica.

        De volta, depois de transmitir a mensagem de desconfiança à sua companheira, encara o recepcionista com a mesma impressão. Se apoia no balcão com a mão, que tem nela, um objeto estranho que parece um brinquedo.

— Bem vindos ao hotel Fasano.

— Um dos melhores hotéis de Brasil. — Diz a mulher com grande entusiasmo.

         Vindo de Moamba, tiveram a oportunidade de conhecer, na verdade ela é que teve, muitas partes extraordinárias do país que se destacam de toda África, inclusive conheceu o hotel mais luxuoso e cheio de tecnologia em toda África. Na verdade, tudo naquele país era avançado.

           Nas suas identidades, nos papéis aparecem os nomes, Carlota João Pessoa e Irrugay Clark Nguenya.

          Em todos os números dos quartos, eles escolhem o número 8. Carlota empolgada vai a frente com a chave pronta para relaxar e cuidar da sua linda chocolate pele.      

         Entram no grande espaço, que chama os momentos em que os dois amantes, se amaram de uma forma pujante. O vermelho está em abundância. Na cama gigante, o vermelho está mais intenso como se estivesse a prever algo dos infernos.

— Uma vez disseste que odiavas a cor vermelha, acho que agora vai mudar de ideia olhando para esta maravilha que está perante aos nossos olhos. — Diz ela olhando para aquela maravilha e vira os olhos para o seu companheiro.

— Confesso que está maravilhosa essa decoração e me lembra a última viagem que a gente teve semana passada para Moçambique.

— Foi maravilhoso, totalmente inesquecível. Arrasaste.

— Não, nós arrasámos.

— Tem razão. — Os olhos dos dois vão em um encontro de desejo imparável que é interrompido pela leve batida na porta.

         O recepcionista traz consigo na mão direita um objeto que parece um boneco de vudoo, que o Irrugay esqueceu logo que entraram.

— Entra. — Diz Irrugay. — O recepcionista entra e logo o seu olhar se cruza com do outro. Irrugay sente uma energia forte e misteriosa perto do homem que parece muito pálido e magro, mas antes de atingir o estágio de causar terror, diz: — Tem alguma coisa que queira nos contar? — Pergunta o dono do pequeno boneco recém trazido.

     Um silêncio que quase parece longo é cortado quando o recepcionista diz:

— Não. Estou aqui para trazer isto que o senhor esqueceu na recepção, logo quando chegaram.

— Oh, meu ursinho da sorte. — Diz ele com um ar brincalhão, porém a Carlota olha para ele e em seguida revira os olhos. — Muito obrigado e não precisava vir pessoalmente, pois essa não é sua função, ou é?

— Não... eu achei.... — Ele é interrompido pela voz da Carlota:

— Muito obrigado e tchau. — Diz ela ao recepcionista com um tom de desprezo. O homem estranho sai e o casal fica novamente só.

— Sentiste aquilo? — Perguntou Irrugay.

— O quê? O coitado estava cheirosinho.

— Não estou falando do cheiro, mas sim da energia que ele emana.

— Ah... Não amor! Tu novamente com esse assunto.

— Eu já até disse querida, que não consigo controlar isso desde criança, é uma Maldição Maldita.

         A sua voz soa como se estivesse invocando uma entidade que por muitos séculos aguardava pelo seu clamor e emergir do abismo para triunfar com as suas habilidades do caos.

— Eu sei amor, mas eu disse para te esqueceres disso. Vamos nos divertir e deixa de querer investigar seus demônios. — Diz ela indo na direção do telefone perto da enorme cama. — E não gostei o que fizeste na viagem em que parámos em Moçambique.

— Está bem amor, me desculpe. Prometo que não vai voltar a acontecer. — Irrugay mente de cara lavada.
— Que assim seja. Agora deixa disso e vamos aproveitar esse todo luxo.

         Os dias passam enquanto o casal se diverte, mas Irrugay sente uma energia forte no quarto e também desconfia que o recepcionista sabe de alguma coisa que vai além da lógica. O quarto lhe parece, às vezes, ter vida própria e lhe observando para depois dele e da sua parceira arrancar as vísceras e realizar um ritual do diabo.

         Ele sempre teve esse dom de sentir a presença de entidades, sejam malignas ou benignas e isso lhe perturba, assim lhe trazendo pesadelos que depois de um tempo ele chamou "normais".

