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Capítulo 2


1 de Janeiro de 2017


Aqueles olhos multicoloridos me encararam. Ora, azul, ora, verde, ora cinza.

Beijei uma garota. E foi muito bom. Mais do que bom.

Será que todas as garotas são como algodão doce?

É, eu ainda estava meio tonta.

- Fala alguma coisa, por favor. –Lara arregalara ainda mais os olhos, preocupada que eu fosse surtar ou algo do tipo.

Porém meu Ascendente também era em Gêmeos, como o dela e minha Lua era em Libra, gentileza era o meu sobrenome.

Na verdade, era Gonçalves, mas isso não era importante.

- Tá tudo bem, Lara. Não tem problema me beijar. –Digo isso ainda no topor do álcool. Não quero ficar sóbria tão cedo, porque sei que minha mente vai entrar em um baita conflito. Mas agora, eu só quero...

Beijar ela de novo.

Então eu faço, e ela retribui com a mesma intensidade.

E assim passamos as primeiras horas do ano, bebendo tudo o que tínhamos direito, nos pegando fortemente, e cantando vitória sobre homens machistas.

Lá pelas 3h da manhã já não estamos bem. Longe disso. A vantagem era que também tínhamos muita água gelada, o que nos impediu de dar um PT daqueles. No entanto, eu estava preocupada com Lara, que não parecia ter tanto o costume de beber quanto eu.

Por sorte, sinto o celular vibrando, e a Bruna atende.

- Alô? Lara?

- Bru, sou eu, a Catarina!

Lembrei que no meio da embriaguez de Lara, ela havia me entregado seu telefone para guarda-lo em segurança

- Oi, Cat! A Lara tá com você, né?

Olho para a morena sentada encostada na parede, com os olhos espremidos, cantando com toda a sua força "TOMA AQUI OS 50 REAIS..." e usando sua garrafa d'água como microfone.

- Tá, sim, Bru. Por quê?

- Estamos indo embora. Vocês vem com a gente? O João já tá cansado e eu também.

- Vamos, sim. Também já estamos exaustas. Te encontro na saída.

- Beleza, tchau.

- Tchau.

Com uma força sobre humana, consigo arrastar Lara até a saída do estádio.

Encontro Bruna e Fruta esperando por nós duas, e pedimos o Uber.

- A Lara bêbada, meu Deus. Preciso registrar isso. –Bruna comentou, enquanto tirava uma foto da amiga dormindo e babando em meu ombro no banco de trás do carro.

- Ela nunca bebeu antes?

- Claro que sim, mas é muito raro ela ficar bêbada. Queria ter assistido mais disso.

Eu coro, lembrando do que aconteceu entre nós duas. E vejo meu eu sóbrio chegando lá longe, carregando minha consciência junto.

- Falando nisso, onde vocês se meteram? –Fruta se vira no banco da frente para nos encarar.

Abro a boca para responder, mas Bruna faz esse serviço por mim.

- As duas conseguiram entrar no camarote, acredita?

- De penetra?

Bru olha para mim, procurando por respostas.

- É, de penetra.

Eu estava cansada demais para explicar a história inteira. Dava um livro, ou no mínimo, um conto.

***

O plano era eu dormir na casa de Bruna, e assim fomos todos para lá. Os pais dela haviam viajado para a praia, e só tinha ficado ela e a irmã mais velha em casa, que estava em algum outro rolê de ano novo por ai.

Bru falou para ficarmos a vontade, e logo se enfiou em um quarto com Fruta, deixando eu e Lara a mercê da sala.

Eu já havia visitado a casa de Bruna algumas vezes, mas não sabia onde ficava os cobertores, travesseiros, onde eu poderia dormir, porque afinal, a irmã dela chegaria e poderia estar acompanhada, então...

- Quer ir para a minha casa? –Lara piscou algumas vezes, notando minha ansiedade repentina em ser largada sem direção. Nem precisei falar nada.

- Não tem problema?

Ela deu de ombros.

- Meus pais também viajaram e só tem meu avô e minha avó lá. Na verdade, ela nem está na minha casa. Porque moramos no mesmo lote, em casas separadas. Então, ninguém. Tem cama de sobra.

A garota havia voltado para o mundo real, e parecia exausta. A blusa de arco-íris manchada, os shorts e o all star branco sujos.

Não queria nem olhar para o estado do meu vestido florido que deveria estar decadente, assim como a minha cara.

Meu Deus. A minha cara. Devia. Estar. Horrível.

- É. Vamos para a minha casa.

