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- Luau -

Eu já estava deitada na cama, me revirando de um lado para o outro inutilmente quando meu celular vibrou e havia uma mensagem de Loverboy. 

"Linda do jeito que é
Da cabeça ao pé, do jeitinho que for
É, e só de pensar sei que já vou estar
Morrendo de amor, de amor...
Boa noite, Grace.
 

                                             - Loverboy"   

E então eu dormi. 

* * * * 

Acordei no sábado com minha avó me chamando para almoçar. Me permiti dormir até mais tarde pois o único compromisso que eu tinha naquele dia era o tal luau. As meninas haviam me mandado diversas mensagens perguntando o que elas poderiam vestir e notei que só eu não estava animada. 

Almocei e cuidei da louça e após ter guardado todos os utensílios, fui para o jardim ajudar minha avó. Ela estava adubando suas flores para que permanecessem vivas e coloridas como sempre, e volta e meia ela ria dos meus gritos quando eu encontrava algum inseto na terra. 

Passei a tarde toda cuidando do jardim que minha avó tanto amava e quando já eram mais de 16h eu fui para meu quarto - completamente coberta de terra, diga-se de passagem - para tomar um banho e me arrumar para o luau.

Optei por usar um vestido longo branco de tecido leve, chinelos confortáveis e pouca maquiagem. Houve um tempo em que eu não me preocupava muito com a minha aparência, mas recentemente isso não era um tabu para mim. 

Vi alguns vídeos engraçados no celular para passar o tempo e por volta de 17:30h saí de casa. Passei na casa de Audrey e notei que ela usava um macaquinho branco e ela me perguntou onde iríamos cantar. Levando em consideração que nós não combinávamos roupa - tínhamos um gosto completamente diferente - eu ri da situação. Mas foi quando passei na porta da casa de Lily e ela vestia um vestido nos joelhos (também branco!) que eu realmente vi o quão clichê nós éramos. 

— Agora sim nós estamos idênticas a três oferendas ensaiadas! - eu disse, gargalhando.

— Credo, Grace! Vira essa boca pra lá - Lily falou e eu pude ver pelo retrovisor sua expressão de medo, e então eu ri ainda mais. 

Havia um pequeno estacionamento próximo à praia de Pacific Beach e após conferir que meu carro estava bem trancado (sim, eu sou uma pessoa neurótica!) vimos a aglomeração de pessoas próximas de uma grande fogueira e fomos em direção ao luau. 

Aquela cena era, de longe, uma das mais bonitas que eu já tinha visto. Uma enorme fogueira de chamas laranja iluminava a areia e contrastava com o céu - que estava em um degradê de azul claro para o azul escuro. Todos vestiam-se com roupas leves e claras e havia uma pequena mesa de madeira posta sobre a areia com algumas frutas, e também algumas caixas térmicas com bebidas. 

Cumprimentei a todos que eu conhecia e apresentei as meninas para o pessoal do Grêmio, e Audrey disse algo como "são vocês quem estão tomando minha amiga de mim?" de um jeito muito engraçado. Eu admirava a capacidade dela de fazer amizades tão rápido. 

Puxei as duas para um canto isolado e falei o mais baixo que pude:

— É o seguinte: eu acho que Loverboy tem grandes chances de estar nesse luau - e Lily soltou um gritinho que eu reprovei com minha expressão de 'silêncio'!. — Então quero que vocês fiquem atentas e prestem atenção se virem alguém mexer no celular, ok?! - elas concordaram com a cabeça e então voltamos para perto das pessoas. 

Quando encontrei Nicholas, ele me recebeu com um abraço apertado que logo se transformou num giro de 360º graus e que terminou em nós dois quase caindo na areia. Eu ria genuinamente e ele parecia ainda mais bonito sob as sombras que a luz das chamas da fogueira faziam em seu rosto. 

Mas eu parei de rir quando vi aquela garota insuportável que não saía de cima dele vindo em nossa direção e abraçando-o por trás. Eu disse um 'até mais' que com certeza saiu comol um sussurro esganiçado e fui correndo em direção às meninas.

— Ei, e aquele Nicholas? Tá rolando algo entre vocês e eu não estou sabendo? - Audrey perguntou com uma piscadinha. 

— Você é TÃO insistente. Eu já disse que somos só amigos - eu disse, e ela fez uma cara de quem acreditava desacreditando. 

A música ambiente que tocava vinha de uma pequena caixa de som com uma bateria acoplada - e todos pareciam felizes e satisfeitos com aquele momento. Eu e as meninas bebíamos suco e todo o resto parecia beber álcool. Eu não havia dito nada, mas sabia que elas ainda sentiam-se receosas depois do episódio no lago, e me acompanharam no suco. 

E eu, que não era boba nem nada, notei os olhares trocados por Audrey e Ethan constantemente.

Após algumas horas rindo das bobagens que os meninos do Grêmio diziam, Justin bateu palmas e chamou a atenção de todos para si. Ele agradeceu a todos que estavam presentes e fez um discurso acalorado sobre como devíamos ser gratos à natureza e as boas energias que estávamos usufruindo. Ele anunciou que ele e Nicholas iriam fazer um som e todos sentamos em volta da fogueira - alguns haviam trago cadeiras de praia, mas eu e as meninas não havíamos pensado nisso e sentamos na areia mesmo. 

Nicholas estava com seu violão e Justin tinha um instrumento de percussão que eu não sabia o nome, mas ele sentou-se sobre o que parecia um tambor e começou a acompanhar as batidas da música. Todos tinham sorrisos leves e satisfeitos e alguns até se arriscavam a cantar junto, e aquela sensação de paz que a voz de Nicholas trazia fez com que tudo ao meu redor não importasse.

Mas então, no meio de uma música, meu celular apitou, as meninas perceberam e todas nós corremos os olhos sob a roda, olhando minuciosamente cada um. Ninguém possuía nenhum telefone em mãos - pareciam todos viajar em seus próprios pensamentos, e pensei que não seria Loverboy. 

Mas eu estava completamente enganada. 

"Uma vez me disseram para eu não sofrer por perdas, pois quem perde o teto, ganha as estrelas.
Na época eu não entendia. Mas hoje eu sei o significado de 'ganhar estrelas'. Você é a minha estrela.

Boa noite, Grace.

                                              - Loverboy".

Eu olhava novamente e ninguém tinha sequer um celular nas mãos. Nicholas tocava seu violão de olhos fechados, Ethan batia palmas animadamente e ninguém mais ali sequer tinha um aparelho eletrônico em mãos. 

Eu mostrei a mensagem para Audrey e Lily, e ambas deram de ombros, sem entender. Lily estava ao meu lado e sussurrou algo como "mande mensagens de volta pra gente ver se algum celular apita!"

E eu comecei a mandar várias mensagens aleatórias para o número Desconhecido de Loverboy. 

Mas nenhum som, nenhum visor aceso e  nem barulho de algo vibrando veio ao nosso conhecimento.

E eu havia voltado à estaca zero.

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