Capítulo XVIII
Arrumada no pequeno estacionamento da faculdade de Edgar, com comida no banco do passageiro que o esperava. Ele sairia da aula por volta das 22 horas muito cansado e tinha comentado comigo que em dias assim pegava ônibus para voltar porque não conseguia dirigir de tanto sono. Com essas informações, resolvi fazer uma surpresa e o buscar na pequena faculdade que ele frequentava com belos hambúrgueres, batata frita e refrigerante.
Eu esperava na saída da faculdade que tinha um pequeno estacionamento e esperava contando com a sorte que ele saísse por ali e não tivesse outra opção e estragasse minha surpresa. Eu estava atenta, e via várias pessoas passando, algumas eu lembrava da feição por causa da festa. Eu sabia que Amanda não estaria por ali pois hoje ela não tinha aula. Eu batia meus dedos no volante do carro ansiosa esperando que ele visse a atitude como fofa e não sufocante, suspirei fundo.
Demorou alguns minutos que pareceram horas até eu o ver. Com olhos realmente cansados, olhando para os pés, carregava um livro na mão como de costume. Isso me fez sorrir e lembrar dele várias vezes na praça lendo algo. Liguei o pisca alerta no seu rosto para que ele percebesse que era o meu carro e acendi a luz. A surpresa no seu rosto foi rápida pois deu espaço para um sorriso gigante daqueles que não poderiam ser falsos.
Eu abri a porta do meu carro e saí para o receber com braços abertos enquanto o ouvia dizer:
- Eu não posso acreditar que você veio até aqui!
Eu o abracei o mais forte que pude. Não sabia se poderia o beijar em público mas ele foi o primeiro a fazer.
- Bom, eu não poderia deixar você cansado esperar um ônibus e com fome. Então hoje eu sou sua motorista e trouxe sua comida.
Ele continuava sorrindo e parecia muito surpreso.
- Você é tão linda de fazer isso. Muito obrigada, Dora.
Eu sorri com os olhos provavelmente brilhando.
- Então, vamos? Sua comida está no banco do passageiro, não sente em cima.
Ele voltou a me puxar para um beijo, e eu parecia muito uma adolescente extremamente apaixonada vivendo seu primeiro amor. A sensação mais encantadora que eu teria na minha vida. Eu tinha certeza que precisava guardar aquele sentimento com muito cuidado, pois ele era mágico. Então brincando, eu fui correndo até a porta do passageiro e abri para ele.
Ele riu dos meus gestos, pegou a embalagem de comida e se sentou, mas antes disso me puxou mais uma vez para um beijo. Eu fechei sua porta e fui até a minha. Entrei no carro já rodando a chave e dando partida. Percebi que Edgar descobria a comida e eu torcia para ter acertado algo que ele gostasse de comer. Fui no mais fácil porque achei que era impossível alguém não comer hambúrguer.
E eu acertei.
Ele estava todo bobo com a surpresa.
- Como foi seu dia? Conte-me .
Ele deu uma mordida no hambúrguer e me ofereceu, eu dei uma pequena mordida.
- Não vou mentir, estava uma merda. Mas você conseguiu melhorar ele todo só com esse gesto de afeto... Não canso de dizer o quanto você é incrível.
Eu desviei a atenção por alguns segundos da estrada para o observar, sorri.
- Que bom que isso foi bom... O que tinha acontecido antes?
- Os problemas que te disse nas despesas do Cinema, nada grave. Mas me irrita a desorganização que deixaram, e estou concertando agora. A faculdade teve uma aula meio cansativa também, sabe?
Eu assinto, para mostrar que entendo e permito que ele continue falando.
- A aula parecia ter durado 20 horas.
- Nossa, foi tão ruim assim?
- Sim, foi. Mas nesse momento, não tenho nada do que reclamar. Estou com você. Como foi seu dia?
Minhas bochechas estavam quentes e meu coração pulsando um pouco mais forte.
- Eu dei uma geral na casa e depois terminei alguns trabalhos, comecei outros até dar o horário de vir te buscar.