Lara me pega pela mão e saímos, apenas atravessamos a rua, e chegamos lá.

A casa era simples, aconchegante, tinha uma aérea aberta no andar de cima, e muitas escadas, assim como a de Lily. Aos fundos, dava para ver outro casebre e uma pequena horta, onde deveria estar seus avós.

- Seus avós ficaram sozinhos? –Perguntei, repentinamente me sentindo mal pelos velhinhos.

- Não. –Ela sorriu e me explicou. –Eles provavelmente foram à missa juntos e passaram com o pessoal da igreja. Muita comida boa. Mas você sabe, já estão mais velhos, foram dormir cedo.

Meu coração enche de uma ternura muito grande, quase incabível, por Lara, então beijo ela ali, no meio da escada, porque toda essa fofura não era apenas do seu exterior, havia um afeto e cuidado dentro dela que eu clamava por conhecer.

- Vamos para o meu quarto. –Ela interrompe o beijo com um sorriso. E de novo, eu fico toda mole.

O quarto de Lara era colorido em tons pastéis, e tinha muitos pôsteres de coreanos me encarando.

- Juro que foi numa fase que preguei essas coisas ai. –Ela se joga na cama e tira os sapatos.

- Sei. –Dou um sorriso irônico. - Uma fase.

- Acontece com todas nós. –Ela dá de ombros. –Quer jogar uma água no corpo? Comer alguma coisa?

- Sim, por favor. Tudo o que eu preciso.

- Ok, vou fazer algo para a gente, enquanto você toma banho.

Ela retira uma toalha do guarda-roupa e um pijama cor de rosa para mim.

- É no fim do corredor, virando a direita.

Vou até a porta e olho para trás.

- O que você vai fazer para eu comer? –Pergunto.

- Você vai conhecer os meus dotes culinários. – Lara segue para a cozinha, e eu sigo para o banheiro.

Enquanto a água lava a minha breve embriaguez, deixo-me pensar nessa noite.

Eu sempre gostei de meninos. Sempre. E do nada, vem essa garota e muda tudo! Tudo! Deixa tudo de cabeça para baixo e não sei para onde ir.

Minha vida era tão certa: me tornar uma puta advogada, desenhar nas horas vagas, e quando eu me cansasse da sociedade de merda, viraria tatuadora e me casaria na igreja com um cara lindo e que me tratasse bem de verdade, diferente do Breno. Isso, anos mais tarde, depois de me redescobrir por inteira, e superar os traumas que passei.

Era esse o planejado. Eu gostava de fazer planos. Mas a Lara não estava neles.

Talvez seja isso, esses casos de uma noite. Uma noite incrível e perfeita, que nós duas tivemos e vai ser apenas isso. Apenas o dia de hoje.

Não sei o que faria se me apaixonasse por ela. Por uma garota.

Meus pais eram tranquilos, até certo ponto. Eu tinha uma prima lésbica, mas e aí? Como eu explico a bissexualidade para adultos de meia idade evangélicos?

Me encosto na parede e escorrego até o chão, enfio a cabeça entre meus joelhos e deixo a água quente massagear minhas costas.

Não vou pensar nisso agora. Não é dia de pensar nisso.

O primeiro dia do ano é para curtição.

***

- Isso está divino!

Era o melhor macarrão com molho branco que eu já havia provado na vida!

- Pensei em fazer com molho de tomate, mas não sei se você gostaria logo de cara com o grão de bico. Então, estamos indo aos poucos.

Lara conversava comigo, enquanto raspava a panela com o molho que ela fizera, sem carne, já que estava no processo de se tornar ovo-lacto-vegetariana.

- Um dia eu experimento. –Comentei, dando uma boa garfada na massa.

O pijama que ela havia me emprestado estava meio largo, mesmo eu tendo seios maiores que ela. Deve ser porque Lara era alta. Só sei que estava me sentindo soltinha demais sem calcinha e sutiã.

Acabamos de comer e escovei os dentes da maneira que pude. Voltando para o quarto de Lara, ela não estava lá.

Fui até um cômodo nos fundos, que estava com a luz acesa, e lá estava ela, arrumando uma cama para mim.

- É aqui que eu vou dormir?

Ela se vira para mim e assente.

Cruzo os braços.

- Não gosto de dormir sozinha na casa dos outros.

- Ah, é? –Ela devia soar decepcionada. Mas sua voz não transparecia isso.

- É. –Dou de ombros.

- Bom, eu só consigo dormir na minha cama.

Apenas fico a fitando, com cara de paisagem, esperando ela reagir.

