- Typical -
Por sorte eu era uma boa atriz, e disfarcei o quanto pude de Audrey que eu estava pensativa sobre o que ela havia me contado de Ethan. Loverboy era alguém que encontrou uma maneira assertiva de se aproximar de mim independente de quem ele era - sua aparência, personalidade, seus gostos, o cheiro. Eu estava me aproximando de alguém que eu sequer materializava, mas eu não queria que ele fosse Ethan. Não podia ser Ethan.
Não quando os olhos de Audrey brilhavam quando o via.
Nem quando ela lançou um olhar reprovador no dia que ele tinha vindo falar comigo no lago.
— E aí, você já tem um par para o baile? - Audrey perguntou, e eu estava tão absorta em pensamentos que demorei alguns segundos para respondê-la.
— Não, e nem vou ter. Vou ficar a noite toda por conta de auxiliar na comunicação do evento, não vai rolar - eu disse fazendo beicinho. — E você, alguém já te jogou alguma ideia? - eu rebati, rindo.
— Alguns caras da minha sala já falaram sobre, mas artistas plásticos são tão excêntricos e chatos, não os suporto - ela disse, revirando os olhos.
— Eu conheço um jornalista perfeito para esse trabalho - eu disse, rindo.
— Ah, duvido. Se você vai estar atarefada, ele também deve estar - ela disse, e eu comecei a maquinar um método de juntar Audrey e Ethan.
— Eu não sei qual a importância de um baile. É só uma festa boba - eu disse, desdenhando.
— Você não entende mesmo, sua grossa! Um baile de primavera é uma tradição de San Diego com um significado muito bonito. A primavera é a estação das flores, onde elas desabrocham, e isso remete ao início de novas experiências, ou o começo de algo promissor. É um baile não só para festejar, mas para que todos possamos entender que as experiências que vivemos servem para nos ensinar e nos tornar mais fortes - ela disse, e eu revirei os olhos.
— Tá, mas eu não entendo aquela bobagem de vestidos bufantes e aquelas florzinhas horrorosas nos pulsos - eu disse, bufando.
— O vestido é algo pessoal de cada uma, você se veste de acordo com o que se sente melhor, mas a florzinha no pulso que você está desdenhando é chamada de corsage, que o homem utiliza uma flor no bolso do terno e a mulher usa uma pulseira feita dessa flor, com o intuito de demonstrar que ela está acompanhada e que ele fará o possível para tornar o baile dela inesquecível - ela disse, com o olhos brilhando.
— Meu Deus, isso é tão clichê. Isso é a cara do Loverboy - eu disse, em tom de sarcasmo.
— JÁ SEI, É ISSO!! - Audrey gritou, e eu dei um pulo com o susto.
— Tá querendo me matar? - eu disse, fechando a cara.
— Não, é perfeito! Convença o Loverboy a ir no baile, joga umas cantadas sei lá, mas vai ser o momento perfeito pra você descobrir quem ele é! Implora pra ele se revelar!- ela disse, animada.
— Eu não sou o James Bond pra me enfiar em missões impossíveis Aud, mas vou tentar. - eu falei, e ela assentiu.
* * * *
Já era noite e Audrey tinha ido embora. Eu fiquei um tempo pensando em maneiras de fazer com que o Loverboy me dissesse quem ele é, mas falhei em todas elas. Resolvi então ser sincera comigo mesma e com ele - poderíamos, quem sabe, sermos amigos.
Peguei o celular e digitei uma mensagem.
"Olha, eu não sei quem você é e não sei quais motivações o levaram a fazer isso. Mas eu gostaria de dizer que eu me sinto bem em saber que tem alguém que se importa comigo dessa maneira. Eu só queria saber quem você é e materializar as suas qualidades em uma pessoa concreta, não em mensagens. O baile é um momento legal para que isso acontecesse e eu gostaria de saber se você quer ir comigo?!"
Eu não sabia se iria funcionar, mas enviei assim mesmo.
Não demorou muito e a resposta chegou.
"Eu já vou de todo jeito, então você vai me encontrar lá. Se as circunstâncias permitirem, você saberá quem eu sou. Mas por enquanto, leia nas entrelinhas - vamos lá, Grace. Você é inteligente o bastante para perceber.
- Loverboy"
Esse homem era louco. Ele tinha acabado de me chamar de lerda, ou era impressão minha?! Pelo menos ele estaria no baile, e com sorte, se identificaria.
* * * *
Fui para a Universidade e cheguei um pouco mais cedo do que o normal, o trânsito estava tranquilo e fui em direção ao diretório acadêmico para pegar alguns cartazes do baile. O diretório era uma pequena sala branca com diversos armários e prateleiras. Justin estava lá e me entregou alguns cartazes juntamente com um rolo de fita adesiva, e eu fiquei maravilhada com o que vi.
O cartaz era em tons de azul, prata e dourado, e fazia algumas referências à obra 'Noite Estrelada' de Van Gogh. Ele era incrivelmente chamativo e com certeza atrairia a atenção dos alunos. Agradeci Justin e segui para o prédio de comunicação.
Comecei a colar cartazes próximos das portas de sala de aula, banheiros e salas das coordenações. Notei que o baile era algo muito aguardado pela maioria das mulheres, pois assim que eu acabava de colar, um pequeno grupo se aglomerava próximo ao cartaz.
Devo ter colado uns 15 cartazes pelo prédio, mas ainda faltavam alguns. Estava absorta na música que vinha dos meus fones de ouvido quando senti alguém tocar meu ombro direito. Me virei e Ethan estava parado atrás de mim.
— Oi! Eu pensei que faríamos isso juntos - ele disse, apontando para os cartazes com o queixo.
— Ah, me desculpe! Eu cheguei mais cedo e comecei a adiantar nosso trabalho - eu disse, um pouco sem graça.
— Sem problemas, eu dou continuidade no intervalo então - ele disse, e foi em outra direção, e eu acenei em despedida.
Continuei a colar os cartazes e chegou um momento que eu estava cantando. Não cantando baixinho, mas sim me sentindo no The Voice - olhei para trás envergonhada e encontrei Nicholas encostado em um dos armários olhando para mim e rindo baixinho.
— Ai meu Deus, eu não sabia que você estava aí! - eu disse, corando. Minha voz não era bonita, então eu havia pagado o maior mico do mundo.
Nicholas então começou a vir em minha direção. Ele usava uma blusa preta simples com uma camisa xadrez vermelha e preta por cima, jeans rasgados e tênis. Seus cabelos estavam bagunçados e ele tinha cheiro de perfume e pasta de dente, e seu sorriso alinhado parecia perfeito como sempre.
— Não se preocupe, como fico muito no estúdio já estou acostumado com pessoas desafinadas - ele disse rindo.
— Ei! Não precisa jogar na cara - eu disse, e o dei um soco de leve. —Eu gostava mais quando você era bonzinho e quieto!
— Sinto muito, você já ativou meus mecanismos de sarcasmo, ironia e deboche - ele respondeu, e eu ri instantaneamente.
Fomos conversando e rindo para a sala de aula e tudo parecia estar bem.
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