- Nightmare -
Quando fui para a sala de aula, a maioria dos alunos já se encontrava por lá e meus olhos instantaneamente foram para onde Nicholas se encontrava, mas havia uma garota debruçada sobre sua mesa rindo de algo muito engraçado.
Eu não costumava sentir ciúme de ninguém, mas vê-la entretida daquela maneira e jeito como ela o olhava (como se ele fosse um grande pedaço de carne) não me fez sentir melhor. Abracei meu pequeno buquê e fui em direção à minha mesa.
A aula seguiu e eu adorava as explicações daquele professor. Ele fazia referências e citava coisas engraçadas, o que tornava a aula leve e tranquila - e rapidamente o intervalo chegou.
Hoje era um daqueles dias que eu não queria companhia - quando eu não estava bem comigo mesma tornava-me uma péssima pessoa para se ter por perto, então preferia ficar sozinha para que a minha tristeza não atingisse outras pessoas.
Enviei uma mensagem para Audrey dizendo que passaria o intervalo cuidando de algumas coisas e fiquei sozinha na sala.
* * * *
Quando fechei a porta atrás de mim, notei que meus avós estavam na sala de estar. As luzes estavam apagadas, mas eles viam algum filme na televisão e pareciam me esperar - raramente eles ficavam acordados até tão tarde.
— O que foi? Aconteceu alguma coisa?
— O seu pai, Grace... - minha avó começou, lentamente. — Ele ligou para nós hoje à tarde reclamando do seu comportamento. Ele disse que você faltou com o respeito, e questionou a educação que nós te damos, querida. Eu disse que você era maravilhosa, mas ele sugeriu que nós a estamos colocando contra ele - ela disse, e havia mágoa em seus olhos.
— Vó, ele me ligou hoje de manhã pedindo que eu fosse morar com ele, eu recusei e ele insinuou que a minha guarda ele dele! Eu só desliguei o telefone, vocês sabem que prefiro não discutir. Ele está louco! - eu disse, nervosa.
— Nós sabemos querida, mas você sabe como seu pai pode ser teimoso. Tente ouvir o que ele diz e fingir que lhe agrada. - dessa vez era meu avô quem falava.
— Mas eu tenho quase 20 anos! Se ele acha que fazendo ameaças vai conquistar minha afeição, ele está muito enganado - eu falei, indo em direção às escadas.
— Tudo bem Grace, só tente ser mais condescendente da próxima vez - meu avô retrucou.
Então eu esperei por uma mensagem de Loverboy, qualquer frase clichê e idiota que ele tivesse separado só para eu me sentir melhor...
Mas nada chegou.
* * * *
Estava no ônibus, indo em direção à Editora Summer quando a ficha caiu de que a tal filha do dono começaria a Coordenar o meu setor hoje. Eu sabia que não iria gostar dela pelo simples fato de ter arrancado a Natalie de lá, mas pensava positivo para que ela pelo menos fosse suportável.
Quando eu cheguei na Editora notei que novamente um silêncio pairava no ambiente. Fui em direção à minha mesa e quando cheguei, havia uma mulher parada em frente à ela. Notei que ela parecia ter cerca de 25 anos, era baixinha e tinha os cabelos loiros com as raízes escuras já aparecendo. Sua pele estava levemente bronzeada e seu semblante estava fechado, como se ela estivesse irritada. Só podia ser ela.
— Com licença?! - eu disse. — Meu nome é Grace. - e levantei minha mão para ela, em cumprimento. Mas ela simplesmente olhou para mim e minha mão ficou lá parada por mais alguns segundos, até que eu abaixei-a, sem graça.
— Você é a Grace? Nossa, esperava uma adolescente de 15 anos, porque com uma mesa bagunçada dessa, nada justifica! O que são todos esses ursos? E essas canetas coloridas? - ela falou, e eu engoli em seco. A minha nova coordenadora estava criticando a decoração da minha mesa. Que ótimo.
— A propósito, meu nome é Lydia. E não sei se você tem talento o suficiente para estar aqui, mas agora que eu comando a seção de comportamento, é bom que você faça por onde. - ela disse, e saiu andando para a sala da coordenação.
Segurei para não chorar. Eu odiava ser chamada à atenção em público e de uma forma tão grosseira quanto aquela. Senti vontade de me enfiar num buraco e parecia que eu estava no meio do filme 'O diabo veste prada', só que pior.
Passei o dia anotando recomendações de Lydia. Ela, apesar de parecer ter pouca idade, era um tanto quanto conservadora e baniu todas as perguntas sobre sexo da revista. Eu até tentei questionar, dizendo que adolescentes tinham dúvidas pertinentes e que aquilo poderia ajudá-las, mas ela apenas fingia que não estava ouvindo e continuava à dar ordens.
Por diversas vezes as meninas da redação passavam ao meu lado me apoiando e dizendo frases motivadoras, mas era apenas o primeiro dia de Lydia lá e eu já queria pedir demissão. Ela tratava a todos sem um pingo sequer de respeito, dava opiniões sem fundamento algum nas outras seções da revista e diversas vezes fazia questionamentos desnecessários.
Eu sinceramente achava que ela tinha a intenção de falir a revista do pai, não tinha outra explicação.
Eu não era uma pessoa implicante e lidava bem com todas as pessoas da Editora, mas Lydia parecia ter todos os defeitos que eu não suportava. Quando chegou o meu horário de café da tarde, instintivamente fui correndo até o sétimo andar - onde Natalie provavelmente estaria.
Quando cheguei lá, tudo parecia extremamente formal - as roupas, os penteados, as expressões corporais - e imaginei o quanto aquela Natalie extrovertida que eu conhecia estava sentindo-se deslocada.
Fiquei na ponta dos pés algumas vezes tentando achá-la, até que a encontrei em uma mesa no fundo da redação e fui correndo até lá.
— Nat, por favor, me ajuda! Aquela mulher é uma bruxa, ela vai me matar de raiva ou fazer com que eu peça demissão - eu disse, com tom de súplica.
— Grace, sinto muito, mas eu não tenho muito o que fazer - ela disse, chorosa.
— Existe alguém com quem eu possa conversar para tentar tirá-la de lá?! - eu perguntei, esperançosa.
— Somente o pai dela, que é dono da revista. Mas o problema é que ela é uma mulher mimada, e caso você diga algo, poderá sofrer represálias, Grace. Tente dar o seu melhor e fique calma, ok?! Tudo vai ficar bem.
Eu assenti e voltei vagarosamente para a redação. Eu achava irônico as voltas que a vida dava, e como ela tinha um jeito de engraçado de me mostrar que quando tudo estava bem, eu poderia me preparar, que ia piorar de uma maneira inimaginável.
Quando cheguei à minha mesa, fui olhar as horas no visor do celular pela milésima vez e notei que havia uma mensagem de texto por lá:
"Acho que palavras não estão sendo suficientes para que eu possa mostrar a você o quanto é especial. Mas preciso dizer-lhe: você é a pessoa mais encantadora que eu já conheci.
- Loverboy"
E o dia já não parecia tão horrível assim.
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