- Bom, podemos levar esse colchão para lá.

E assim, arrastamos um colchão de solteiro, em que eu não pretendia dormir, para o quarto de Lara que já era minúsculo, e estava para ficar ainda mais.

- Vou só tomar um banho, e já volto.

- Tudo bem.

Vejo ela sair, e percebo que Lara nem levou roupa para se trocar. Ai ai.

Sozinha no quarto, sem a presença dela me senti pequena e comecei a me questionar o que diabos eu estava fazendo ali, pensando em dormir com todas as segundas intenções do mundo com essa garota.

Lara era minha colega de classe, conversávamos aleatoriedades e banalidades do dia-a-dia, fizemos um ou outro trabalho juntas. O que está acontecendo?

Vou me encolhendo até estar apenas um montinho em cima da cama, e sinto muita vontade de sair correndo imediatamente dali. Mas como?

Antes que eu possa dar a louca e fugir sorrateira, Lara volta ao quarto, enrolada na toalha. Seus cabelos estão amarrados em um grande rabo de cavalo molhado nas pontas, e seus ombros são salpicados por sardinhas e gotas d'água.

Ela se aproxima de mim.

- Tá com frio?

Digo que sim, e puxo ela para perto. Mesmo estando molhada, não estou encolhida pelo frio. É o medo de nós duas juntas. E quero vencer esse medo logo antes que me consuma.

Quando eu a beijo dessa vez, Lara trava pela surpresa e então cede. Assim como eu fiz, da primeira vez que ela me beijou. Sei que a toalha caiu, pois sinto ela nas minhas pernas. Sinto a pele fria pela água e quente por mim. Me inclino cada vez mais, e estou por cima.

A beijo por inteira. Experimento o gosto de uma garota, coisa que nunca me permiti fazer por estar tão ocupada com garotos.

Quando ela me toca, e eu vejo estrelas por detrás dos olhos, e sei que nunca me senti assim com um garoto antes.

Não curtia me masturbar sozinha, no entanto, eu já havia chegado ao orgasmo, óbvio. Um ou outro cara conseguiu essa proeza, mas era como um prêmio para eles. A conquista deles. Era um saco. Agora com Lara, era puro, afeto e desejo. Parecia real. Não era algo performático.

Ficamos abraçadas por um bom tempo, até Lara levantar para vestir algo, pois começara a chover e havia esfriado.

Voltamos a nos abraçar e adormecemos na cama de solteiro também minúscula, esquecendo que ali havia um outro colchão. De qualquer forma, éramos melhores juntas, quentinhas e aconchegadas.

Antes de apagar completamente, lembro de Lara murmurar para mim:

- Feliz ano novo.

Gastando toda a minha energia restante, respondi:

- Feliz ano novo.

***

Acordo primeiro.

Lara ainda está dormindo serenamente debruçada em meu peito.

Pego meu celular que havia carregado durante a madrugada.

Está relativamente cedo.

Respondo uma mensagem de Bruna, confirmando que dormi com Lara e que está tudo bem.

Também respondo as mensagens de "Feliz Ano Novo" de Lily e Tom que eu havia esquecido completamente quando meu celular descarregara no meio da noite.

Aproveito para dizer a minha mãe que vou na igreja e almoçarei com eles. Era o mínimo. Apesar deles serem bem desencanados e me darem muita liberdade, eu gostava de passar algum tempo com meus pais.

Meu pai havia me mandando mensagem falando que estava vindo me buscar.

Levanto devagar, tentando não acordar Lara.

Consigo me esgueirar da cama, tiro o pijama que ela me emprestara e coloco meu vestido de ontem e calço meus sapatos.

Nesse meio tempo, ela acorda mas não diz nada, apenas me observa, até que aquilo começa a ficar estranho.

- Por que tá me olhando assim?

- Nada. Você só tá linda.

Meu ego é massageado.

- Mesmo com esse vestido e sapatos podres de ontem?

- É charme, você sabe.

Nós duas rimos.

- Vai embora?

- Tenho que almoçar com meus pais.

Ainda era umas 11h da manhã, o que pelas minhas más contas de matemática, eu deveria ter dormido umas 5h, porém eu aguentaria o dia.

- Minha avó vai te ver e vai insistir para que você fique.

- Ai, isso é golpe baixo!

- Eu sei. Mas fazer o quê.

- Vou ter que fazer desfeita na sua avó logo quando ela me conhece. Que má impressão!

Lara apenas nega com a cabeça e sorri. Ainda de pijama, ela me encaminha para o portão, não antes de seus avós nos verem passando pela cozinha, e começarem as perguntas.

