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- Bowling -

Me permiti dormir até tarde no domingo - eu havia acordado cedo no sábado para ir ao estúdio com Nicholas, e havia passado a madrugada assistindo Netflix. Audrey havia sugerido que fossemos ao Aztec Lanes, que tinha uma pista de boliche enorme para ser a nossa saída oficial entre amigas aquele mês. Eu, Aud e Lily separávamos um dia no mês para fazermos algo juntas, e aquela parecia uma boa opção. 

Almocei com meus avós e assisti um pouco de TV quando a preguiça-pós-almoço chegou. Ajudei minha avó com a louça e logo subi para o quarto para me  arrumar. Havíamos combinado que eu passaria na casa delas às 16h, e eu não gostava de me atrasar - levando em consideração que eu passava mais tempo distraída com coisas aleatórias do que realmente me arrumando. 

Sempre que me arrumava para sair com minhas amigas eu percebia o quão diferentes éramos - Audrey sempre seguiu a linha sensual, com uma pose de durona que eu sabia que era só fachada; Lily era doce e sensível como uma personagem de desenho animado, e sempre exibia lindos vestidos acinturados e saias rodadas; e eu era só básica. Sempre optava por cores neutras e sempre tentava ser neutra - eu evitava profundidades completamente. 

Quando terminei de me arrumar me olhei no espelho e gostei do que vi. Eu tinha uma beleza diferente e gostava disso - nunca fui fã de ser igual à alguém. Eu usava uma calça jeans rasgada, um tênis branco e uma blusa cinza mescla sem mangas com a gola levemente alta - a maquiagem estava leve e meu cabelo com pequenas ondas (que eu queimei meus pobres dedos para fazer). 

Peguei uma bolsa preta pequena e coloquei minhas chaves, documentos, dinheiro e celular lá dentro. Desci as escadas, despedi dos meus avós e fui andando em direção à garagem. Quando abri a porta de casa, me surpreendi com um girassol que estava pousado sob o tapete. Um sorriso brotou em meus lábios e eu sabia exatamente quem havia colocado-as ali - e eu só precisava perguntar ao porteiro do condomínio quem havia adentrado o local recentemente. 

Tirei o carro da garagem e fui em direção à casa de Audrey. Quando cheguei ela ainda não me esperava, então buzinei algumas vezes até que ela apareceu - com Cody em seu encalço. Não ia ninguém além de nós em nossas saídas oficiais, mas preferi não dizer nada; eles entraram no carro animados e fui em direção à casa de Lily, que já estava na porta, me esperando.

A Aztec Lanes era um local recreativo que ficava dentro da Universidade Estadual de San Diego, e fomos para lá conversando animadamente no carro. O percurso não era longo, e no domingo em especial, quase não havia trânsito. Quando chegamos, estacionei o carro e descemos todos conversando. 

Cody e Lily foram andando na frente - o Aztec tinha uma passarela enorme que lembrava um píer e ia do estacionamento até a entrada. Era um estabelecimento muito bonito, com uma estrutura alta, e haviam grande janelas de vidro que tornavam o local muito bem iluminado.

Puxei Audrey para um canto enquanto caminhávamos e perguntei:

— O que Cody está fazendo aqui?! Era pra ser só nós! - eu disse, o mais baixo que pude.

— Desculpe, ele insistiu muito para vir, e você o conhece! Se ele não viesse com a gente, viria sozinho. - ela respondeu, e eu revirei os olhos. 

Chegamos ao balcão de atendimento e pedimos uma pista por 2horas, o que daria em torno de 3 partidas de 10 arremessos. Pegamos os tênis especiais e fomos em direção à pista 6, onde o painel já mostrava nossos nomes. 

Eu confesso que nunca tive jeito para nenhum esporte. Eu corria desengonçadamente, e não praticava nenhum esporte - era extremamente sedentária e sempre me culpava por isso. Eu sabia que seria um desastre jogando boliche, mas resolvi arriscar.

Olhei em volta e vi diversas pessoas em grupos jogando alguma coisa - haviam sinucas, mesas de ping-pong, videogames e pebolins. O local era barulhento em função das diversas comemorações e das conversas. 