         Quebrando a promessa que fez à sua companheira, ele começa a investigar o recepcionista e passa a conhecer os dias em que está em folga, após isso na primeira noite, o segue até a sua casa, mas não o aborda.

         Ulteriormente e no desconhecimento da Carlota, na segunda noite ele segue o recepcionista até a sua casa e o aborda na entrada quando introduzia a chave na fechadura.

— Boa noite!

— Boa noite. — Ele diz assustado e virando para o dono da voz e diz — Credo! O senhor me assustou. O que faz aqui?

— Desculpa, Roberto. — Diz Irrugay com as mãos nos bolsos do seu casacão vermelho. — Eu presumo que não tenha nada que lhe deixe assim tão assustado, ou tem alguma coisa lhe incomodando? — O recepcionista vira para sua porta, abre e convida o visitante surpresa:

— Não tem nada, não. Por favor, vamos entrando.

— Obrigado. — Agradece Irrugay. A casa não é grande, mas tem uma aparência de ter por muitos anos existido e merece ao homem que trabalha no luxuoso hotel que é um total contraste.

— Obrigado mais uma vez. — Diz Irrugay apreciando a casa, assim pondo o pescoço e os olhos em funcionamento.

— Se o senhor quiser sentar, por favor, pode sentar aqui. — Diz Roberto indicando um velho sofá na sala.

— Obrigado. — Responde Irrugay, vendo seu reflexo no televisor e um vulto passando por detrás dele. Perto da sala tem uma cozinha ao estilo norte-americano. O dono da casa serve um suco enquanto pergunta ao outro:

— Sim, senhor Irrugay, o que lhe traz aqui? Estou curioso. — Caminhando na direção do visitante.

— Eu acho que você já sabe do que se trata.

— O suco. — Diz entregando o outro, a bebida e em seguida senta noutro sofá em forma de "L". — Eu realmente não sei de nada, foi alguma coisa que aconteceu no hotel? Se foi, não vi nada de estranho.

         Irrugay olha para o homem pálido que sente a delícia da sua própria confecção, dá um gole demorado e pergunta:

— O que tem no quarto? — O recepcionista quase se engasga quando escuta a pergunta, pois por anos não escutava uma pergunta que parece ser simples, no entanto para ele assombrosa e perturbadora.

— Não tem...

— Nada? É isso que você quer dizer? — A voz do visitante se altera, mas ele minimamente controla a sua expressão facial. — Não tente me enganar, eu sou moambiano, cuidado. Eu senti, você tem o que tenho.

— Bem, eu...

— Não me faça perder tempo, deixei a minha mulher no hotel e talvez ela esteja correndo risco, é melhor falar, ou precisa de uma ajuda... de algo sem palavras? — Diz em seguida tira um revólver do casacão e aponta o recepcionista.

— Não me mate, por favor. — Diz o dono da casa levantando os braços automaticamente da mesma forma que fez anos atrás quando foi assaltado.

— Então me conta tudo, sobre o quarto. — Diz em seguida afunda a arma de volta no casacão. — Pode abaixar.

— Está bem... eu vou falar. Anos atrás, houve um caso que depois foi esquecido, de um homem chamado Celso que era membro de uma família supostamente amaldiçoada. A maldição lhe deixou completamente... um esqueleto, se podemos chama-lo assim. Numa mesma noite, ele atacou a sua noiva e o vizinho no apartamento onde morava e depois sumiu.

— Conta mais, me parece que você gosta muito de detalhes, eu quero saber sobre o quarto.

— Depois de seu sumiço, ele foi parar no Hotel Paulo Safuno, o atual Fusano, arrombou a porta do quarto de número 8, onde tinha um casal e um adolescente, e literalmente os devorou, exceto o adolescente, que foi o único sobrevivente, naquele dia. O ser maldito quando saiu do quarto, chacinou os hóspedes que estavam hospedados no hotel, naquela noite. Era sangue por todos os lados... cabeças espalhadas pelo chão. Tudo estava convertido num mar de sangue... carne no chão e cheiro de podridão.   A polícia fechou o hotel e só voltou, com outro nome quando a história foi finalmente esquecida.

— Eu... já esperava uma história bem estranha e quase impossível, inventada, mas acredito nela, pois já vi quase de tudo no meu país, principalmente na cidade de Khedie.

— Bem, foi isso que aconteceu lá no seu quarto.