- Quem é essa moça bonita, Lara? Namorada?

A velhinha de cabelos brancos e óculos me cumprimenta com um abraço.

- Vó!

- Sou a Catarina. Somos apenas amigas. –Respondo, com um sorriso simpático. –Lara me deu abrigo depois da festa de ontem.

- E foi bom o show? Soube que a cidade inteira estava lá. –O avô de Lara, comentou lendo um jornal. Ele também usava óculos e era careca.

- Foi ótimo. –Respondemos em uníssono.

E depois foi toda aquela ladainha para eu ir embora, até que a avó de Lara me liberou, mas fez questão de ir até o portão me entregar para o meu pai.

- Achei que tinha dormido na Bruna. –Ele comenta enquanto dirige. Não está chamando minha atenção, apenas fazendo uma observação.

- Eu sei, acabou que viemos para a Lara, porque estava meio cheio lá. Elas são vizinhas, e eu nem sabia. A Lara era da minha sala, e eu nem sabia que ela conhecia a Bruna. Doideira.

Fomos conversando o caminho todo, e ele me contava como foi o ano novo com minha mãe.

Me sinto culpada, apesar de tudo estar tranquilo ainda. Não sei porque fiz o que fiz, e não entendo direito ainda porque eu notei tanto a Lara. Notei tanto a ponto de deixar que nos beijássemos e fôssemos além. Estou me sentindo errada para caramba. Fora da curva.

Eu sempre tive todos os privilégios do mundo de garota branca, classe média e cis hétero. E de repente vem a bomba, de que, aparentemente, eu não sou tão hétero assim quanto eu pensava.

A minha vida inteira os garotos corriam atrás de mim. E eu deixava. Sempre tive inúmeros namorados. Logo perdi minha virgindade aos 14 anos. Tudo foi tão precoce quando se tratava de romance. E então veio aquele merda do Breno, que se mascarou tão bem nos dois anos que namoramos... Depois de quebrar a minha cara com o quanto homem é um lixo, eu só queria dar um tempo, sabe. Gostaria de poder conhecer a Catarina de verdade, sem namoros, sem relacionamentos.

Mas talvez seja isso, talvez eu já saiba quem eu sou, talvez eu já me ame e goste de mim o suficiente, e tudo o que eu precisava aprender, era sobre gostar de outras pessoas. Como diria minha mãe, "ampliar os horizontes".

Mesmo sabendo que tudo isso é normal, que está tudo bem em beijar garotos e garotas e afins, eu ainda me sinto completamente fora da casinha. Incorreta e defeituosa. Mesmo tomando meu segundo banho no ano, me esfregando no box aqui de casa, ainda me sinto como se estivesse suja.

Por quê?

A sociedade realmente conseguira incutir essas crenças preconceituosas na nossa cerne, sem nem mesmo percebermos que estão ali, não é mesmo? Merda. É difícil cortar raízes de pensamentos retrógrados que a gente nem sabe que tem. Só sente. Como essa nova pele que eu tinha e queria tirar. Só não sabia como.

Na verdade, acho que nem tem como.

Eu tinha que aprender a conviver com ela agora.

Saio do banho atordoada por estar pensando tanto, Lily provavelmente me olharia com reprovação e falaria para eu ir para terapia. No entanto, como todo ser humano, a minha psicóloga está de férias e só volta mês que vem. Legal.

- Já está pronta, Catarina? Estamos atrasados para o culto. –Ouço meu pai me chamar no andar de baixo.

Visto um vestido azul, leve e solto porque está voltando a fazer calor. Coloco as minhas rasteirinhas e saio com o meu cabelo loiro escuro ainda com os fios molhados.

***

Sem ter com quem conversar, além do pessoal da igreja que sou amiga, mas que com certeza não estavam no clima de ouvir desabafos sobre a minha sexualidade. Vou para um canto e falo com Ele.

E novamente, Ele me diz tudo o que sei.

Está tudo bem.

Gosto de rezar, faz bem para a minha alma e para minha cabeça. É quase como ter um diário, só que mental. Eu não teria paciência para escrever todos os dias como a Lilian tem. Não mesmo.

E então eu olho para os meus pais, e vejo eles lá. Conversando com as famílias, comendo, sorrindo. Uma música animada começa a tocar e as crianças param de correr e começam a dançar no salão. Todos embalam juntos.

Deixo minhas questões de lado por ora, não é o momento para isso. Vou aproveitar o primeiro dia do ano.

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