Assim que ele terminou de comer, ele colocou sua mão sobre a minha coxa com carinho. Eu segurei sua mão e segui o resto do caminho ouvindo alguns detalhes sobre a faculdade dele.
- Gosto em geral do curso, mas tem disciplinas que eu odeio. Tipo, a de hoje.
- Eu te entendo, mas eu odiava todas as minhas aulas. Só fazia por obrigação. Eu não entendia nada.
- Quem te obrigou a fazer a faculdade?
Pergunta péssima. Fico em silêncio antes de saber responder, pois foi meu pai e Ricardo. Eles não queriam que eu fosse inútil, então deixei eles guiarem minha vida quando ainda estava com meus belos 18 anos.
- Sendo honesta, foi meu pai... mas Ricardo teve um peso maior, ele sempre comandou minha vida. Ele exigia que eu fizesse algo.
- Você fugiu dele?
Eu faço com o rosto que mais ou menos, sem desviar o olhar da estrada.
- Saiu na mídia que eu era amante do esposo da Luzia Valentim. E ela é adorada, eu fui xingada no meu Instagram até o perfil cair. Minha irmã é famosa também, então também foram no perfil dela... Foi um escândalo.
- Que engraçado que foram cair em cima de você, mas não em cima do marido dela?
Sua voz demonstrava certa indignação
- Ele foi até um pouco xingado mas logo esqueceram.
- Sociedade hipócrita.
Ele apertou com carinho minha coxa e eu encerrei o assunto porque não queria contar que fiz besteira o suficiente para parar no Hospital. Naquela noite, eu não queria morrer, mas quando vi a janela pensei em fugir imediatamente da minha mãe e pulei.
Uma loucura absurda da qual me arrependi e se não fosse a sorte de ter muitas árvores, poderia ser que eu não tivesse sobrevivido. Passei alguns meses no Hospital, fui liberada para o casamento de Alicia e logo depois fugi da cidade. Ricardo me mandou um milhão de reais para que eu ficasse quieta sobre tudo porque tinham jornais me procurando. Eu poderia acabar com a vida dele, mas não arriscaria, queria minha paz. Queria estar quieta sem pensar nele.
Arrumei essa cidadezinha e agora me encontro nela sendo feliz. Talvez seja isso que o incomode. Quando estou na entrada da cidade, falo:
- Bom, eu não sei onde é a sua casa... Você me guia?
Ele me guia, sua casa fica em um condomínio quase no fim da beira do Rio que guia a cidade. Entro no condomínio com Edgar autorizando a portaria, e o olhar curioso do motorista. Edgar tem uma vaga extra no estacionamento então podemos deixar o meu carro por ali. Paro o carro, mas não saio.
- Dora, você quer entrar? Você não tem direito a uma resposta não.
Eu sorrio pela primeira vez desde o assunto que surgiu e as lembranças que me corroeram. Ele continua:
- Agradeço demais você confiar em mim e dividir coisas tão difíceis. Sei que não é fácil.
Eu assinto e aperto sua mão.
- Obrigada. Eu entro com uma condição.
- Qual?
- Que eu possa te encher de beijos.
Ele ri.
- Condição mais do que aceita.
Eu saio com uma pequena bolsa que eu trouxe, fecho o carro e sigo ele até o elevador.
- Minha casa é exatamente uma porta do lado dos meus pais.
Eu fico mais aliviada de saber que ele não mora exatamente na mesma casa que os pais que eu achei que seria. Estava meio nervosa de ter que lidar com alguma relação familiar.
- Tem uma ligação interna, então moro com eles por dentro, mas posso entrar sem incomodar eles. Essa porta vai direto no meu quarto.
O quarto dele é preto e branco, com luzes de LED por toda a parte. Uma grande cama de casal no meio, do lado de uma escrivaninha e um guarda-roupa do outro lado. Eu conseguia ver duas portas, imaginei que uma delas seria a que ele disse que abria para a casa dos pais dele. E a outra era um banheiro, eu conseguia ver porque a porta estava meio entreaberta.
Edgar que estava atrás de mim me deixando entrar primeiro me deu um beijo no pescoço que me arrepiou toda, e sussurrou:
- Vou tomar um banho, gostaria de me acompanhar?
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