— E porquê escondia tudo isso?

— Quem vai voltar a se hospedar num hotel, onde dezenas de pessoas foram devoradas? Eu preciso de dinheiro.

— Mais clientes no hotel, mais dinheiro.

     Por volta das 23 horas, Irrugay volta para o hotel. Ele toma banho e vai se deitar.

— Amor, por onde andou? — Pergunta Carlota. Os dois estão deitados e coladinhos na cama.

— Saí um pouco para apanhar um ar e relaxar a minha mente. — Diz escovando o cabelo da parceria entre os dedos. — Sabe? Estás muito linda essa noite.

— Ainda nem coloquei a minha maquiagem, só posso fazer isso amanhã.

— Tu és linda de qualquer jeito.

— Sério? — Diz ela afinando a sua voz parecendo uma criança mimada.

— Sério deste tamanho, olha assim. — Diz ele simulando algo grande gesticulando com as mãos.

         Os dois gargalham e a noite ganha sentido, ganha relevância, pois as coisas simples são as que mais tornam a vida interessante e valiosa de se viver com toda fibra.

— Tenho uma coisa para te contar. — Diz Irrugay olhando com seriedade nos olhos da companheira, mais lá no seu mais interior a hesitação se apresenta em excesso, ele não quer a preocupar demais.

— Diga logo, está me assustando.

— Amanhã temos que voltar. — Dá um selinho na testa dela.

— Amanhã? Como assim? Ainda não completamos uma semana, sete dias amor, sete! Por favor, vamos ficar mais um dia, e na verdade, amanhã completamos seis dias. Eu já estava preocupada, mas o que te fez decidir isso?

— É que recebi uma ligação de Moamba, tenho que resolver uma coisa lá no meu novo negócio.

— Viu? Eu disse que não daria certo.

— Tu tinhas razão, mas vou dar um jeito. — Diz ele mentindo. Ele só quer sair dali para evitar o terror que já tem o conhecimento. A ajuda, que deu para o Roberto, o recepcionista, o deixou em feliz agonia.

— Vem cá. É impressão minha ou esses olhos me desejam?

— Não é impressão, os olhos não sabem mentir.

         A noite será longa, os dois não levaram muito tempo, agora estão ofegando com cada toque em partes sensíveis, em partes que indicam a direção da satisfação, do desejo, do paraíso.

         De repente, um cheiro bem pútrido circula pelos ares quando gritos de alguém e ulteriormente de muitos, no grande hotel pairam com um som tão agudo que o casal antes de atingir o orgasmo fica em alerta e com a respiração cortada.

          Nada mais que um pensamento negativo desfila pela sua mente e de repente a luz desliga-se e a escuridão abraça todo canto daquele grande espaço.

— Maldito. — Diz Irrugay baixinho, que nem o som chega aos seus ouvidos. Em seguida a luz volta, quando ele chega ao corredor, e ver a criação dos seus atos.

         O chão do corredor do hotel estava repleto de corpos, que dançavam em imensas poças de sangue e corpos carcomidos e retalhados... um rio de gente sem vida. Mas, não por muito tempo.

          Os hóspedes desmembrados e corroídos, que foram comidos por um animal selvagem, produzido pelas mãos do grande demônio, começam a se levantarem.

         Nos olhos do jovem Roberto, as paredes do hotel lhe parecem ter vida própria como se vivesse transitando num mundo psicodélico de uma fome sem fim.

         Sim! O desejo de Roberto foi atendido. Dos confins da sua loucura, lembrando-se de como seus pais foram devorados por Celso, ele implorou para que Irrugay, o desse a demoníaca Maldição Maldita.

         Irrugay, o pediu uma galinha de capoeira preta. Depois, com o sangue da ave, fez símbolos demoníacos, os mesmos símbolos que ele possuía em seu corpo... e para completar a loucura dessa junção metafisica, misturou seu sangue com o da galinha, e de baixo de um transe maligno, na verdade, sobre uma possessão demoníaca, ele deu para Roberto beber, o sangue.

          A transmutação deu errado. E agora, Irrugay poderia de fato constatar isso... nem diante dos seus olhos, e da  forma mais medonha possível, porque ele criou algo pior que a maldição maldita, dada a Celso.

         A mordida de Roberto criou um mundo novo. O mundo dos mortos-vivos.

FIM.

4323 palavras

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