Capítulo 6 - Novo território
Quando James gritou o último "corta!", estava prestes a deitar no chão, ali mesmo. Eram as primeiras horas da madrugada e eu já estava me importando bem menos com os detalhes, o que era um perigo para a produção. Nem rolou saidinha de comemoração, cada um buscou a própria cama. Ninguém nem riu quando sugeri que fizéssemos uma paródia de The Walking Dead, por estarmos todos com uma maquiagem natural de zumbi. Dormi assim que entrei no carro, acordando quando parei na porta de casa. Josué arrastava a mochila pelo chão e se atirou na sala de TV, incapaz de chegar ao quarto de hóspedes. Jay e eu subimos as escadas e eu cogitei nem tomar banho, mas pensei melhor e me joguei no chuveiro de olhos fechados. Jay entrou logo atrás de mim, eu já ia protestar quando ele veio se defender.
_ Relaxa, só quero o chuveiro. Hoje só rola ação nos meus sonhos.
_ Jura? Até toparia algum execício antes de dormir.
_ Você está começando a me assustar. Estava dormindo em pé agora mesmo!
_ Estava, ainda estou. Mas estou grávida, cheia de hormônios e quero desfrutar do meu maridinho que continua lindo, mesmo com esse corte de cabelo horrível.
_ Foi para o personagem, que aliás foi você quem escreveu.
_ Eu não sabia que um dia Jerko sairia das páginas para a minha cama. E nele ficou bom.
_ Olha só, que mulher de sorte! Quantas pessoas podem dizer que se casaram com seu crush literário?
_ Sim, eu tenho sorte. Agora, menos conversa e mais ação, senhor Hite. E tente não molhar o meu cabelo.
_ Claro. - respondeu empurrando minha cabeça embaixo do chuveiro. - Ops! - nem tive tempo de reclamar. Ele me virou de costas e mordeu meu pescoço, fazendo uma trilha de beijos até a base das minhas costas. - Agora vamos para a cama porque eu estou moído e não vai rolar em pé aqui, não.
_ Você está ficando velho, meu amor. - respondi enrolando nós dois numa toalha e nos jogando na cama.
_ Vou te mostrar só quem está velho...
************************************************************************
Os exames repetidos em Los Angeles confirmaram que tudo estava muito bem. O coraçãozinho batia forte como devia. Gravamos a ultrassom para mostrar aos meninos, que olharam a tela com interesse por dois segundos, depois passaram a ignorar aquela imagem. Foi uma tentativa...
A editora estava quase pronta, eu me limitava a ir uma vez por dia acompanhar enquanto a decoração do escritório era finalizada com todos os detalhes idealizados por Josué e eu. As salas de relaxamento, pesquisa e produção para os autores, os escritórios sem paredes, cores primárias nas cadeiras, tudo estava ficando exatamente como sonhamos e começava a dar vontade de ir para lá escrever todos os dias. Enquanto não ficava tudo pronto, ia finalizando uma história de suspense para adultos bastante desafiadora, mas muito gostosa de escrever. O sono e os enjoos seguiam firmes quando completei oito semanas de gestação e a inauguração foi marcada para dali a alguns dias.
_ Promete que não vai rir se eu falar uma coisa?
_ Claro, amor. Eu nunca riria de qualquer coisa que você dissesse. - Jay já me respondeu rindo.
_ Deixa pra lá. - já estava emburrada. Nem eu estava mais aguentando os altos e baixos do meu humor.
_ Fala, Aurélia.
_É bobagem. - estava constrangida com essa fragilidade toda e já começava a chorar. - Não tenho ideia do que vestir. Ainda não tenho barriga, mas estou toda estranha e a minha bunda está gigante. Não quero as notinhas comentando meu peso na internet.
_ Você está com o mesmo peso de antes e estou adorando a sua bunda assim. - afagou minha bochecha, me abraçando em seguida. - Mas, entendo sua preocupação, então liga pra Zoe que ela te ajuda. Você vai estar linda como sempre esteve.
_ Odeio ficar assim, toda sensível. Desse jeito, antes dele nascer, você já vai ter desistido de mim.
_ Nunca vou desistir de você. Quantas vezes vou ter que te dizer que eu não vou a lugar nenhum e que se me quiser longe, vai ter que me mandar embora? - aí foi que eu chorei de vez .
***********************************************************************************
A noite de inauguração foi bem mais glamourosa do que normalmente seria a inauguração de uma editora de livros. Poder contar com os amigos de Hollywood e a presença do elenco do filme ajudou muito na divulgação do evento. Muitos autores famosos também apareceram "só para desejar sorte", sem divulgar que estávamos negociando com alguns daqueles nomes de peso. Meus pais estavam conosco e minha mãe não parava de dizer que ela mesma poderia me ajudar a escolher o vestido reto que eu estava usando e que eu deveria parar de gastar tanto com styling e "outras futilidades" se quisesse alcançar alguma segurança financeira para os meus três filhos, que nós dois tínhamos carreiras instáveis e precisávamos ter um plano caso as coisas dessem errado. Lancei um olhar de socorro a Jay, que veio convidá-la para conhecer outras instalações e pedir a opinião dela sobre qualquer coisa, só para tirá-la de perto de mim. Aquela obsessão por estabilidade me cansava! Quase no fim da noite, o som agudo da colher na taça de champanhe me chamou a atenção. Josué ia começar o discurso de inauguração.
_ Eu não costumo estar sob os holofotes. Geralmente deixo tudo pronto para outros brilharem, mas dessa vez, sou eu quem vai espalhar luz por aí. Nunca sonhei com nada referente a literatura. Foi um mundo que primeiro conheci, depois aprendi a amar. Participar da produção de livros aconteceu por acaso, mas não foi por acaso que continuei. E é por acreditar que palavras escritas podem mudar a sociedade, que começamos esse projeto. Com o objetivo de realizar o encontro entre autor e leitor, que declaramos inaugurada a Guilty Editora. E temos a missão de apoiar novos e antigos talentos da literatura brasileira e americana, enchendo o mundo com histórias que vão salva-lo. - aplausos - Agora quero chamar a minha amiga e sócia, essa moça linda - que tudo, sou uma moça linda - que todos vocês conhecem, para revelar comigo o primeiro manuscrito aprovado pela nossa empresa e que vai estar nas livrarias a partir de amanhã.
Ao contrário do que muitos esperavam, nem era uma fantasia e nem era escrito por mim. Era uma ficção adolescente escrita por um rapaz do interior de São Paulo, que contava a história de uma menina órfã e carola que é surpreendida pela notícia da homossexualidade do namorado e acaba tentando o suicídio.
Pensei em descartar a obra, e foi Josué quem acertadamente insistiu em mantê-la. Apesar do tema espinhoso, ele tratava tudo de uma maneira leve numa comédia surpreendente e profunda. Além do Jorge ser inteligente e muito fofo. Os exemplares eram folheados pelos convidados, que pareciam aprovar a produção. O autor estava em êxtase! Lançou seu primeiro livro, já traduzido para dois idiomas, dava autógrafos a atores famosos e recebia elogios de nomes consagrados da literatura. Foi uma satisfação maior do que posso descrever, poder participar do sonho de alguém. A vida não podia ficar melhor que isso.
Bạn đang đọc truyện trên: Truyen247.Pro