Audrey foi a primeira e acertou 4 pinos, e todos batemos palmas e soltamos gritinhos de forma animada. Lily deu segmento e acertou apenas 1, e Cody fez um strike. Quando chegou a minha vez, me levantei e notei que as bolas era muito pesadas - e peguei uma de cerca de 4kg e lancei-a de qualquer jeito - ela caiu na canaleta e eu não acertei nenhum pino. 

Todos riram de mim e eu ri junto - não queria nem ver o desastre que viria a seguir.

Continuamos o jogo e quando chegou a minha vez Cody não se sentou, muito pelo contrário: ele permaneceu parado perto da pista e disse que iria me ensinar. 

Eu peguei a bola e ele me ajudou a colocar meus dedos de forma correta, e posicionou meu corpo fazendo-me dobrar a perna direita e explicando que eu devia impulsioná-la quando arremessasse. Ele estava tão perto que pude sentir seu hálito gelado, e xinguei mentalmente por ele estar tão próximo. 

Joguei a bola conforme ele tinha explicado e acertei 6 pinos. Num impulso pulei comemorando e o abracei - mas soltei rapidamente e voltei para meu lugar como se nada tivesse acontecido. 

Seguimos com o jogo e nós mais ríamos e comemorávamos do que realmente jogávamos. Chegou um momento em que Cody estava extremamente engraçado e acabou pisando na pista (que era coberta de óleo) e tomou um tombo tão engraçado que nós caímos na gargalhada, atraindo a atenção de todos. 

Cody ganhou as três partidas e quando o jogo acabou, todo o meu corpo doía pelo esforço. Passamos na lanchonete que ficava no Aztec e pedimos uma grande porção de batata frita e refrigerantes. 

Eu gostava de como nossas conversas eram ecléticas - nós falávamos sobre tudo: músicas, séries, filmes, faculdade, sobre os vizinhos e até sobre política. As meninas começaram a falar animadas sobre quais vestidos iriam usar no Baile - e como eu ainda não havia parado pra pensar nisso, não participei da conversa.

  — Então, Grace... Eu estava pensando se você não quer ir ao baile comigo? - Cody perguntou, e eu tive que piscar mais algumas vezes para processar tudo. 

  — Ahn, Cody, eu até gostaria, mas vou trabalhar na comunicação do baile, auxiliando anúncios, votação de rei e rainha do baile e as bandas... Não acho que eu vou ter muito tempo para aproveitar a festa - eu disse, e ele assentiu.

Conversamos mais um pouco e depois fomos embora para casa. Já era noite e o tempo estava esfriando rapidamente. Após deixar todos em suas respectivas casas, guardar o carro e entrar em casa, me lembrei que havia esquecido de perguntar o porteiro se alguém diferente esteve por aqui. 

Disquei o número e aguardei alguns toques até que o telefone foi atendido. — Boa noite, meu nome é Grace Hyland da casa 78 e eu gostaria de saber se alguém diferente entrou por volta das 16h - perguntei, rapidamente. 

— Ah querida, hoje aconteceu uma festa na casa de um morador durante a tarde e tivemos autorização expressa para permitir que todos pudessem entrar. Neste horário diversas pessoas entraram, e não fizemos o controle de placas dos veículos. Aconteceu algo que a senhorita deseja relatar? - uma mulher de voz aguda perguntou, mas eu apenas neguei, agradeci e desliguei. 

Quando eu pensava que tinha alguma pista sobre Loverboy, ele simplesmente escapava do meu alcance. E pareceu que agora ele possuía poderes mentais, porque foi só eu pensar no dito-cujo que meu celular vibrou na bolsa, e continha uma mensagem:

"Eu preciso te ouvir
Você é a luz
Que está me guiando
Para o lugar
Onde encontrarei paz
Novamente...

                                            - Loverboy"  

 Então eu olhei para o celular e notei uma coisa em comum com as outras mensagens: ele sempre dizia que eu era a razão por uma mudança e que eu trazia paz, e comecei a pensar que Loverboy poderia ser alguém com um passado conturbado - o que não me fez chegar à alguma conclusão, somente gerou mais curiosidade. E eu sentia-me como se precisasse ajudá-lo, precisasse estar por perto para entender o motivo de tudo aquilo.

Que ótimo.

Eu estava ferrada. 

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